Mentiras

Dmitri Mandeleiv

Mentiras e mentiras.
A sensação de se sentir enganado por alguém que você sempre confiou era como se lhe tivessem te dado uma flechada pelas costas.

No fundo eu sabia que fazia sentido Aimee ser uma Grisha,o fato de uma criança sozinha e machucada aparecer na casa de desconhecidos pedindo ajuda,e essa criança jurar com todas as forças que não se lembrava do que havia acontecido.

Ela estava colocando eu e minha familia em perigo o tempo todo,pensando apenas em sí mesma e em segurança própria.

- Dmitri! O Tenente está chamando todos os rastreadores! Urgente! - Ditou um homem loiro me fazendo levantar com dificuldade da maca onde eu estava.

Caminhei mancando até a tenda maior e ao adentra-lá vi todos os rastreadores sentados e olhando atentamente para o homem grisalho.

- Recebi uma carta do General Kirigan e outra do Rei. E bom,nelas tem duas missões que sinceramente ambas são bem perigosas,certo,o General Kirigan quer que encontremos o Cervo de Morozova,e sim,aquele das antigas lendas...

- Isso é loucura,é apenas um mito! - Um dos homens presentes questionou.

- Com a descoberta da conjuradora do Sol agora todos os mitos parecem ter se tornado realidade,certo,e sobre a missão do Rei,algum de vocês vai ter que se infiltrar no exército de Fjerda,para conseguir informações sobre seus planos e possivelmente nos dar uma vantagem contra eles.

E foi nesse momento que as coisas começaram a ficar interresantes.

- Eu vou! - Falei fazendo todos me olharem surpresos e ao mesmo tempo assombrados. - Sou de Halmhend,é completamente território dos Fjerdanos,além de eu saber falar Fjerdan fluente,senhor.

- Então está decidido,arrume suas coisas meu jovem,pegue um cavalo e vá,sua viagem é longa! Agora algum volúntario para ir a procura do cervo?....

Ao sair da barraca fui direto arrumar minha mochila,além de pegar algumas roupas quentes de pele animal. Eu não estava só indo atrás de respostas para o exército,estava indo atrás de respostas para mim mesmo,eu vou descobrir o que realmente aconteceu na noite em que Aimee Asimov bateu em nossa porta.

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Aimee Asimov

Ouro,Marmore,Prata...

O Palácio era sem dúvidas divino,podendo ser considerado até mesmo exagerado,havia guardas por todos os lados,mas esses mesmos guardas que pareciam tão fortes estremecerram ao ver Kirigan.

- Vai ficar segura aqui,o Palácio é o edificio mais seguro do país inteiro,você vai se acostumar. - Ele parou me observando ficar entre dois dos guardas.

- Aonde você vai? - Perguntei de um jeito meio desesperado.

- Ah levem para a suíte do segundo corredor. - Avisou aos guardas.

- Eu por acaso sou uma prisioneira?

- Ravka inteira é,até eu e você banirmos a dobra. - Falou de modo firme e logo em seguida me deu as costas saindo novamente do palácio.

Fui escoltada até o quarto onde eu iria ficar,e ao chegarmos um dos soldados abriu a porta me fazendo um sinal para que eu entra-se e após isso ouvi a tranca da porta atrás de mim ser trancada.

Era um lindo quarto,assim como todo o Palácio em sí,mas eu não conseguia me sentir segura,não conseguia sentir nada,nada além de medo.

As lembranças da noite em que eu fugi enquanto matavam meus pais voltou a minha mente,a lembrança de bater na porta da familia de Dmitri e eles me acolherem como parte deles,e agora estava tudo arruinado,eu vi o jeito que ele me olhou do lado de fora da carruagem,sei que ele se sentiu traído,e que provavelmente acha que eu menti o tempo todo.

E por um lado ele estava certo,eu menti,mas oque eu poderia fazer? Eles nunca iriam ter me ajudado se soubessem a verdade,se é que existe uma verdade em minhas memórias.

A única verdade realmente concreta era de que agora eu realmente não tinha ninguém...

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O dia amanheceu,o piar dos pássaros e alguns raios do sol me fizeram despertar. É não havia sido um sonho,por um breve momento achei que acordaria na cama dura do primeiro exército,mas não.

A porta foi aberta rapidamente,o que me fez pular de susto,era uma mulher ruiva,sendo seguida por outras que pareciam ser criadas.

- Santos... Você por acaso nunca tomou banho? E o que ouve com seu rosto? Isso vai dar mais trabalho do que eu pensei,pegue meu kit. - A mulher ruiva fez um gesto para as criadas que me puxaram da cama me levando ao banheiro.

Elas retiram minhas vestes e me fizeram sentar na banheira,senti elas pegarem vários tipos de lenços e começarem a passa-los sobre mim fazendo com que toda a minha sujeira fosse embora.

- Em apenas uma hora você será apresentada ao Rei,e o General Kirigan pediu para que eu a deixasse apresentavel. - Falou a ruiva novamente.

- Espera,eu vou conhecer o Rei?

- Em uma hora,então não enrole. - Ela novamente fez um sinal as criadas,que agora me tiraram da banheira e me vestiram com um roupão.

- Certo,agora todas para fora! - Disse alto fazendo todas sairem ficando só eu e ela no quarto. - Bom,agora que está limpa,posso ver que na verdade não terei tanto trabalho assim.

A ruiva se aproximou de mim analisando cada centimetro do meu rosto,então a vi passar seu dedo sobre meu lábio e testa,fazendo os pequenos cortes em meu rosto sumirem.

- Você é uma curandeira?

