⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ 👻⠀ ⦙ 𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨
UMA ONDA DE PÂNICO MESCLADA com nervosismo e alegria percorria cada extensão do corpo de Arabella Tozier, a qual era descontada por seus dedos agitados nas teclas do teclado musical de acordo com a canção "Now or Never" escrita pelo seu melhor amigo Luke. Aquele seria o último ensaio geral antes do show que mudaria para sempre suas vidas.
A garota de dezessete anos e cabelos azuis, os quais foram pintados com sua cor favorita especialmente para aquele show, era a única menina na banda formada por outros quatro rapazes de idades próximas. Dona de uma voz angelical e muito habilidosa com seus dedos, Ella, como prefere ser chamada pelos amigos íntimos, tocava teclado desde os seis anos de idade. Seu primeiro contato com a música foi dentro da igreja, ela havia acabado de se mudar com a irmã gêmea idêntica para a casa dos avós após perder seus pais para o vício nas drogas. Foi com a música que ela descobriu uma maneira de fugir da realidade, encontrando uma válvula de escape para todos os seus problemas. Mesmo que fosse muito nova para entender quando começou, ela sabia de alguma forma dentro do seu coração que a música transformaria sua vida.
O que de fato aconteceu. Foi graças a música que ela estreitou seu laço de amizade com Alex aos seis anos de idade, o garotinho loiro de quase mesma idade era seu vizinho e ele ficou encantado quando descobriu que a menina, na época com cabelos loiros escuros, tocava com perfeição através da sua janela. Desde então os dois não deixaram de conversar um dia sequer. Porém não foi apenas com Alex que Arabella fincou a amizade graças ao poder da música, na middle-school ela conheceu os outros membros que, no futuro, formariam a Sunset Curve, o baixista Reggie e o líder e fundador da banda Luke.
Participar de uma banda de Rock não estava nos planos de futuro de Ella, a menina desejava ser uma desenhista ou uma atriz de musicais, pois o teatro e as artes eram sua segunda paixão. Mas quando o convite para ser parte do grupo chegou através do Luke, Arabella foi incapaz de recusar tal pedido. Durante anos eles batalharam firmemente para conseguirem um local ao sol, o começo foi árduo e pouco lucrativo, mas com esforço eles logo alcançaram certa popularidade na Cidade dos Anjos.
Foi graças ao esforço de todos na banda que haviam conseguido uma chance de tocarem no Orpheum, o grande e desejado anfiteatro da cidade, onde apenas os melhores dos melhores conseguiam fazer suas apresentações. Muitas bandas de sucesso haviam passado por ali antes de conseguirem alcançar a fama. Logo Sunset Curve seria uma dessas bandas famosas, afinal eles estavam prontos. Aquela apresentação seria o marco monumental para finalmente alcançarem a glória que tanto sonhavam.
Com um sorriso largo estampado na face, Arabella virou para seus companheiros de banda sem parar de tocar. Ela conhecida o teclado como uma extensão extra de seu corpo, não havia necessidade de encará-lo o tempo inteiro enquanto tocava e cantava. Todos estavam perfeitos e, assim como ela, prontos para enfrentarem qualquer coisa que o futuro pudesse reservar.
Quando a música terminou todos foram para a frente do palco agradecer enquanto os funcionários do Orpheum que preparavam o anfiteatro para o tão esperado show aplaudiram animados o último ensaio antes do gran finale.
— Excelente! Muito bom galera! — Elogiavam os funcionários enquanto cumpriam suas funções.
— Valeu! Somos a Sunset Curve! — Agradeceu Reggie no microfone e agarrando Arabella pelos ombros antes que ela deixasse o palco. Ao invés de empurrá-lo como sempre fazia, a garota o abraçou pela cintura, o acompanhando.
— Pena que era só ensaio. Nunca tocamos tão bem — Disse Bobby, o segundo guitarrista, enquanto colocava sua guitarra no canto e pegava uma toalhinha para enxugar o suor.
— Vai a merda, eu sempre sou incrível tocando! — Falou Arabella levando a mão no peito e trocando um hi-5 com Alex. — Carrego vocês na costa.
— Assim, Ella Mozarela? — Perguntou Alex agarrando os ombros de Arabella e pulando sobre suas costas, montando na garota de cavalinho.
