12 | Erros

"Eu não tenho a menor ideia
para quem estou olhando agora,
mas sei que a pessoa para
quem estou olhando não é você ."

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Merliah

NÃO PREGUEI OS OLHOS A NOITE TODA. Fiquei sentada encarando as árvores até meu maxilar doer de tanto bater os dentes, o vento frio congelou meus dedos das mãos e dos pés. Meu nariz escorria. Criei forças para caminhar de volta pra casa e ignorei o olhar de meu pai quando entrei ensopada pela porta da frente.

Ele estava sentado na mesa da cozinha, enrolado em um xale, tomando café. Era cinco da manhã mas não me surpreendi por ele estar acordado, Billy Black costumava dizer que só se conseguia aproveitar bem o dia se se levantasse junto com o sol.

Demorei bastante no banho, esfregando bem cada parte do meu corpo e deixando que a água quente aquecesse meu corpo congelado.

Quando voltei pra sala meu pai me olhou com olhos preocupados mas não disse nenhuma só palavra, voltando sua atenção à televisão novamente. Me sentei na mesa, vendo que ele havia deixado alguns biscoitos no prato, um pão e uma xícara de chocolate bem quente. Ao lado de tudo haviam dois comprimidos contra resfriado.

Engulo os dois com ajuda do chocolate, aproveitando bem do calor que se espalhava por dentro do meu corpo. Infelizmente não consegui comer muito.

Me mantive a manhã toda sentada na sala já que meu pai se acomodou no quarto após o café. Jacob apareceu por volta das dez horas com uma sacola lotada de compras, ele percebeu por minha expressão que algo estava errado e percebeu também que eu não estava afim de conversar.

Jake me deu um abraço apertado e um beijo na testa antes de sair, ele disse que tinha coisas a resolver com a matilha e que demoraria o dia todo mas estaria de volta a noite, para ficar comigo. Agradeci por ele se importar e por não me odiar após tudo.

Eu me sentia odiada, principalmente por mim mesma.

Para onde quer que olhasse eu via James, ou o Seth, ou os dois. Eu errei com ambos.

James não merecia minha infidelidade, minha falta de compromisso com nossa relação, ele merecia alguém que faria de tudo por ele, que estaria ao seu lado mesmo quando as coisas ficassem difíceis e entenderia o fato de ele ser ocupado.

E Seth, bom... Ele definitivamente não merecia estar amarrado à mim pelo resto da vida. Não era boa o suficiente pra ele, nunca iria ser por mais que eu quisesse. Não fui justa, joguei a culpa nele por algo que não estava ao seu controle, fiz ele se sentir mal por me apoiar, por me entender e por me amar.

Não fui sincera sobre o que eu sentia, com James, com Seth e muito menos comigo. Pra mim era difícil entender isso, até mesmo agora.

Mas sabia que não merecia o amor de nenhum dos dois.

Uma coisa era certa, eu precisava pedir desculpas, pedir desculpas para os dois mas como faria isso? Será que algum deles iria querer me ver? Ou me ouvir? De qualquer maneira era preciso começar e eu sabia exatamente qual seria o primeiro passo.

Não me despeço de meu pai antes de sair correndo para a casa dos Clearwater.

Demorou menos de dez minutos para chegar lá e nem me importei em bater na porta, somente a abri, como sempre estava destrancada e sentada ali no sofá da pequena sala se encontrava Alex.

Ela vestia uma roupa toda preta e jaqueta de couro, coturnos nos pés. Definitivamente era bem contrastante com o visual da casa. Em suas mãos havia uma revista cor de rosa, ela nem ao menos se dá o trabalho de olhar pra mim.

Pigarreio.

— Onde está a Leah? — pergunto a ela.

Alex se vira, soltando a revista que cai em um baque surdo no seu colo. Seus olhos sinistros cor de topázio combinados com seu rosto perfeito me desconcertam por alguns segundos.

— Ela saiu, foi encontrar a matilha — responde, a voz clara e melodiosa.

— Mas que merda! — praguejo, cruzando os braços. É claro que ela estava ocupada, sempre esqueço que ela é um lobo assim como Jake.

