19 | Verdade
"Quando eu vejo seu rosto não há uma
coisa que eu queira mudar.
Porque garota, você é perfeita
o jeito que você é."
——————
Seth
CONSIGO OUVIR OS PASSOS SE APROXIMANDO. Eram precisos e rápidos, faziam mais barulho do que era necessário, em parte por conta das pequenas pedrinhas que cobriam todo o chão. O coração batia rápido e sua respiração estava acelerada, tenho certeza que mantinha uma expressão de curiosidade no rosto.
Minha suposição se mostrou correta assim que vejo Jacob entrar na pequena sala de sua casa com uma expressão confusa ao ver que ela se encontrava abarrotada de pessoas.
— Minha casa virou um circo? — ele pergunta encarando todos nós.
Ocupo minha boca com uma batata chips pra não ter que falar nada. Graças aos Deuses é Billy quem se aproxima com um balde de pipoca no colo.
— Não seja tão rabugento, filho — ele diz, com um sorrisinho.
A expressão de Jacob fica ainda mais confusa.
— Até você no meio da bagunça?
Antes que ele pudesse responder Koda levanta o tom de voz.
— Merliah está dando uma surra no Quil! — ele explica, apontando pra tela da televisão.
O que aconteceu foi o seguinte, eu e Lia queríamos fazer alguma coisa então fomos dar uma volta pela reserva já que era domingo e não tinha nada melhor pra fazer. Encontramos Quil e Claire na praia, Koda, Embry e Denahi na sorveteria e depois Billy nos chamou pra ver um jogo na casa dele.
O jogo acabou, minha irmã e Alex chegaram e resolvemos todos fazer uma competição de Mortal Kombat, uma brincadeira saudável para um domingo nublado e entediante.
— Quil é péssimo nisso! — exclama Claire, fazendo uma expressão debochada de criança.
Quil não desvia o olhar da televisão enquanto à responde:
— Fica quieta Claire.
Jacob revira os olhos mas parece se divertir com a movimentação incomum em sua casa. Ele tira a bacia de pipoca das mãos de seu pai e se senta no chão ao meu lado, seu peito nu exala calor pra cima de mim.
— Alguma coisa? — murmuro.
Ele nega com a cabeça enquanto mastigava algumas pipocas.
— Nada, pra alguém que a Alex diz ser tão perigosa ela me parece bem lenta.
Alex — que estava sentada no sofá atrás de nós — chuta o braço de Jacob com mais violência do que era esperado. Ele faz careta pra ela e em seguida pra mim quando percebe que eu estava rindo da sua cara.
— Eu disse que ela é perigosa, não burra — Alex rebate. — Se não quiserem confiar em mim é com vocês, eu não me importo em me esconder, já fiz isso a vida toda.
Todos nós olhamos para Claire quando ela bufa.
— Vocês sempre começam a falar coisas estranhas do nada — comenta, enrolando a trança em seu cabelo na ponta do dedo.
Claire era tudo, menos sutil. Era uma garotinha bem intrometida e arteira, dava muito trabalho pro Quil.
— Claire, fica quieta — ele ordena, dessa vez olhando feio pra ela.
Ela cruza os braços mas acata sua ordem, ficando bem quietinha.
— Acho que podemos continuar esperando — minha irmã diz e eu concordo.
Koda sai de perto dos braços de Merliah — que estavam quase o acertando conforme ela mexia com o controle — e se arrasta para perto de nós.
— O que tem aí? — pergunta, espichando o olho pra bacia nas mãos de Leah. — Estou com fome.
— Aproveite — é o que minha irmã responde, estendendo a bacia cheia de batatinhas.
Me viro pra televisão no momento exato em que Merliah dá o golpe final em Quil. Os garotos fazem careta ao mesmo tempo em que eu dou risada, com certeza apostar no Quil foi um erro.
— Não, não, não, não! — Quil se lamenta, soltando o controle e fazendo uma careta horrenda de derrota.
Merliah se levanta em um pulo e faz uma dancinha de comemoração.
— Ah! Ganhei! — exclama, quase cantando na verdade.
— Essa é minha garota — Billy murmura antes de arrastar sua cadeira até a cozinha.
— Como você fez isso? — pergunta Embry, inconformado e dá uma tapa na nuca de Quil.
— Que incrível é o sabor da vitória! — continua Merliah, fazendo uma reverência, e então se vira para nós. — Obrigada por não torcerem por mim.
— Mas eu torci por você! — me defendo.
— Como se você tivesse muita escolha... — Denahi provoca, me dando um soquinho de leve nas costelas.
— Devíamos ter chamado o Lucas — diz Koda, acho que ele estava triste por estar dez dólares mais pobre.
— Sim — Claire concorda.
Absolutamente todos na sala dão risada da expressão incrédula que surge no rosto de Quil quando ele percebe quem havia concordado.
— Sim?! — ele indaga, injuriado. — Vou contar tudo o que você anda fazendo pra sua mãe incluindo a parte em que você quebrou o jarro dela de 300 anos!
