29 | Destino

"Não temos que nos esconder,
é disso que você gosta, eu admito:
nada é melhor do que isso."

——————

Seth

ACHO QUE EU SURTEI UM POUCO. Exagerei talvez, não sei. As coisas pareciam confusas agora, como se tivéssemos retornado para antes de toda a história do imprinting, ela era só a Merliah e eu... Bom, eu era o Seth com saudades da Merliah. Talvez nem tudo esteja como antes agora.

Eu sai da sala quando ela me disse que matou alguém. Me sentei, respirei fundo e depois sai. Deixei ela lá, sozinha, fugi como um cachorrinho assustado.

Que tipo de namorado faz isso?

Tentei falar com ela no dia seguinte e depois no outro e no outro. Ela não quis me ver, claro, ela estava com raiva. O que eu não entendia era: raiva de quê? Eu sei que não foi legal sair de lá mas eu voltei pra conversar, não foi nada demais, o que diabos ela estava pensando que aquilo significou?

Estranhamente começo a me sentir mais leve, como uma coisa crescente desde o meu peito. Invadiu meus pensamentos e afastou tudo que havia de ruim, quando tentava me concentrar só via coisas idiotas como lembranças de filmes e dias com as matilhas.

Me viro e franzo o cenho na direção de Jasper. Ele sorri pra mim com humor, me fazendo lutar contra lhe dar um sorriso também e balançar a cabeça em negação. O controle emocional se vai e eu volto a ter meus pensamentos deprimentes sobre como eu era horrível, como eu era idiota e por ai vai.

Era a festa de casamento de Jacob e Renesmee então estava tentando não ficar com cara feia o tempo todo, estava um pouco difícil. E por festa eu quero dizer os Cullen e seu novo integrante Hans, os Black, minha família e Koda, Denahi e Maya, os amigos mais próximos de Nessie das matilhas.

Todos estavam empolgados conversando pela enorme casa enquanto eu fingia prestar atenção no que Leah e Koda discutiam. Acho que era algo sobre assassinos em série, não tinha certeza.

O vampiro com hábitos esquisitos se afasta de Merliah e passa por mim me encarando com seus olhos vermelhos — ainda estavam vermelhos mas em breve, com a nova dieta, ficariam amarelos.

Essa é a minha deixa. Fiquei esperando a noite toda um momento em que Merliah ficasse sozinha mas ela estava sendo perspicaz em se manter sempre acompanhada para me evitar. Bom, ela ainda se importava, ou seu olhar não se cruzaria com o meu a cada cinco minutos.

Com um aceno de cabeça deixo meu grupo e ando até Lia com meu terno um pouco maior que eu. Renesmee conseguiu pra mim, era de Edward, eu aceitei já que minha roupa padrão de festa foi destruída no dia do imprinting. Merliah se vira pra mim e percebe que estou indo em sua direção já que faz uma careta e olha pros lados como se tentasse fugir.

Ninguém por perto, somente uma mesa do outro lado da sala lotada de pessoas comendo.

Observo como ela estava bonita. Uma trança lateral no cabelo, batom vermelho nos lábios cheios e um vestido branco e brilhante que ia até o tornozelo. Faz meu coração doer, me irritava a capacidade dela de estar sempre perfeita.

Paro na sua frente e pigarreio.

— Pode falar comigo agora? — eu pergunto.

Lia não se dá ao trabalho de olhar pra mim mas consigo ouvir suas unhas arranhando a palma de sua própria mão.

— Não acho que seja uma boa ideia.

— Merliah... — eu tento insistir.

Mas ela me corta.

— Seth, agora não é o momento.

Respiro pesadamente. Eu sei que ela estava certa mas em qual outro momento eu ficaria ao lado dela? Billy não me deixa vê-la — já que ela se nega a isso — e Jacob está ocupado sendo arrastado de um lado pro outro por Alice Cullen, parece que experimentar ternos é mais trabalhoso do que eu pensava.

— E quando vai ser o momento?

— Quando não estivermos todos comemorando um casamento — ela explica.

— Mas é importante...

Merliah olha pra mim, seus olhos não transmitiam nada, estavam vazios.

— Sabe o que era importante? Você ficar do meu lado!

— Você não me deixa explicar! — digo, aumentando meu tom de voz fazendo com que Jasper se vire para nós.

Droga, falar alto com vampiros por perto não é bem ser discreto. Espero que ele não venha com a gracinha de controlar emoções agora.

— Explicar? — Merliah indaga, com o tom de voz mais alto do que eu esperava. Dessa vez outros Cullen viram a cabeça mas são rápidos em disfarçar. — O que mais tem pra ser explicado? Todos esses dias deixaram tudo bem claro pra mim!

