【𝟎𝟎𝟏】𝗪𝗵𝗲𝗻 𝘆𝗼𝘂'𝗿𝗲 𝗹𝗼𝘀𝘁 𝗶𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝗱𝗮𝗿𝗸

Boston, MA
(2023)

Os passos de botas no chão quebravam o silêncio do corredor. O rangido da porta quando foi aberta não foi possível impedir a discussão que rolava dentro do atual aposento.

— Não fode – Ellie Williams xingou e mostrou o dedo do meio a um dos Vaga-Lumes que faziam testes de rotina em Ellie.

Teste esses que Quinn começou a achar desnecessários, pois já havia três semanas que eles vinham fazendo isso e nada da garota virar uma infectada.

Quinn também estava a mando de Marlene. Ela realmente não entendia o porquê ela tinha que analisar aqueles testes patéticos.

A Carter realmente pensou que teria um trabalho importante quando se juntou ao grupo. Mas cá estava ela a três semanas seguidas repreendendo uma adolescente de 14 anos que tinha um vocabulário de palavrões abrangente.

Isso a causou um déjà vu.

— Olha a boca, fedelha – Quinn a repreendeu. Ela se posicionou ao lado da colega que fazia anotações na prancheta. Anotações essas que ela analisaria mais tarde.

— Estica o – A colega iria pedir, mas Ellie já havia esticado o braço.

— Fala seu nome devagar – Ordenou Quinn.

— Verônica. – Mentiu Ellie, ainda com o braço esticado. – Igual a ontem, e  anteontem, e a antes de anteontem, e a...

A Carter se entre olhou com a colega, a mesma lhe entregou a prancheta e resolveram seguir em direção da saída do aposento, ignorando as reclamações da garota acorrentada.

— Olha só vão começar a me procurar, gente da Fedra. Vocês tão me ouvindo ? – Disse Ellie aumento o tom de voz. – Me soltem se não vocês vão ver seus filhos da puta

Quinn parou esperando seus colegas saírem para ela ter o sabor especial de bater a porta enquanto a fedelha ainda falava.

— Nem era pra eu tá aqui ! – Gritou Ellie – Isso é injusto pra caralho !

— A vida é injusta garota. Se acostumar ou se mata. – Quinn se virou apenas o suficiente para olhar para Ellie.

— Já te disseram que você é uma conselheira de merda ?

— Eu não sou conselheira. Sou bióloga.

Ellie a viu batendo a porta o que dizia que a conversa foi encerrada.

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— Eu não me juntei a seu grupo para ficar fazendo testes idiotas em uma fedelha. – Quinn reclamou, entrando na sala onde Marlene estava e jogando a prancheta em uma grande mesa. – A garota é imune. Isso é um fato. O que mais quer que eu faça ? Mais testes que nos dizem o mesmo caralho ?

— Eu não lhe devo respostas apenas siga a porra da ordem. – Respondeu Marlene. Mas a sua resposta não fez a expressão no rosto de Quinn mudar para uma satisfeita. – Você ainda não percebeu ? Ela é a chave, Quinn.

— Ah, claro. – Zombou. A bióloga cruzou os braços e olhou para o lado, pensativa.
Apesar de ter suas dúvidas sobre isso, a mente da Carter travava uma batalha mental de esperança e raciocínio. Ela realmente não sabia quem iria ganhar.

— Eu só não quero perder mais tempo. Só quero estudar o cérebro dela. – Quinn suspirou. Seu estresse e sua depressão começavam a afetar fisicamente. – Só...Pare de me fazer perder meu tempo com coisas estúpidas. Me juntei a seu grupo porque queria ajudar.

— Como eu disse, não será mais necessário os testes. Levaremos a garota esta noite e você vai ser de grande ajuda. Só espere, ok ?

— Tanto faz. Só quero realmente fazer algo importante.

— Todos nós somos de grande importância, Quinn. – Marlene foi respondida com a porta sendo fortemente batida.

Quando você estiver perdido na escuridão, procure a luz .

Que caralho mais idiota.

As únicas pessoas que eram luz na escura vida de Quinn estavam mortas. Mas ela iria fazer com que a morte delas não fosse em vão. Que tivessem algum valor. E se aquela garota fosse mesmo a chave para o tormento do mundo ela iria fazer de tudo para estudar o cérebro daquela bastarda e achar a cura.

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A porta do quarto bateu.

A frequência cardíaca de Quinn disparava e o revólver antigo de seu pai era segurado com força. Ela fechou os olhos por um momento afim de puxar o ar para o seu pulmão e se acalmar. A dor perigosamente perto do lado de sua barriga era suportável, mas ainda ardia.

— Você está bem ? – Perguntou Ellie preocupada.

