2.2

   Fazia quase uma semana que você não saía do próprio quarto, apenas mandava mensagens para Atsumu vez ou outra para que ele soubesse que estava viva e logo em seguida desligava o celular, não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, apenas queria ficar sozinha e morrer lentamente deitada na cama, não sabia ao certo qual havia sido a última vez em que comerá alguma coisa de verdade ou bebeu água, sentia que se colocasse qualquer coisa na boca vomitaria no exato momento, seu estômago estava simplesmente embrulhado demais. Fungou baixinho se encolhendo mais contra os cobertores felpudos fitando o filme de romance antigo que passava na tela do computador posto sobre o acolchoado, estava frio demais, seu corpo inteiro tremia, talvez estivesse com febre, seu rosto queimava como o inferno e sua garganta arranhava.

   Queria chorar mas sentia que já havia utilizado de todo o seu estoque de lágrimas, chegou uma notificação no computador do instagram, Atsumu, provavelmente seu celular estava desligado e jogado em um canto qualquer, suspirou pesadamente deslizando os dedos contra a parte debaixo do laptop clicando na notificação e abrindo outra aba na tela lhe cegando por alguns segundos, leu a mensagem de modo preguiçoso.

[TsumuMiya_BestBoy]

"oi, lovie, como você tá? :("

"quer que eu te leve alguma coisa pra comer?"

    Você suspirou pesadamente fitando as mensagens de seu melhor amigo, deslizou as pontas dos dedos pelas teclas do laptop digitando de maneira preguiçosa apenas com uma das mãos já que a outra continuava tentando ficar aquecida dentro do cobertor.

[AltezaLeopoldina_FC]

"pode buscar a alteza e ficar com ela por uns dias?"

"não tô bem pra cuidar dela agora"

   Mandou por fim, não demorou muito para receber uma resposta do homem que dizia já estar a caminho, suspirou pesadamente fechando a aba e voltando a atenção para o filme que se passava rente aos seus olhos, não sabia qual era o nome e também não se preocupava com aquilo uma vez que nem ao menos se preocupava em saber o que estava acontecendo ali, apenas queria algo para manter sua mente ocupada ou simplesmente enlouqueceria, não queria se lembrara de nada que envolvesse sua vida, estava com o celular desligado porquê sabia muito bem que poderia ferrar com o seu namoro se conversasse com Bokuto naquele momento.

   Escutou a porta da varanda da sala que estava quebrada se abrir, alguém subiu as escadas rapidamente, batidas fracas contra a porta de seu quarto.

   — (Nome), tem comida japonesa pra você na cozinha, tente comer um pouco, está bem? Estou levando a Alteza Leopoldina e as coisinhas dela — Atsumu murmurou com a voz baixa do outro lado da porta, respirou fundo —, o Bokuto não para de perguntar sobre você, o que eu digo pra ele?

   — Diz que eu não estou muito bem pra conversar com ninguém agora.

   Murmurou de maneira fraca, Atsumu suspirou pesadamente antes de gritar um "Love ya" e deixar a frente do seu quarto por fim, respirou fundo sentindo seu corpo inteiro tremer de frio, tossiu baixinho se encolhendo mais contra as cobertas, fechou os olhos por uma fração de segundos escutando os sons das falas dos filmes, o casal parecia brigar, não demorou muito para que acabasse por pegar no sono, fazia dias que não conseguia dormir que prestasse, tinha sonhos péssimos toda a vez que dormia.

   Estava acontecendo de novo. Tudo estava voltando a como era a dois anos atrás.

   Abriu os olhos no sonho onde estava, suspirou pesadamente, sabia que não era real, desde que se esforçasse poderia acordar logo, estava na sala de sua casa, era verão, conseguia escutar o som de panelas sendo arremessadas na cozinha, virou o rosto para o lado se detendo com a figura familiar de cabelos cacheados, tinha um maiô de cerejas em seu corpo e um avental sobre ele enquanto parecia colocar alguma coisa no forno, a mulher riu baixinho volteando o olhar em sua direção.

   — Ainda não se arrumou, (Nome)? Nós vamos passar uns dias na praia, só nós duas, sem os meninos, vamos deixar eles de lado um pouco.

   Lia murmurou enquanto pegava uma cesta colocando algumas coisas ali dentro como vinho, torradas e queijo branco, você sorriu fraco antes de se levantar do sofá andando em direção a sua irmã gêmea, se sentou sobre a bancada da cozinha a encarando ali.

