3.7
Três anos atrás
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Aquela estava sendo uma semana horrível para você, tudo estava corrido demais, os ensaios estavam sendo mais rígidos já que o musical atingia seu ápice e você simplesmente não conseguia acompanhar tudo o que acontecia, não conseguia nem ao menos levantar da cama, Osamu e Atsumu pareciam tão nervosos quanto o resto da equipe mesmo que não fossem se apresentar no palco. Fungou baixinho se afundando mais contra os cobertores, não queria ter que sair, não queria ter que ver Lia, a amava com toda a sua força, mas naquele momento simplesmente não conseguia, não conseguia olhar na cara dela sem pensar que se deus existisse ele
provavelmente lhe odiava.
Lia sempre teve o corpo maia bonito, o rosto mais simétrica e o cabelo mais sedoso e agradável ao toque, ninguém olhava pra você, ninguém nunca olhava, era sempre Lia, Lia, Lia, Lia, Lia. Não gostava de chamar atenção, mas também não gostava de ser mantida de lado, não gostava de se sentir feia, não gostava de ter uma irmã perfeita, queria ser igual a ela, mas tinha todos os defeitos possíveis que a garota de cabelos cacheados simplesmente não tinha.
Escutou passos no quarto, suspirou pesadamente se escondendo mais contra os cobertores, o frio Russo certamente era um dos mais rígidos que havia conhecido em toda a sua vida, não se dava muito bem com o clima gélido, seu corpo não havia sido feito para aquilo; escutou um suspiro conhecido escapar dos lábios de alguém que andou em sua direção jogando o corpo sobre o seu, resmungou baixinho.
— Estamos atrasadas para o ensaio, (Nome).
Lia murmurou com a voz baixa, você suspirou negando com a cabeça devagar enquanto colocava o rosto para fora dos tecidos dos cobertores se detendo com sua irmã gêmea sentada ao seu lado, os cabelos cacheados estavam presos em um coque bem arrumado, alguns fios ondulados caindo sobre seu rosto, uma maquiagem suave e roupas bonitas. Sentiu vontade de chorar novamente.
— Não quero ir hoje.
— Você está mal de novo?
Ela indagou com a voz baixa levando uma das mãos em direção ao seu rosto o acariciando com o polegar, você suspirou desviando o olhar.
— Só quero ficar longe se você um pouco.
— Ah — ela murmurou surpresa, afastou a mão de seu rosto devagar abrindo um sorriso tristonho em lábios, desviou o olhar saindo de cima de você —, está bem, desculpe, estou indo para o ensaio.
Ela murmurou se aproximando da porta, você respirou fundo concordando com a cabeça por fim, sabia que ela não tinha culpa de sua baixa autoestima, mas mesmo assim não queria ter que lidar com a perfeição ambulante que Lia era no momento.
— Obrigada.
— (Nome) — ela chamou virando o rosto em sua direção, sorriu mostrando os dentes bem alinhados —, hoje é quinta, quer assistir uma linda mulher e comer pizza mais tarde?
Ela indagou de maneira esperançosa, você apenas suspirou pesadamente negando com a cabeça por fim, fechou os olhos com força.
— Melhor não... acho que a gente devia se afastar por um tempo, Lia, desculpa.
A garota de cabelos cacheados correu os olhos por você, fungou baixinho antes de concordar com a cabeça por fim deixando o quarto de uma vez.
Daquele dia em diante conversaram pouco, passaram quase um ano daquele modo, não olhando nos olhos uma da outra, porquê você simplesmente não aguentava mais sentir que deus lhe odiava, não aguentava mais não conseguir fitar o próprio reflexo e querer morrer.
Várias vezes havia pensado consigo mesma que queria que a garota simplesmente desaparecesse e que talvez assim você conseguisse ser mais feliz.
Nunca havia se arrependido tanto de tal pensamento.
Nunca.
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P R E S E N T E
Osamu havia sido levado as pressas para o hospital local, estava bem, talvez com um nariz quebrado mas mesmo assim bem, Atsumu havia ido juntamente ao gêmeo para acompanhá-lo, você ainda não havia contado o que havia acontecido para o loiro, não tinha coragem de simplesmente acabar com a relação doa dois. Estava sentada no sofá da sala da casa de praia, Bokuto ajoelhado de frente para você enfaixando seu pulso levemente inchado com cuidado, correu os olhos pelo rosto do homem que possuía uma feição séria, o cenho franzido.
— Você está bem, Kou?
