1.2

   — E se... nossos filhos tentassem nos colocar um contra o outro?

   Indagou com a voz baixa enquanto aconchegava mais o corpo contra o de Bokuto, estavam completamente esparramados contra a cama, não fazia a mínima ideia de que horas eram mas o ambiente era unicamente iluminado graças a luz suave da lua que insistia em adentrar por entre as frestas da janela, vestiam pijamas folgados e se abraçavam de leve, mais uma vez começaram a enlaçar suas pernas brigando por dominância, dessa vez o homem de cabelos acinzentados havia deixado que você ganhasse prendendo a perna do mais velho por entre as suas; soltou um riso soprado enquanto deixava um beijo fraco contra seu peitoral. Bokuto prensou os lábios pensativo enquanto levava uma das mãos até seus cabelos os acariciando com as pontas dos dedos; Je te laisserai des mots tocava no celular do homem mais ao longe repetindo diversas e diversas vezes.

   — Então eu mandaria eles para um internato.

   — E se eles fugissem e tentassem nos matar?

   — A gente fugia pra França, você sabe falar francês, não sabe?

   — Oui, mon amour.

   Murmurou de maneira divertida, ele piscou confuso antes de cerrar os olhos, riu baixinho passando a mão que não estava em seus cabelos por sua cintura lhe trazendo para mais perto, deixou um beijo suave contra o topo de sua cabeça.

   — Merci? 

   Ele sussurrou confuso arrancando um riso fraco de seus lábios, aconchegou mais o corpo contra o do homem levantando o rosto para o encarar conseguindo fitar apenas os traços bem detalhados pela sombra de seu perfil graças a luz que estava apagada deixando o quarto a meia lua; aproximou o rosto do dele roçando seus lábios com cuidado sem o beijar de fato.

   — E se um dia eu fosse sequestrada por uma ditadura e eles fizessem uma lavagem cerebral em mim e eu quisesse te matar?

   Indagou por fim arqueando uma das sobrancelhas de modo convencido, quase como se houvesse finalmente conseguido achar o enigma que ele nunca conseguiria resolver, Koutarou suspirou indeciso, apertou mais forte sua cintura por entre os próprios dedos.

   — Eu compraria um país e começaria uma ditadura nele e entraria em guerra com a sua ditadura e quando o meu país ganhasse eu te traria de volta e faria uma lavagem cerebral para tirar a sua lavagem cerebral.

   — E se não funcionasse?

   Murmurou com a voz baixa sentindo o homem sorrir fraco contra seus lábios.

   — Então eu entraria para sua ditadura e pediria para fazerem uma lavagem em mim também.

   — Quer tanto assim ficar perto de mim?

   Sussurrou, o homem concordou com a cabeça devagar antes de tocar seus narizes com cuidado arrancando um riso baixo de seus lábios.

   — Sim senhora.

   — E se...

   — Pare de ficar perguntando "E se" a resposta sempre vai ser você — ele disse antes de roçar seus lábios fazendo com que você sorrisse de maneira boba —, posso te beijar?

   Você assentiu e não demorou muito para que os lábios do mais velho estivessem sobre os seus, ele lhe beijava de maneira delicada fazendo com que os pelos da sua nuca se arrepiassem de leve, deslizou os lábios sobre os seus os mordiscando com cuidado antes de romper o beijo em um estalo baixo, deixou um selar fraco contra a pontinha de seu nariz, depois sua testa, pálpebras e bochecha; Bokuto voltou a se aconchegar no acolchoado lhe abraçando mais forte, você respirou fundo voltando a deitar o rosto contra o peitoral do mais velho, sentia seus olhos pesados de sono, não dormia que prestasse a dias, estava cansada demais, a música francesa que ecoava repetidas vezes pelo celular do homem certamente lhe deixava mais sonolenta ainda; fechou os olhos.

   — Vou dormir um pouquinho, só um pouquinho — sussurrou antes de bocejar sentia seu corpo pesado assim como suas pálpebras, Bokuto riu baixinho antes de concordar com a cabeça lhe abraçando mais firme, deixou mais um beijo contra sua testa —, quero acordar com você aqui.

   — Eu não vou para lugar nenhum gatinha.

   — Nunquinha?

   — Nunquinha, vá dormir, está bem? Quero que você descanse bastante.

   — Está bem, boa noite... gosto de você.

   — Só um pouquinho?

   — Uhum, só um pouquinho.

   Sussurrou com a voz cansada, não demorou muito para que acabasse por pegar no sono nos braços do homem, se sentia protegida, Bokuto Koutarou certamente fazia com que se sentisse calma, se sentia feliz, a muito tempo não se sentia daquele modo, era quase como se uma boa parte de seus problemas simplesmente desaparecesse quando estava junto dele; ao mesmo tempo que estava completa estava assustada, muito assustada, tinha medo que ele simplesmente esvaísse por entre seus dedos e desaparecesse de sua vista, principalmente quando ele trabalhava com fogo, o mesmo fogo que havia levado embora uma parte de você. Estava assustada, sentia que tudo estava acontecendo rápido demais.