   — Eu tenho um namorado agora, sabia?

   — Uhum, ele é bonito parabéns — ela disse rindo, você revirou os olhos de maneira divertida antes de correr os olhos por sua irmã gêmea, ela levou o olhar até você antes de deixar a cesta com comida sobre a bancada —, leve ele pra me conhecer qualquer dia desses... você nunca mais foi me ver.

   — Ninguém mandou querer ser enterrada no cemitério perto da montanha — murmurou antes de abaixar o olhar para os próprios pés, tossiu baixinho, sua garganta ardia como o inferno —, estou com saudades, pode me abraçar?

   Indagou com a voz baixa levemente trêmula, Lia suspirou pesadamente antes de concordar com a cabeça se aproximando de você que estava sentada na bancada, se colocou no meio de suas pernas antes de lhe abraçar com força, não demorou muito para que você começasse a chorar de maneira violenta abraçada contra o corpo de sua irmã gêmea, ele engoliu em seco lhe apertando mais forte.

   — Não quero que viva por nós duas, (Nome), quero que viva por você, mande o porra do Osamu a merda — ela disse com a voz trêmula antes de lhe abraçar mais forte, você fungou baixinho concordando com a cabeça devagar —, (Nome) é (Nome) e Lia é Lia.

   — Lia é Lia e (Nome) é (Nome).

   — Exatamente — ela respondeu rindo de maneira fraca, deixou um beijo suave contra sua testa —, agora acorde antes que você morra de hipotermia. 

   Abriu os olhos devagar sentindo sua visão ainda turva, seu corpo não parava de tremer, ainda estava deitada na cama, a casa não estava mais fria como antes, sentia seu corpo inteiro queimar, não conseguia respirar direito, tossiu de maneira fraca enquanto escutava passos pela casa, alguém abriu a sua porta com cuidado, se sentou de maneira esperançosa sobre a cama ainda levemente grogue pelo sono com a mínima esperança de ser Lia, piscou de maneira fraca ao ver Bokuto ali, ele vestia uma blusa preta de gola alta, uma caixa de ferramentas em sua mão.

   — Atsumu pediu para eu consertar seu aquecedor, se quiser posso ir embora — ele murmurou antes de andar em sua direção deixando a caixa de ferramentas no chão, curvou o corpo sobre o seu deixando um beijo fraco contra sua testa, arregalou os olhos suavemente afastando o rosto suavemente —, (Nome), você está queimando em febre!

   — Estou bem, por ir embora, não se preocupe comigo.

   Murmurou com a voz quebradiça, Koutarou bufou irritado antes de se levantar novamente, enfiou as mãos nos bolsos da calça deixando seu quarto de maneira apressada, escutou o som de seus passos descendo as escadas em direção a porta quebrada da varanda e saindo por ela; suspirou pesadamente voltando a se deitar contra a cama, nem mesmo ele conseguia lidar consigo, se encolheu mais contra os cobertores sentindo seu corpo inteiro tremer, se sentia zonza, era difícil de respirar, talvez morresse, não seria algo tão ruim.

   Pegou no sono novamente, sentia que seu corpo implorava por todo o descanso possível, estava acabada, tanto emocionalmente quanto fisicamente, estava ofegante, não sabia ao certo quanto tempo havia passado mas acordou com um som de água vindo do banheiro, abriu os olhos devagar se detendo com a luz de seu quarto acesa, piscou de maneira irritada escondendo o rosto dentro das cobertas tentando fugir da claridade, bufou de maneira raivosa quando sentiu alguém abaixar as cobertas por seu corpo.

   — Gatinha, só vou te levar para tomar um banho morno, está bem? Precisamos abaixar essa sua febre, fui na farmácia e no mercado para comprar remédios e algumas coisinhas para fazer suco.

   A voz de Bokuto se fez presente, você negou com a cabeça diversas vezes voltando a se encolher dentro das cobertas.

   — Não quero, quero ficar sozinha, vai embora.

   — Juro que te deixo sozinha depois que dermos um jeito na sua febre, okay? 

   — Não.

   Koutarou não disse nada e apenas arrancou o cobertor de seu corpo antes de lhe segurar por entre os próprios braços retirando o seu corpo da cama com cuidado, você arregalou os olhos de modo assustado antes de deixar socos relativamente fortes contra o peitoral do homem como se pedisse para que ele lhe soltasse, balançou as pernas tentando ir para o chão.