— Não quis ser literal! — Disse Arabella rindo enquanto tentava manter o equilíbrio para não cair fora do palco com Alex, todos riam divertidos da cena.
— Mais tarde a casa estará cheia de figurões de gravadoras. — Falou Luke animado enquanto ia para frente do palco.
— Gente, sério. Vocês estavam incríveis! — Elogiou Arabella abraçando Alex após ele ter saído de suas costas — Principalmente você, Alex.
— Eu só estava aquecendo. Vocês que mandaram ver — Falou Alex com modéstia, cutucando a cintura de Ella com a baqueta.
— Só uma vez, aceite que é incrível! — Falou Reggie concordando com os elogios que Arabella havia feito ao melhor amigo.
Levemente sem graça com os elogios, Alex olhou na direção de Luke e Bobby para se certificar de que ambos achavam a mesma coisa em relação ao ensaio final. O vocalista e líder da banda aproximou deles sorrindo orgulhoso e ao mesmo tempo animado, ele assentiu para Alex, dando alvará para que deixasse a humildade de lado e aceitasse os elogios.
— Beleza, eu fui um arraso! — Alex soltou do abraço de Arabella para cumprimentar Reggie com um aperto de mão seguido de um braço breve.
Ao se soltar de Alex, Arabella aproveitou o momento para abraçar Luke com força. O rapaz retribuiu o abraço na mesma intensidade e lhe deu um beijo tenro sobre o topo de sua cabeça, aproveitando para bagunçar seus cabelos azuis no instante que se afastou.
— Eu estou tão ansiosa, meus avós virão me ver tocar e a Oni logo estará aqui! — Comemorou a menina aos saltitos — Eles nunca saem de casa, vai ser o primeiro show que eles vão assistir. Ih! Estou tremendo.
Arabella estendeu as mãos na frente do corpo, mostrando o tremor causado pela ansiedade para Luke e para os outros rapazes. Sorrindo animado, Reggie segurou ambas as mãos da menina, balançando algumas vezes para os lados antes de puxá-la para um abraço.
— Relaxa, Mozarela! — Disse Reggie balançando o corpo da menor durante o abraço — Aposto como a Pepperoni e seus avós ficarão orgulhosos.
— Todos esses apelidos de comida me deram fome! — Disse Luke trocando olhares com Alex ao perceber as trocas de abraços frequentes entre Reggie e Ella, já que a adolescente vivia empurrando o rapaz e discutindo com o mesmo quando ele tentava qualquer aproximação. — Melhor a gente comer antes do show. Que tal um cachorro-quente?
— Boa. — Reggie e Alex assentiram com a ideia de um cachorro-quente.
— Estou de dieta. — Falou Arabella fazendo careta e soltando o abraço de Reggie. — Vocês sabem disso. Eu e a Oni iremos debutar daqui a algumas semanas, quero estar perfeita. Já foi adiantado nossa quiseañera por causa da banda.
— Só hoje, Mozarela! — Insistiu Luke segurando uma das mãos da amiga e levando até o peito — Depois faço qualquer dieta maluca que esteja programando.
— Vocês já escolheram quem vai entrar com vocês? — Perguntou Reggie mudando de assunto rapidamente.
— Sim, o Alex será meu par e o Luke da Ornella — Respondeu Arabella dando com os ombros. — Mas podemos dançar uma música, se quiser.
— Então...? — Insistiu Luke sobre o assunto do cachorro-quente.
— Argh! 'Tá. O que eu não faço por vocês — Arabella revirou os olhos e puxou a mão, cruzando os braços na frente do corpo.
O grupo desceu do palco rapidamente, teriam poucos minutos para comer e regressar ao Orpheum para o primeiro grande show. Os ingressos estavam esgotados, o que trazia ainda mais esperança de que eles iriam decolar a partir dali.
— Bob, onde você está indo? — Perguntou Luke quando Bob mudou o caminho que faziam, indo para o bar. Todos o seguiram cheios de curiosidade para saber o que o segundo guitarrista estava prestes a fazer.
— Estou suave! — Disse Bob gesticulando sem olhar para eles. O moreno aproximou do bar para dar em cima da bela atendente — Vegetariano. Jamais machucaria um bichinho.
— Ah, me poupe! — Falou Arabella revirando os olhos com a falsidade do outro — Ele está mentindo.
