0.6

   Outono não estava tão frio como de costume aquela manhã, o vento gelado não arranhou suas bochechas de modo violento, estava um clima calmo por assim se dizer, talvez o universo apenas quisesse lhe ajudar em seus primeiros passos para longe daquela maldita esquina que prendia você a mais de dois anos; suspirou pesadamente sentindo suas pernas tremerem como dois gravetos enquanto apertava mais forte a mão de Bokuto a cada novo passo que davam na calçada. O homem de cabelos acinzentados estava com suas roupas de corrida, ele não usava muito o próprio carro pelo o jeito, apenas em situações de emergência, havia ido a sua casa andando como na maioria das vezes, você por outro lado estava vestida com um suéter estampado de gatos e uma saia amarronzada gigantesca que chegava até seus pés, eram diferentes demais.

   — Tudo bem?

   Ele indagou de modo preocupado quando se aproximaram da curva, você respirou fundo antes de apenas concordar com a cabeça devagar, precisava enfrentar aquilo de uma vez ou passaria o restante de seus dias trancafiada dentro de casa.

   — Tudo bem.

   Sussurrou, o homem lhe puxou para mais perto, abraçou seus ombros com um dos braços antes de apertar mais forte o seu corpo contra o dele.

   — Vamos lá então.

   Koutarou murmurou antes de praticamente correr contra a calçada empurrando o seu corpo para a frente de supetão, você arregalou os olhos antes de soltar um riso assustado pelos próprios lábios pelo movimento brusco do homem de cabelos acinzentados, não demorou muito para que virassem a esquina, você respirou fundo antes de olhar ao redor, havia conseguido, havia realmente conseguido, parou de andar antes de erguer o rosto em direção ao do homem, sorriu fraco.

   — Eu virei a esquina — você sussurrou de maneira animada antes de jogar o corpo sobre o dele o abraçando com força, arrancou um riso do homem que apenas rodeou sua cintura lhe abraçando com força antes de levantar o seu corpo do chão apertando mais forte o seu corpo em um abraço de urso, você arfou baixinho por entre um riso sufocado sentindo suas costas doerem —, não respiro!

   Disse com a voz sussurrada vendo Bokuto lhe colocar sobre o chão novamente com cuidado, afastou o corpo do seu soltando a sua cintura pouco a pouco antes de correr os olhos amarelos por seu rosto, sorriu fraco.

   — Parabéns, gatinha — ele murmurou levando uma das mãos até seu rosto colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, encolheu os ombros —, conheço uma cafeteria aqui perto, quer ir lá?

   — Vestida com meu suéter de gato?

   — Está linda com o suéter de gato, você fica linda de qualquer jeito — ele disse de modo tão casual como se estivesse comentando sobre o tempo, você sorriu sentindo suas bochechas queimarem enquanto voltavam a andar, Bokuto passou o braço por seus ombros novamente lhe trazendo para mais perto mantendo o seu corpo próximo ao dele —, da próxima vez vou fazer você vestir um saco de batatas, imagina que complicado ter que lidar com um batalhão de homens querendo a minha amiga.

   Você revirou os olhos antes de soltar um riso soprado por suas narinas, encolheu os ombros, Bokuto era simplesmente exagerado demais, negou com a cabeça devagar antes de abaixar o olhar para os seus pés, vez ou outra parava de andar para tentar deixar o seu passo igual com o do homem.

   — Não seja exagerado, não sou tão bonita assim, ninguém olha pra mim.

   Murmurou de modo indiferente, podia ser bonita de rosto como Lia, mas aquilo certamente se perdia quando viam o quão insuficiente você era perto de sua irmã gêmea, engoliu em seco, Bokuto certamente gostaria mais dela, todos gostavam mais dela, você mesma gostava mais dela do que de você mesma. Suspirou pesadamente tentando parar de pensar naquilo, não queria enlouquecer por uma coisa que nunca iria acontecer.

   — Como ninguém olha pra você, (Nome)? — ele disse de modo irritado, cerrou os olhos indignado — Todo mundo olha pra você, oras, não seja boba.

   — Não sou boba.

   — É sim.

   — Não sou.