Tento pensar em qualquer outra pessoa que possa me ajudar mas percebo que ficar tanto tempo longe de casa acabou diminuindo bastante minhas opções.

— Você me parece muito brava para uma humana — observa Alex.

Percebo que ela havia pegado novamente a revista e corria os olhos pela página sem muito interesse. Não me surpreende, fofocas de celebridade não parece ser o tipo de entretenimento que a agradaria.

— Eles vão ficar o dia todo nisso, Jake me falou — explico.

Ela nem ao menos se mexe. De um modo estranho ela parecia uma pintura sentada ali, imóvel, no sofá laranja dos Clearwater.

— Pois é, parece que você vai ter que esperar.

Infelizmente não podia esperar então teria que chegar a limites extremos.

— Você vai me ajudar.

Alex levanta os olhos pra mim, as sobrancelhas unidas em descrença. Quase retiro o que disse, meu Deus a beleza dela realmente era intimidadora.

— Eu? — indaga.

— Sue está aqui?

— Não.

— Então é você mesma.

Alex fecha a revista e a coloca em cima da pequena mesa de centro.

— Olha, não posso sair desfilando pela reserva entendeu?

— Você vai me levar até Seattle — digo.

Ela não parece mais inclinada a ideia.

— O que quer em Seattle?

— Preciso falar com o James.

— Aquele que você traiu? — pergunta, a acusação nada sutil em seu tom de voz.

Parece que as notícias correm rápido por aqui.

— É, — admito. — preciso resolver as coisas.

— E a sua ideia genial é ficar em uma cabine fechada por mais de três horas com uma vampira que só está há cinco anos sem se alimentar de humanos?

Falando desse jeito começo a me sentir um pouco burra por ter feito essa escolha.

— Você não vai me machucar...

Ela ergue uma sobrancelha.

— Como sabe disso?

— Isso deixaria Leah chateada — respondo, simplesmente. Não conseguia pensar em nenhuma desculpa melhor.

Apesar de não ser próxima de Leah como eu era quando criança, tenho certeza que ela ficaria triste com a minha morte.

Talvez fosse o suficiente para Alex.

— Sim, mas ela me perdoaria, diferente de Jacob e Seth que iriam sentir uma dor inimaginável e então tentariam me matar. Isso com certeza quebraria a família já que Leah não ia aceitar uma coisa dessas.

— Você tem uma maneira única de ver as coisas, sabia? — é a única coisa que consigo dizer.

Alex sorri, os dentes parecem cintilar.

— Minha mãe costumava dizer isso há... Bom, sei lá quantos anos atrás.

— Por favor Alex, ele vai pegar o avião amanhã — eu peço.

Que ela destroçasse minha garganta caso sentisse vontade, eu só precisava ir até lá.

— Como sabe disso?

— Era o único voo disponível.

Um longo suspiro escapa de seus lábios e antes mesmo que eu pisque ela está parada ao meu lado com a chave do carro entre os dedos. Dou um passo pro lado instintivamente.

— Tudo bem, vamos lá, mas não me odeie se eu comer você.

— Seria um favor na verdade — murmuro.

— Isso não me ajuda muito a te manter viva.

— Foi mal.

E então seguimos lado a lado para o carro de Leah. Me sento nos bancos de trás, Alex não esboça nenhuma reação quanto a isso.

Foi um percurso turbulento visto que a motorista particularmente não gostava muito de dirigir. Ela praguejou por muito tempo devido a falta de velocidade do carro até que se enjoou e resolveu aproveitar a viagem, colocando uma música — bem atual por sinal.

Ela cantou Bruno Mars com avidez, a voz de soprano que causaria inveja até nas maiores cantoras do mundo encheu meus ouvidos. Obviamente não abri a boca, não queria deixa-la traumatizada com meu pouco jeito para a música.

Ficamos umas boas horas nessa situação e quanto mais próxima de Seattle eu ficava mais ansiosa eu me sentia.

— Então, quantos anos você tem? — pergunto, já cansada do silêncio e da cantoria.

— Vinte e três — responde simplesmente.

Isso não sana minha curiosidade.