— Não, eu não estou! — Crispou Bob entre os dentes.
— Vocês são demais. — Disse a moça do bar ignorando a investida de Bob e olhando para cada um dos membro da banda.
— Obrigado! — Agradeceu Luke sorridente.
— E olha que eu vejo muitas bandas. — Prosseguiu a moça educadamente e com honestidade — Já estive em algumas. Me fisgaram legal.
— É isso que queremos. Aliás, sou o Luke — Apresentou o vocalista contente com o elogio.
— Oi, sou o Reggie! — Se apresentou Reggie animado.
— Alex! — Falou o loiro timido.
— Bobby! — Disse Bob com o máximo de charme possível, fazendo Arabella revirar os olhos e sorrir debochada.
— Sou a Arabella, mas pode me chamar de Ella! — Disse Arabella sorrindo simpática para a moça.
— Ella Mozarela — Falou Reggie abraçando a menina pelos ombros.
— Cale a boca! — Ordenou Arabella empurrando Reggie para longe dela.
— É um prazer, galera — Falou a moça olhando para cada um deles. Luke aproveitou para lamber o dedo e enfiar dentro do ouvido de Bobby, tentando atrapalhar suas investidas na bartender. — Sou a Rose.
— Oh! Aqui está nossa demo. — Disse Reggie entregando um CD para Rose e em seguida uma camiseta com a logo da banda que Ornella e Arabella haviam passado a madrugada estampando para venderem durante o show — E uma camiseta. Tamanho: Gata.
— Obrigada! — Agradeceu a moça abrindo a camiseta na frente do corpo.
— Eu que estampei! — Disse Arabella querendo mostrar seu valor.
— Prometo não limpar as mesas com ela — Falou Rose zombeteira.
— Muito bom. Até porque, se molhar, ela vai esfarelar nas suas mãos. — Explicou Alex fazendo Arabella cair na gargalhada.
— Não iam pegar cachorros-quentes? — Perguntou Bobby começando a se irritar com a intromissão do resto do grupo.
— Verdade. — Luke empurrou Bobby para trás e apoiou ambas as mãos no balcão — Ele almoçou hambúrguer.
— Amiga, segredo! — Arabella apoiou os cotovelo sobre o balcão antes de sair, ficando equilibrada, quase que deitada de bruços, no bar e gesticulou para Rose aproximar, o que a morena fez com um sorriso radiante na face — Como ex namorada, não vale a pena.
— Ha! Ha! — Bobby riu irônico e levou a mão às costas quando Arabella estava saindo, para que somente ela fosse capaz de ver o seu dedo do meio em riste. — Ela é engraçada assim mesmo.
Por ter pernas pequenas, Arabella precisou correr alguns metros para alcançar os amigos que estavam saindo do anfiteatro pela porta lateral. O baterista esperou a melhor amiga com o braço estendido, para que assim pudesse abraçá-la pelos ombros quando os alcançasse.
— Bobby é um completo imbecil! — Falou Arabella rabugenta e revirando os olhos — Porque mesmo que eu namorei com ele?
— Quer mesmo que eu responda? — Perguntou Alex cerrando os olhos.
— Não, foi retórico! — Ela fez careta com a lembrança. No fundo só havia namorado com Bobby para poder cobrir os sentimentos que estava começando a criar por Reggie, o que apenas Alex tinha conhecimento.
— Eu gostei da sua nova cor de cabelo! — Elogiou Reggie pela segunda vez no dia e mudando o assunto — Combinou com você.
— Verdade! — Assentiu Luke animado abrindo a porta lateral do anfiteatro para que eles pudessem passar — Sabe gente, era isso o que eu queria.
— Meu cabelo azul? — Perguntou Arabella confusa.
— Sentir o cheiro da Sunset Boulevard? — Perguntou Alex fazendo careta quando ingressaram no beco que fedia a lixo e urina.
— Não e não! — Disse Luke balançando a cabeça em negação enquanto olhava para os amigos. — O que aquela garota falou sobre a nossa música. É a energia que nos conecta com o público. Quando tocamos, sentem a nossa vibe. — O rapaz parou de andar e agarrou os três pelos ombros — Quero que todos se conectem com a gente.
— Então precisamos de mais camisetas — Disse Reggie sorridente.