Claire coloca a mão no peito e arregala os olhos, parecendo chocada por ele ousar mencionar isso.
— Mas você disse que não ia contar!
— E você disse que não ia mais se comportar mal!
O rosto da garota fica vermelho como um pimentão.
— Não estou me comportando mal!
Paro de prestar atenção na conversa deles quando Jacob se põe de pé e pega o controle do videogame.
— Agora quem vai comigo? — Jake pergunta.
Alex dispara como um raio até o outro controle.
— Eu.
Me empolgo com a nova disputa. Apesar de ser péssimo em jogos de videogame eu ficava bastante entretido vendo meus amigos jogarem.
— Essa vai ser divertida! — diz Merliah, se sentando ao meu lado onde seu irmão estava.
Seu braço encosta no meu assim como seu joelho, eu estava contente com o modo como as coisas iam. Cada dia que passa ficávamos mais confortáveis um com o outro e era libertador pro meu lobo ter tanta liberdade com ela, eu sentia que podia literalmente saltar por aí toda vez que a beijava.
— Nada como um domingo em família — respondo, esticando um pacote de balas pra ela.
Lia tira a franja do olho e pega algumas.
— Amo gritaria.
Observo ela colocar as balas na boca e mastigar calmamente, seus lábios eram bonitos e ela brinca com o esmalte em sua unha por um tempo antes de perceber que eu estava olhando. Merliah abre um sorriso sem graça pra mim e eu tento me recompor.
— Você poderia jantar lá em casa hoje — sugiro e então acrescento. — Se quiser, claro.
Ela assente.
— Isso seria ótimo.
— Que bom porque até Charlie está ansioso para te conhecer.
Minha mãe falava muito de Merliah e listava todas as qualidades que ela conseguia se lembrar sobre a garota. Charlie ficou empolgado por eu arrumar uma namorada — com empolgado eu quero dizer curioso o suficiente para fazer perguntas — afinal eu nunca levei ninguém até em casa, nem antes dele se mudar e nem depois.
— Mas ele já me conhece! — Merliah lembra.
Bom, de vista sim.
— Explique isso pra ele.
— Tenho que levar alguma coisa?
— Só você já é mais que o suficiente — respondo e era verdade.
Ela sorri e junta as mãos.
— Vou usar meu vestido vermelho.
A lembrança dela de vestido vermelho faz meu lobo praticamente entrar em combustão.
— Tudo bem — concordo.
Que os Deuses me dêem autocontrole!
❦
Às sete em ponto Merliah aparece na porta da minha casa com seu vestido vermelho. Deveria ser considerado crime ser linda desse jeito, queria que eu fosse capaz de nem ao menos piscar para não perder um segundo que seja de sua beleza. Ela sorri pra mim com os lábios brilhantes de gloss e me beija, deixando gosto de morango na minha boca.
— Minha mãe se empolgou um pouco então não esquenta com isso.
Ela assente, segurando a minha mão. Seu coração estava tranquilo e sua respiração também, ela não parecia tensa.
Mas bem, eu estava tenso. Entramos na cozinha.
— Oi gente! — ela diz, erguendo a mão.
Alex, Leah e Charlie acenam de volta do lugar onde eles estavam mas minha mãe se levanta como um jato.
— Oi Merliah! Como está o Billy? — pergunta, se aproximando.
Prendo a respiração ao ver as duas juntas uma perto da outra. Elas sempre se conheceram, desde quando Lia nasceu mas foram longos anos longe. Talvez agora elas não se dessem tão bem se se conhecessem melhor, as coisas são diferentes de quando éramos crianças.
— Ele tá bem, provavelmente feliz da vida por poder escolher o que comer na noite de hoje.
A expressão de minha mãe murcha e ela se vira para Charlie.
— Devíamos ter convidado ele.
— Foi bom que não chamaram, alguém tinha que impedir o Jake de tacar fogo na casa — diz Merliah.
Felizmente minha mãe da risada.
Nos aproximamos da mesa e minha mãe aponta para nossos lugares. Merliah se senta entre mim e Leah.
— E aí Lia — minha irmã diz quando nos sentamos.
— E aí Leah — Merliah repete.
Tento não deixar que a minha mente dê um nó.
— Eu tenho mesmo que sentar na mesa? — indaga Alex que no momento estava de pé ao lado de sua cadeira.
Minha mãe olha feio pra ela, já sabendo onde essa discussão daria.
— Tem.
— Mas eu nem estou com fome!
E nem pode comer. Mas esse tipo de coisa não podíamos falar na frente de Charlie, regra da Bella.
— Mas está morando na minha casa e nessa casa todos se sentam na mesa na hora do jantar — mamãe insiste.
Alex olha pra Charlie como um pedido silencioso de socorro, as vezes ele conseguia ajudar ela mas hoje com certeza não seria uma dessas.
— Ouviu o que ela disse garota — ele murmura, olhando pro prato fumegante de carne cozida.
