𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚝𝚠𝚘

Sua cabeça estava uma completa zona. Já faziam duas semanas que Satoru tinha voltado da "viagem de negócios", mas algo estranho pairava sob vocês. Não que vocês estivessem necessariamente estranhos um com o outro. Não. Continuavam a vida normal, os beijos normais, o sexo normal. Vocês até tiveram várias sessões de sexo com o seu novo brinquedinho (que o Gojo, inclusive, adorou usar em você).

Mas, no fundo, você sabia que algo estava errado.

Satoru estava demorando mais do que o normal para dormir, como se não conseguisse parar de pensar em algo. E todas as vezes em que você perguntou o que estava de errado, ele só respondia com algo do tipo: "só tô pensando no trabalho do hospital amanhã". Agora sim vocês estavam parecendo um casal de verdade, passando por uma crise no relacionamento.

Você queria voltar para o tempo em que parecia que estavam em lua de mel todos os dias. Mas você sabia que as coisas não ficariam naquela paz para sempre.

Precisava decidir o que você ia fazer no futuro.

Um futuro que já não estava mais tão longe. Na verdade, agora estava mais perto do que nunca.

— Amor, você viu o caderno vermelho do Megumi?

Os pensamentos gritavam tanto dentro de sua mente que você nem ouviu o platinado se aproximando de você, fazendo o seu corpo dar um leve pulinho de susto na cadeira, o que arrancou uma risada divertida dele.

— Você nunca se assusta assim — E, então, ele ficou sério de novo — Tá tudo bem?

— Uhum — Você se apressou em responder (mentir), assentindo com a cabeça — Só tava tentando cruzar os dados dos últimos dois relatórios e fazer um novo.

— Masamichi ainda não percebeu que você tá enrolando ele?

Teve que fazer um leve esforço para não arregalar os olhos. Você nem sabia que Satoru percebeu que você estava enrolando. Não queria que a missão acabasse, porque isso significaria dar adeus para o único lugar que você já chamou de "lar" e para as únicas pessoas que você já chamou de "família".

Mas jamais admitiria isso em voz alta.

— Só tô fazendo o que eu posso pra que você e Suguro tenham mais tempo como "melhores amigos para sempre" — Você não olhou na direção dele enquanto falava, mas não demorou muito para perceber que não foi a resposta certa.

Satoru passou alguns segundos sem falar nada e, de frente para o notebook, você não conseguia analisar a expressão no rosto dele. Só imaginava que não fosse muito boa. Não deveria ter enfiado o dedo em uma ferida tão profunda dele.

A ideia de que teria que prender Geto no final disso tudo deveria assombra o platinado nos pesadelos mais sombrios dele. Você se arrependeu imediatamente do que tinha falado, mas, antes que pudesse abrir a boca para pedir desculpas, ele soltou uma risada fraca e fria.

— Suguro não é meu amigo.

Ele sussurrou e se afastou de você, andando em direção à porta.

Se você podia mentir, ele também faria isso.

Então, você viu o caderno de Megumi?

Você finalmente se virou na direção dele de novo, com as sobrancelhas levemente arqueadas.

— Que caderno?

— O vermelho.

Você desviou o olhar para pensar um pouco, depois se lembrou de que o mais novo tinha ido ao seu quarto para lhe mostrar a tarefa de matemática no dia anterior. Por isso, se levantou da cadeira e foi até o seu armário, achando o caderno de capa vermelha jogado em alguma das prateleiras mais baixas.

Entregou o caderno nas mãos do Gojo e já estava se virando para voltar ao trabalho, quando ele agarrou a sua cintura e lhe impediu de ir para mais longe.

— Quer sair pra jantar no final de semana? — Ele sussurrou, rente ao seu rosto.

Você não esperava por aquilo. Não era que as coisas estivessem más entre vocês dois, mas também não estavam boas. Era como se uma névoa pesada impedissem que vocês sentassem para conversar e entendessem o que estava acontecendo.

— Quero — Mas foi o que você respondeu. Talvez essa seria a chance perfeita de acertarem as coisas.

Com isso, Satoru colou os seus lábios, em um selinho demorado e intenso. Mas... ele não carregada a mesma paixão que os beijos de vocês costumavam carregar. E isso fez o seu coração se quebrar em alguns pedaços.

