07 | Estranho
"Eu consigo ver você em pé, querida
com os braços dele em volta
do seu corpo. Rindo,
mas a piada não é tão engraçada."
——————
Seth
SAM E JACOB ESTAVAM ATRASADOS. O que não é nenhuma novidade visto o histórico deles, só não sei por quê gostavam tanto de nos verem esperar. Era uma reunião das matilhas, que não podia ser feita em nossa forma de lobo por conta da telepatia falha, então estávamos espalhados pela sala minúscula de Sam. Emily havia saído com o pequeno Beni Uley, o moleque tinha três anos e a energia de um fio desencapado.
— Argh, fazia tempos que não via tantos de vocês juntos — pragueja Collin se aproximando.
Dou risada. As coisas por aqui tem estado tão paradas que quase não tínhamos reuniões como essas. Sentia falta dos garotos.
— Sentiu saudade Collin? — provoca Quil, coçando o queixo. Ainda não me acostumei que agora ele tinha barba.
— Do seu chulé? Jamais.
Os dois dão risada e fazem um cumprimento ridículo, só depois parecem perceber minha presença.
— E como vai Seth? — pergunta Quil.
— Bem ué.
Não sei de onde Lucas havia saído mas quando pisquei ele estava do meu lado, era o menor entre todos nós. O sorriso maldoso estampado em seu rosto jovem.
— Ficamos sabendo da Merliah, sortudo, ela é bem gata — ele diz.
— Ela tem namorado — murmuro.
Os garotos dão risada, uma provocação com a qual já estava acostumado. Quando foi com a Leah era bem pior.
— Tem que ver como ele fica — diz Denahi se aproximando. O maior problema com a boa audição era que as vezes você simplesmente não quer que as coisas sejam ouvidas.
— "Nossa, eu quero arrancar a cabeça daquele filho da puta" — murmura Collin com a voz engraçada.
Os garotos dão risada enquanto eu reviro os olhos.
— Ou "nossa, eu tenho que esquecer essa menina" — continua Denahi.
— "O cheiro dela é tão bom."
— "Preciso ver se ela está bem."
A risada deles só aumenta conforme tiravam uma com a minha cara, respiro profundamente tentando deixar com que isso não me afete. Em outra época talvez eu desse risada mas não estava no melhor dos climas, incomodava de qualquer maneira.
— Como vocês são maduros — murmuro, cruzando os braços.
— Foi só brincadeira Seth — Lucas fica na ponta dos pés para passar o braço por meu ombro.
— É, deve ser uma barra tudo isso — concorda Quil.
Denahi e Collin continuam com a risadinha, já estava me enchendo a paciência.
— Já estou de boa — digo, tirando o braço de Lucas de meu ombro.
— Ele só chora quando lembra.
O sangue esquenta minha cabeça de uma forma incomum pra mim, me fazendo dar um passo a frente e encarar Collin.
— Se abrir a boca de novo vou te dar motivos pra chorar.
Todos eles explodem em uma risada o que faz meu ódio se dissipar e minha mão parar de tremer. Que merda, desde quando eu virei um brigão? Estou me sentindo o Paul.
— É, tem alguma coisa errada com o garoto... — começa Quil mas é cortado por Jacob e Sam que entram na sala, Leah e Paul entram em seguida.
— Deixem o Seth em paz, temos problemas maiores no momento — começa Sam.
Quase dou piruetas por eles finalmente estarem aqui, não via a hora de acabar com tudo isso e ir pra casa.
— Maya ainda não chegou — diz Koda.
Koda tinha uma quedinha por ela, estava na cara para todos nós mas não costumávamos fazer piada sobre isso — acho que era nossa única excessão. O cara era bem na dele e não queríamos atrapalhar o que quer que pudesse acontecer com piadinhas idiotas. Infelizmente não valia pra todos.
— Estou aqui — Maya diz, erguendo a mão.
Ela é a mais nova de nós, só tem quinze. Destruiu um carro quando se transformou pela primeira vez.
