𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚝𝚠𝚘
Sua cabeça doía. Seus olhos estavam apertados, mas tentavam se abrir lentamente, conforme a leve claridade que passava pelas frechas da cortina iam se ajustando ao seu olhar. Estava na cama. É claro que estava na cama, onde mais estaria? Mas não se lembrava exatamente de como tinha chegado lá.
Alguns flashes soltos inundavam a sua mente de uma só vez. Por isso que você odiava beber. Sabia que tinha acabado uma garrafa inteira sozinha para tentar se esquecer da frustração que era ter Mei Mei dentro da sua casa. Pelo menos o final de semana tinha chegado e você não teria que lidar com ela pelos próximos dois dias.
Isso fez você se lembrar de que uma conversa sobre aquela mulher surgiu entre você e Satoru. Era inútil. Você nunca se lembraria do que se tratava. Mas, vindo de uma você bêbada, era melhor nem saber.
"Eu te amo". As palavras ecoaram na sua cabeça como um tiro. Você se lembrava delas. Sabia que tinha sido o Gojo quem falou. Mas sua mente se recusava a acreditar nelas.
Talvez o platinado não soubesse o que era amor. Talvez ele tenha confundido as coisas por vocês passarem tanto tempo juntos desde que a missão começou. Talvez ele só esteja se divertindo por você ser mais resistente que as outras.
Ou talvez ele só te amasse mesmo.
Você bateu com o rosto no travesseiro, mas se arrependeu no mesmo instante em que o enjoo assolou o seu corpo.
O que você tinha respondido? Sabia que tinha falado alguma coisa depois daquilo, antes de finalmente ceder e dormir profundamente, enquanto Satoru ainda acariciava o seu cabelo, como se não quisesse deixar você ir embora.
"Não quero que você vá embora depois que a missão acabar. Quero que fique comigo pro resto das nossas vidas."
Ele tinha se declarado.
Satoru Gojo tinha feito uma puta declaração e você não teve a decência nem de ficar sóbria para ouvir e se lembrar com clareza no outro dia. Só queria se enterrar no primeiro buraco que aparecesse. Precisava saber o que você tinha respondido.
Ouviu os passos de alguém se aproximando do quarto. Só aí você percebeu que o platinado não estava do seu lado na cama. Sua cabeça estava cheia demais. Queria voltar a dormir, mas a ansiedade não deixava.
— Bom dia — Satoru disse, assim que entrou no quarto e viu que você já estava acordada — Ainda é cedo, então não precisa levantar se você não quiser — Completou, oferecendo um analgésico e um copo de água para você.
— Obrigada — Disse, se sentando na cama e pegando o remédio e o copo das mãos dele.
O Gojo olhava para você com curiosidade. Você sabia que ele estava se perguntando se você lembrava do que aconteceu na noite passada. Bom, não é que você não soubesse. Mas não se lembrava de boa parte da conversa. Nem sabia se estava delirando sobre a confissão dele, então resolveu arriscar.
— Obrigada também por cuidar de mim noite passada.
— Você é minha mulher — O sorriso divertido estava lá nos lábios dele logo de manhã cedo — Claro que eu vou cuidar sempre que você ficar bêbada.
— Eu dei muito trabalho?
A expressão divertida no rosto dele desapareceu.
— Você não se lembra?
— Lembro de algumas partes — Respondeu, com sinceridade, mas o sorriso dele não estava voltando — Eu só queria saber sobre o que a gente conversou ontem.
Satoru passou alguns longos segundos apenas olhando para você. Ele nem tinha se perguntado se você estava realmente falando sério quando disse que achava que também amava ele. Talvez fosse só o álcool falando na sua mente. Ou talvez você tivesse respondido aquilo apenas para não ficar um clima estranho entre vocês dois.
— Não conversamos sobre nada demais — Você sabia que ele estava mentindo — No final das contas, você acabou dormindo antes que a gente pudesse conversar de verdade.
Você apenas assentiu com a cabeça. Sua expressão estava indiferente, mas seu coração se apertou muito. Tinha se iludido com a ideia de que Satoru realmente amava você. Não que isso fosse uma coisa boa. Só tornaria tudo mais difícil quando você precisasse ir embora. Mas saber que seus sentimentos eram recíprocos fez com que você se sentisse mais esperançosa do que nunca.
Talvez isso tudo fosse apenas um mecanismo seu em tentar fazer as coisas parecerem menos piores do que realmente estavam.
— Ah, Suguro vai fazer uma pesquisa sobre o seu passado — Ele disse, se afastando de onde você estava deitada e lhe dando as costas.
