【𝗣𝗥𝗢𝗟𝗢𝗚𝗨𝗘】
⟨Los Angeles, CA⟩
(2003)
O barulho incomodo do despertador acordou Quinn de seu sono. Os primeiros raios de sol bateram em seu rosto, a aquecendo.
Ela esfregou a mão nos olhos para afastar o sono, logo em seguida olhou para o despertador ao seu lado.
Eram exatamente seis horas da manhã.
Quinn se levantou e tentou se lembrar com que tinha sonhado. Não conseguiu, mas estava com uma sensação boa, então certamente foi um sonho bom.
Entrando no banheiro, Quinn deu de cara com o espelho do banheiro, ela estava com algumas olheiras por conta do trabalho e dos estudos, mas valiam apena se isso significasse uma vida melhor para ela e para Jules.
— Bom dia, peste – Quinn cumprimentou a irmã mais nova que entrou na cozinha.
Jules não respondeu, ela parecia nem um pouco contente nesta manhã. Na verdade, Jules era uma adolescente cabeça quente então era apenas um dia comum para as Carters.
— O que houve dessa vez ? – Perguntou Quinn com os olhos nos ovos e bacon em que preparava e a audição ativa para ouvir as queixas da irmã mais novo.
— Não é nada – Mas no mesmo instante Jules acrescentou. – Só que hoje eu tenho aula com aquele filha da puta do senhor Jack ! Mas a matéria que ele ensina é boa. Como pode uma disciplina tão foda ser dada por um merda ?
— Primeiro, Jules, olha a boca – Repreendeu Quinn enquanto colocava os pratos com ovos e bacon na mesa. – E segundo, não deixe que o senhor Jack te impeça de ir bem em uma disciplina só porque ele é um cuzão.
Jules sorriu com a fala da irmã mais velha. E logo sentiu a mesma bagunça seu cabelo enquanto sorria para ela.
Jules era o mundo para Quinn e vice versa. Embora houvesse diferença de idade entre as irmãs, elas eram a família uma da outra. Alma e carne, dente e sangue. Tudo.
Quando os pais das duas morreram Quinn fugiu com a irmã, pois não queria ser separar dela. Então lá estavam elas, em um apartamento em um bairro pobre da Califórnia, não era dos piores, mas obviamente não eram um bairro de gente rica.
— Já responderam sobre algumas das vaga de emprego ? – Jules questionou entre uma garfada e outra.
— Não – A mais velha balançou a cabeça em negação se sentindo frustrada.
Quinn havia se candidatado a várias vagas de emprego na área do curso a qual estudava. Mas era certo que Biologia era um ramo concorrido, por isso estava trabalhando em uma biblioteca no centro da cidade. Definitivamente era um trabalho distinto do que estudava, no entanto tinha um salário razoável e ela sempre podia pegar livros de biologia para estudar, então aquilo servia.
Ela poderia ter entrado no exército quando fez dezoito anos, mas ela preferiu cuidar de Jules. Além de que ela sabia o que o pai tinha passado lá e sabia sobre os traumas que o falecido tinha adquirido no exército.
— Você vai conseguir. Eu sei disso. – Jules afirmou, dando um pequeno sorriso sem mostrar os dentes para a irmã.
— Obrigada. – Agradeceu Quinn. Quase no mesmo instante a campainha tocou.
Quem seria a essas horas da manhã ?
— Já vai ! – Quinn gritou, se levantando – Termina de comer e vai pegar suas coisas que já temos que sair. – Ordenou para a irmã mais nova enquanto andava para sair da cozinha e atender a porta.
— Olá senhora Fairchild – Quinn cumprimentou a velha vizinha que morava no apartamento ao lado do seu.
— Olá querida. Assei um bolo e resolvi trazer um pedaço para vocês. Ontem fiz biscoitos também, mas meus netos comeram todos. Aqueles danadinhos.– A senhora Fairchild riu com a lembrança.