   — Boba, boba, boba, gatinha bobinha — ele cantarolou fazendo com que você revirasse os olhos, tentou se soltar do homem, ele rosnou baixinho antes de apertar mais seu ombro lhe puxando para mais perto —, estou brincando, nem pense em se afastar, birrenta.

   Bokuto disse com a voz mal-humorada, você soltou um riso baixo por entre seus lábios antes de concordar com a cabeça devagar, aproximando mais o seu corpo contra o dele, abaixou os olhos até seus pés mais uma vez.

   — Estamos andando iguais. 

   Murmurou logo tendo a atenção do homem para os seus pés que acertavam os passos no mesmo momento, ele sorriu de maneira boba antes de concordar com a cabeça devagar.

   — Estamos andando iguais.

   Sussurrou de volta antes de simplesmente apressar o passo fazendo com que você tropeçasse na calçada, ele riu alto enquanto segurava o seu corpo para que não se esborrachasse contra o cimento, o xingou de várias coisas diferentes por entre o riso enquanto seguiam com o caminho em direção a cafeteria, não demorou muito para que chegassem no pequeno estabelecimento por fim, adentraram por entre a porta de madeira escutando o pequeno sino ressoar por todo o local chamando a atenção de uma garçonete grávida de aproximadamente sete meses que andou rapidamente em direção a vocês os guiando para uma mesa mais ao canto próxima a enorme janela que dava a vista para as ruas calmas do bairro residencial.

   — O que vai querer?

   Ele indagou enquanto se sentava de frente para você, suspirou antes de apoiar os cotovelos contra a superfície de madeira segurando o queixo, encolheu os ombros.

   — Um chocolate quente está bom.

   — Não quer comer nada?

   — Não tô' com muita fome pra falar a verdade.

   — Zero fome?

   — Talvez um pouquinho... mas só um pouquinho.

   Disse querendo não incomodar ele, Bokuto lhe olhou sobre o cardápio, apenas os olhos amarelos a vista, os cerrou suavemente de modo desconfiado.

   — Peça alguma coisa para comer, (Nome).

   Ele sussurrou abaixando o cardápio devagar, você encolheu os ombros antes de abaixar os braços devagar pousando as mãos sobre o colo.

   — Um bolinho de morango.

   — Certo — ele murmurou antes de erguer a mão devagar chamando a mesma garçonete de antes que andou rapidamente até vocês, possuía um bloco de notas em mãos —, para mim um frappuccino de avelã e cinco cupcakes da promoção, um de cada sabor... para a gatinha ali um chocolate quente e um bolinho de morango.

   — Certo, mais alguma coisa?

   Ela indagou de maneira gentil e Bokuto apenas negou com a cabeça devagar, a mulher apenas assentiu antes de passar a mão sobre a barriga grande de forma cansada voltando a andar em passos apressados até o balcão, você riu baixinho volteando o olhar até o homem.

   — Você não acha fofo? Mulheres grávidas eu digo, ela nem percebe que está fazendo carinho na barriga.

   — Acho gravidez algo mais parecido com uma ficção científica, me da arrepios.

   Ele disse antes de franzir o cenho, você juntou as sobrancelhas de modo confuso.

   — Como assim, seu louco?

   — Veja bem, estamos falando de um ser vivo que vai sair de dentro de você e te rasgar inteira, é assustador, tipo um parasita, entrou todo pequeninho e do nada pá! Virou um ser gigantesco que vai sair de dentro de você! — ele praticamente gritou arregalando os olhos pouco a pouco atraindo o olhar dos outros clientes até vocês, você tentou rir baixinho sentindo sua barriga doer, ele coçou a garganta em uma tosse baixa antes de continuar dessa vez com a voz mais branda —, tenho certeza que a maioria dos filmes de alienígenas parasitas foram baseados na gravidez, é uma doideira.

   — Por favor nunca seja pai, Bokuto.

   — Nem que me pagassem, gosto de crianças crescidas entre dois e três anos, bebês também me dão arrepios.

   Ele murmurou sério, você revirou os olhos de maneira divertida.

   — Muitas coisas te dão arrepio pelo jeito.

   — Você me da arrepios também, gatinha, não se sinta excluída.