Balanço a cabeça em negação. Eu sei que o silêncio é uma péssima resposta mas eu não queria ser insensível ou falar algo que pudesse magoa-la então me mantive quieto. Eu sai e fui pensar, parecia a escolha sensata pra mim. Nunca esperei que fosse virar uma bola de neve.

— Vamos conversar mais tarde — anuncio, não como um pedido e sim como um aviso.

Ela desvia os olhos e cruza os braços.

— Eu não quero.

Birrenta.

— Vou ir na sua casa.

— Jake não vai deixar você entrar — ela diz mas sua voz vacila no final. Lia não tinha certeza disso.

Ela sabia que se ele concordasse com o que eu penso me deixaria entrar. E ele concorda... Ou pelo menos sabe que não foi a minha intenção ser rude.

— Pois eu acho que vai.

— Não, não vai.

— Então eu entro sem autorização.

— Vou trancar a porta.

— Eu derrubo — digo e seguro seu braço. Tem o efeito que eu esperava, afinal, ela me encara e consigo ver alguma coisa através de seus olhos. — Derrubo a casa inteira se for preciso Lia, mas você vai me ouvir. Estou farto disso!

Dou meia volta e decido ir pra casa. Acho que já havia ficado por aqui o suficiente.

Me despeço de todos e sigo meu caminho até a reserva em minha forma de lobo, as roupas de Edward amarradas em meu tornozelo. Meu trajeto se torna tortuoso e acabo sentado na frente da casa dos Black, esperando meu momento de tentar me explicar.

Poderia ficar aqui a semana toda se ela quisesse.

Não sei quanto tempo se passou, talvez mais de duas horas, quando vejo Jacob sair de seu carro.

— A Merliah já saiu de lá? — pergunto, me aproximando.

Jake balança a cabeça em afirmação. Faço careta, sei o que isso significa, significa que ela voltou de carona com o tal Hans. Sei também que toda a opinião dele sobre ela é: ela é bonita e tem um gênio péssimo. Sério, quem aquele vampiro branquelo acha que é pra julgar o temperamento de alguém?

—  Cara ela está muito magoada com você. — Jacob começa, assim que paro na sua frente. — Inclusive andei pensando seriamente em quebrar a sua cara, sabe como é, não gosto de malandros magoando a minha irmã.

Sua pequena brincadeira não me causa nenhuma sensação de humor.

— Eu não sou um malandro.

— Antes do imprinting você era então a nomenclatura ainda está válida — ele se defende.

Reviro os olhos. Discutir com Jacob era como correr em círculos, o cara era bem teimoso, talvez fosse uma coisa de família já que Merliah e Billy também se comportavam assim.

— Ela está muito mal? — pergunto, a curiosidade me dominando.

Jake se focava bastante no que estava fazendo na forma de lobo e quando seu foco mudava ia direto pra Renesmee, era difícil ver alguma coisa da Lia. Talvez ela tenha pedido a ele para ser discreto.

— Não pior do que você e seus pensamentos deprimentes mas é, ela está sim — é o que ele responde.

Arqueio uma sobrancelha.

— Ela parecia estar queimando de ódio.

— É como ela fica quando algo mexe com ela, hoje mesmo ela deu uma patada na Nessie e duas no papai. O negócio está ficando sério.

Se ela deu uma patada na Nessie então o mundo realmente estava acabando...

— Bom, se isso vale de alguma coisa eu também não estou muito bem.

Jacob dá risada. A risada do Jacob.

— Eu já sei mas foi bom você me dizer.

— Não contou nada do que eu andei pensando pra ela, certo? — pergunto.

Tudo que eu menos queria é que ela pensasse que eu sou muito idiota, um pouco tudo bem!

— Eu não contei nada, não quero arruinar suas chances fazendo ela perceber que você é um idiota — rebate. Acho que Jake leu minha mente.

— É dos idiotas que elas gostam mais — tento fazer uma piada.

Felizmente ele ri, acho que isso se devia ao álcool e ao bom humor pelo casamento na semana que vem.

— Eu vou me casar então acho que posso acreditar nisso.

— Renesmee não tem juízo nenhum — murmuro, cruzando os braços.

— Com certeza puxou a mãe! — Jake responde e então ergue as sobrancelhas. — Ah, e lá vem ela, Merliah furacão.

— Cala a boca Jacob — ela rebate.

Me viro vendo Lia se aproximando, o vestido comprido agora arrastava na grama e seu cabelo estava todo pra trás por conta do vento. Linda como sempre, fazia meu coração doer. De novo. Maldito imprinting.

— Vou na casa do Koda ver como ele está mas volto logo então nada de safadeza — Jacob murmura, passando por mim.

— Vou ter sorte de estar vivo quando você voltar.

Ele sorri.

— Vou torcer pra ela acabar com você.