— Oh, é muita gentileza sua senhora Fairchild. Muito obrigada. – Quinn aceitou o bolo de bom grado. Ela não podia comer glúten, pois tinha intolerância, e Jules era intolerante a lactose, mas Quinn não tinha coragem de recusar o bolo de uma idosa fofa e querida.
— Você pode dividir até com aquela sua amiga. Qual o nome dela mesmo ?
— A Samantha ?
— Essa mesmo ! – Quinn pôde ouvir Jules dar risada. – Faz tempo que ela não aparece. Está tudo bem com ela ?
— Acho que sim. Ela só está ocupada.
— Entendi. Não vou mais tomar do seu tempo, tenha um bom dia senhorita Carter. – A senhora Fairchild caminhou devagar até seu próprio apartamento.
— Amiga. – Repetiu Jules ainda rindo. – A senhora Fairchild nunca se tocou que vocês namoravam.
— Jules, vai pegar suas coisas. Tá na hora. – Interrompeu a mais velha.
— Tá bom ! – Jules jogou o prato na pia. – Acho que se ela soubesse teria um ataque cardíaco. – Sussurrou e correu até o quarto para pegar a mochila.
— É, provavelmente. – Quinn analisou o bolo por um tempo e decidiu que levaria para algum de seus colegas de trabalho.
Jules voltou com a mochila nas costas e elas finalmente saíram de casa. No elevador, Jules quebrou o silêncio.
— Você está bem ?
Quinn ergueu a sobrancelha.
Que pergunta era aquela ? Ela estava se sentindo ótima.
— Eu não quero dizer fisicamente. – Esclareceu.
— Ah, bem... – Quinn não sabia direito como se sentia, já fazia três semanas desde o término, e mesmo assim não tinha certeza se tinha superado. Afinal ela e Sam tinha namorado por dois anos, mas possivelmente ela não tinha sido suficiente. Talvez ela deveria tentar ser melhor. – Eu estou bem. Vou ficar.
O estacionamento do prédio não era muito grande, o prédio em si não era. Logo Quinn e Jules avistaram o Pontiac azul de Quinn estacionado em uma das vagas que ficavam de frente ao elevador.
— Você vai voltar que horas hoje ? – Perguntou Jules enquanto colocava o cinto de segurança.
— Tarde. Tenho aula até de noite. – Respondeu, mas prestava atenção na direção. – Você terá que pegar ônibus.
— Hm, ok. – Jules murmurou em concordância.
Não era de se admirar que Quinn chegaria tarde. Era ela quem quase literalmente se matava de trabalhar para dar um boa vida para elas.
— Tenha uma boa aula ! – Disse Quinn quando estacionou de frente a escola de Jules.
— Obrigada, você também. – Disse Jules saindo do carro.
— Te amo Jules ! – Quinn abriu o vidro e gritou.
— Tá, tá também te amo mãe ! – Jules zombou e fez menção de mandar um beijo para a irmã.
· · ─────── ·𖥸· ─────── · ·
A rotina de Quinn era sempre a mesma. Ela trabalhava das sete até às doze e meia na livraria e depois ia direto para a faculdade que não ficava muito longe do seu local de trabalho.
A única diferença em sua rotina agora era que seus finais de semana passariam somente com Jules. E ao passar pelos corredores da faculdade e dar de cara com Samantha Gillies, ela não ia ser recebida com um beijo, ela seria quase invisível aos seus olhos.
Sam estava no mesmo semestre que Quinn. Então se tornava quase impossível não se esbarrarem pelos corredores ou até mesmo nas aulas da faculdade.
Por sorte, alguns dos horários delas eram diferentes.
O quinto horário de Quinn seria de micologia e considerando a direção oposta que Sam ela não teria essa aula no primeiro horário.
Quinn pensou que seria mais uma aula normal, mas quando um general entrou interrompendo a aula para chamar sua professora, ela soube que algo estava errado. Nunca viu aquilo acontecer, será que era um parente da professora. Não, não era a senhora Harris parecia tão surpresa quanto todos os alunos.
