ㅤㅤ ㅤㅤ 🏛️ 🎨 ˖ ִ ˑ 𝟎𝟎𝟒
Os eventos mágicos relacionados ao Museu de história natural não tiravam apenas o sono precioso de Melody, como também qualquer tipo de foco necessário para manter o ritmo frenético da criação de sua defesa de mestrado. Chegou a cogitar em sua segunda noite de serviço que a magia fora fruto de sua imaginação, que tudo não passou de um surto coletivo e os remédios que utilizou durante o voo para Nova Iorque na intenção de não vomitar tiveram culpa no cartório por, talvez, ter ingerido dosagem a mais ou estarem vencidos. Porém, essa sua teoria deixou de ser válida logo no terceiro dia, quando o pequeno boneco de Jedediah Smith e a estátua de Colombo insistiram em permanecer com ela no escritório do tio, a impedindo de seguir em frente com sua tese e a entupindo de perguntas pessoais. Tirando os momentos que as outras peças do museu ingressavam no recinto para observa-la de longe ou apenas falar olá, ou no caso de Atila, lhe dar um forte abraço.
As vezes Melody colocava Jedediah em seu ombro e saia passear pelos corredores do museu na intenção de encontrar o verdadeiro motivo de tê-la feito regressar para Nova Iorque, o faraó Ahkmenrah. Desde o primeiro dia que descobriu sobre a magia que pairava no local, começou a imaginar como seria a aparência do homem, que tipo de segredos ele poderia revelar para ela e como seu mestrado seria rico em informações, mesmo que tivesse de inventar 'n' livros falsos para explicar as fontes das futuras citações, já que não poderia colocar como fonte o próprio faraó.
Porém, a única pessoa morta que interessava para lhe dar um futuro acadêmico brilhante aparentava estar a ignorando. Ela o buscava por todas as alas do museu, desde a parte designada a cultura egípcia quanto aos banheiros, mas nunca o encontrava. Chegou a perguntar para Larry e para a escultura de Theodor Roosevelt sobre o faraó, mas sempre a respondiam dizendo que o mesmo se encontrava indisposto. Durante os primeiros dias chegou a aceitar essa resposta, mas no final da primeira semana começou a soar estranho, principalmente pelo fato de Ahkmenrah já estar morto e Jedediah jurar que ele não parecia em nada com um zumbi putrefato.
Como combinado previamente com seu tio, Melody não frequentaria o museu durante os finais de semana para que pudessem ter um tempo em família. Os dois dias que seguiram pareceram durar uma eternidade, por mais que Melody estivesse adorando o roteiro feito pelo tio nos pontos turísticos menos movimentados da cidade e as refeições em seus restaurantes favoritos. A única coisa que ocupava sua mente era o plano de encarar o Faraó na segunda-feira e perguntar o motivo dele a ignorar por todo esse tempo.
Com a chegada da segunda-feira, Melody estava pronta para colocar em prática o plano que julgava perfeito para arrancar explicações de Ahkmenrah e, finalmente, conhece-lo. Para que as coisas ocorressem como planejado e o encontro desse certo, ela precisava ser a primeira a chegar no museu, dessa forma Larry não atrapalharia seu desempenho para arrancar verdades e as duas grandes estátuas do deus Anúbis não a impediriam de ingressar no sarcófago do Faraó.
A jovem mulher deixou o conforto do lar antes mesmo do tio regressar do serviço, deixando apenas um post-it sobre a comida congelada dentro da geladeira com um pedido de desculpas por não jantarem juntos aquela noite. Sabia que se avisasse o tio sobre estar indo mais cedo ao museu, ele alertaria Larry e o obrigaria a entrar junto com ela, para que assim pudesse cuidar da segurança não só do museu, mas como a de Melody.
Ao ingressar no museu não tardou a se misturar com um grupo de turistas franceses que acompanhavam uma visita monitorada, em vários momentos precisou se segurar para não fazer correções sobre algumas informações dadas pelo novo estagiário do museu ou acrescentar informações extras que o rapaz deixou passar, precisava manter o anonimato caso quisesse que as coisas dessem certo. Na primeira oportunidade que teve, ela desviou do grupo de modo discreto e permaneceu escondida atrás de uma grande pilastra próxima ao sarcófago que compunha o cenário do Ahkmenrah e por ali permaneceu até o museu ser completamente fechado.
Para não ser tomada por um pequeno surto de ansiedade, ela retirou de dentro da mochila o seu exemplar de Crepúsculo. Fazia pouco tempo que havia descoberto sobre o livro lançado a quase dois anos e, mesmo que não demonstrasse abertamente, estava adorando a leitura. Um dos seus MUITOS estranhos costumes é usar da literatura infanto-juvenil fantasiosa para escapar dos problemas da realidade, ou qualquer outro tipo de romance água com açúcar que não acrescenta nada em seu conhecimento.
Entretanto ela não esperava que aquele romance adolescente com vampiros sugasse sua atenção ao ponto de faze-la esquecer da missão principal, mas aconteceu. Melody ficou tão interessada em saber os mistérios relacionados ao charmoso Edward Cullen que não deu conta quando a noite caiu e as coisas começaram a ganhar vida.