— Vamos, galera! — Falou Luke animado enquanto colocava o capuz, regressando a caminhada.
— Meninas! — Reggie aproximou de algumas garotas que estavam esperando para ingressarem no Orpheum e entregou duas camisetas para elas.
Ao notarem que era Reggie que estava entregando as camisetas para elas, as garotas começaram a gritar em frenesi pelo nome do baixista, pedindo para que o rapaz esperasse e notasse suas presenças. Todos os quatro continuaram a caminhada rindo divertidos com a reação das fãs. Se havia algo que estava relacionado a fama que Arabella adorava eram seus fãs, ela vivia ganhando algumas cartinhas de admiradores secretos, bichos de pelúcia e flores. Gostava de ser querida pelo público, de todos a acharem um ícone, de ter atenção. Ser a única menina em uma banda de rock que estava lentamente em ascensão era ótimo.
Ela costumava pensar com frequência no que os seus pais poderiam falar sobre sua crescente popularidade e fama, se sentiriam orgulho dela. Às vezes sentia-se envergonhada por ficar aliviada pelo fato de estarem mortos, caso contrário estariam utilizando do fato de ser menor de idade para controlar o seu dinheiro e gastar com drogas. Seus avós diziam para ela ignorar esses pensamentos negativos e focar apenas no que interessava, fazer aquilo que ama com as pessoas que se tornaram sua verdadeira família.
— O que está pensando? — Perguntou Luke notando a súbita mudança de expressão na face de Arabella.
— No quanto eu sou grata a vocês — Disse a menina armando um sorriso sincero na face. — Vocês são a minha família.
— E a Oni Pepperoni — Disse Reggie lembrando da irmã gêmea de Arabella.
— Com certeza — Assentiu a menina rindo baixo enquanto era abraçada com força por Alex.
O grupo parou em uma "barraca" de lanches que ficava a poucos metros do Orpheum, eles serviam hambúrgueres e cachorros-quentes atrás de um carro velho. A irmã de Arabella, Oni, costumava brincar que se aqueles tipos de alimentos não matassem o grupo, nada mais os mataria. Já havia perdido as contas de quantas vezes ela teve de cuidar da irmã gêmea por ter pego intoxicação alimentar nessas barracas da vida e, ainda assim, insistia em frequentar.
— Cara, mal posso esperar para comer num lugar em que os condimentos não sejam servidos na mala de um calhambeque — Disse Alex terminando de montar seu lanche. Ele aproximou do dono da barraca que assava algumas salsichas — Ei, foi mal, derrubei molho dos picles nos cabos da bateria.
— Sem problemas. Ajuda com a ferrugem — Falou o dono da barraca rindo em seguida com sua esposa.
— Meu Deus! — Arabella levantou as sobrancelhas ao ouvir aquilo e afastou com Luke e Reggie, procurando um lugar para sentar com os meninos. A garota se acomodou num sofá velho coberto com papelão ao lado de Reggie, deitando a cabeça no ombro do rapaz que havia passado o braço livre sobre seus ombros — Estou muito feliz, como nunca estive na minha vida!
— Que maneiro, galera! — Disse Luke apertando o joelho de Arabela ao escutar suas palavras — Vamos tocar no Orpheum! Nem sei dizer quantas bandas que tocaram aqui estouraram. Nos seremos lendários! Vamos comer — O líder estendeu o cachorro-quente como se fosse uma taça de champanhe. — Porque, depois dessa noite, tudo vai mudar!
— Saúde! — Disse Arabella encostando seu cachorro quente no dos amigos antes de começar a comer. — Não acredito que estou quebrando minha dieta por vocês.
— Terá todo o tempo do mundo para fazer dietas — Disse Luke com a boca cheia.
— O gosto está diferente — Falou Alex após dar a primeira mordida.
— Também notei — Disse Arabella indo para sua segunda mordida — Ele está um pouquinho mais ácido, mas está bom.
— Relaxa, gente! Ninguém morre comendo cachorro-quente! — Disse Reggie continuando a comer.
— Reggie tem razão — Concordou Arabella dando outra mordida — Vamos focar no que importa, na mudança de nossas vidas.
Todos estavam certos quanto a mudança que teriam em suas vidas após aquela noite, o que eles não esperavam era que fosse de uma maneira literal.
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