— Por que? — Você colocou o copo de água na cabeceira ao seu lado e se levantou da cama, devagar para sua cabeça não explodir.
— Tive que inventar uma história para ele sobre você ter uns traumas de infância — Mentiu, mas você estava ocupada demais para perceber que era mentira.
— Devia ter me contado antes — Seus dedos já digitavam freneticamente no notebook — Vou precisar acrescentar algumas informações sobre [Nome] [Sobrenome] por aí.
— Não tem nada sobre você em lugar nenhum?
— Não que eu saiba — Seus olhos não desafixaram da tela enquanto você respondia — Também não sei como o Senhor Yaga descobriu o meu nome.
Você só esperava que ele nunca tivesse descoberto.
Satoru apenas assentiu com a cabeça e lhe deixou trabalhar. Não seria nada fácil elaborar todo um passado para você mesma. Por isso, ele lhe deu espaço e foi preparar o café da manhã de Megumi, além do seu. Estava distraído enquanto fritava ovos e colocava pão na torradeira.
Ele já sabia que te amava. Tinha admitido isso para si mesmo por muito tempo. Agora, finalmente teve coragem de falar em voz alta. O platinado já sabia que você estava muito bêbada ontem e que talvez não fosse se lembrar daquelas palavras. Talvez fosse exatamente por isso que ele teve coragem de finalmente falar em voz alta. Realmente, ele estava se sentindo um covarde. Aproveitou uma oportunidade e se declarou para você sabendo que as lembranças talvez se escapassem no dia seguinte.
"Acho que também te amo".
Você estava falando sério? Ele queria acreditar que sim. Sabia que se perguntasse tudo seria mais fácil, mas talvez Satoru simplesmente não estivesse preparado para ouvir a resposta, qualquer que fosse. Se você não correspondesse aos sentimentos dele, o Gojo não saberia como continuar a missão, tendo consciência que a mulher que ele amava, a única que ele já amou na vida, não tinha os mesmos sentimentos que ele. Por outro lado, se você falasse que sim, como seria depois que a missão terminasse?
Satoru sabia que você tinha um motivo para ir embora e que isso estava relacionado com a agência. Masamichi nunca revelaria nada para ele. E o platinado sabia que todos ao redor dele estavam escondendo alguma coisa. Se ele te perguntasse, você responderia? Ou era algo que nem a Espectro poderia falar em voz alta?
Isso já estava irritando ele.
Era a primeira vez que ele era deixado de fora de algo tão importante. Não sabia o motivo de os superiores não confiarem isso a ele e nem podia esperar que você também confiasse. No final das contas, ele também era um agente secreto. Não poderia simplesmente lhe falar "o que todos estão escondendo de mim?". Pareceria ainda mais que ele estava colaborando com Masamichi para ver se você abriria a boca.
Não. Ele teria que fazer você confiar nele e, por si só, explicar a situação.
Talvez existisse alguma coisa que o Gojo pudesse fazer para impedir que você fosse embora. Pelo menos, ele queria se agarrar nessa esperança com todas as forças, porque ele não suportaria a ideia de você ir embora da vida dele para sempre.
— Papai? — A voz sonolenta de Megumi foi o que fez ele perceber que estava quase queimando as torradas — O que tem pro café da manhã?
Rapidamente, ele tirou os pães da torradeira e colocou em um prato.
— Torrada e ovos — O sorriso despreocupado do platinado já estava no rosto dele de novo — Pode sentar e comer, sua mãe já já chega.
— Você não vai comer? — O mais novo perguntou, enquanto se sentava na cadeira e encarava o prato com água na boca.
— Já tomei café mais cedo — Ele pegou o celular em cima do balcão e viu a hora. Daria tempo de sair e voltar antes do almoço — Diz pra sua mãe que eu saí um pouquinho, mas já volto.
— Okay.
Satoru apenas foi até o filho e depositou um beijo casto no topo da cabeça dele antes de sair pela porta, com você ainda inundando os pensamentos dele.
Suas costas já doíam. Queria precisar passar menos tempo sentada durante o dia a dia, mas era justamente para isso que você tinha sido contratada.
Se espreguiçou na cadeira quando acabou de colocar algumas informações falsas sobre você no sistema. Não conseguiu pensar em muita coisa, então aproveitou para correlacionar as mentiras com algumas leves verdades. Isso seria o suficiente para Geto sair da sua cola.
