𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟒 - 𝐄𝐒𝐓𝐎𝐔 𝐀𝐏𝐀𝐈𝐗𝐎𝐍𝐀𝐃𝐎?
Buenos Aires — 2015
Academia Real del Sol
Bloco de Notas mental
Seraphine... Seraphine, esse nome não sai da minha cabeça. Parece que já a conheço, mesmo sem saber quase nada sobre ela. E se ela for uma Garcia? Bem, ela é estranha, mas ao mesmo tempo, tão... fofa. Não sei explicar; seu jeito tímido e levemente travesso me encantou de imediato. Desde aquele primeiro olhar, senti algo diferente, algo que nunca senti com garota alguma. Estou enlouquecendo? Preciso saber mais sobre ela. Sinceramente, ela é o maior mistério da minha vida... talvez o único.
Ainda estava parado no mesmo lugar, sem conseguir me mover desde que Seraphine saiu, lançando todas aquelas palavras diretas e confusas na minha cara. Minhas perguntas estavam todas embaralhadas na mente, mas as respostas — bem, essas estavam com a garota ruiva que desapareceu antes que eu pudesse entendê-la melhor. Por que ela disse aquelas coisas sobre o fato de eu ter nascido? Era, no mínimo, suspeito. Mas eu não ia aceitar aquele "não" de forma alguma; precisava entender o que a deixava tão arisca perto de mim. De alguma forma, sentia que era importante.
Sabia que, sozinho, eu acabaria enlouquecendo com essas dúvidas. Preciso da ajuda deles. Lucca Fontana e Izaias Ereberto, meus dois melhores amigos, eram as únicas pessoas que poderiam me ajudar a desatar esse nó.
Sai daquele transe e caminhei, logo mandei uma mensagem para eles no nosso grupo que Izaias falava ser os três mosqueteiros — infantil? Sim, mas era divertido não vou negar. Precisa de conselhos, tudo bem que Izaias era a última pessoa com quem falaria aquilo por isso Fontana equilibrava as coisas quando elas apertavam.
N: Preciso encontrar vocês.
I: Onde?
N: No campo de treino do nosso time, lá nas arquibancadas.
F: Aconteceu alguma coisa?
N: Logo vocês vão saber, apenas me encontrem lá.
Guardei o celular no bolso e saí correndo para encontrá-los. No caminho, meus pensamentos flutuavam ao me lembrar da voz dela, do rosto delicado, e do jeito tímido com que pronunciou seu nome: "Seraphine." Droga, esse nome não saía da minha cabeça. Desse jeito, vou acabar precisando de um médico.
Cheguei ao estádio do time e avistei Izaias acenando alegremente, enquanto Fontana permanecia encostado na arquibancada, com um cigarro entre os dedos. Bati nas mãos deles como de costume e me sentei ao lado, soltando um longo suspiro. Precisava tirar aquilo do peito, esclarecer o que estava me deixando tão inquieto.
— O nome dela é Seraphine — falei, sem nenhuma explicação.
— Dela quem? — perguntou Fontana, apagando o cigarro.
— Ah! Lembrei. Daquela ruiva que você me perguntou se conhecia — Izaias comentou, se divertindo com a situação. — Então, descobriu o nome dela? Mano, se a Bianca souber...
— Não temos nada, Izaias. Você sabe disso. É apenas algo casual, como foi combinado — respondi, cortando o assunto antes que crescesse demais.
Fontana e Izaias se entreolharam, e depois me lançaram um olhar suspeito que me fez arquear uma sobrancelha, sem entender o motivo daquelas expressões.
— Vem cá, não me diga que está apaixonado por essa tal Seraphine? — Fontana foi direto, o que me deixou sem graça, algo que eu jamais esperava sentir. Nenhum assunto costumava me abalar, mas quando o tema era ela... era diferente.
Coloquei as mãos na cabeça e dei uma coçada, tentando processar a pergunta. Apaixonado? Só tínhamos trocado alguns olhares e uma conversa esquisita... mas aquilo mexeu comigo de alguma forma. Não sabia o que sentir, e muito menos o que responder aos meus amigos. Fiquei em silêncio, ainda sem resposta.
— Qual é, Fontana! O Nath já tem a gostosa da Bianca. Quem se importa com essa outra aí? — disse Izaias, no seu jeito despojado que, às vezes, me irritava.
— Ah, seu cabeça de bagre! — retrucou Fontana. — Você não entende nada desses assuntos, já que nunca namorou uma garota decentemente.