- Sou uma artesa,posso curar e também modificar. - Falou enquanto andava em volta de mim.

- Nunca conheci uma artesa...

- Sou quase tão rara quanto você,mas digamos que salvar os seios murchos da rainha não me faz tão importante como você. - Novamente ela estava frente a frente comigo,mas agora senti suas mãos sobre meu braço e a vi fazer a cicatriz do teste sumir. - Agora senta aqui.

Fiz oque ela pediu,me sentando a frente de uma penteadeira que havia no quarto e senti novamente as mãos da ruiva,só que dessa vez em meus cabelos,e como um passe de mágica meus cabelos antes secos e sem vida,agora estavam arrumados e vibrantes.

- Como descobriu que era capaz disso? É incrivel.

- Os testadores me encontraram quando eu tinha onze anos,então o General Kirigan me deu de presente a rainha. - Falou enquanto análisa seu kit,era uma pequena mala de couro que tinha dentro vários tipos de flores,cristais e pérolas. - Mas eu prático meus poderes desde os meus três anos.

- Desde os três anos? Oh deus,eu não posso ficar diantes do Rei,eu não sei nem sequer fazer uma bolinha de luz,sou Grisha a só um dia. - Suas mãos apertaram meus ombros e ela me encarou pelo reflexo no espelho.

- Talvez você tenha descoberto a só um dia,mas você foi Grisha a vida toda,e agora está aqui para destruir a dobra.

Fiquei quieta por um tempo vendo ela fazer oque parecia ser minha maquiagem.

Todos aqui estavam esperando demais de mim,e isso era assustador.

- Está perfeita. Agora vista o seu uniforme do exército,e rápido já estamos atrasadas,vou te esperar no corredor.

Após vê-la sair,me olhei no espelho e realmente nunca me vi tão bonita,me levantei e me troquei rapidamente,logo saindo e vendo Genya com um véu preto em mãos.

- Vou colocar isso sobre seu rosto,o Rei tem que ser o primeiro a ver você. - Ela colocou o véu sobre meu rosto e fez um gesto para eu o acompanha-lá.

- Eu não deveria usar um Kefta? Essa roupa não é... Como eu posso dizer,inferior a tudo isso?

- É assim que tem que ser,o Rei espera ver uma menina humilde vinda do primeiro exército,e isso quer dizer vestes limpas,sem sangue e sem sujeira,além dele querer levar o crédito por você,agora vem logo! - A mesma agarrou meu braço me fazendo andar junto a ela. - Pelo que eu sei será o Rei,a rainha, o principe Vasily e o conselheiro espiritual do Rei.

- Você está me deixando ainda mais nervosa...

- Não fique assim.

- Uma pergunta alguém já conseguiu fugir daqui? - Perguntei ao cruzarmos uma das portas do Palácio.

- Está planejando fugir? - Uma voz masculina me fez parar o meu caminho.

- Não,não planejo. - Ao olhar em volta Genya não estava mais lá,ela havia sumido...

- Você está muito bonita,o Rei vai gostar disso,agora vamos. - Falou o moreno de Kefta preta e assim que saimos vi que havia outro Palácio,um duas vezes maior.

- Nossa...

- Me diga,conseguiu descançar? - Perguntou tirando minha atenção da grande arquitetura a nossa frente.

- Quase nada,mas a mágia da Genya ajudou.

- Não é mágia,é ciência,pequena ciência,nós não criamos matéria,apenas manipulamos aquilo que já existe ao nosso redor.

- Você faz parecer fácil. - Nesse momento o vi ficar a minha frente com uma expressão um tanto séria.

- Você vai conseguir,apenas se concentre em mim,e vai dar tudo certo. Quando o Rei nos vir e nos dar sua benção,você vai começar a treinar. - Falou voltando a andar.

- Sua benção? Mas não é você que manda nos Grishas?

- O Rei ainda é o Rei,ele manda.

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Ao chegarmos no grande salão,altomaticamente começar a hiperventilar e senti minhas pernas ficarem bambas,havia muita gente ali,mais do que Genya havia falado,desde Grishas até aqueles que pareciam ter um grande cargo no governo.

Senti o olhar de Kirigan sobre mim o vi fazendo um sinal para que eu retirasse o véu que cobri meu rosto,e dessa vez era o Rei que me análisava de cima a baixo.

- Ela não me paresse o tipo de garota que trabalha para o primeiro exército. - Falou com ar superioridade.

- Sim,achei que ela seria de uma aparência mais... Inferior. - Completou a rainha. - E quem você é?

Minha garganta estava travada,era como se algo me impedisse de falar.

- Ela é Aimee Asimov,a conjuradora do sol! - O homem ao meu lado falou. - E ela mudará o futuro apartir de agora. - Ele levantou suas mãos fazendo todo o salão ser tomado por escuridão,então caminhou ficando a minha frente e se aproximou de meu ouvido. - Apenas chame o sol. - O senti tocar minha mão e nesse momento algo dentro de mim se acendeu.

A luz saiu de mim,assim como no esquife,todos ao nosso redor começaram a aplaudir e vi o General com um sorriso de canto.

Ele se virou para encarar Rei,e começou a explicar de que destruir a dobra não seria algo fácil,mas enquanto ele falava senti um liquido quente escorrer pelo meu nariz,sangue.

Limpei rapidamente vendo Kirigan se virar e segurar minha mão para sairmos dali.

- Você foi perfeita,e teve a benção do Rei. - Falou olhando para mim,vi que ele notou o sangue,e por conta disso retirou um lenço preto de seu Kefta e o passou limpando o liquido vermelho. - Bem vinda ao lar,Sr Asimov.

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