Estavam tentando fazer dar certo.

Estavam tentando não acabar com aquilo que tinham construído ao longo da missão.

Estavam tentando fingir que nada tinha mudado.

Mas isso era um poço sem fundo.

Nada estava certo. Tudo estava acabando. Muitas coisas tinham mudado.

— Vou fazer nossa reserva — Ele disse, afastando os lábios dos seus e soltando a sua cintura.

Você se sentiu mais vazia do que nunca.

— Certo — Respondeu, com um sorriso falso.

O Gojo se virou e saiu do quarto. A única coisa que você conseguiu fazer foi agradecer a todos os deuses por ele ter se virado na hora que uma lágrima pesada escorreu pelo seu rosto.

Talvez isso fosse bom. Se vocês se afastassem antes, ele não ficaria tão triste quando você tivesse que ir embora de vez. Sim, isso era bom. Amenizaria a dor que Satoru pudesse sentir no futuro.

Mas, então, por que você não estava se sentindo melhor?

Foi necessário um grande esforço para que você se virasse e voltasse à sua cadeira, na frente do notebook. Algumas horas se passaram enquanto você apenas enrolava, sem conseguir se concentrar em absolutamente nada.

Talvez o jantar fosse bom. Ou talvez ele fosse uma última chance de você e Satoru ficarem sentimentalmente conectados mais uma vez.

É... talvez essa missão devesse mesmo acabar logo.

As coisas não estavam melhores dentro da cabeça do platinado. Ele tinha dito com tanta convicção que não deixaria você ir, mas não estava conseguindo achar um jeito de fazer você ficar e proteger o Megumi. Satoru não podia deixar aquela criança em perigo. Nunca mais.

Sabia que a agência não deixaria você ir. Algo estava acontecendo e resultava em duas possibilidades: sua prisão ou sua morte. Ele não poderia suportar nenhuma das duas, mas o que significaria assumir o seu lado na história?

Largar o trabalho e ficar foragido pelo resto da vida? E o que aconteceria com Megumi? Teria que fugir com vocês também? Não, isso era demais. A prioridade da vida dele sempre foi fazer o possível para quão o Fushiguro tivesse uma vida o mais próximo da normal e confortável possível.

Não podia abrir mão de tudo isso por causa de uma mulher que conheceu a alguns meses.... Ou poderia?

Foi o celular dele tocando, em cima do sofá, que o fez sair dos próprios pensamentos. Estava na sala, já que evitou ficar no mesmo cômodo que você o máximo de tempo possível nas últimas semanas. Precisava pensar racionalmente sobre o problema, mas não conseguia fazer isso com você ao lado dele.

Pegou o celular e percebeu que era Geto, provavelmente chamando para ir em algum bar de novo. Sinceramente, ele faria de tudo para poder sair de casa naquele momento. Por isso, atendeu.

— Fala, Suguro.

Sa.. to.. ru... — A voz dele estava fraca e arrastada, como se estivesse sofrendo muita dor.

O platinado se levantou do sofá na mesma hora, alarmado. Conhecia muito bem esse tom. Era o mesmo tom que os parceiros dele usavam quando estavam prestes a morrer em campo.

— Que porra, Suguro? Onde caralhos você tá? — Tentou fazer o melhor que podia para não gritar, mas sabia que você ouviria do quarto. Pelo menos, Megumi não escutaria nada.

Minha casa... Meus homens.. vão deixar você.. entrar.

Eu chego aí em cinco minutos — Ele já estava correndo em direção à porta do apartamento, apenas passando para pegar as chaves do carro, em cima do balcão que separava a sala da cozinha, e colocando um par de sapatos nos pés — Se você morrer antes de eu chegar, eu te juro que mato você de novo.

Ele ainda conseguiu ouvir uma tentativa de risada vinda do Geto, mas desligou o celular antes que o moreno pudesse falar qualquer coisa. No elevador, entrou na conversa dele com você no aplicativo de mensagens.