— Já falei pra NÃO ME CHAMAR ASSIM, sua chaminé ambulante! — Izaias replicou, virando-se para ele com um olhar desafiador. — Como as minas conseguem te beijar com essa boca cheia de cigarro, Fontana?
Os dois sempre acabavam desviando o assunto com provocações. O foco era para ser sobre mim e o que eu sentia, mas, como de costume, eles pareciam mais interessados em se alfinetar.
— E além do mais, ainda tá pegando a garota do sabão? — Izaias perguntou, com um sorriso debochado. — Sério, Fontana? Mesmo com tudo que falam dela, você gosta de porcaria, hein?
Foi a gota d'água para Fontana. Ele se levantou e agarrou a gola da camisa de Izaias, fazendo-o perder o sorriso por um instante. Izaias, porém, voltou a exibir um olhar provocador. Aqueles dois tinham uma dinâmica complicada: ora se adoravam, ora se odiavam. Era uma amizade estranha, e eu nunca entenderia completamente. Mesmo assim, precisei me meter antes que a coisa esquentasse de verdade, ou o treinador nos puniria.
— Lava a boca pra falar da Laila! Ela é a mulher mais doce e gentil que eu já conheci — Fontana rosnou, mantendo Izaias preso pela camisa. — Esses rumores são pura invenção, seu cabeça de bagre.
Agarrei os ombros dos dois e me coloquei no meio, afastando-os. Eu precisava da ajuda deles, e ali estavam, brigando de novo, desviando o assunto para os rumores sobre a garota do Fontana e as besteiras do Izaias. Soltei um suspiro e olhei sério para os dois até que, finalmente, eles se sentaram, trocando olhares irritados, mas em silêncio.
— Sério, gente, foquem aqui. Preciso entender porque me sinto tão estranho em relação a ela. Sinto que a conheço de alguma forma. — Minha voz estava mais séria, e o clima entre nós três mudou.
— Vidas passadas. — disse Fontana, voltando a ser aquele cara sem expressão, como se a segundos não estivesse prestes a quebrar a cara de Izaias. Ele puxou outro cigarro e deu um trago profundo. — Pode ser algo relacionado a isso.
Izaias riu, claramente cético. Ele nunca foi do tipo que acreditava nessas coisas. E, sinceramente, eu também não..., mas, no fundo, tinha algo ali que me fazia questionar.
— Não escuta ele, não, cara. É um cabeça de chaminé, só fica soltando fumaça e não tem nada de lógico pra falar — provocou Izaias.
— Disse o cabeça de bagre que acha que pega um monte de mulher. Se toca, elas nem te suportam. Vê se cresce — retrucou Fontana, com o sorriso afiado, já preparado para continuar a provocação.
Eu não queria mais ouvir aquela briga idiota entre eles. Estava com a cabeça cheia e sem paciência para piadinhas.
— PAREM! — gritei, já irritado com aquela picuinha sem fim. — Querem saber? Foi uma perda de tempo. Vou para a próxima aula e vejo vocês mais tarde no treino.
Levantei-me, irritado sentindo um misto de frustração e raiva. Porém, antes que eu pudesse dar um passo, Fontana segurou meu pulso e me fez olhar para ele de forma séria. Por mais que esses dois me deixassem maluco, havia um peso na mão dele, algo que me dizia que ele ainda tinha algo importante pra dizer.
— Fala com ela de novo. Se não tentar mais uma vez, nunca vai saber se esse sentimento é recíproco. — Ele falou, agora com uma voz mais grave, como se fosse o único a entender o que estava acontecendo. Finalmente, alguém tinha dito algo que eu queria ouvir.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele, mas então Izaias se intrometeu, com a cara de sempre.
— ...Eu não concordo. — Izaias balançou a cabeça, protestando. — Ele já tem a Bianca.
Fontana deu uma olhada para Izaias, sem perder a calma.
— Você não tem que concordar, Iz. É o Nath quem tem que decidir isso. A gente só tá aqui pra apoiar e, às vezes, calar a boca. Somos amigos dele. Agora, Nath, conta direito como foi essa conversa — insistiu Fontana, mais sensato que Izaias quando o assunto era lidar com sentimentos.
Soltei um suspiro, deixando a irritação de lado. A verdade era que Fontana tinha razão, e, por mais irritante que fosse, Izaias também era parte essencial daquela conversa. Então, respirei fundo e contei cada detalhe do nosso encontro, desde a forma como Seraphine falava até o jeito como evitava me olhar diretamente, aquele misto de timidez e algo mais...algo que eu ainda não conseguia entender.
