3.9

   Sentia que era difícil de respirar, não conseguia mais levantar da própria cama, talvez o seu estoque de lágrimas que até aquele momento parecia infinito houvesse finalmente acabado lhe deixando completamente a mercê do nó na garganta que lhe sufocava fazendo com que o ar simplesmente esvaísse de seus pulmões. Faziam duas semanas que não tinha notícia alguma de onde Bokuto estava, ninguém sabia, nem Kuroo ou Akaashi, ele também não havia dado as caras no trabalho, segundo Kita o acinzentado apenas mandava algumas mensagens a cada três dias dizendo que estava bem e para que ninguém notificasse a polícia e você? Você simplesmente não aguentava mais, não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo naquele momento.

   O que eu fiz de errado?

   Eram as palavras que corriam por sua mente dia e noite, simplesmente não conseguia não se torturar com aquilo, estava enlouquecendo, estava se sentindo perdida, estava sentindo que havia perdido tudo, simplesmente tudo, não sabia que precisava tanto do homem de cabelos acinzentados até ele simplesmente esvair, se diluir como água cristalina por entre seus dedos.

   Precisava de Bokuto, precisava dele para respirar, para viver, não conseguia, simplesmente não conseguia, sentia que cada pequenino pedaço de seu corpo pertencia a ele e unicamente a ele. Atsumu não sabia mais o que fazer, não sabia como te tirar de casa, como fazer para que você deslizasse para fora da cama e comesse alguma coisa, sentia que tudo estava vindo a tona novamente, apenas estava conseguindo seguir em frente em relação a Lia graças a Koutarou, sem ele você não conseguia.

   Escutou a campainha tocar do lado de fora, ignorou, depois outra vez, outra e outra, tão insistentemente que fazia sua cabeça doer; bufou irritadiça socando os pés para fora da cama, as solas descalças se encontraram com o chão gélido graças ao inverno que começava a se fazer presente por entre o último mês do ano, não demoraria muito para que o natal chegasse, mas pouco se importava com aquilo no momento.

   Deixou o quarto descendo as escadas amadeiradas em direção ao primeiro andar, escutou a campainha novamente, bufou irritada enquanto abria a porta amadeirada de uma vez; sentiu o ar sumir de seu corpo de supetão, entreabriu os lábios surpresa ao se deter com as orbes amareladas e tão conhecidas rente as suas, seus lábios tremeram e um soluço alto escapou de seus lábios em um choro sofrido, nem ao menos pensou antes de dar dois passos para frente deixando um tapa forte contra a bochecha direita do homem, ele virou o rosto para o lado, respirou fundo enquanto volteava os olhos claros em sua direção, você começou a chorar de maneira alta enquanto fechava às mãos em punhos deixando vários socos contra o peitoral do homem com raiva.

   — Tem noção de como me deixou, preocupada?! Como você some por semanas sem me avisar de nada?! — gritou aos prantos, os socos perdendo a força pouco a pouco, seu corpo começou a tremer de leve enquanto o choro tomava um tom mais baixo, se encolheu mais contra o corpo do homem escondendo o rosto em seu peitoral, ele não se moveu — Não vai mais embora, por favor.

   Ele não respondeu, apenas lhe abraçou de volta guiando seu corpo com cuidado para dentro da casa, lhe sentou sobre o sofá da sala levando uma coberta quente que havia por lá a deixando sobre suas pernas, Bokuto respirou fundo se sentando distante de você, de frente para o sofá sobre uma poltrona escura, você fungou baixinho sentindo seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito graças a feição séria naquela rosto bonito.

   — Me desculpa ter sumido, precisava colocar minha cabeça no lugar, não conseguia fazer isso com você por perto — ele murmurou com a voz baixa, você piscou confusa, ele continuou antes de entreabrir os lábios finos —, vou ser direto aqui, (Nome), eu amo você, nunca amei tanto alguém igual eu amo você... mas eu simplesmente não consigo mais ficar com você, não posso mais, me desculpe.

   Você arregalou os olhos de modo assustado sentindo um gosto amargo em sua língua, negou com a cabeça diversas vezes abrindo um sorriso trêmulo em lábios.

   — Kou, isso é algum tipo de brincadeira? Por favor... eu não acho isso...