— Não foi nesse sentido que eu perguntei.

— Nasci em 1487, na França.

Demoro alguns segundos para associar o que ela havia dito e mais alguns para calcular a sua idade. Dá 527. Sinto uma náusea repentina ao pensar que um ser possa viver tanto tempo. É definitivamente um mundo estranho.

— Isso é bastante tempo — comento, tentando não deixar minha voz vacilar.

Não deve ter adiantado muita coisa já que provavelmente ela ouviu meu coração.

— Com certeza.

— Não pensa em voltar? Pra França?

— Claro, quero levar Leah lá daqui há algum tempo mas não sei qual seria o momento certo. Aquelas terras me trazem algumas lembranças, nem todas são boas.

Assinto. Eu nunca havia saído do país, a França me parece um ótimo destino mas não consigo imaginar como aquele lugar deveria ser há 527 anos atrás.

— Deve ser difícil... Viver tanto tempo.

Alex assente, virando seus olhos de cor peculiar para mim por meio segundo antes de voltar a olhar pra estrada.

— É um pouco chato mas todas as coisas maravilhosas que vi suprem essa agonia. O mundo é um lugar estranho, o modo como a humanidade evoluí também.

— Não consigo imaginar nada pior do que viver pra sempre. Todos os sentimentos ruins do mundo dentro de você pela eternidade — me lamento.

Eu estava me sentindo uma pobre miserável nas últimas horas, a culpa dentro de mim era avassaladora e a confusão de sentimentos fazia minha cabeça latejar. Me imaginar sentindo coisas do tipo eternamente mais me parecia uma tortura.

— Os bons também duram pra sempre.

Faço careta.

— Pra sempre é ruim.

Alex dá risada e então entra no jogo:

— Principalmente a parte de só sair de noite, é bem melancólico.

— Com certeza.

Continuei reclamando sobre a vida eterna por minutos o suficiente para entrarmos em Seattle. Me desconcentro completamente da conversa e encaro as ruas que passavam por nós.

— Vai tentar consertar as coisas com o James? — pergunta, assim que passamos pelo terceiro sinal vermelho.

— Na verdade não.

— Então...?

— Só quero que ele saiba que eu me importo, que não quis magoa-lo e que fui egoísta. Não posso viver num mundo sabendo que não fiz o mínimo para que ele não me odiasse.

Alex parece se divertir com minha preocupação.

— Ah, ele não conseguiria odiá-la. Não se odeia quem ama.

Eu me odiaria. Eu me odiava na verdade. Ainda não conseguia entender qual era o maldito problema comigo para não ter a mínima ideia do que fazer. Apesar da culpa e da confusão o maior sentimento dentro de mim era o de estar completamente perdida.

Eu e James tínhamos muitos planos, moldei toda minha vida junto a dele e agora não tinha noção do que fazer já que todo o planejamento tinha sido jogado fora.

— Já amou tanto alguém e depois o perdeu? — pergunto.

Ela me olha pelo espelho do retrovisor e assente.

— Acho que tenho alguma experiência com isso.

— E o que você faz em seguida?

— Você ama outra pessoa — responde, simplesmente.

O modo como ela falou fez parecer que é a coisa mais fácil do mundo, eu não tinha tanta certeza disso.

— É aqui — digo, apontando para o prédio onde a prima de James morava.

Era um prédio de tijolo e janelas grandes com jardineiras. Flores amarelas brotavam nelas e davam um ar alegre a tudo, apesar do tempo nublado.

— Vou te dizer que foi mais fácil do que eu esperava, você é uma boa companhia — diz Alex com um sorriso divertido. — O cheiro de cachorro ajudou também.

— Como faz pra ficar perto da Leah então?

— Acredite se quiser mas ela tem o melhor cheiro do mundo pra mim.

Sorrio.

— Acho que posso acreditar nisso.

Abro a porta de trás do carro e saio, sentindo a brisa fresca do dia em meu corpo. Puxo a saia longa de meu vestido para cima, para que não encoste nas pequenas poças de água do passeio.

— Te vejo em uma hora na entrada da rodovia Blendford — Alex diz.