O observo se afastar enquanto Lia se aproxima de mim. Ela não me olha nos olhos mas sentir seu cheiro tão de perto me deixa praticamente maluco. Tomo coragem para falar.

— Oi — eu digo.

Lia me encara e me ignora, passando por mim e entrando na casa. Graças aos Deuses falei pra minha mãe enrolar Billy lá em casa senão estaria frito ao passar pelo batente dessa porta.

Vou atrás dela que já tirava os saltos dos pés e os jogava no chão da sala.

— Olha, eu sei que não devia ter agido desse jeito por todo esse tempo, foi um jeito errado de encarar as coisas, eu consigo ver isso agora — começo.

Lia não se vira pra mim quando responde:

— Eu entendo como você agiu.

O quê? Como diabos funcionava a cabeça de uma mulher?

— Estava me crucificando agora a pouco! — a lembro e me arrependo em seguida.

Talvez não seja bom lembra-la da raiva que ela sentia de mim quando eu pretendia sair inteiro daqui.

Lia se vira e me encara com seus olhos... Tristes.

— Eu entendo mas não esperava isso de você.

— Então o que você esperava? — pergunto, me aproximando. — Que eu fingisse que nada aconteceu e que ignorássemos isso?

— Não — ela aumenta o tom de voz. — Esperava que me ajudasse a superar o que eu fiz, que ficasse do meu lado e limpasse minhas lágrimas quando eu acordasse de madrugada tremendo de medo, você acha que foi fácil pra mim?

— Eu nunca disse que foi fácil pra você!

— Mas se afastou como se eu fosse um monstro e não tivesse sido obrigada àquilo!

Ah droga, eu criei uma confusão bem maior do que eu poderia imaginar numa tentativa de não piorar tudo. Resolvo me explicar.

— Eu só não podia ficar perto de você, eu não conseguiria mas...

— Não acredito que veio aqui pra me dizer isso — ela me interrompe e dá de ombros pra esconder as lágrimas que acumularam em seus olhos.

Eu não estava entendendo mais nada!

— É a verdade.

— Quer que eu me sinta um lixo? — ela grita. — Tudo bem, pode continuar, continue falando Seth. Me puna por amar você, me puna por eu não poder evitar.

Fico parado em silêncio enquanto encarava suas costas, somente processando o que ela havia acabado de falar.

— Espera... Você? — eu murmuro, engasgando no final.

Isso faz ela se virar pra mim, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— O quê?

— Você me ama? — indago, ainda surpreso.

Nesse momento eu entendo a expressão "ficar roxa de raiva", pois é assim mesmo que Merliah fica.

— É claro que amo seu idiota! Seu... Imbecil!

E então eu dou risada como uma criança, uma coisa nada sensata de se fazer na frente de alguém que sentia tanta raiva.

— Você me ama! — repito.

Ela faz careta.

— Pare de repetir isso!

— Não dá! — eu respondo, exultante. — Você me ama! Nossa eu vou esfregar isso na cara da Leah!

— Seth! — ela grita.

Respiro profundamente e me concentro em acalmar meu coração e dizer tudo o que eu tinha que dizer. Eu vim aqui pra isso, não pra me perder porque uma garota disse que me ama. Uma garota não, a garota. E ela me ama mesmo! Nossa!

Pigarreio e volto ao foco.

— Desculpe eu me perdi... Onde eu estava?

Lia revira os olhos e dá de ombros.

— Eu vou me deitar — murmura.

— Espera, lembrei! Me desculpe por me afastar mas foi difícil olhar pra você depois que descobri o que fez, quer dizer, você fez por mim.

Lia da meia volta e me encara, a decepção em seus olhos. Porra, será que não consigo fazer nada certo?

— Não está ajudando mesmo.

— Não teria precisado fazer nada disso se não tivesse me envolvido com você, se eu não fosse teimoso e masoquista ao ponto de querer me aproximar de uma garota com namorado. Foi demais entender o que você tinha feito por mim, foi... Culpa demais.

Isso muda alguma coisa na expressão dela.

— Culpa? — indaga.

— Eu meti você nessa confusão.

Meti ela nesse mundo. Tudo estava muito bem antes do imprinting, ela vivia em Nova York ignorando os perigos de saber sobre lobos e vampiros, vivia uma vida normal. Então volta pra casa e BUM! A magia está no ar e o amor também.

— Alex meteu a gente nessa confusão quando largou aquela maluca — lembra Merliah, se aproximando.

— Mas eu matei o Elijah — acrescento.

— Mas eu arrastei Alex até Seattle comigo mesmo ela dizendo não — insiste.

Reviro os olhos, ela não ia desistir de jeito nenhum mesmo.

— Ah, então tudo bem, culpa sua. Erros de julgamento acontecem.