Queria saber sobre o que aqueles dois conversaram, principalmente quando você era o assunto principal da mesa. Sabia que Satoru não relatava todos os detalhes das conversas deles. Talvez por eles estarem virando amigos de verdade, deveriam estar falando sobre assuntos mais pessoais da vida um do outro. Isso é ótimo para coletar informações sobre o alvo. Você só esperava que o Gojo não tivesse compartilhando informações tão pessoais assim sobre ele mesmo.
Toda a missão acabaria se Suguro começasse a desconfiar de alguma coisa. Além disso, vocês três correriam sério perigo de vida. O platinado até conseguiria de virar, mas você sempre foi péssima em combate e Megumi era só uma criança.
Resolveu afastar esse tipo de pensamento da cabeça e se levantou ao ouvir seu estômago roncar. Ainda estava enjoada por causa do vinho de ontem, mas a fome falava mais alto. Resolveu que iria comer e depois tomar um banho de cabeça para afastar qualquer resquício do cheiro de álcool do seu corpo.
Depois disso talvez fosse ver um filme com Megumi ou jogar alguma coisa. Sabia que o clima com Satoru tinha ficado estranho depois da conversa de mais cedo e não queria forçar a barra.
Não sabia se ele estava falando sério quando disse que te amava, mas era melhor não tocar no assunto. Não saberia o que fazer se ele, de fato, se confessasse para você em alto e bom tom. Teria que contar a verdade para ele? Teria que admitir que um relacionamento entre vocês era impossível? Que você não poderia ter um futuro com absolutamente ninguém? Ou tentaria achar uma forma de ficar?
Preferia não pensar sobre isso também.
Acabou cedendo à fome e se levantou de vez. Sabia que o Gojo tinha fritado ovos e feito torradas por causa do cheiro, que inclusive estava uma delícia. Mas, ao chegar na cozinha, viu Magumi sentado na mesa sozinho.
— Onde seu pai foi? — Perguntou, se aproximando e sentando ao lado do mais novo.
— Ele só disse que ia sair, mas que voltava já já.
Você assentiu, escondendo perfeitamente a decepção. Ele realmente tinha ficado chateado. Talvez você realmente devesse abrir o jogo com ele de uma vez. Mas, se ele fosse realmente um agente fiel a Masamichi, você apenas teria problemas maiores.
— A gente pode ver Naruto depois? — A pergunta animada de Megumi fez um sorriso sincero brotar em seus lábios.
— Claro — Fez carinho na cabeça dele, apenas porque ele era fofo demais para você não fazer — Assim que eu acabar de lavar os pratos, vamos assistir.
— Eba!
Tentou acompanhar a empolgação dele, mas seus pensamentos estavam muito distantes naquele momento.
Satoru andava pelas ruas sem um rumo certo. Não tinha marcado nada com Suguro para aquele dia, porque o moreno tinha ido à uma reunião importante com os "corretores dos imóveis da família dele". Mas ele não queria ficar em casa e ter que encarar você agora. Não que ele estivesse chateado. Ele estava confuso. Precisava pensar em como fazer para ganhar sua confiança completa, ao ponto em que você pudesse falar os planos por baixo dos panos da agência.
Acabou andando até um parque pequeno no meio do bairro onde vocês moravam. Era um sábado, mas tinham poucas pessoas por lá. Não era uma das áreas mais vigiadas por Geto, então seria seguro ele liberar a frustração por lá. A última notícia que Suguro tinha tido era de que ele tinha feito as pazes com você. Talvez seria estranho se ele visse que o casal estava com problemas mais uma vez. Não que casais não pudessem ter problemas, mas porque vocês foram especificamente instruídos a agirem como um casal perfeito.
Ele procurou um banco para se sentar, ao lado de uma mulher que usava um chapéu relativamente grande. Aparentemente estava entrando em moda de novo, já que ele viu diversas mulheres usando modelos parecidos ao longo da semana. Não se sentou muito próximo dela, mas o suficiente para ouvir ela falar:
— Como vai, Satoru?
Ele se segurou. Tinha que se segurar. Não podia demonstrar absolutamente nenhuma expressão de surpresa. Mas era difícil, principalmente quando a amiga de infância dele estava bem ao lado.
Ao invés de arregalar os olhos, ele apenas sorriu antes de responder.
— Por incrível que pareça, na merda — Não se virou ao falar com ela — E você, Utahime?
Ele sabia que ela estava sorrindo.
— Bem melhor do que você, pelo visto.
Era bom ouvir a voz dela. Uma das pouquíssimas mulheres da vida de Satoru que ele não levou para a cama. Não foi por falta de tentativa também. Mas, depois do terceiro toco, ele acabou desistindo e eles viraram amigos. Era uma das poucas pessoas em quem o Gojo confiava.