— Eu pareço bem por acaso ? – A Carter cuspiu tais palavras de maneira grosseira, não podendo acreditar em tal pergunta.

Antes que Ellie pudesse retrucar, Quinn apenas fez sinal para que ela fizesse silêncio. Os tiros pareciam uma música agitada nos corredores do prédio.

Fechando os olhos por um momento, Quinn pôde ouvir o barulho cessando. Ao seu lado Ellie tinha se equipado com sua faca. Ela também iria atacar.

Quando passos no corredores foram ouvidos e por pura emoção do momento, Ellie abriu a porta do quarto e iria atacar a pessoa, mas foi jogada com tudo no chão muito antes disso.

— Caralho. – Xingou a menina se sentindo intimidada pelo homem.

Dessa vez foi a vez de Quinn agir, ela se levantou tentando ignorar a ardência do tiro que havia quase lhe acertado e foi para cima do homem tentando dar um mata leão. Mas suas costas foram batidas com tudo na parede com o peso do homem quando ele foi para trás, o que a fez grunhir, com esse momento de dor, o homem se virou e a prendeu pelo pescoço, a deixando contra a parede.

Quinn encarou o homem por um momento. Ele tinha cabelos grisalho e olhos castanhos que parecia conter uma fúria avassaladora que poderia matá-la com o olhar. O aperto em seu pescoço afrouxou apenas o suficiente para não sufocá-la mas sim para mobilizá-la.

Ela podia jurar que o homem a analisava até a alma. Quinn podia estar em suas mãos – Literalmente –, ele sentiu a ponta do revólver da moça contra sua barriga. Ela também tinha ele em mãos. Então, ambos foram tirados de pensamentos por Marlene.

— Joel ?

Eles se viraram ao mesmo tempo para a líder Vagalume.

— Marlene ? – Disse ele após encarar a líder.

Quinn finalmente pode sentir o homem deixar seu pescoço.

Ela não conhecia Joel, nem Tess, ou Devonne. Porém conheceu Tommy de vista antes de ele sair de Boston, ela também já tinha andado se esgueirando pelas ruas de Boston o suficiente para vê-los uma vez ou outra de longe.

— Tudo bem aí ? – Marlene se virou para Ellie.

— Tudo. – Confirmou Ellie e tentou pegar sua faca, mas Joel a impediu pisando no objeto cortante.

— Ah, cacete. – Quinn percebeu que Marlene havia sido baleado no lado esquerdo da barriga.

— Tá tudo bem. Eu tô bem. – Afirmou Marlene. E logo em seguida se virou para Ellie. – Você não pode ser tão burra assim.

— Foi por você que o Robert sacaneou a gente ? A Che Guevara de Boston – Tess apareceu acompanhada de Devonne ao seu lado. Ambas estavam armadas e não pareciam nada felizes

— A guerra deve tá uma merda pra você comprar de um lixo que nem ele. – Observou Devonne com desgosto.

— É, a situação tá ruim, a bateria tava queimada e ele não quis um “não fode” como resposta.

— Devolve a minha faca – Ordenou Ellie, mas foi completamente ignorada pelo homem.

— Pra que vocês querem uma bateria de carro ? – Perguntou o Joel.

— Para comermos. – Sussurrou Quinn uma resposta irônica.

Mas Joel a ouviu e se virou para ela com um olhar mortal. Nesse momento de distração Ellie tentou pegar sua faca.

— Para. – Joel apontou sua arma para a menina.

— Ela não ! – Duas armas foram para Joel e mais duas foram apontadas para a Vagalumes. E a de Quinn foi apontada para Tess. Era meramente racional. Se ela perdesse as duas colegas pelo menos ela sairia viva e mataria um deles, porém Devonne se voltou para Quinn e apontou a sua arma para ela.

— Ela não, aponta para mim. – Pediu Marlene.

Joel encarou a menina que estava desesperada e levantava as mãos para o alto. Então devagar Joel apontou para Quinn, ainda com os olhos em Marlene.

Isso fez com que Quinn e as outras duas Vagalumes tivessem que abaixar as armas. Elas estavam nas mãos deles.

— Respondendo a pergunta, meus motivos são melhores que os seus. Sem ofensas. Mas o Tommy é uma pessoa só. Meu trabalho é saber das coisas.

— Saber das coisas ? A culpa é sua. Vocês viraram meu irmão contra mim.

— Tá bom Joel – Marlene não queria discutir com o Joel.

— Foram muitos tiros, a Fedra já vai chegar. – Avisou Kim para Marlene.

— Eu sei. – Ela assentiu. Estavam sem tempo. Marlene se voltou novamente para Joel, Devonne e Tess – Era para a gente tirar a Ellie da zona hoje, mas não vamos conseguir ir assim para lugar nenhum. Então a minha ideia é vocês levarem ela.