   — A morte da Lia foi minha culpa.

   Ele disse de uma vez, você entreabriu os lábios sem saber muito bem o que dizer, franziu o cenho completamente confusa, por uma fração de segundos seu corpo pareceu congelar, as pontas de seus dedos ficaram dormentes.

   — O que?

   Indagou de maneira trêmula, o choro entalado na garganta, torcia aos céus para que aquela fosse algum tipo de brincadeira sem graça. Ele continuou, juntou as mãos antes de respirar fundo.

   — O bombeiro que te tirou do palco e deixou a Lia para trás antes que tudo desmoronasse, você lembra? — ele murmurou, você assentiu de maneira fraca, ele suspirou desviando o olhar — Era eu, sinto muito... por minha culpa ela morreu, eu poderia ter ao menos tentado tirar ela de lá, você entende? Eu não consigo mais olhar para você sem pensar que estraguei sua vida por completo.

   O ar se esvaiu de seus pulmões e por um momento tudo pareceu parar, os lábios de Bokuto ainda se moviam mas você não o escutava mais, simplesmente não conseguia, seu estômago dava voltas sem parar, talvez vomitasse o suco gástrico já que não comia que prestasse a dias, respirou fundo tentando manter a própria respiração controlada, correu os olhos pelo rosto do homem sem saber muito bem o que dizer.

   — Por... por que você não tentou ajudar ela? Quem sabe se você tentasse me deixar de lado e ajudasse ela você conseguisse.

   Murmurou com a voz fraca, levemente trêmula, o choro entalado na garganta; o homem levantou o olhar irritado em sua direção, juntou as sobrancelhas.

   — Eu nunca te deixaria para trás, (Nome)!

   — Você nem me conhecia, Bokuto Koutarou! Poderia muito bem ter salvo ela! Se alguém merecia viver pode muito bem ter certeza de que seria ela!

   Bradou magoada sentindo os olhos encherem de lágrimas, Bokuto engoliu em seco se lembrando das palavras que Osamu havia dito a semanas atrás, as palavras que fizeram com que o homem de cabelos acinzentados perdesse a paciência e avançasse no Miya de modo violento.

   "Se você acha que ela é gostosa deveria ter conhecido a irmã dela, a Lia era tão melhor, cara". Palavras nunca haviam mexido tanto com Koutarou como aquelas, ele conhecia você a pouco tempo mas mesmo assim sabia muito bem como o seu complexo de inferioridade funcionava quando se tratava da irmã gêmea, em qualquer realidade ou linha temporal, em qualquer era Bokuto sempre escolheria você. Sempre. Mas naquele momento ele não conseguia suportar ele mesmo.

   — Eu estava assustado de tentar sozinho.

   Você respirou fundo ao ouvir as palavras do homem, prensou os lábios sentindo seus ombros tremerem, concordou com a cabeça devagar por fim, levantou o olhar até o homem.

   — Nós... nós podemos dar um jeito, sabe? Podemos lidar com isso, eu consigo perdoar você, Kou, não foi sua culpa, você só estava fazendo o seu trabalho — sussurrou de maneira trêmula correndo os olhos pelo rosto do homem, sorriu fraco —, só não me deixa sozinha, por favor.

   O homem fungou baixinho, passou o punho sobre a ponta do nariz levemente avermelhado, ele entreabriu os lábios por fim antes de levar os olhos amarelos e levemente aguados em sua direção, negou com a cabeça.

   — Eu não consigo, mesmo que você me perdoe... eu não consigo, (Nome), não consigo viver do seu lado sabendo que por minha culpa alguém que você amava morreu — ele sussurrou, levou uma das mãos até o peitoral agarrando o tecido do moletom que vestia com força como se tentasse respirar, soluçou de modo sofrido —, eu não consigo olhar para você sem pensar que eu deveria ter morrido no lugar dela... eu simplesmente não consigo, (Nome).

   Você fungou baixinho antes de começar a chorar de maneira fraca, as lágrimas correndo por suas bochechas, não queria que ele sofresse estando ao seu lado, assentiu devagar levando uma das mãos até a do homem a segurando com cuidado.

   — Eu amo você, Bokuto Koutarou, se cuida por favor.