Faltavam poucas linhas para Bella Swan dizer em voz alta que o sensual Edward Cullen era na verdade um vampiro, quando Melody sentiu um forte vendo quente bater em sua nuca, fazendo os cabelos balançarem. Mais que depressa ela fechou o livro e levantou de onde estava sentada lentamente, tentando não fazer movimentos bruscos. Suas pernas estavam bambas e o coração batia acelerado, aquele vento no cangote só poderia significar uma coisa, que as estátuas do deus Anúbis estavam acordadas, assim como todas as outras coisas do museu, mais precisamente o faraó Ahkmenrah.
— Calma... — Com as mãos levantadas ela girou na direção do vento, deparando com a grande estátua apontando uma lança em sua direção — Oi, cachorrinho. — A estátua nada disse, apenas rosnou mostrando bem os dentes para ela — Só quero falar com seu dono... — Melody tentou explicar com a voz falha e o mínimo de gagueira possível. Ela olhava dos grandes dentes da cabeça de cachorro da estátua para a ponta afiada de sua lança — VAI PEGAR! — Ordenou a menina lançando o livro para longe na intenção de que a estátua de Anúbis se comportasse como um animal, mas ela apenas olhou do livro jogado para a jovem mulher, em seguida fingiu que iria empalha-la com a lança, fazendo Melody cair para trás gritando desesperada — AH! LARRY! LARRY!
Como em todos os seus ataques de pânico, Melody permaneceu caída no chão sem conseguir se mexer. As pernas bambas tremiam e pela primeira vez, a muito tempo, teve a sensação de que a vida passava diante dos seus olhos, que aquele seria o seu fim. Lágrimas grossas escorregavam dos seus olhos enquanto gritava. O mais irônico é que estava prestes a ser morta pelo deus egípcio que conduz as almas para o submundo.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntou Ahkmenrah deixando o seu sarcófago e correndo na direção dos berros. — Melody?!
— Ahkmenrah? — Melody parou de gritar por alguns segundos e tentou forçar um sorriso, mas ainda estava muito assustada com a estátua assassina.
— Quem mais poderia ser? — Perguntou o faraó aproximando de onde a menina estava caída. Ele falou algo em egípcio para a estátua que se afastou, soando menos ameaçadora. Mas Melody não prestou muita atenção, estando fascinada com a aparência do faraó, o qual não era nada parecido com o que havia imaginado. Ahkmenrah havia morrido jovem, aparentando ter quase a idade atual dela, usava roupas típicas de um faraó que pareciam uma fantasia de carnaval feito com puro ouro e outras joias preciosas, além de ser muito bonito fisicamente, com seus belos olhos castanhos e cabelos de mesma cor.
— O Bruno Mars? — Perguntou a menina fazendo um comentário levemente sarcástico.
— Quem? — O faraó franziu o cenho confuso enquanto a avaliava dos pés à cabeça, certificando se valia ou não a pena poupar sua vida, ou fora isso que Melody imaginou com o olhar que recebera.
— Esquece — Ela gesticulou para que ele deixasse aquele comentário para lá. — Uau! Isso é tão incrível e assustador. Você não sabe como estou honrada de conhece-lo e...
A historiadora estava prestes a começar uma bateria de perguntas quando o barulho de uma grande confusão cresceu até chegar no sarcófago. Quase todas as peças do museu estavam prestes a iniciar uma batalha pela vida de Melody, Átila carregava as armas em punho, assim como os neandertais com suas estacas, pedras e outras coisas que acharam no corredor, Jedediah e César estavam dentro de um carrinho de brinquedo e tomavam a dianteira, mesmo a contragosto do imperador romano que, por algum motivo, não ia com a cara de Melody. Theodore Roosevelt e Sacajawea também estavam prontos para a batalha, com Colombo em seu encalço.
— Eu te salvo, Pernuda! — Gritou Jedediah parando o carrinho na frente do faraó.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntou Larry esbaforido ao ser o último a chegar no local. Ele estava suando e segurava a lanterna com força, como se fosse algum tipo de arma perigosa — Melody...
— Estou bem — Respondeu a mulher ficando em pé — Foi apenas um susto.
— Ela estava escondida, Larry. — Explicou o faraó com expressões carrancudas.
— Não teria me escondido se você não me ignorasse — Respondeu Melody limpando a sujeira das vestes, principalmente na bunda da calça jeans escura. — Eu só queria fazer umas perguntas. Te conhecer.
— Já me conheceu — O faraó apontou para o próprio corpo — Agora pode ir embora.
— Como assim? — Melody piscou os olhos algumas vezes, ficando confusa com a expulsão surpresa. — Foi porque eu joguei meu livro para o Anúbis pegar? Já me arrependi disso e peço desculpas.
— O que? — Perguntou Larry tentando entender o que acontecia.
— Não é por conta disso — Respondeu o faraó cruzando os braços na frente do corpo — Mesmo que tenha sido inapropriado. Mas tenho meus motivos.