Indagou com a voz baixa logo tendo os olhos amarelos em sua direção, ele sorriu fraco antes de concordar com a cabeça devagar.
— Eu que deveria estar te perguntando isso, gatinha — ele sussurrou terminando de enfaixar seu pulso, o beijou de maneira tão delicada que não conseguiu sentir nada —, está doendo muito?
Você negou, levou à mão que não estava machucada em direção ao homem o puxando para mais perto, curvou o corpo sobre o dele o abraçando com força, ainda tremia de leve, estava segurando tão forte o choro que sentia que morreria sufocada. Ele suspirou passando a mão grande sobre seus cabelos os acariciando com cuidado.
— Kou, o que o Osamu disse naquela hora?
Indagou com a voz fraca, Bokuto respirou fundo negando com a cabeça, lhe abraçou mais forte.
— Nada demais, gatinha, não me lembro, estava cego de raiva.
— Jura de dedinho?
Indagou de maneira fraca afastando o corpo do dele estendendo o mindinho em direção ao homem que engoliu em seco correndo os olhos amarelos sobre seu rosto, forçou um sorriso em lábios antes de assentir juntando o mindinho ao seu, deixou um selar suave contra sua testa.
— Eu amo você, linda — ele sussurrou, afastou o rosto devagar, lhe admirou fitando suas feições com atenção, ficou em silêncio por uma fração de segundos —, o que aconteceu com o Osamu? Pode falar se estiver mais calma.
Ele disse antes de se deitar sobre o sofá deixando o seu corpo sobre o dele, suspirou pesadamente o sentindo lhe embalar nos próprios braços fortes, fechou os olhos sentindo um nó se formar em sua garganta, quase como se fosse difícil de respirar, sentia que o ar simplesmente não chegava, Koutarou provavelmente havia percebido pois esfregou a destra contra suas costas como se tentasse acalma-la. Um soluço sofrido escapou de seus lábios, não demorou muito para que começasse a chorar de maneira violenta contra os braços do homem, seus ombros tremiam e chacoalhavam enquanto tentava manter a própria mente ligada.
— Eu... eu sou uma péssima irmã, ele tava certo quando disse que eu tinha que pagar pelo o que aconteceu com a Lia — murmurou por entre o choro, fungou baixinho sentindo sua cabeça doer, se encolheu mais contra o peitoral do homem —, foi minha culpa, Kou, foi tudo minha culpa eu...
— (Nome), ei! — Bokuto lhe interrompeu abraçando seu corpo mais forte, você respirou fundo levantando o rosto levemente inchado em direção a ele, Bokuto negou com a cabeça devagar levando uma das mãos em direção ao seu rosto acariciando sua bochecha com o polegar, suspirou — Se você não me explicar direito eu não vou conseguir entender.
Você prensou os lábios, voltou a deitar o rosto contra o peitoral do homem o sentindo lhe abraçar mais forte, respirou fundo antes de entreabrir os lábios para começar a falar, sentia que aquela era a primeira vez que conversaria sobre aquilo com alguém que não fosse a porcaria do terapeuta.
— Antes da Lia morrer nós brigamos feio, ela não parava de gritar que não tinha culpa de eu me sentir inferior a ela e que ela sentia minha falta — murmurou de maneira falha, o choro entalado na garganta, não sabia muito bem se queria continuar —, eu disse que preferia que ela nunca tivesse nascido e assim eu poderia ser mais feliz... quando o incêndio aconteceu e o teto do teatro desabou ela me empurrou pra longe do palco e foi atingida pelas vigas, eu nunca consegui me desculpar, Kou, se ela não tivesse me salvado... teria sido melhor sabe? Lia sempre amou muito a vida e nesse momento eu só quero parar de respirar.
Disse tudo de uma vez sentindo sua cabeça doer por completo, Koutarou ficou em completo silêncio, não disse nada, apenas lhe abraçou mais forte, ele fungou baixinho antes de entreabrir os lábios devagar.
— Teatro?
— O teatro da prefeitura.
Bokuto lhe apertou por entre os braços, você fechou os olhos.
— Durma um pouquinho, está bem?
Ele sussurrou, você apenas assentiu o abraçando de volta, feliz por ele não querer continuar o assunto e daquele modo pegou no sono nos braços do bombeiro.
Quando acordou Koutarou não estava, nenhuma mensagem, recado ou ligação, apenas havia desaparecido.
Desapareceu.
Desapareceu por dias.
Desapareceu por semanas.
Simplesmente sem qualquer tipo de despedida.
Koutarou foi embora.
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