Sam pigarreia, prendendo nossa atenção.
— Já que estão todos aqui podemos começar, estava com Paul na floresta quando encontramos um rastro fresco, ia até a praia e sumiu no mar.
— Não pode ser um dos Cullen? — sugere Gabe. — Ou algum amigo deles?
— Fomos conversar com eles ontem e não receberam nenhum tipo de visita — Jake responde.
— O rastro é do mesmo vampiro que procuramos à três semanas.
— Vai ver só estava de passagem.
— De passagem duas vezes por nossas terras? — indago. — Isso é estranho. Pra mim ele está rondando.
— Mas o que está procurando?
Nos viramos para Sam, ele olha Jacob por alguns segundos e solta um suspiro.
— Não sabemos. Talvez alguém que ele conheça tenha passado por aqui.
— Pra mim isso ainda tem a ver com a sanguessuga namorada da Leah — provoca Embry.
Leah faz careta pra ele, apontando o dedo do meio.
— Levamos Alex até o rastro da última vez e ela não reconheceu o cheiro — diz Jake. — Não sabemos quem é ou o que quer então fiquem atentos. Protejam uns aos outros e a quem amam.
— Não acha que está exagerando? — pergunta Denahi.
— Da última vez que vocês acharam que eu estava exagerando quase perdemos o Quil, o Koda e o Collin. Isso não vai acontecer de novo.
Assentimos.
— Todo mundo de olho aberto, se virem ou sentirem alguma coisa diferente nos avisem.
Todo o grupo de dissipa. Demoro alguns minutos a mais conversando com Koda e Paul, eles queriam minha ajuda para montar algumas coisas no dia do festival de verão. Concordo de bom grado, todo ano eu costumava ajudar e era divertido passar a tarde com os garotos.
O sol estava quase se pondo quando deixo a casa de Sam, vejo Jake do outro lado da rua como se estivesse me esperando.
— Ei está indo pra casa? — pergunta, se aproximando.
— Estou.
— Vou com você, meu pai disse pra eu ir pra lá, provavelmente está com preguiça de ir arrastando a cadeira pra casa.
— Provavelmente.
Meu alfa me encara, a expressão divertida sumindo de seu rosto conforme ele percebia meu humor. Claro, não devia descontar nele mas não estava com muita vontade de jogar conversa fora.
— Não devia ligar para o que os garotos dizem, você sabe não é? — ele pergunta.
— Mas eles estão certos, isso é patético.
— É quem você é agora. Todos nós nos tornamos um pouco patéticos, as nossas vontades... deixam de ser o que é mais importante. Mas você pode escolher ama-la ou não.
Olho para ele, meus passos ficando um pouco mais lentos.
— Posso?
— Claro, pense agora, você a ama?
A resposta era fácil.
— Não.
— Viu.
Franzo minha testa, isso não fazia sentido. Eu podia não estar apaixonado por ela mas em algum momento eu ficaria, as outras garotas não me pareciam interessantes mais.
— Mas quero ficar perto dela, falar com ela e ter certeza que ela está bem. Quero faze-la feliz.
— Mas não está apaixonado por ela, você só vai se apaixonar se se permitir.
— E como não me permito a algo assim? Tudo que ela faz parece magnífico pra mim.
Jake ergue os ombros, sem saber a resposta para minha pergunta.
— Isso eu não posso responder.
Assinto e continuamos a caminhar lado a lado, o barulho de cascalho sendo pisado por nossos pés.
— E já desistiu do casamento? — pergunto.
Me lembro da felicidade que senti ao ver aquele anel, acho que foi a última vez que fiquei realmente empolgado. Parecia fazer uma vida desde aquele dia.
— Seu imprinting serviu pra me fazer pensar um pouco mais e não sei se é o momento certo, ela está de mudança e eu ainda não posso deixar meu pai sozinho aqui.
— Merliah me disse que a saúde dele não está boa — comento.
— É, o coração está fraco, como se não bastasse as diabetes.