   Não sabe ao certo por quanto tempo dormiu, não sabia dizer se haviam se passado horas ou minutos, havia acordado com os raios de sol adentrando pelas frestas da janela, piscou de maneira preguiçosa se remexendo contra o acolchoado, tateou o mesmo em busca do homem sem sucesso, se sentou de uma vez olhando ao redor, a cama estava vazia, o quarto também, estava sozinha, cerrou os olhos de maneira confusa; deslizou para fora da cama tocando os pés no chão, estava frio, fazia com que cada pequenino pelo de seu corpo se arrepiasse, olhou o banheiro e o corredor. Nada. Desceu os degraus em direção ao primeiro andar e passou pela cozinha e pela sala. Nada. Estava sozinha na casa, ele havia ido embora, engoliu em seco sentindo seu estômago se revirar.

   Jogou seu corpo contra o sofá de maneira mau humorada enfiando o braço dentro da abertura do estofado pegando o seu celular que estava lá caído com as pontas dos dedos, retirou a camada de poeira o desbloqueando, engoliu em seco ao ver algumas mensagens do homem de cabelos acinzentados.

[O moço que quer a fantasia de gato] [03:45AM] 

>>>oi, gatinha, eu precisei sair, recebi uma ligação

da central, estavam sem pessoal, incêndio em um

depósito.

>>>você parecia cansada, não queria te acordar.

>>>sei que fica preocupada quando eu saio assim,

prometo te mandar mensagem quando chegar em 

casa, okay? até mais, gosto de você, só um pouquinho.

   Você piscou devagar fitando as mensagens do homem, a última havia sido enviada as três e quarenta e sete da madrugada, fitou o horário no canto superior do celular, eram quase nove horas da manhã, praticamente seis horas haviam se passado desde a última mensagem e ele não falou se estava tudo bem, você remexeu os dedos de maneira ansiosa, sentia seus ombros tensos e sua cabeça dolorida, quase como se fosse difícil de respirar direito. Digitou rapidamente de maneira ansiosa.

[você]

Kou, tá tudo bem? já faz um tempo que você<<<

mandou essas mensagens, responde por favor

você tá bem?<<<

Kou?<<<

   Ficou na espera de qualquer sinal, um visto, um digitando ou uma chamada de celular, nada, absolutamente nada, remexeu as mãos de maneira ansiosa jogando o celular sobre o sofá, não sabia se ele estava bem, se estava machucado ou se... ou se havia caído uma viga sobre ele do mesmo modo que aconteceu com Lia no dia do incêndio. Estava desesperada, não fazia a mínima noção do que estava acontecendo; andou até a prateleira de remédios na cozinha segurando o potinho alaranjado com os dedos trêmulos, tomou alguns comprimidos para ansiedade que o psiquiatra havia receitado sentindo seu coração bater forte contra o próprio peito. Queria vomitar tudo o que havia comido no dia anterior, estava enlouquecendo, mandou mais uma mensagem e depois outra ficando mais uma vez sem respostas.

   Ele está machucado, ele está machucado, ele está machucado, ele está machucado.

   Sua mente simplesmente não parava, quase como uma espécie de canto amaldiçoado, se agachou no chão deixando socos relativamente fortes contra sua cabeça como se implorasse para que ela ficasse quieta. Respirou fundo e soltou o ar pelos lábios tentando parar de se machucar, apertou as unhas contra as palmas das mãos sem saber o que fazer; se levantou do chão com cuidado sentindo sua cabeça doer, flashs da noite do acidente lhe atingindo com tudo, conseguia escutar o som do fogo consumindo o teatro e os gritos desesperados das pessoas, os gritos desesperados de Lia, o modo como ela segurou forte a sua mão enquanto você era simplesmente arrastada para fora do teatro antes que tudo fosse consumido pelo fogo; não aguentava mais, estava enlouquecendo, mesmo que soubesse que não era verdade a sua mente insistia em dizer que havia acontecido o mesmo com Bokuto.

   Deixou a casa em passos apressados andando até seus vizinhos, não se importava se estava de pijama ou com o pescoço e ombros arranhados pela própria crise de pânico, precisa de uma resposta, precisava ver o homem de cabelos acinzentado, bateu na porta diversas vezes escutando alguém gritar do lado de dentro, não demorou muito para que a superfície amadeirada se abrisse dando lugar a um Kita com aparência cansada, piscou confuso lhe encarando ali.

   — (Nome), o que aconteceu? Você tá bem?