   — Eu também amo você, gatinha, fique do lado das pessoas que te fazem bem... você é alguém incrível.

   Piscou diversas vezes na tentativa de espantar aa próprias lágrimas, abriu os próprios braços, ele arfou baixinho antes de andar até você lhe abraçando com força, deitou seus corpos com cuidado sobre o estofado do sofá lhe aconchegando sobre o peitoral dele, levou uma das mãos até seus cabelos os acariciando com cuidado, ficaram daquele modo por alguns minutos completamente silenciosos.

   — Passe só mais essa noite comigo, está bem?

   Sussurrou com a voz fraca, ele concordou com a cabeça devagar lhe apertando mais forte, respirou fundo.

   — Seria bom se pudéssemos ter nos conhecido em outra época, uma época que não teríamos que nos preocupar com nada disso, talvez.

   — Vou criar uma ditadura e te sequestrar e fazer você ter uma amnésia, depois vou fazer uma auto-amnésia e quando acordarmos vamos nos apaixonar outra vez.

   Sussurrou de maneira trêmula, Bokuto riu baixinho quase como se segurasse o próprio choro, deixou um beijo suave contra o topo de sua cabeça.

   — E se a sua ditadura se voltasse contra você e nos perseguisse eternamente?

   — Eu fugiria eternamente com você.

   Ficaram em silêncio, Bokuto acariciou seus cabelos, você levantou o rosto devagar se detendo com os olhos amarelos marejados rente aos seus, aproximou seus rostos com cuidado, sentia a respiração quente do homem contra sua derme, se beijaram de maneira delicada, ele levou uma das mãos até sua cintura a acariciando de maneira cuidadosa, se afastaram em um estalo baixo, correu os olhos pelo rosto do mais velho.

   — Eu amo você, gatinha, mas acho que somos jovens demais para saber amar do jeito certo.

   — Eu não me importaria de te amar de todos os jeitos errados possíveis.

   Sussurrou, ele não respondeu, voltou a se deitar contra o corpo do homem, fechou os olhos na tentativa de pegar no sono por fim, apenas queria aproveitar a última noite juntamente com o homem de cabelos acinzentados, ele lhe abraçou mais forte como se tivesse medo que você se esvaísse por entre os braços fortes; não demorou muito para que dormisse por fim.

   Ansiava para que ele continuasse ali mesmo que soubesse que aquilo não aconteceria. Acordou com os raios de sol adentrando por entre as frestas da cortina de seda, se remexeu sobre o estofado, abriu os olhos com cuidado antes de encolher o corpo contra o sofá largo, estava sozinha.

   Um soluço baixo escapou de seus lábios, não demorou muito para que começasse a chorar por fim, seu coração doía como o inferno, não sabia como lidaria com aquilo, simplesmente não sabia, tudo doía, sua cabeça, seu estômago e as pontas de seus dedos, amava Bokuto mas não poderia ficar com ele, não quando houvesse aquela barreira gigantesca por entre vocês.

   Se levantou de maneira trêmula do sofá andando até a cozinha em passos vacilantes sentindo que poderia cair a qualquer segundo, pegou os próprios remédios para ansiedade tomando dois comprimidos de uma vez para conter a crise que queria tomar conta de sua mente, bebeu um gole de água antes de se apoiar contra a pia sentindo seu estômago se revirar por completo.

   Escutou o miado suave da gata preta, abaixou o olhar para Alteza rindo de maneira tristonha se sentando contra o chão gelado da cozinha a segurando por entre os próprios braços, esfregou a bochecha contra os pelos suaves, ficaram daquele modo por alguns minutos, apenas escutando o ronronar suave da felina.

   Abaixou o olhar para a coleira da gata se detendo com dois pedaços de papéis presos a ela, piscou confusa os segurando com as pontas dos dedos — do mesmo modo como quando Koutarou lhe pediu para que anotasse seu número —, um choro baixo escapou de seus lábios ao se deter com o cupom que valia qualquer coisa que havia o dado de presente de namoro e logo em seguida com a escrita conhecida do mais velho em outro pedacinho de papel.

   "Quero que seja feliz, gatinha, você merece coisas incríveis, nunca deixe ninguém lhe dizer o contrário".

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