Isso me faz lembrar do meu pai. Não queria que Jacob e Merliah passassem pelo mesmo, eu ainda tinha minha mãe mas eles não tinham mais ninguém. Foi um momento difícil, faz tanto tempo agora que sinto como se tivesse o esquecendo aos poucos. Era horrível.
— Já foram no médico? — pergunto, querendo afastar a imagem de meu pai da minha cabeça.
Jacob assente.
— Algumas vezes. Tem mais uma consulta essa semana.
— Tenho certeza que tudo vai ficar bem.
— Eu espero que sim.
Como numa ironia do destino, o vento traz um cheiro conhecido ao meu nariz. Meu lobo uiva, almejando proximidade e mais que tudo se embriagar naquele aroma floral. Meu estômago se contrai quando percebo outros em volta dela.
— Merda — praguejo, parando no meio do caminho. — Ela está aqui... com ele.
Jake parece confuso, claro. Seu lobo ainda não havia captado o que nos esperava lá dentro.
— Ela?
— Merliah droga, o que ela está fazendo aqui?
Ele funga duas vezes e para de andar também, se virando pra mim com os ombros erguidos.
— Meu pai pode ter chamado ela também.
Faço careta. Não acredito que Billy Black arruinou minha paz dessa maneira...
Assim que entramos em casa vemos minha mãe e Charlie na cozinha, mamãe temperava um pedaço gigante de carne enquanto Charlie bebia uma cerveja, ele acena pra nós com a mão livre.
— Oi garotos — mamãe diz, com um sorriso.
— Oi mãe.
Jacob acena para ambos, Charlie tenta não fazer careta em sua direção. Apesar dele saber sobre os lobos e as matilhas sua amizade por Jake acabou no momento em que ele descobriu sobre sua relação com Renesmee. Eu não podia culpa-lo, Jake vivia correndo atrás da Bella e agora quer se casar com a filha dela. Ele merecia uns bons tapas.
— Temos visita — mamãe diz apontando pra sala onde James, Merliah e Billy conversavam sobre alguma coisa.
Dou de ombros.
— Eu percebi.
Leah entra na sala com um prato vazio em mãos, os dedos sujos do farelo do que quer que seja que estava comendo. Tinha um cheiro apimentado.
— Eu falei que era uma má ideia esconder o imprinting dela — minha irmã sussurra com um sorriso divertido. Aposto que ela estava adorando ver minha cara de tacho.
— Como eu ia adivinhar que ela chamaria todo mundo pra um jantar? — indago, no mesmo tom.
— É a nossa mãe, idiota — responde e dá risada, assim como Jake.
É claro que mamãe faria isso, ela tem mania de chamar todo mundo pra vir aqui. O bom é que a maioria evita por conta da Alex e olha que ela nem mora aqui — até porque estamos com superlotação desde que Charlie se mudou.
— Oi gente — ouço a voz de Merliah.
Respiro profundamente antes de me virar. A frente de seu cabelo estava presa pra trás, o resto escorria liso pelos ombros como um véu escuro, a franjinha perfeita combinava com o nariz perfeito. Os lábios cheios e desenhados exibiam dentes alinhados, a pele morena praticamente brilhava me lembrando de que nunca iria toca-la.
— Oi — murmuro, desviando o olhar para seu vestido rodado e amarelo como o sol.
Em menos de dois segundos James aparece com Billy a tiracolo, os dois estavam rindo, pareciam se dar bem. Isso ferve meus neurônios de uma maneira inexplicável e a vontade de arrancar a cabeça dele aumenta quando seus olhos claros se focam em mim e ele ergue a mão em um aceno.
Sinto uma cotovelada na costela, era Leah tentando me lembrar de responder o cumprimento. Ergo a mão e forço um sorriso.
— Então crianças, espero que estejam livres pro jantar, Sue convidou a gente — comemora Billy com um sorriso.
Pelo amor de Deus, tudo menos ficar encarando esses dois.
— E o restaurante? — pergunto à minha mãe, esperando que ela me mande trabalhar imediatamente.