— Explique seus motivos — Ordenou Melody cruzando os braços sobre o peito — Não vim de tão distante para ser ignorada dessa forma.
— Não tenho que explicar nada para você — Respondeu o faraó querendo colocar um ponto final naquela discussão.
— Minha vida depende dessas perguntas, Ahkmenrah — Disse Melody batendo o pé no chão, estando determinada a conseguir prosseguir de maneira fácil em sua pesquisa acadêmica. — Só preciso de vinte minutos do seu tempo. É rapidinho.
— Posso lhe dar as respostas em vinte minutos — Concordou o egípcio a contragosto.
— Ótimo, vou pegar o gravador e... — Melody começou a falar, mas foi interrompida pelo "morto".
— Mas depois disso você vai embora —Ordenou determinado.
— O que? — Perguntaram todos os presentes em uníssono, cada um em sua língua e tempo.
Todos olhavam surpresos para Ahkmenrah, estando confusos com aquele comportamento mesquinho e egoísta do antigo rei do Egito. Aquela era a primeira vez que o faraó soava grosso com qualquer pessoa, pegando todos despreparados, principalmente por não dar qualquer explicação sobre o motivo de estar agindo feito um idiota com a nova "funcionária" do museu. O único que parecia estar contente e torcendo para que a menina aceitasse o acordo era o imperador romano, mas ainda assim com uma pitada de confusão no fundo dos seus olhos.
— Não — Melody bateu o pé no chão e moveu os braços, estando determinada a permanecer no museu, mesmo que a única pessoa que importava de verdade no local se recusasse a aceitar sua presença.
— A pernuda acabou de chegar, não pode mandar minha melhor amiga embora — Resmungou Jedediah horrorizado com o pedido.
— É! Obrigada, Jed. — Agradeceu a menina sorrindo para o bonequinho dentro do carrinho de brinquedo. Em seguida voltou a olhar séria para o faraó — O museu não é seu, você não tem esse direito.
— Sem acordo, sem respostas. — Falou o Faraó determinado a seguir seus planos mesquinhos.
— Aposto como isso tem uma explicação lógica — Disse Theodore Roosevelt tentando amenizar o clima desagradável que pairava no recinto.
— Tem sim, o faraó Ahkmenrah é um egoísta pau no...
— OOOOOOOH! — Gritaram os presentes sobrepondo o palavrão de Melody.
— Eita, que a pernuda ficou brava — Falou Jedediah abrindo um sorriso levemente debochado na face, aquela era a primeira vez que escutava Melody ofender alguém ou falar qualquer tipo de palavrão. No fundo estava adorando ver o circo pegar fogo.
— Quer saber, eu não preciso de você. Posso mudar a minha tese, olhe quantas pessoas incríveis tem aqui. Vou escrever sobre qualquer outro. Qualquer um é mais interessante que você — Disse Melody dando as costas para o faraó e o desdenhando. No fundo estava com vontade de chorar e extremamente decepcionada por ele não ser nada do que esperava, mas não demonstraria seus sentimentos na frente de várias "pessoas", pois não era do seu feitio demonstrar sentimentos que não fosse medo ou felicidade ao mundo.
Com os olhos marejados, Melody foi a primeira a deixar a ala dedicada ao Egito antigo, sendo seguida lentamente pelos outros presentes. Todos queriam saber o que estava acontecendo com ela e como estaria se sentindo depois de toda aquela confusão com o Ahkmenrah. Mas a menina conseguiu ser mais rápida que todos e sumiu por entre os corredores, precisava ficar sozinha, sem nenhum tipo de olhar pesaroso vindo por parte dos bonecos de cera, estátuas e bonecos palito.
Dentro do recinto dedicado ao Egito antigo, o segurança Larry permaneceu encarando Ahkmenrah em busca de qualquer tipo de informação que o outro pudesse lhe dar sobre aquele comportamento idiota, porém o faraó lhe deu as costas, voltando para o conforto do seu sarcófago.
— É sério que vai fazer isso? Agir feito um idiota? — Perguntou Larry levemente irritado e dando razão para Melody.
— Eu tenho os meus motivos — Reclamou o faraó deitando no caixão.
— Aquela menina dedicou a vida inteira para estudar sua história, vem dedicando horrores do tempo. Você precisava ver seus olhos brilhando quando descobriu que tudo no museu ganhava vida, quando pensou em você — Explicou Larry apontando com a lanterna na direção da saída — Não pode trata-la dessa forma. Eu te acobertei durante dias, pois sou seu amigo. Mas não posso mais se você não me disser o que está acontecendo.
— Você não entenderia, Larry — Falou Ahkmenrah tristemente e suspirando — Ninguém aqui entende.
— Ninguém aqui vai voltar a falar com você se continuar agindo assim com a Melody. Todos gostam dela, mesmo que ela prefira passar mais tempo no escritório — Disse Larry com pesar — Ela tem se esforçado para agradar o pessoal. Você a decepcionou.
— Eu sei o que estou fazendo — Disse o faraó fechando a tampa do sarcófago e encerrando de vez a discussão.
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