   Bokuto sussurrou fazendo com que você entreabrisse os lábios sem saber muito bem o que dizer, desviou o olhar do dele de modo envergonhado, não demorou muito para que os pedidos chegassem por fim, o homem se levantou da mesa rapidamente ajudando a garçonete grávida pegando a bandeja das mãos dela de modo delicado, ela agradeceu baixinho, antes de colocar uma mecha do cabelo ruivo para trás da orelha, parecia cansada, não demorou muito para que voltasse para trás do balcão, parecia que trabalhava sozinha na parte da frente da cafeteria pequena; Bokuto voltou até a mesa deixando os pedidos sobre a mesa antes de largar a bandeja em um canto qualquer, lhe fitou ali.

   — Kou, você é muito gentil.

   — Sou bombeiro.

   — O que isso tem haver?

   — Minha profissão envolve ser gentil eu acho, tipo resgatar Rainhas Leopoldas de moças bonitas das árvores.

   Ele murmurou enquanto levava o copo até os próprios lábios, você revirou os olhos de maneira divertida.

   — Alteza Leopoldina, o nome dela é Alteza Leopoldina, não vai acertar nunca?

   — Você tem um péssimo dom para escolher nome de gatos.

   — Rainha Leopolda que é péssimo! Alteza Leopoldina é simplesmente incrível, foi uma personagem que eu interpretei no teatro a uns anos atrás.

   Murmurou por fim, os olhos de Bokuto brilharam, ele abaixou o copo devagar.

   — Você disse teatro?

 ⸙͎۪۫

   Depois que terminaram de comer, Bokuto simplesmente insistiu que iria levar você em um lugar especial, um segredo segundo ele, estava proibida de pensar nele ou falar sobre ele quando não estivesse ao lado do homem de cabelos acinzentados; andavam em passos apressados pelas ruas do bairro se aproximando cada vez mais de um bosque mais afastado de tudo.

   — Eu tenho um amigo de infância, Kuroo Tetsurou, descobrimos esse lugar juntos quando éramos crianças, foi abandonado depois da segunda guerra mundial... cuidado com a mureta — ele murmurou apontando para a mureta branca que separava o bosque das ruas, você suspirou pesadamente antes de pular o mesmo juntamente com Bokuto, adentraram por entre as árvores, o mato era alto e fazia cócegas contra sua panturrilha —, nunca encontrei cobras aqui, pode ficar tranquila.

   Ele murmurou, você engoliu em seco antes de concordar com a cabeça se deixando ser guiada pelo homem, cerrou os olhos.

   — Você não é nenhum assassino do machado é?

   — Talvez.

   — Bokuto!

   — Estou brincando, gatinha — ele respondeu rindo, segurou mais forte a sua mão a levando até os próprios lábios beijando a sua derme com cuidado, sorriu fraco —, mesmo que eu fosse, não posso matar a minha única dose de serotonina dos últimos dias.

   — Okay... fofo? — indagou confusa por entre um riso baixo arrancando um rolar dos olhos amarelos do homem, suspirou cansada — Estamos chegando?

   Ele concordou com a cabeça devagar, viraram em uma das árvores onde havia uma espécie de fita azulada que parecia completamente desgastada pelo tempo, sentia seus pés doerem pelos sapatos amarronzados, se soubesse que andariam tanto teria vindo com algo mais confortável, não demorou muito para que chegassem em um edifício abandonado, uma construção antiga dos anos trinta, era simplesmente inacreditável demais, piscou surpresa enquanto o homem de cabelos acinzentados lhe guiava para dentro do local, passaram por uma seção de bilheteria e adentraram por entre os corredores, pôsteres antigos pelos corredores, ele lhe guiou até uma das salas de apresentação, abriu a porta com cuidado para que a mesma não caísse, você arfou baixinho ao ver a quantidade significativa de cadeiras ali abandonadas.

   — Gatinha — ele sussurrou com a voz baixa, correu os olhos amarelos em sua direção, você engoliu em seco levantando o rosto até o homem o encarando ali, sentia seu coração bater forte contra o próprio peito, Bokuto sorriu fraco —, nós estamos em uma casa de ópera.

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