— Senhorita Carter, quer me acompanhar, por favor ? – A senhora Harris pediu assim que terminou de cochichar com o general, Quinn assentiu e foi para o lado da professora. – E para todos os outros, podem sair. Não teremos nossa aula hoje.
Uma parte de Quinn estava com medo de ter feito algo errado, mesmo não tendo feito. Ela era a melhor aluna da turma, não estava entendendo porque a professora pediu somente ela para a acompanhar.
— Com licença, senhora Harris, eu fiz algo de errado ? – Questionou.
— Não, não, senhorita Carter, eu a pedi que me acompanhasse porque você se destaca em micologia, e o general Johnson acha que toda ajuda é bem vinda. – A professora acrescentou. – Mas eu definitivamente não sei o que ele vai me mostrar.
— Parece sério.
— Sim, e é isso que me preocupa.
O general Johnson e elas entraram no laboratório. Ele tinha mais alguns militares lá dentro. Todos pareciam preocupados e angustiados.
O que diabos estava acontecendo ?
— O que você vê, senhorita Carter ?
— É um Cordycipitaceae – Respondeu.
Quinn levantou a cabeça e encarou a professora. A mesma tinha um olhar de pânico
— Exato. Um fato estranho foi que essa amostra foi tirada de um corpo humano.
Agora era Quinn quem estava em pânico.
Aquilo era cientificamente impossível...
Não é ?
— É cientificamente...
Quinn foi interrompida pela senhora Harris.
— Impossível. Eu sei. – Concordou a professora.
— O garoto de que tiraram essa amostra estudava aqui e foi morto porque apresentava um comportamento agressivo, mas antes disso ele mordeu a namorada.
— Cadê ela ? – A senhora Harris questionou.
Um silêncio se instalou por um momento.
— Fugiu.
Aquilo era demais para Quinn. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, gritos ecoaram do lado de fora.
A senhora Harris seguiu em direção à porta e a abriu. Alunos gritando e correndo em uma única direção era a imagem que se via.
Quinn não pensou muito e saiu na direção em que todos estavam correndo. Por entre todos os professores e alunos que corriam, Quinn procurava Sam para saber se ela estava bem. Os militares começaram a atirar.
Tudo estava um caos.
Ela não precisou procurar muito por sua ex namorada, pois a viu correndo um pouco atrás de onde ela estava. E quase no mesmo instante ela viu a ex ser atacada.
Quinn iria voltar e ajudá-la, mas um dia militares atiraram em Sam. Bem ali. Na sua frente.
Do lado de fora da faculdade, alunos ainda corriam com medo. A Carter estava desnorteada com tudo que estava acontecendo, mas ela tinha que sair dali e ir embora daquela cidade.
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— Você chegou cedo. – Jules observou. – Você viu o noticiário ? Em algumas cidades as pessoas estão surtando.
— Jules, pega suas coisas ! – Quinn gritou com a irmã. Ela não tinha tempo a perder.
— O que ?
— Pega suas coisas e me espera no elevador ! – Gritou novamente Quinn.
Quinn passou pela irmã e foi em direção a seu quarto. Debaixo da cama ela tirou uma caixa onde tinha os pertences do pai e da mãe. Na caixa havia uma revólver, algumas munições, as velhas medalhas de seu pai e algumas jóias de sua mãe.
A Carter pegou a arma com as munições e segurou a caixa no outro braço.
De repente Jules gritou. Um grito de desespero e angústia.
— Jules ! – Quinn saiu do apartamento e se deparou com sua irmã sendo atacada pela senhora Fairchild.
— Quinn ! – Jules gritava por ajuda.
O barulho da arma e o baque do cadáver ao lado de Jules a assustaram.
— Vamos – A mais velha estendeu a mão que Jules segurou para se levantar.
— Que porra era aquela ? – Perguntou Jules assustada enquanto desciam as escadas. – Aquilo não era a senhora Fairchild.
— Eu não sei. Eu não sei mais de nada, Jules !
Como as Carters moravam no 5° andar não demorou muito para elas chegarem ao saguão.
— Estacionei aqui em frente. – Quinn apressou o passo e segurou a mão da irmã para ela ir mais rápido.