Durante o trajeto ela havia dito que iria atrás de um celular novo para Leah, as opções em Forks eram limitadas e o aparelho era tão antigo que estava a deixando com os nervos a flor da pele.

Parece que ela só queria fazer uma vídeo chamada com a namorada mas o celular dela não aguentava.

Achei graça por Alex saber mais de tecnologia do que Leah.

— Estarei lá, quero ouvir seus quinhentos anos de história — respondo.

Ela sorri e liga o motor do carro.

— Combinado.

Fiquei pelo menos dez minutos andando de um lado pro outro no corredor do prédio pensando no quão ruim isso tudo podia ficar, me demorou mais cinco para perceber que eu já estava no fundo do poço e não havia como piorar.

Aperto a campainha e tento me manter calma quando vejo James abrindo a porta. Seu cabelo estava bagunçado e ele vestia calças de moletom, percebo imediatamente ao fundo seus livros em cima da mesa da cozinha. Ele fica surpreso em me ver mas disfarça com rapidez.

— O que foi? — ele indaga, a expressão dura em seu rosto.

Respiro profundamente antes de responder, eu sabia que não seria fácil.

— Só queria ver como você está.

James revira os olhos.

— Ótimo, me sinto radiante — ironiza.

— Posso pedir desculpas mais uma vez?

— Algo que eu diga vai te impedir? — rebate, soltando a porta e andando em direção à sala.

Vou atrás dele, fechando tudo em seguida, agradeço mentalmente por Jesse e Maggie não estarem lá. Não queria encara-los agora depois do que eu havia feito.

— Não quero ficar desse jeito com você, não quero que me odeie.

— Beijar o Seth foi uma maneira estranha de fazer isso — diz, simplesmente, a voz acusatória.

Ele só me atacava, não expressava como se sentia ou me xingava de todos os nomes possíveis. Esse ataque passivo-agressivo me dava nos nervos, apesar de não poder exigir nada eu me sentia pior ainda por ficar no escuro.

Mas tudo bem Merliah, agora aguente as consequências do que fez.

— Não entendo porque está fazendo isso! — exclamo, cansada de sua tortura.

Me ignorar não era a saída, ignorar quatro anos de namoro muito menos.

— Você pode jurar, olhando em meus olhos que não sente nada por ele?

Sua pergunta me pega desprevenida, seu olhar doído corta meu coração. Minha expressão se desmancha, minha boca se abre numa insinuação de resposta imediata mas nada sai. Eu podia jurar isso pra ele? Acho que nós dois já sabíamos a resposta.

— Não.

James desvia os olhos.

— Então acho que entende. O beijo não é o problema, o que você sente sim. Você está diferente e não posso te culpar por isso, sei que não tenho te dado muita atenção ultimamente, não sei por que estou surpreso de isso ter acontecido.

— A culpa não é sua — murmuro, cruzando os braços para não esticar minha mão em sua direção.

Ele balança a cabeça em negação.

— Quando falo com você sinto como se falasse com um estranho — ele praticamente sussurra.

— Eu queria te explicar tudo, seria muito mais fácil.

— Como assim?

Suspiro, desviando do caminho que estava prestes a entrar.

— Não posso lutar com isso, faz parte de mim.

James revira os olhos e dá de ombros.

— Veio aqui para descrever o quanto gosta do Seth? — pergunta, o tom de voz ressentido.

— Vim aqui pedir para que se lembre que eu te amo e que sinto muito pelo modo como deixei as coisas acontecerem. Quero que pense e que um dia me perdoe por isso. Não quero que me odeie.

— Eu não odeio. Não dá pra odiar você.

Me lembro do que Alex havia dito no carro.

— Por mais que eu tenha me esforçado muito — brinco, mesmo sabendo que não é a hora pra isso.

Ele esboça um sorriso no canto de seus lábios.

— É, por mais que você tenha se esforçado — concorda e respira fundo antes de continuar. — Preciso de um tempo, tá legal? Isso não é fácil de digerir mas eu conheço você, conhecia pelo menos. Posso perdoar mas preciso de tempo.

— Eu vou dar esse tempo — prometo.

James faz careta.