Expliquei para eles cada detalhe, desde o primeiro encontro nos armários — o jeito que trocamos aquele olhar cheio de mistério, como se houvesse algo inexplicável entre nós. Falei sobre o segundo encontro, quando nos esbarramos novamente perto da Bianca, e sobre a aula de física, onde precisei escapar das meninas que insistiam para que eu fosse a dupla delas. Foi imprudente da minha parte, mas apontei para Seraphine, e ela me rejeitou não uma, mas duas vezes, jogando na minha cara coisas como "você nasceu" e "achar que eu tinha namorada."
Enquanto eu contava, Fontana e Izaias começaram a rir, e eu franzi o cenho, tentando entender o que eles achavam tão engraçado.
Izaias, surpreendentemente, foi o primeiro a dizer algo lógico:
— Cara, você se apaixonou à primeira vista. Não creio. Essa mina deve ser um monumento pra te deixar assim, todo inquieto. — Ele deu um sorriso irônico, lançando um olhar para Fontana. — Até que a chaminé aí tem razão... vai que é coisa de vidas passadas?
— Ela parece me odiar, mas eu não sei o motivo — murmurei, um pouco frustrado. — Até pensei que ela fosse uma Garcia, mas, pelo visto é só... tímida. E... — Hesitei por um segundo antes de completar: — fofa no jeito de falar.
— Fofa? — os dois disseram ao mesmo tempo, olhando para mim como se eu tivesse dito algo completamente absurdo.
Senti o rosto esquentar. Admitir aquilo me deixou meio sem graça, mas não dava pra negar. Seraphine tinha uma estranheza encantadora, algo delicado e meio misterioso que me deixava intrigado. Eu olhei para os dois e notei as expressões incrédulas em seus rostos. Para eles, provavelmente era estranho me ver falando de uma garota de forma tão sincera.
Ao contrário de Izaias, que era, no mínimo, rude quando falava das meninas, ou do Fontana, que parecia indiferente, eu sempre usava os elogios certos quando queria algo mais casual. Mas com aquela ruivinha, a coisa era diferente — não era só a aparência ou o charme dela. Seraphine me fazia querer entender mais, desvendar os segredos por trás daquele olhar tímido e travesso. Me fazia querer mais do que apenas uma conexão superficial; me fazia querer descobrir tudo o que havia por trás daquela fachada fofa e intrigante.
— Olha, não tenho mais nada a declarar. Meu diagnóstico é paixão à primeira vista. Nathaniel Greco está apaixonado por uma garota com um nome até bonito, mas que ninguém conhece neste colégio. Sinceramente, se ela não quer nada contigo, esquece ela e foca na loiraça que vive em cima de você. — disse Izaias, dando de ombros com um sorriso debochado.
Fontana revirou os olhos ao ouvir nosso zagueiro falar. De fato, Izaias não tinha o menor tato para assuntos que não envolvessem festas e paqueras casuais. Mesmo com 18 anos, ele ainda agia de forma impulsiva e infantil. Eu sempre me perguntava se ele algum dia amadureceria, mas quem sabe. Futebolistas não tinham exatamente a fama de serem fiéis a relacionamentos sérios, e Izaias parecia querer reforçar esse estereótipo. Afastei os pensamentos, ignorando suas palavras superficiais.
— Bem, obrigado por me ouvirem ao menos — murmurei, tentando encerrar o assunto.
No mesmo instante, um dos garotos do time apareceu e se dirigiu a mim.
— Nath, o treinador Gonzales quer falar contigo.
— Sobre o quê? — perguntei.
— Ele não disse, só pediu pra você ir até ele antes do treino.
Fontana se levantou, espreguiçando-se, e deu uma última tragada no cigarro antes de apagá-lo.
— Vamos, cabeça de bagre. — disse ele a Izaias, já seguindo em direção ao campo.
— Já falei pra não me chamar assim... ah, dane-se. Nos vemos no treino — resmungou Izaias, acenando com a mão enquanto se afastava com Fontana. — E não esquece, foca na loira! — ele gritou ao longe, só para receber um tapa na cabeça de Fontana.
Balancei a cabeça, rindo da palhaçada dos dois. Mesmo com as provocações constantes, esses caras eram meus amigos e, no fundo, sabia que podia contar com eles — mesmo que, para o Izaias, o mundo fosse tão simples quanto a próxima festa ou a próxima garota.