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— Você está legal ? – Quinn quebrou o silêncio da viagem e olhou de canto de olho pra Jules.
Elas estavam na estrada a 4 horas, o céu estava escuro e as estrelas começavam a aparecer. E o rádio não pegava, pois Quinn escolheu ir por uma estrada abandonada que poucas pessoas conheciam.
— Não. – Admitiu Jules – eu não sei o que tá acontecendo e a senhora Fairchild me mordeu.
— O que ? – A Carter mais velha parou o carro tão abruptamente que fez barulho do pneu freando no asfalto. – Deixa eu ver.
— Você acha que pode ser transmissível ? – Jules estendeu o braço.
A mordida estava horrível. Era possível ver a pele de Jules avermelhadas e suas veias estavam em um tom de roxo estranho.
Droga.
Como bióloga Quinn sabia que que não tinha vacina e nem medicamento que pudesse salvar a irmã, e nem ninguém.
Quinn respirou fundo.
— Você trouxe o kit médico ?
— Era para estar na mochila.
Quinn pegou a mochila no banco de trás e começou a procurar pelo kit médico.
— Eu vou me transformar, não é Quinn ? Eu vou me transformar no que a senhora Fairchild se transformou ? Eu vou morrer ? – Jules questionou de uma vez. – Que porra.
Desesperada, Quinn ainda continuava a vasculhar.
— NÃO ! Você não vai morrer ! – Ela gritou com lágrimas escorrendo pelos olhos.
— Quinn para, não está aí. – Jules tentava impedir que Quinn tirasse tudo da mochila. – Quinn para ! – A mais nova gritou, fazendo que Quinn a encarasse.
Quinn estava chorando.
— Está tudo bem. – Afirmou Jules. Quinn negava balançando a cabeça tentando segurar o choro. – Está tudo bem Quinn.
Jules pegou no porta copos a arma que a Quinn tinha deixado.
— Você precisa fazer isso. – Ela disse entregando a arma para a mais velha.
— Não, não, não. – Com a voz e as mãos trêmulas, Quinn rejeitou.
— Eu não quero virar um daqueles Quinn ! Me mata, por favor. – Implorou a jovem Carter.
Mas pelo silêncio de Quinn, Jules sabia que ela mesmo que teria que fazer isso então ela pegou a arma e saiu do carro.
— Não Jules ! – Quinn exclamou. Ela saiu do carro também.
Ela estava frente a frente com a irmã mais nova que tinha uma arma colocada em sua própria cabeça.
— Então faça por mim. Por favor, eu te imploro.
Balançando a cabeça em negação, Quinn sentiu Jules a abraçar fortemente e a mesma devolveu o gesto. Saboreando o momento do último abraço.
Jules colocou a arma em sua mão, se separou delicadamente do abraço e posicionou o revólver em sua testa.
— Eu te amo muito, muito, muito mesmo Quinn – Jules disse com lágrimas nos olhos.
— Eu também te amo muito, mais do que você pode imaginar Jules. – Não saiu corrente por causa da voz embargada de Quinn, mas Jules escutou. E ela sabia daquilo.
O barulho de tiro se perdeu no meio da estrada silenciosa.
Quinn agora sabia exatamente o sentimento que era de perder um filho. A primogênita foi mais uma mãe para Jules do que a própria mãe foi quando ainda era viva. Vê-la morrer pelas suas mãos a fez desejar estar morta.
O berro segundo de um guincho saiu da boca de Quinn. Aquele era o som miserável da sua tristeza, da sua angústia e do seu desespero. A Carter chorava sem para enquanto abraçava e segurava fortemente sua filha/irmã morta nos braços.
A sensação da dor absurda que sentia ela não desejaria nem para seu pior inimigo.
Tudo estava perdido.
• Espero que tenham gostado do prólogo. Eu estou muito ansiosa para escrever mais dessa fanfic.
• Peço por gentileza que votem e comentem, pois vai me motivar. E caso queiram compartilhar vai me ajudar demais e me motivar mais ainda.
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