— Nós dois sabemos que você não é muito boa nesse tipo de coisa.

É a minha vez de fazer careta. Ele tem razão, as vezes posso ser um tanto sufocante.

— Eu vou tentar ser.

James assente e então decido que não havia nada mais que eu pudesse fazer ou falar. Ele não me perdoaria agora e tudo bem, eu não vim aqui atrás de um perdão instantâneo, vim aqui porquê me importava.

Seguimos em direção a porta.

— Eu ligo dessa vez — ele diz.

Reprimo uma careta.

— Fechado.

Me viro para ele, encarando seus olhos claros por uma última vez. O cabelo ondulado caía na testa, sua calça de moletom ficava tão bem, me partia o coração saber que não o veria desse jeito mais.

— Lia, se cuida tá? — ele pede, o rosto sério.

— Você também. Não fale no telefone enquanto dirige.

Me surpreendo quando ele se aproxima e me envolve em um abraço. Inspiro seu cheiro e meus olhos se enchem de lágrimas. Eu não o merecia, ele precisava de alguém que o amasse mais que tudo, acima de qualquer coisa, e eu não era essa pessoa.

— Queria mudar o que eu sinto mas eu não posso, sabe disso não sabe? — pergunto.

James se afasta dos meus braços.

— Eu sei.

Saio do prédio me sentindo um pouco melhor do que pela manhã e após o sentimento de ansiedade se esvair percebi que estava extremamente cansada. Meus músculos doíam e meus olhos lacrimejavam de sono, sentia que podia dormir em qualquer lugar, o que de fato fiz, tenho certeza que cochilei no banco do táxi enquanto ele me levava para a Rodovia Blendford.

Era fim de tarde, o crepúsculo iluminava o céu com cores rosa e laranja, o clima estava levemente frio. Pago o taxista e saio do carro, resolvendo esperar em frente ao pequeno parque, que por sinal estava vazio.

A rodovia passava em frente a ele, Alex me envia uma mensagem falando que não demoraria muito para chegar. Um segurança cochilava do outro lado, uma distância longa o suficiente para que eu não conseguisse identificar seu rosto. As folhas na pequena floresta atrás de mim farfalhavam.

Devido ao sono não queria ficar em pé então dei meia volta para ir em direção ao banco, foi quando o vi parado há alguns metros de mim. Um homem que parecia ser um pouco mais velho que eu me encarava, cabelos loiros como palha de milho vinham até seus ombros e balançavam junto com o vento.

Ele vestia uma roupa toda preta e botas.

— Olá — o homem diz, lançando pra mim um sorriso intimidador.

— Hm, oi — respondo, meio em dúvida do que fazer.

Ele dá um passo lento a frente exibindo sua pele perfeita e seus olhos de um carmim horripilante. Meu coração acelera automaticamente, ele não era só um homem, era um vampiro.

— Espero que Alex me perdoe por comer você — diz e então avança em minha direção.

Fecho meus olhos esperando pelo pior. Eu não ia dar à ele o gosto de sair correndo de algo que eu não podia fugir. Para minha surpresa ouço duas coisas se chocando. A demora em ser devorada me intriga. Resolvo dar uma olhada.

Um lobo gigante destroçava o vampiro que cogitava vir em minha direção. Uma confusão de grunhidos, dentes e membros confundia a minha mente. Desvio os olhos e vomito a única coisa que havia comido no dia, me surpreendendo como nem havia percebido que estava enjoada.

Me viro novamente vendo pedaços do corpo do vampiro que mais pareciam pedra, caídos pelo chão. O enorme lobo cor de areia rosna pra mim e se enfia de volta na floresta. Quem sai é Seth, vestindo apenas uma bermuda, ele vai em direção ao latão de lixo sem nem olhar pra mim e o arrasta para perto, jogando todas as partes do que um dia foi o vampiro ali.

Ele ateia fogo lá dentro, as chamas aparecem com uma rapidez impressionante, queimando e soltando um cheiro gostoso no ar. Me lembrava um incenso.

Seth olha em volta por alguns segundos e então me encara, uma expressão irada em seu rosto. Engulo o vomito que ameaçou sair.

