𝟎𝟕
O motorista de Uber que me deixou na frente do lugar não parava de perguntar se eu era próximo de Bruce Wayne, se ele era mesmo um idiota como as revistas mostravam. Respondi "não" e "sim".
Meus pés afundavam no caminho de cascalho que levava até a porta da Mansão Wayne. Tudo parecia perfeitamente com o que era antes de eu ir embora. Ainda um castelo gótico como aqueles em que vemos em filmes de terror. Mas com uma caverna com super computadores, trajes, três tipos de Batmóveis, ao invés de um porão mal assombrado. Para quem não está acostumado, as duas opções podem ser igualmente assustadoras.
Antes que a ponta do meu dedo pudesse alcançar o botão da campainha, a porta se abriu. Alfred não estava surpreso em me ver. Nem feliz.
— O Mestre Bruce está esperando no escritório. O senhor sabe onde fica.
E saiu, sem dar "oi" ou olhar para trás, para a cozinha, onde provavelmente ficaria esperando por ordens.
— Ele está chateado com você. — disse Bruce, do topo da escadaria, andando em direção ao escritório com uma xícara nas mãos.
— Não me diga. — eu sussurrei, pulando os degraus de dois em dois para chegar mais rapidamente.
Bruce abriu a porta, entramos e eu me senti imerso em uma onda de nostalgia que poderia me afogar. Ali, anos antes, Bruce me deu um sermão por fugir de casa no meio da noite para caçar o assassino dos meus pais, para depois apertar um botão em sua mesa, que fazia a parede atrás dele girar, dando acesso a um elevador que nos levaria à Bat-Caverna. "Não pode fazer coisas assim sozinho", ele disse. E eu me lembrava como se fosse uma viagem à Disney.
— Eu preciso perguntar. — ele começou, deixando a xícara sobre a sua mesa de mármore. — Sabe algo sobre a explosão na Wayne Enterprises?
Eu fiquei surpreso. Ele não sabia o o que tinha acontecido na Wayne Enterprises?
— O que quer dizer?
— Eu sei que você voltou a aparecer por lá, Richard. É a minha empresa.
Engoli em seco. O modo como ele falou "minha empresa" soou estranho.
— Certo, mas não é nada do que você está pensando.
— Está andando com Barbara Gordon, eu não ligo. Quero saber da explosão.
— Os jornais disseram que foi um...
— Vazamento de gás. — ele completou, e se sentou na cadeira de couro. Percebi pelo modo como ele se reclinou e engoliu em seco, como se estivesse desconfortável, que não era o que ele queria ouvir. — Eu sei, eu paguei para publicarem isso.
— Então o que foi?
O seu olhar me respondeu: ele não sabia. E isso estava matando-o. Bruce retirou um pendrive com um 'w' prateado gravado do bolso do paletó, colocou no computador e virou a tela para que eu pudesse ver.
Era uma gravação de segurança. Onde era possível ver um vulto atravessando um corredor. Carregava algo que não podíamos identificar, por conta da baixa qualidade da imagem. Mas o vulto entrou em uma sala, e voltou sem nada nas mãos. Minutos depois, uma explosão, que destruiu a câmera e a gravação ficou muda, a tela, toda cinza.
— Espere, isso... esse não sou eu!
Bruce olhou para mim, e eu olhei para ele. Uns segundos de silêncio enquanto tentava descifrar sua expressão. Eu era bom nisso, mas com Bruce era sempre difícil.
— Tudo bem. Era só isso. — ele disse, finalmente.
Eu fiquei surpreso.
— Só isso? Você não vai... pedir minha ajuda?
— Você ajudaria se eu pedisse?
A voz dele era geralmente impassível, neutra e grave. Sempre a mesma, com leves alterações, dependendo do seu humor. Mas quando ele disse isso, eu senti o seu cinismo bater na minha cara, e não consegui pensar em nada para dizer. Bruce finalizou seu café e fez um gesto vago em direção à porta, sinalizando que eu podia ir.
— Foi o que eu pensei. — Ele disse e se levantou. — Fique fora disso, tudo bem?
Ele não pareceu decepcionado ou com raiva quando disse isso. Pareceu indiferente.
— Aquele é o Tim, não é? — eu perguntei, apontando para uma fotografia pendurada na parede atrás dele.
Bruce se virou e balançou a cabeça sem olhar para mim. Havia várias fotografias na parede. Algumas minhas, várias do próprio Bruce, seus pais e os pais do seus pais. Alfred também aparecia, muitas vezes. E as mais recentes eram de Tim Drake. Não havia nenhuma de Jason. Ele deve ter retirado todas.
Tive a impressão de que nós dois estávamos pensando nisso. O clima na sala começou a ficar pesado. Alfred bateu na porta e abriu logo em seguida.
— Senhor Wayne, — ele olhou para mim mas rapidamente desviou. — a garota está aqui.
— Tudo bem, Alfred. Richard está de saída.
— É, eu estou.
Coloquei a mão no bolso da minha jaqueta e comecei a andar para a saída. Prestes a passar por Alfred, eu parei.
— Me desculpe.
Ele não disse nada. Pelo menos não antes de eu chegar à escadaria, onde pude ouvir um "tenha uma boa noite, senhor Grayson". Sorri e desci. Não vi nenhuma garota, mas estava com pressa para sair. Só quando eu passei pelos portões da Mansão Wayne, tive coragem de tirar a mão do bolso da jaqueta. E na minha mão, havia um pendrive com um 'w' prateado gravado.
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