— Nem fodendo. – Negou Devonne na hora.

— Eu não vou com eles ! – Protestou Ellie indignada.

— Eu levo a garota. – Kim disse para Marlene.

— Não, eu levo. – Rebateu a bióloga. 

A líder apenas ignorou as Vaga-Lumes.

— Tess, Devonne, não temos tempo pra isso. – Falou Joel se virando para elas.

— Pra mim vocês parecem desocupados. – Observou a Carter com humor.

— Você quer levar um tiro ? – Perguntou Devonne, não gostando da brincadeira. O que fez Quinn se calar e colocar um largo sorriso sádico no rosto.

— Quem é ela ? – Questionou Tess se referindo a Ellie.

— Pra vocês um serviço. – Marlene respondeu simples.

— A gente não contrabandeia pessoas. Sinto muito. – Falou Joel. Na verdade, Quinn achou que ele só não queria trabalhar para Marlene. Talvez fossem as duas coisas.

— Eu consigo levar. – Kim afirmou e Quinn a olhou chocada.

— Kim, você tá com uma orelha a menos na cabeça, para de ser otária ! Eu levo a garota. – Disse Quinn sem paciência.

— Tem uma equipe de Vaga-Lumes esperando ela no prédio do congresso. – Marlene continuou a falar – Eu sei o que tem lá fora, a gente ia com um esquadrão inteiro justamente por isso. Agora não tenho carro, esquadrão e ainda por cima a Fedra tá a cinco minutos daqui e o que eu tenho são vocês. Eu sei do que vocês são capazes. Seja isso bom ou ruim.

— Do que eles são capazes ?  – Ellie perguntou preocupada.

— Levem ela em segurança junto com a Quinn e daremos tudo que vocês quiserem. Não só a bateria, tudo. Eu juro. – Marlene deu a palavra dela. – Juro pra vocês

Joel encarou Devonne e Tess por um momento. As mesmas o chamaram para conversar no canto do corredor. Antes de ir  Joel abaixou a arma e jogou a faca para longe do alcance de Ellie.

— Cuzão ! – Ellie xingou o mais velho.

A Carter não perdeu tempo e foi para o lado de Marlene.

— Você acha que podemos confiar neles ? – Questionou ela.

— Eles são nossa única opção. – Disse Marlene. Eles não tinham o luxo de terem escolhas no momento. – Você irá porque sei que vai mantê-la segura junto com eles.

— Marlene... – Quinn não queria que ela fosse responsável por Ellie. Ela não tinha conseguido manter segura nem quem amava quem diria a possível cura do mundo.

— É uma ordem.

As Vaga-Lumes se viraram para os contrabandistas à espera de uma resposta.

— Pode trocar ideia aí, só não esquece que eu tô sangrando – Marlene os apressou.

Um minuto de silêncio se fez antes deles se virarem e Tess dizer algo finalmente.

— Tá bom, vai ser assim, a gente leva elas até o congresso, mas antes da entrega eles tem que dar tudo que a gente quiser. Se não a gente mata ela na hora.

— Fechado. – Concordou a líder.

— Jura ? Rápido né – Ellie se virou para Marlene indignada.

— Você é tudo que importa. A equipe não vai por isso em risco. Lembra do que eu te falei. – Disse Marlene. – Vai pegar a mochila.

Como a garota não fez menção de mexer um músculo Quinn falou em tom autoritário.

— Vai Ellie.

Isso bastou para a garota se levantar e pegar sua mochila no quarto onde ficava presa. A Carter foi logo atrás dela também pegou sua mochila no chão do quarto. Quinn sentia a garota a observar, mas ela não queria olhar a garota no rosto. Se fosse possível ela não olharia o trajeto inteiro.

Ellie logo saiu do quarto, encarando Marlene com raiva, mas a líder não podia fazer nada, então enquanto estava saindo esbarrou propositalmente no ombro do velho homem rabugento. E pegou sua faca rapidamente antes de ser impedida pelo homem.

Quinn saiu do quarto também, com seu revólver no cós da calça e com a mente envolvida de fúria e medo. Ela saiu seguindo Devonne, sentindo-se seguida pelo olhar do homem. Não fez menção de dar tchau pois sabia que as veria novamente.

Aquilo iria acabar logo. Assim ela esperava.

• Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Eu estou muito animada para escrever o desenvolvimento das relações dos personagens. Aliás, aceito criticas construtivas e dicas para melhorar minha estória.

• Aconselho que caso você tenha pulado o prólogo que você leia ele. Ele é parte importante da fanfic.

• Peço por gentileza que votem e comentem, pois vai me motivar. E caso queiram compartilhar vai me ajudar demais e me motivar mais ainda.

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