— Você está me seguindo? — é a primeira coisa que sai da minha boca num tom mais acusatório do que eu esperava.

Ele avança na minha direção, os pés descalços e o cabelo solto davam um ar animal à ele, seus braços tremiam.

— Não podia deixar você sair com a Alex assim! Ela é legal mas ainda é um vampiro.

— Você perdeu o juízo!

— Quem perdeu o juízo foi ela! Como sai por aí e te deixa sozinha desse jeito? Você quase morreu!

Queria dizer algo para defender a Alex mas não sabia exatamente o que faria Seth mudar de ideia. A culpa não era dela, não tinha como ela adivinhar e eu insisti para vir aqui.

— Seth? — ouço Alex dizer.

Nos viramos para ela que já havia saído do carro. Eu nem ao menos tinha a ouvido.

— De onde surgiu a ideia de deixar a Merliah largada aqui no meio do nada? — Seth indaga. Ele parecia irado e isso me assustava.

— Eu estou aqui há menos de cinco minutos — a defendo.

Seth me lança um olhar duro que com a luz das chamas me pareceu arrepiante, engulo a seco e descarto qualquer pensamento futuro de abrir a boca.

— E quase virou comida, imagina se eu não tivesse chegado...

— Ellijah — Alex interrompe, se aproximando do latão que ainda ardia em chamas.

— O quê? — Seth pergunta, a expressão ficando mais suave e confusa.

— O cheiro.

— Você conhecia ele?

Alex assente, os olhos dourados ficando sinistramente vermelhos enquanto ela encarava o fogo.

— Era do meu antigo grupo.

Seth simplesmente desmonta, uma expressão de culpa avassaladora aparece em seu rosto, os olhos brilham de puro arrependimento. Sinto vontade de dizer alguma coisa, de consola-lo, mas mordo minha língua.

— Eu sinto muito — ele murmura.

Alex que havia permanecido imóvel por alguns segundos percebe a dor nas palavras de Seth e se vira pra ele com um sorriso estranho no rosto.

— Não droga, não é isso — ela explica. — Não estou nem aí pra Ellijah, pode ter certeza que o mundo ficará bem sem ele. O problema é que isso pode definitivamente ficar bem ruim pra você.

— Como assim?

— Isabel é uma líder bem destemida e com certeza não vai gostar de saber que um lobo acabou com seu irmão.

Os pelos do meu braço se arrepiam e me forço a ficar de pé, algo que me diz que tudo estava prestes a mudar.

— O que isso quer dizer?

— Entre no carro e dirija o mais rápido possível pra reserva. Tem gasolina o suficiente, não pare até chegar lá.

— Tudo bem — Seth concorda.

— Avise aos outros para ficarem junto de você.

Seth olha para o carro esperando que eu entre lá e que ele não tenha que me arrastar a força. O ignoro e me viro para Alex.

— E aonde você vai?

— Se Ellijah estava aqui os outros devem estar por perto. Vou tentar encontra-los para conversar.

— Isso não é perigoso?

Ela dá um sorriso sem emoção.

— Diga a Leah que eu a amo.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa Alex some, simplesmente desaparece pela floresta numa velocidade que me deixou tonta.

Seth olha pra mim por meio segundo antes de ir em direção ao banco do motorista. Me enfio nos bancos de trás o mais rápido possível e ele acelera, aumentando a velocidade cada vez mais e mais. Sentia a tensão em que ele estava, seus dentes trincados e as mãos rígidas no volante não escondiam.

— Seth, tudo vai ficar bem não é? — pergunto, minha voz saiu estranha naquele ambiente tão silencioso.

— Eu não vou deixar nada acontecer com você.

— Não é comigo que estou preocupada.

— Eu não vou deixar nada acontecer com você — repete, simplesmente.

Isso definitivamente não era o suficiente.



Oie, espero que tenham gostado :D
To chocada com vocês destilando ódio na Merliah, dou boas risadas, mas não desistam dela ainda!
Beijos, até mais!
Música: I Just Wanna Know - NF.

Ps: o capítulo ficou maior do que eu esperava, vocês preferem grande assim mesmo ou mais objetivo?

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