Lia cruza os braços.

— Está engraçadinho hoje.

— Estou triste e o sarcasmo é minha única defesa.

Lia me encara com a única expressão suave que recebi dela desde que sai dessa sala uma semana atrás.

— Então quer dizer que só se afastou porque... Sentiu culpa? — pergunta.

— O que achou que fosse?

— Achei que me odiasse — admite, erguendo os ombros.

Franzo as sobrancelhas.

— Nós temos um imprinting — a lembro.

— E eu lá sei como esse negócio funciona?

— Imprinting é igual à almas gêmeas, amor eterno, devoção incondicional... Essas coisas...

Ela sorri minimamente.

— Devoção incondicional... Faz sentido.

Faço careta.

— Não acha que é um pouco demais?

— O quê?

— Isso tudo. Nós literalmente matamos um pelo outro, o que mais podemos ser capazes de fazer?

Esse pensamento me perturbava um pouco. Amor deveria ser algo simples e puro, algo que não botasse em jogo quem somos, nossos valores ou nossas almas. Algo que fosse leve e bom pra ambos, onde nenhum dos dois sofresse ou se sentisse mal. Não podíamos machucar outras pessoas para nos defender, não podíamos nos machucar. Isso tinha que ser saudável e eu tinha medo que a parte mágica tirasse isso.

— Não tenho ideia — ela admite.

— Não quero sentir culpa mais.

— Você não precisa.

— Mas toda a situação não parece um pouco... Problemática?

Lia suspira, se aproximando.

— O que nós podemos fazer?

— Podemos conversar. Sempre — eu sugiro e então pego suas mãos. — Eu sinto muito por ter saído sem falar nada e ter te deixado por todo esse tempo pensando... Pensando essas coisas horríveis. Eu só não queria ser insensível, você me pegou de surpresa.

— Eu perdoo você Seth. Você tentou falar comigo no dia seguinte e eu te ignorei, também não foi o auge da minha maturidade.

— Não me odeia então? — pergunto, com um sorriso.

Ela sorri de volta.

— Bom, eu estava te odiando alguns minutos atrás mas já passou.

Aproveito a deixa para passar meus braços em volta de seus ombros e trazer seu cheiro pra perto de mim. Meu lobo quase explode de tanto prazer pelo contato.

— Sei, tudo isso porque eu fico bem de camiseta.

— Fica melhor sem ela.

Lia balança a cabeça.

— Vou ter que concordar. Mas então isso quer dizer que você também não me odeia?

Odiar ela? Ela realmente acha que isso é uma opção possível? Não se odeia quem se ama, nem mesmo por um segundo.

Seguro seu rosto entre minhas mãos para que ela possa olhar pra mim.

— Amo você Merliah Black. Amo você tanto que arrancaria o meu braço se isso te fizesse feliz. Tudo o que vejo é você.

Ela sorri. O sorriso mais bonito que já vi na vida, o sorriso que atingiu até seus olhos. Eu queria ficar com ela pra sempre, queria pega-la no colo e mantê-la perto de mim.

— Bom, tem uma coisa que me faria feliz — ela murmura em resposta.

— O que?

— Isso.

Fico extasiado quando ela se inclina e fica na ponta dos pés pra me beijar. Seus lábios carnudos e vermelhos de batom entram em contato com os meus e é divino! Sinto gosto de sobremesa em sua língua, sinto o calor de seu corpo e seus seios roçando em mim, seu cheiro é literalmente a melhor coisa do mundo. Não havia nada que eu quisesse mais do que isso. Então aproveito esse momento depois de tanto tempo, aproveito para tocar seu corpo. Sua cintura, suas pernas, sua bunda. Seguro seu rosto para que não se afaste de mim, queria que isso durasse, queria que fosse pra sempre.

Mas ela se afasta.

— E um pedaço de bolo de chocolate — ela completa quando separa sua boca da minha.

Bom, um bolo de chocolate realmente cairia bem. Com ela tudo cairia bem, eu não tinha dúvidas disso.

— Vou arranjar um bolo de chocolate — prometo. — Mil bolos de chocolate se for preciso.

Ela sorri, com sua boca borrada de batom vermelho, e eu tenho a certeza de que não importava o que iria acontecer a seguir, ficaríamos juntos. Era o destino, não podíamos lutar contra isso.

Merliah é meu destino, é minha alma, é todo o meu coração.
Merliah é meu para sempre.


OI GENTE!
A lerdona aqui esqueceu a senha do site e como tenho essa conta já tem quase >oito< anos, o email que eu usava era antigo também, foi um custo pra recuperar!
Porém aqui estou, tardei mas não falhei!
Epílogo vem na semana que vemmm!
Música: Better - Khalid.

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