Alez bufa mas se senta na cadeira. Eu estava prestes a pegar um pouco de batata quando minha mãe pigarreia.
Todos olhamos pra ela.
— Bom Merliah, eu queria perguntar há algum tempo e espero que não se importe. As coisas entre você e seu ex estão resolvidas?
— Mãe! — exclamo, o choque atingindo meu rosto.
Merliah olha pra mim de relance, pedindo algum tipo de ajuda enquanto Alex e Leah soltam risinhos abafados. Charlie fica roxo.
— O que foi? — indaga minha mãe se virando pra mim. — Preciso saber antes de pensar no casamento.
Agora quem ficou roxa foi Merliah.
— Como assim casamento? — indago mesmo com medo de onde essa conversa poderia chegar.
— Leah e Alex não querem se casar porque são teimosas demais.
— Correção, Leah não quer se casar — Alex diz e minha irmã faz careta.
— Isso — prossegue mamãe, olhando pra mim. — Então pensei que talvez agora vocês possam influencia-la. Que alegria seria casar meus dois filhos!
— Mãe, sinto muito em acabar com seus sonhos mas não vamos nos casar — decreta Leah, cruzando os braços.
— "Isso é antiquado" — murmura Alex, imitando minha irmã.
— Dispensável.
— "Trivial".
— Isso não é uma música? — pergunto. Tenho certeza que num filme tem uma música assim.
— Eu não ligaria de me casar — diz Merliah. — Quer dizer, não agora claro, quem sabe daqui há alguns anos.
— Sério? — fico um pouco surpreso.
Ela sorri.
— Sério — concorda e se vira para minha mãe. — E respondendo a sua pergunta, as coisas com James estão ótimas. Ele me mandou um email há alguns dias me contando como estava tudo e perguntando do meu pai. Nossa relação é amigável.
— E isso é bom? Falar com ele assim?
— Gosto do seu filho senhora, acho que isso é o suficiente.
Sua resposta aquece meu coração e me sinto vergonhosamente contente.
— Claro, claro.
— Você está deixando a Lia sem graça — diz Alex.
Minha mãe dispensa a hipótese com uma mão. Merliah pisca pra mim com um sorriso nos lábios, ela parecia estar se divertindo com a situação.
— Que nada, ela me conhece, sabe que só quero o melhor pros meus filhos.
— Você é aficcionada por casamentos! — a acuso, estendendo meu dedo em sua direção.
Ouço um risinho mas não sei quem deu só sei que Charlie parecia entediado com nossa discussão. Ele sempre ficava em silêncio quando começávamos a falar enlouquecidamente, era uma mania dos Clearwater.
— Vocês acharam sua alma gêmea, é uma sorte que poucos tem, deviam se prender a isso mais que tudo.
— Eu já me sinto bem presa — decreta Leah.
Minha mãe fecha a cara.
— Tudo bem, não vou mais falar nada.
Todos na mesa se entreolham esperando que alguém comece a comer. Ninguém ousa dizer nenhuma outra palavra.
— Então agora posso comer? — pergunta Charlie após um longo minuto.
Minha mãe suspira e então assente.
— Pode.
O jantar continua da melhor maneira possível após nosso surto em família. Minha mãe faz algumas perguntas nada sutis e parece satisfeita com todas as respostas, ela não tinha muito o que reclamar de Merliah, é a típica garota da reserva. Seus costumes continuavam intactos mesmo com o tempo que havia morado fora e ela tinha todas as qualidades que minha mãe prezava.
Foi um alívio ver que as duas conversavam o suficiente para manter o assunto só entre as duas e eu não ter que me envolver.
Passei o jantar dando risada com Charlie, Alex e Leah. Minha irmã e sua namorada fizeram bastante graça conforme a converta entre mamãe e Merliah avançava.
No final da noite, quando fui deixar Lia em casa, me sentia estupidamente contente. Toda vez que passava um dia com ela eu me sentia assim.
— É verdade o que disse hoje? — pergunto, assim que paramos em frente a porta de sua casa.
Ela olha pra mim parecendo um pouco em dúvida.
— O que exatamente?
— Sobre se casar.
— Ah, é claro que é verdade!
— Não acha meio cedo para pensar em casamento? — pergunto, apertando sua mão.
Ela sorri e inclina a cabeça pra direita.
— Temos um imprinting Seth, nada é cedo demais pra nós.
Ela me abraça, me beija e entra pra dentro de casa. Tudo o que me resta é a sensação de que sim, não era mesmo cedo pra pensar nisso. No caminho pra casa imagino nosso casamento e um sorriso bobo estampa meu rosto.
Eu queria que aquilo se tornasse verdade.
Espero que tenham gostado :D
Estou demorando bastante — eu sei — mas as aulas da faculdade voltaram então tá sendo difícil ter um tempinho pra escrever. Espero que entendam!
Até sábado com o capítulo 20!
Música: Just The Way You Are - Bruno Mars.
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