— O velho sabe que você tá aqui?
— Claro que não — A voz dela era baixa e suave. Não demonstrava nenhum tipo de nervosismo, mas Satoru sabia que ela não estava calma. Afinal, ela tinha escapulido da agência e ido falar com ele sem autorização. Se pegassem ela, seria apagada por completo — Vim ver como você tá.
Uma risada divertida escapou dos lábios dele.
— Você é mais inteligente que isso — Satoru falou, ainda olhando para a paisagem na frente dele — Não teria vindo aqui só pra me perguntar como eu estou.
Se passaram alguns segundos sem que ela respondesse. Era como se a mulher estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras que usaria.
— Você se apaixonou por ela, não foi?
Ele só não esperava que ela fosse não direta assim. Dessa vez, os olhos dele se arregalaram levemente, mas por um breve período de tempo.
— Não é como se eu conseguisse mentir pra você — E ele realmente não conseguia. Utahime era uma das pessoas que melhor conhecia o platinado. Ela não seria tão facilmente enganada como Masamichi foi — Como descobriu?
— Pelos seus relatórios — Ela explicou, ainda com o rosto escondido debaixo do longo chapéu — Eu também li os relatórios dela e achei que ela faria o seu tipo. Mei Mei também comentou que você andava meio estranho.
— Ela sabe de alguma coisa?
— Que você tá apaixonado por outra mulher? — Dessa vez, ela riu — Não sei se ela genuinamente acha que você é incapaz de sentir amor por alguém ou se ela só não quer acreditar que você sente isso por alguém que não é ela.
Ele apenas assentiu com a cabeça, mesmo sabendo que ela não conseguiria ver.
Então estava tudo bem. Não teria problema se apenas Utahime soubesse da verdade. Ele confiava nela. Aquela mulher nunca faria algo para prejudicar o platinado. Enquanto os outros agentes não suspeitassem de nada, você estaria segura. Porque ele sabia que, se descobrisse que ele estava apaixonado por você, ele sofreria algumas consequências, mas seria você que perderia a vida.
— As coisas vão ser complicadas, Satoru — A voz dela o tirou dos próprios pensamentos — Masamichi tem alguns planos em execução.
— Você sabe de alguma coisa?
— Ele não é burro o suficiente de deixar sua melhor amiga ter acesso a esse tipo de informação — Ela explicou — Mas com certeza não é algo bom.
— Deve ser por isso que ela fala tanto em ir embora quando a missão acabar.
— Provavelmente.
Um silêncio intenso se instaurou entre os dois amigos. Fazia muito tempo que eles não se viam, mas as condições não deixavam com que eles aproveitassem o reencontro. Satoru queria abraçar Utahime. Queria desabafar para ela enquanto bebiam no bar, como faziam quando eram mais novos. Queria que ela o fizesse acreditar que tudo ficaria bem no final.
— Tem certeza que você ama ela? — Ele não respondeu, confuso, então ela continuou — Não acha que pode ser só um interesse temporário ou algo do tipo?
— Sinceramente, eu nem sei dizer o que é amor de verdade — Uma risada triste escapou dos lábios dele — Mas, tudo nela me deixa muito intrigado. Eu achei que era só sexo, mas, depois que finalmente aconteceu, eu não consegui tirar aquela mulher da cabeça. Ela é irritante e teimosa, mas eu adoro isso nela. Ela fica insuportável quando bebe, mas eu achei até divertido cuidar dela. Ela é a única pessoa em que eu me sinto confortável perto do Megumi. E eu simplesmente não consigo suportar a ideia de ela indo embora.
— Uau — Finalmente, ela olhou na direção dele — Nunca achei que você fosse falar isso sobre alguém — A mulher tinha um sorriso orgulhoso nos lábios — Nesse caso, você vai precisar cuidar dela, Satoru. Entre vocês três, [Nome] provavelmente é a que está mais em perigo. Se realmente ama ela, precisa lutar.
Agora, ele também virou na direção da amiga. Parte do rosto dela estava estava coberto com o chapéu, mas ele conseguia ver a maioria dos traços tão familiares. O olhar determinado encarava ele como se a própria felicidade dela estivesse em jogo. Por isso, ele respondeu, com mais certeza do que ele jamais tinha falado em toda a vida:
— Não precisa se preocupar — Um sorriso confiante, que fazia com que mulheres se ajoelhassem aos pés dele, brotou nos lábios de Satoru — Eu vou lutar por ela, nem que custe a minha própria vida.
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