   — Pare de lutar, (Nome), precisamos dar um jeito nessa febre, se continuar com isso eu te enfio no carro e te levo para o hospital, é isso o que você quer?

   Ele indagou lançando um olhar sério em sua direção, você bufou antes de negar com a cabeça devagar, o homem de cabelos acinzentados suspirou pesadamente concordando com a cabeça enquanto lhe guiava em direção banheiro, colocou o seu corpo com cuidado sobre o chão, você se equilibrou com dificuldade agarrando com força os braços do mais velho para que não caísse, levantou o olhar em direção ao rosto dele, seus lábios tremeram e não demorou muito para que começasse a chorar de maneira sofrida, Koutarou apenas passou os braços ao redor de seu ombro lhe abraçando com cuidado deixando um beijo contra o topo de sua cabeça.

   — Quero ir embora, não aguento mais ficar aqui.

   Murmurou de maneira falha por entre o choro, Bokuto suspirou pesadamente apertando mais forte o seu corpo por entre o dele.

   — Podemos ficar juntos na casa de praia, só nós dois, pode ser?

   — Pode ser.

   Respondeu com a voz baixa ainda chorando de maneira baixa, leves soluços escapando por entre seus lábios, o homem de cabelos acinzentados afastou o corpo do seu devagar lhe ajudando a retirar as próprias roupas do pijama as jogando em um canto qualquer do banheiro antes de levar seu corpo com cuidado até a banheira cheia com água morna lhe ajudando a entrar na mesma, afundou seu corpo contra a água deixando apenas seu rosto para fora sentindo seu corpo tremer de leve; Bokuto lavou seus ombros e suas costas com cuidado sempre tomando cuidado para não molhar seu cabelo, curvou o corpo sobre o seu deixando um beijo suave contra sua bochecha, ficaram daquele modo por alguns segundos, ele suspirou de maneira trêmula quase como se fosse começar a chorar, pousou a testa contra seu ombro, você sentiu algumas gotas quentes correrem pela pele de seu ombro até suas costas, não sabia ao certo se eram lágrimas ou as gotas do banho.

   — Eu amo você. 

   Ele murmurou com a voz baixa antes de começar a chorar de maneira fraca, você arregalou os olhos suavemente sentindo seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito ao escutar as palavras do homem, girou o corpo com cuidado em direção ao dele antes de passar os braços ao redor do pescoço do mais velho o abraçando com força molhando sua blusa sem querer.

   — Eu também amo você.

   Respondeu com a voz fraca, ficaram daquele modo por alguns minutos, não demorou muito para que Bokuto deixasse um beijo fraco contra sua testa antes de afastar o corpo do seu  voltando a lhe banhar com cuidado, lhe retirou da banheira com cuidado cobrindo seu corpo com o roupão felpudo secando a sua pele antes de colocar o pijama quente que havia pego antes lhe ajudando a vestir a roupa nova, guiou seu corpo com cuidado para fora do banheiro em direção a cama lhe deitando de maneira delicada sobre o acolchoado, você piscou devagar de maneira zonza o vendo deixar o quarto de modo apressado, não demorou muito para que voltasse com um copo de suco de laranja em mãos e uma caixinha de remédio em outra, se sentou na ponta da cama lhe entregando o copo de um dos comprimidos.

   — Obrigada, amor.

   Murmurou com a voz falha se sentando com cuidado pegando as coisas das mãos do mais velho, colocou o comprimido branco por entre seus lábios o tomando com a ajuda do suco, entregou o restante a ele que sorriu de maneira levemente entristecida enquanto lhe via voltar a se deitar contra o acolchoado.

   — Tente dormir um pouquinho, está bem?

   — Vai estar aqui quando eu acordar?

   — Uhum, sempre.

   — Está bem — sussurrou enquanto lhe cobria com a manta quente, colocou a mão para fora a estendendo em direção ao homem, piscou de maneira cansada —, pode segurar minha mão?

   Ele riu baixinho antes de segurar sua mão com cuidado entrelaçando seus dedos juntos mantendo os anéis que usavam próximos um dos outros, você sorriu de maneira fraca antes de fechar os olhos devagar, Bokuto certamente fazia com que ficasse mais calma, mas mesmo assim tudo era muito difícil de lidar.

   Não sabia por mais quanto tempo conseguiria lidar com aquela situação.

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