— Resolvi dar a todos nós uma folga, não sabemos quando teremos a oportunidade de jantarmos todos juntos.
Eu espero que nunca mais. Assinto e dou de ombros, indo pro lado de Leah no sofá e tentando ignorar o pequeno raio de sol andando e falando pela minha sala. Minha mão treme, precisava me distrair.
— Onde está a Alex? — é a primeira coisa que passa pela minha cabeça.
Os olhos de Leah brilham ao ouvir seu nome.
— Em casa, ela não ficou muito feliz quando soube que o Billy viria.
Billy Black não aceitava vampiros, essa é a verdade. Apesar de sua simpatia por Carlisle, Bella e Renesmee ele não era um grande fã da espécie. Alex não gostava do modo como era encarada por ele.
— Ele é bem implicante quando quer — digo, o problema é que ele sempre quer ser implicante.
Nunca entendi o por quê de todo esse ódio, sou grato pelo da Leah ter se dissipado após o imprinting — pelo menos uma boa parte dele.
Ainda me lembro de quando aconteceu, estávamos seguindo o rastro de Alex, ela passou muito perto de nossas terras e os Cullen não à conheciam. Leah é a mais rápida entre nós então encurralou ela, imagine o choque quando sentimos o imprinting por nossa telepatia. Sam não ficou satisfeito mas era nossa lei absoluta, não podíamos machucar o alvo do imprinting de um dos nossos.
Alex estava sem um dos braços, haviam arrancado. Leah o encontrou e ficou com ela até ela se reconstruir — ou sei lá como chamam isso —, não acho que deve ser legal de assistir. Estranhamente nunca mais se afastaram mesmo sendo "inimigos naturais" como meu pai costumava dizer.
Acho que isso não importa quando o assunto é alma gêmea.
Encaro a minha, sentada num dos bancos do balcão da cozinha, Jacob ao seu lado comendo batatas, James do outro, suas mãos entrelaçadas. Sue e Charlie contavam alguma coisa com entusiasmo para eles. Merliah percebe que eu observava e estranhamente afasta sua mão da de seu namorado, ele percebe meu olhar e também o olhar dela. Seu queixo fica tenso, as batidas do seu coração se aceleram.
— Essa coisa de imprinting vai me dar problemas — murmuro, fazendo Leah desprender a atenção de seu celular.
Ela olha pra mim e depois pro casal em nossa frente, não disfarçou muito.
— Sempre dá.
— Você teve sorte.
Minha irmã franze o cenho em minha direção, parecia confusa.
— Sorte? — repete.
— Você tem a Alex, nunca mais se desgrudaram desde que a encontrou. No seu lugar eu estaria feliz.
— Você acha que eu fiquei feliz? — indaga. — Só existia uma coisa no mundo a qual eu odiava e era completamente avessa: vampiros. E então em questão de segundos estava apaixonada por um deles. Eu sinceramente queria bater minha cabeça num poste até que meu cérebro funcionasse direito.
— Isso foi no começo, vocês estão bem agora.
— E você e Merliah estão no começo, ainda tem muita coisa para acontecer, devia dar tempo ao tempo.
Reviro os olhos.
— Ninguém entende o fato dela ter namorado pelo visto.
Leah sorri.
— Ela já olhou pra cá três vezes então acho que suas chances não são nulas.
Meu coração erra uma batida enquanto luto com meu interior que quer encara-la imediatamente.
— Como é que é? — pergunto.
Minha irmã da risada e se põe de pé.
— Levanta, vamos ajudar a mamãe com a comida. Tente não derrubar nada ou ter um acesso de raiva.
Isso seria difícil.
— Vou tentar.
Espero que tenham gostado :D
Lembrando que nessa história Paul não teve/terá imprinting com a irmã de Jacob, Rachel (ela é casada e mora em Nova York).
Os metamorfos que adicionei à história são Koda, Lucas, Gabe, Denahi e Maya, todos adolescentes.
Música: Exile - Taylor Swift ft. Bon Iver.
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