A história do homem sombrio

Aimee Asimov

O Conselheiro do Rei me acompanhou até um lugar que parecia uma entrada deu uma caverna,um lugar úmido e sombrio.

Desci alguns lances de escada,e ao chegar no que parecia ser o andar de baixo podia observar algumas velas e incensos,era um lugar com uma aura estranha...

- Está atrasada. - Uma voz feminina vinda de um canto escuro me fez virar bruscamente. - Deixe eu te olhar melhor... Uma conjuradora do sol,que perde seu tempo treinando combates,por acaso vai destruir a dobra das sombras com socos? - Falou de um jeito irônico ainda me olhando de cima a baixo. - Por acaso você é muda?

- Não.

- Isso já é bom,eu acho. - A vi se virar e se sentar em uma cadeira me fazendo um gesto para eu fazer o mesmo. - Onde estão seus pais?

- Mortos.

- Onde você cresceu?

- Halmhend.

- Você passou despercebida e ficou onde não era o seu lugar,onde é o seu lugar? - Perguntou fazendo eu suspirar fundo.

- No exército.

- Rastreando fugitivos ou algum animal que provavelmente nem seria você que comeria? Seu lugar não é aqui?

- Falaram pra mim que é.

- Você tem que ouvir dos outros para ter certeza?

- Nem sempre...

- Então,oque você é? - Agora ela estava completamente rosto a rosto comigo.

- A conjuradora do sol.

- E você consegue conjurar o sol sem o General estar pegando na sua mão ou alguma Grisha tentando te matar? Além do mais sabia que o General é um amplificador?

- Amplificadores humanos não existem. - Respondi a vendo me olhar como se eu não soubesse de nada.

- Você é especialista nessas coisas? Consegue conjurar um poder sem ajuda?

- Não,não consigo.

- E que tal agora? - A vi colocar a mão no ombro,mas nada aconteceu.

- Espera você também é uma amplificadora? - Ela apenas se levantou e iguinorou minha pergunta.

- Todos acreditam que é a conjuradora do sol,só volte aqui quando também acreditar. - Falou me dando as costas.

[...]

Estava em meu quarto escrevendo uma carta para Dmitri,já fazia um tempo desde que não falava com ele,na carta eu dizia sobre tudo desde a comida a como eu me sentia uma estranha no ninho. E mesmo que eu tivesse a impressão que nunca seria respondida eu escrevia com todo meu coração.

O som de batidas na porta me fez guardar a carta rapidamente,era Mary me avisando que o jantar estava sendo servido,me levantei e fui com ela para a sala já cheia de Grishas.

- Me conta,como foi lá com Baghra?

- Foi um bom começo. - Falei sorrindo,eu realmente não estava com animo para explicar que havia sido um desastre e que eu era um suposto fracasso.

O jantar foi colocado a mesa,mas antes vi Ivan,o mesmo Grisha de Kefta vermelho que me escoltou até o Palácio,ele abriu um pergaminho e começou a falar sobre as perdas do exército,e de como os Fjerdanos mataram muitos de nós,mas logo sua atenção mudou para mim.

- Por que está aqui comendo figos ao invés de estar treinando? Você deveria estar treinando o tempo inteiro para destruir a dobra!

Eu ia me levantar para me retirar da sala quando Mary pegou na minha por debaixo da mesa.

- Não,ele apenas está irritado por conta das perdas que tivemos no exército. - Apenas assenti levemente e voltei a focar na minha refeição.

Retornei aos meus aposentos e me deitei na cama,havia sido um dia e tanto,e em meio a tantos pensamentos eu adormeci.

[...]

As batidas fervorosas na porta me fizeram despertar,o que me fez pensar que era ter melhor deixado aquele Drüskelle ter me dado uma machadada,pelo menos dai eu ia dormir para sempre.

- Entra! - Falei enquanto ainda tentava ficar acordada,Genya abriu a porta com um sorriso um tanto contagiante.

- Tem alguma carta para mim? - Foi a primeira coisa que perguntei fazendo o sorriso dela desmanchar.

- Infelizmente não querida,mas,você vai andar a cavalo! - Foi ai que percebi que em suas mãos haviam um par de botas e uma roupa coberta por um pano.

- Andar a cavalo?

- Sim,com o General Kirigan.

- Bom,eu preciso treinar,não andar a cavalo pela cidade. Além do mais quanto mais cedo eu destruir a dobra,mais rápido eu volto para...

- Sua vida? Essa é sua vida agora. - Falou enquanto se sentava ao me lado.

- Minha vida... Vida que eu espero Zoya tentar me jogar contra a parede ou dentro de uma fogueira... - Disse desanimada.

- Zoya não está mais no Palácio,não ficou sabendo? Kirigan a mandou ir reavaliar as prioridades dela. - Um sorrisinho involuntario apareceu nos meus lábios. - Agora vamos,não o quer deixar esperando.