   — O Bokuto, sabe se o Bokuto tá bem? Ele disse que precisava cuidar de um incêndio em um... em um depósito eu acho, não sei ao certo deixei meu celular lá dentro e minha mente tá uma bagunça, sabe se ele tá bem? Já faz seis horas que mandou a última mensagem, eu não...

   — (Nome), calma, deus! — ele disse elevando a voz agarrando seus ombros para que parasse de falar, respirou fundo o encarando ali, sentia suas mãos completamente trêmulas, apertou mais as unhas contra suas palmas sentindo as pontas de seus dedos ficarem quentes pelo sangue que escapava por entre os cortes pequenos — Ele está bem, todo mundo está bem, fica calma, depois de trabalhar durante horas e sem descansar direito o Bo fica acabado, ele deve ter chegado em casa e desmaiado na cama, só isso.

   Você respirou fundo ao ouvir as palavras do homem mas mesmo assim ainda se sentia aflita, negou com a cabeça devagar, seus lábios tremeluziram de leve, estava prestes a ter uma imensa crise de choro bem ali.

   — Me leve para ver ele, por favor... preciso ver se ele está bem, não tenho carro e não sei onde ele mora.

   Praticamente implorou sentindo seu estômago se revirar mais uma vez, Kita respirou de maneira cansada antes de concordar com a cabeça por fim, passou a mão destra sobre o rosto antes de voltar para dentro da casa voltando segundos depois com um sobretudo e as chaves do carro, jogou o sobretudo preto sobre você enquanto andava até o carro esportivo prata.

   — Se cubra, está frio, você só tá com a camisola.

   Ele murmurou apontando para o seu corpo coberto pela camisola fina de seda, você engoliu em seco antes de se cobrir rapidamente com o sobretudo que ficava gigantesco contra seu corpo, estava nervosa demais para que conseguisse ficar envergonhada naquele momento; adentrou no carro juntamente com o homem; ele deu partida dirigindo sem muita pressa, a casa de Bokuto não ficava a muitas quadras de distância como o mesmo havia dito em uma de suas conversas, não demorou nem cinco minutos para que estacionassem de frente para uma casa branca estilo grego romano, colunas grandes do lado de fora, era simplesmente gigantesca ao ponto de uma família de oito pessoas viver ali tranquilamente.

   Kita murmurou para que você descesse e lhe desejou boa sorte antes de simplesmente ir embora provavelmente para voltar ao seu sono que havia sido interrompido. Você suspirou trêmula se aproximando da porta batendo algumas vezes contra um suporte de metal em forma de argola que ficava do lado de fora, apertou as pernas de modo ansioso, não conseguia respirar direito, parecia que sua garganta fecharia por completo a qualquer segundo, não demorou muito para que a porta se abrisse dando lugar a um Bokuto cansado, ele correu os olhos amarelados por seu rosto, piscou confuso.

   — Gatinha, está tudo bem? Você... — não conseguiu terminar de falar pelo simples fato que você praticamente avançou sobre ele passando os braços ao redor do pescoço do homem, naquele momento todas as lágrimas que guardou nos últimos minutos vieram a tona, começou a chorar de maneira violenta sentindo seu corpo inteiro tremer; Bokuto engoliu em seco lhe abraçando de volta enquanto puxava o seu corpo para dentro da casa, fechou a porta com cuidado passando a mão grande sobre suas costas tentando lhe acalmar — está tudo bem, amor, eu tô aqui, me parte o coração ver você chorando assim, o que aconteceu, hum?

   Indagou com a voz carinhosa deixando alguns beijos suaves contra o topo de seus cabelos tentando lhe acalmar, você respirou fundo por entre o choro apertando mais os braços contra o pescoço do mais velho.

   — Você... você não avisou que chegou bem, achei que tinha acontecido alguma coisa... achei que tinha se machucado, o Ki... Kita me trouxe aqui.

   Sussurrou com a voz trêmula pelo choro fazendo com que Bokuto respirasse fundo lhe abraçando mais forte; levou uma das mãos até seu rosto lhe forçando a levantar o olhar até ele deixando um beijo forte contra a sua testa, ficou daquele modo por alguns segundos.

   — Me desculpe, gatinha, prometo que vou avisar das próximas vezes, está bem? Não queria te deixar preocupada — ele murmurou deixando mais alguns beijos contra seu rosto fazendo com que risse baixinho, beijava suas lágrimas e suas pálpebras quase como se tentasse fazer com que parasse de chorar —, estou morto de cansaço, quer subir e dormir comigo um pouquinho?  

   — Pode ser — balbuciou parando de chorar pouco a pouco, abriu os olhos devagar fitando o homem a sua frente —, Kou, eu gosto de você.

   — Só um pouquinho?

   — Muito, gosto muito de você.

   Disse com a voz branda, arrancando um riso baixo dos lábios do homem que deixou um beijo fraco contra a sua testa.

   — Eu também gosto de você, gatinha, muito.

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