Caminhei até a sala do treinador Gonzales, lembrando das muitas vezes que ele elogiava meu potencial no futebol. Ele era amigo de longa data do meu pai, e não se cansava de dizer que eu poderia chegar ao nível de jogadores como Cristiano Ronaldo ou Messi. Eu até gostava de ouvir essas comparações, mas, para mim, futebol era mais uma atividade curricular, algo para compor meu histórico, não exatamente um caminho profissional, ao contrário do que meus colegas almejavam.
Bati na porta, e Gonzales abriu um sorriso caloroso ao me ver. Ele era um homem musculoso, de cabelos grisalhos, e falava com a autoridade de um general.
— Meu pupilo! Que bom vê-lo.
— E aí, professor. — Cumprimentei-o com um aperto de mão e me sentei. — Disseram que o senhor queria falar comigo?
— Sim. Sabe que o jogo deste final de semana é importante para o time, não é? Quero intensificar os treinos essa semana. Você dá conta?
Ser capitão do time sempre me sobrecarregava, mas meu pai insistia que eu precisava ser o melhor, especialmente para poder jogar na cara dos Garcia que ele tinha um filho brilhante. Toda essa disputa entre nossas famílias era algo que ele levava a sério, enquanto, para mim, era uma pressão exaustiva e uma constante lembrança de algo que eu nunca quis.
Gonzales pareceu adivinhar meus pensamentos, e continuou:
— Olha, sei que seu pai quer que você siga os passos dele e cuide dos negócios da família, mas você é um excelente jogador, Greco. Tem um futuro brilhante pela frente. E sei de toda a situação dessa... "guerra" entre as famílias. Na verdade, acho que toda a Argentina já ouviu falar. É uma história que se espalha por anos.
"É, mas eu odiava essa parte da minha vida." Ninguém parecia entender o peso que aquilo tinha para mim, sempre tratando como uma bobagem ou dizendo que era "marketing" familiar. Se soubessem tudo o que eu e minha família já passamos, pensariam duas vezes antes de menosprezar a situação.
Sorri para disfarçar as preocupações e focar na conversa. Era sempre assim: eu tentava me desligar desses dilemas quando estava fora de casa, mas eles sempre voltavam com força no fim do dia.
— Dou conta, sim, senhor. Pode contar comigo. Quanto à outra parte, sobre seguir carreira no futebol... bem, vou ter que dispensar. Tenho outros planos. — Falei mantendo um tom educado, mas firme.
Gonzales me olhou por um momento antes de responder, com um ar quase paternal.
— Bem, não posso te obrigar, mas saiba que sempre pode mudar de ideia sobre o seu futuro, garoto. Todos aqui te admiram muito.
— Obrigado, professor. — Sorri de leve, pronto para me despedir. — Agora, preciso ir. Tenho algumas aulas pela frente.
Com isso, levantei-me e segui para a escola.
Seraphine não estava na primeira aula, o que me fez pensar que talvez não compartilhássemos todas as matérias — uma pena, já que eu realmente queria falar com ela. Era estranho admitir, mas o dia pareceu um pouco mais vazio sem sua presença.
O cronograma foi intenso, como de costume. Vou tentar resumir:
· 10:00 — Aula de Matemática, o professor parecia ter um dom especial para complicar coisas simples.
· 11:00 — Biologia Anatômica, uma aula prática que exigiu toda a minha atenção.
· 12:00 — Almoço, onde Fontana e Izaias me provocaram sobre Seraphine (de novo).
· 13:30 — Treino para o jogo do final de semana, uma rotina puxada, já que o treinador Gonzales queria intensificar a preparação.
Entre uma atividade e outra, ficava me perguntando se Seraphine realmente estava me evitando ou se era só coincidência. Não era possível que alguém faltaria por minha causa... era?
"Tenta focar, Nathaniel, antes que ela comece a achar que você é maluco", pensei, tentando ignorar a distração constante que a lembrança dela trazia.
Depois de um dia longo, tudo o que eu queria era ir para casa. Com a mochila já nas costas, só restava esperar o motorista chegar. Bianca se aproximou rapidamente para conversar, por um momento percebi que, inevitavelmente, algo mexia comigo: o fato de que, mesmo sem intenção, eu podia estar magoando-a. Ela gostava de mim de uma forma que eu não correspondia, e isso me fazia sentir uma pontada de culpa, por mais que eu fosse claro sobre meus sentimentos.
Estava refletindo sobre tudo isso quando a vi. No meio do pátio, perto dos portões, lá estava Seraphine, conversando e rindo com uma amiga. Seus cabelos se destacavam, e ela usava roupas largas, despretensiosas. O riso que ela dava era suave e espontâneo, e por um instante, fiquei parado, observando-a. Ela era ainda mais bonita assim, natural, com um sorriso que a fazia parecer outra pessoa.