- Não... Espera,ele não está bravo está? - Agora era Genya que ria de mim,então a ví retirar um Kefta preto debaixo do pano,era lindo.

- Ele quer que use isto.

- Preto é a cor dele,não minha... - Falei enquanto passava a mão sobre os bordados do Kefta.

Após me vestir,caminhei até o lado de fora do Pequeno Palácio logo vendo o homem de preto ao lado de dois cavalos.

- Bom dia.

- Bom dia! - O respondi o vendo retirar seu casaco. - Não está usando o seu Kefta...

- E você não gostou da cor que escolhi para você? - Perguntou enquanto caminhava até seu cavalo negro.

- Digamos que você é quem usa preto.

- Está tão preocupada em se parecer com todo mundo?

- Seria ótimo se isso acontece algum dia,General. - Falei enquanto subia no cavalo que tinha a tonalidade branca.

- Só que esse dia não é hoje. - Logo já estavamos nós dois montados lado a lado.

Começamos a cavalgar,e eu pude sentir o vento sobre meus cabelos,era uma sensação maravilhosa que fazia anos que eu não sentia,cavalgamos por grandes minutos que se pareceram horas para mim,horas que eu queria que nunca acabassem.

Até pararmos na entrada de um bosque.

- Isso foi incrivel,fazia anos desde a última vez que andei a cavalo. - Disse de forma animada e vi o homem a minha frente com um breve sorriso.

- Vem,quero te mostrar uma coisa.

O acompanhei até uma pequena fonte que já estava meio gasta pelo tempo,o vendo retirar uma moeda do bolso e joga-lá logo em seguida.

Me aproximei mais da fonte podendo ver nosso reflexos na água.

- Oque você vê? - Perguntou de forma serena enquanto eu ainda nos observava pelo reflexo.

- Uma versão diferente,de tudo...

- Talvez sua verdadeira versão tenha vindo a tona. - Virei para observa-lo,e nos encaramos por instantes até ele se aproximar da fonte começando a retirar alguns galhos da base dela. - Como está se adapitando a vida no Pequeno Palácio?

- Bem,ou mais ou menos bem,com a Baghra é meio difícil saber.

- Ela é sempre assim. Está satisfeita com seu quarto? - Perguntou sem tirar sua atenção da fonte.

- Bom eu nunca tive pedras quentes que aqueciam meu colchão. - Falei o vendo se virar para mim. - Sabe,é bom ter a Genya,só não entendo onde isso tudo vai levar.

- Sei bem como se sente Sr Asimov,sabe,quando eu era criança eu sempre fugia e vinha me esconder aqui,e depois que eu descobri que era descendente do Grisha mais odiado de toda Ravka,eu vinha aqui jogava moedas na fonte e sempre pedia a mesma coisa,pra ser outra pessoa. - O silêncio tomou o lugar,mas logo foi quebrado por mim.

- Bom,essa é a história dele não é? - Falei me aproximando novamente da fonte e olhando para os entalhos que havia nela.

- Consegue saber apenas olhando esse entalhos velhos?

- Mas é claro,todas as criança aprendem a história.
Centenas de anos atrás Anastas o Rei,contratou um Grisha como conselheiro militar,um conjurador das sombras...

- Pode dizer,o Herege Negro.

- O Herege ficou sedento por mais poder,e o Rei temendo um golpe,colocou a cabeça dele e de todo o Grisha que o defendesse a prêmio. O Herege sabendo da sua desvantagem tentou criar seu próprio exército usando a mesma ciência próibida que Morozova usou para criar seus amplificadores,mas fracassou e acabou criando a dobra das sombras,e foi morto por ela,junto de vários outros. - Me virei para encara-lo. - Eu aprendi certo?

- Eu dediquei a minha vida a tentar desfazer o grande pecado do meu ante-passado,mas nunca sou visto como uma solução,apenas como lembrete do problema,sempre precisam de alguém para por culpa... - Pude sentir a mágoa em sua voz,me fazendo sentir pena dele.

- É por isso que me olha assim não é? Eu sou sua solução. - Falei o fazendo me encarar. - Mas se eu fracassar,vão culpar a mim,e eu serei a nova Herege deles. - Voltei a olhar para dentro da fonte,o sentido ficar ao meu lado.

- Se acredita em alguma coisa,pode acreditar que não deixarei isso acontecer.

- Eu agradeço a gentileza mas... - Não terminei minha fala,talvez eu só não tivesse nada a dizer.

- Eu sempre estarei ao seu lado,você e eu iremos mudar o mundo. - Seu olhar continha poder,muito poder,era algo que eu podia sentir. - É melhor você voltar,Baghra não gosta de atrasos.

Sorri de canto e fui em direção ao meu cavalo e antes de ir,o olhei uma última vez até enfim ir embora.

◑ ━━━━━ ▣ ━━━━━ ◐