Foi então que a amiga dela me notou e a cutucou, apontando discretamente na minha direção. Seraphine virou o rosto e, no instante em que nossos olhares se encontraram, seu sorriso sumiu, dando lugar àquela expressão surpresa e um pouco assustada. Acenei para ela, mas ela deu meia-volta, como se estivesse pronta para fugir.
"Não desta vez," pensei, sentindo o impulso de resolver as coisas de uma vez por todas. Antes que ela desaparecesse, comecei a caminhar rápido na sua direção, decidido a finalmente ter uma conversa direta com ela.
Foi um impulso, algo que eu nunca faria em outra situação, mas minha mão encontrou o pulso dela, e antes que pudesse pensar nas consequências, a puxei para mim.
Seraphine tropeçou levemente, e, por um instante que pareceu eterno, nossos corpos ficaram próximos, mais próximos do que eu jamais imaginara. Meu braço ainda a segurava, firme, mas com o cuidado de não machucá-la. Ela ergueu os olhos, e foi como se o mundo ao redor desaparecesse, reduzido ao espaço entre nós. Os olhos dela eram um misto de surpresa e resistência, mas também havia uma faísca — algo que me fazia sentir como se, só por um momento, ela quisesse estar ali. Meu coração batia rápido, o som parecendo ecoar entre nós. A respiração de Seraphine estava ligeiramente descompassada, e seu olhar, antes distante e defensivo, oscilava entre o nervosismo e... talvez algo mais?
Ela não disse nada, mas também não tentou se afastar de imediato. Nossos olhares estavam presos, como se algo invisível nos mantivesse ali. O perfume suave dela, misturado ao ar frio do fim de tarde, era quase hipnótico, me puxando para mais perto, e a proximidade fazia o coração acelerar de uma maneira que nunca tinha sentido antes.
Eu poderia dizer algo, uma desculpa talvez, mas as palavras pareciam supérfluas. Senti a mão dela hesitar, como se ela também não soubesse se queria recuar ou permanecer. Um pouco nervoso, mas encantado por aquele misto de tensão e doçura, soltei o pulso dela devagar, mas mantive o olhar preso ao dela, sem desviar. Por um instante, senti que ela poderia dizer algo, que talvez fosse ceder, ou até sorrir de volta.
Mas o momento foi quebrado pela amiga dela, Delaila, que logo me cutucou no ombro, claramente irritada.
— É assim que você fala com as... garotas? Puxando-as contra a vontade, Greco? — disse Delaila, com um tom que quase me fez recuar. Ela parecia estar pronta para me dar um sermão, talvez até um soco, se Seraphine permitisse.
Soltei Seraphine imediatamente, me dando conta de como a situação poderia parecer. Com um sorriso nervoso, tentei manter a compostura e mostrar que tudo não passava de um mal-entendido. Delaila cruzou os braços, como uma verdadeira protetora, e me lançou um olhar de advertência.
— Desculpe... é? — perguntei, tentando aliviar o clima.
— Delaila. Ou Laila, como preferir. — Ela me encarou por mais alguns segundos, depois se virou para Seraphine. — Quer que eu fique?
— Não, pode ir. — Seraphine respondeu, com um toque de firmeza, mas também de confiança.
Delaila finalmente foi embora, não sem antes fazer aquele gesto típico de "estou de olho" com dois dedos apontados para os próprios olhos. Agora, com Seraphine e eu sozinhos, o peso do silêncio caiu sobre nós, e ela parecia um tanto desconfortável. Mesmo assim, eu não podia deixar a oportunidade escapar.
— Podemos conversar? Por favor, só uma conversa rápida. Um café? Aceita? — perguntei, tentando soar o mais casual possível, mas minha voz traía um pouco da minha ansiedade.
Ela olhou ao redor, como se conferisse se havia mais alguém por perto. Parecia que estava hesitante, mas então seu olhar voltou para mim, aquele olhar que mexia com algo profundo dentro de mim, e suspirou.
— Apenas um café e depois seguimos por lados opostos. Seja breve — disse ela, a voz fria, mas havia algo nos olhos dela que me dizia que essa fachada não era a verdade completa.
O coração disparou. Não sabia o que esperava desse café, mas havia um estranho desejo de entender quem era essa garota que despertava essas sensações confusas. Caminhamos juntos até um café próximo, e tudo que eu podia pensar era: Seraphine, o que você fez com meu coração?
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