Satoru:
Tô saindo.
Não sei que horas eu volto.
[14:36]

Você:
Aconteceu alguma coisa?
[14:36]

Satoru:
Não.
[14:36]

Você não respondeu e ele não reparou nisso. A porta do elevador se abriu e o Gojo disparou para fora, entrando no carro e nem teve tempo de fechar a porta completamente antes de ligar o veículo e pisar no acelerador. Suguro estava morrendo. Ele era a porra de um líder de uma gangue, era claro que uma hora ele ia colocar a própria vida em perigo.

Mas, porra! Precisava ser naquele momento? A vida de Satoru já estava indo por água abaixo. Ele não precisava que o melhor amigo... não, o único amigo que ele já teve na vida, morresse.

Não. Geto não ia morrer. Satoru não iria deixar isso acontecer. Só precisava chegar lá a tempo e concertar as coisas. Ele era a porra de um médico nessa historinha de faz de conta. Podia resolver isso. Tinha que resolver isso.

As multas por excesso de velocidade chegariam depois para a agência pagar. O Gojo tinha que pensar em alguma desculpa depois para dar. Masamichi jamais poderia saber que ele estava indo salvar a vida do alvo. Nunca.

Mas isso era um problema para o Satoru do futuro. O do presente estava focado demais passando pelos portões da enorme mansão de Suguro. Portões esses que ele nunca imaginou que passaria de uma forma tão simples.

Era para o platinado estar pensando em colocar escutas ou câmeras escondidas pela propriedade. Mas, ao invés disso, ele só conseguia imaginar o que tinha acontecido, agoniado para percorrer logo o caminho dessa porra de entrada enorme e poder tratar o Geto.

Patético.

Ele nem conseguia fingir que ainda estava naquela missão.

Estacionou o carro. Ou melhor, o largou na frente da entrada sem nem puxar o freio de mão e pulou para fora dele. Ao correr até a porta da frente, encontrou dois homens altos e vestidos de preto.

— Onde ele está? — Satoru perguntou, ainda ofegante.

Para a surpresa dele, os outros dois nem perguntaram quem ele era. Um deles apenas fez um gesto com a cabeça para que o seguissem e dispararam para dentro da casa.

Tiveram que percorrer um caminho relativamente longo, que se resumia em passar por uma sala enorme, subir dois andares de escada e andar por um corredor que parecia não ter fim. Em situações normais, o Gojo teria decorado todo aquele caminho com uma facilidade incrível. Mas, naquele momento, ele não tinha cabeça para aquilo.

Não conseguia pensar em nada que não fosse salvar o melhor amigo.

Era a última porta do corredor. Quando entrou, arregalou os dois e demorou dois segundos para sair do estado de choque.

Suguro estava deitado em algo que parecia o improviso de uma maca hospitalar. Tinha muito sangue.

Três balas.

A respiração dele estava inconstante, mas pelo menos existia. O Geto não estava anestesiado. Tinham três homens ao redor do corpo dele, mas nenhum parecia saber muito bem o que fazer. Até que um deles olhou na direção de Satoru.

— Você é o médico?

— Sou — O platinado respondeu, forçando suas pernas a voltarem a mexer e se aproximando.

— Então pode começar logo o seu trabalho — Em um tom não tão agradável, outro homem completou — O nosso médico não pode atende ele agora.

Muito provavelmente o médico antigo morreu. E esse era exatamente o futuro que aguardava Satoru se ele não conseguisse salvar a vida de Geto. Talvez ele devesse ter pensado melhor antes de ir até a casa do "inimigo", mas não tinha se arrependido de absolutamente nada.

— Saiam daqui — Ele disse, pegando a máscara e a bata, colocando as duas.

Houveram alguns resmungos, mas os homens obedeceram, saindo do quarto de hospital improvisado e deixando o platinado sozinho com o moreno.

Você realmente veio — A voz de Suguro era fraca, mas audível.

— É claro que eu vim.

Eu vou precisar te explicar isso tudo depois, né?

Na verdade, ele não precisava. Satoru já sabia de absolutamente tudo. Tudo o que envolvia a vida de Suguro Geto era de conhecimento do platinado. Quem realmente devia explicações era o próprio Gojo, mas, infelizmente, essas eram explicações que ele não podia dar. Nem naquele momento e, muito provavelmente, nunca.

— Você me conta enquanto a gente tiver tomando uma cerveja — Tinha um sorriso tenso no rosto de Satoru. Ele realmente acreditava em suas capacidades como médico, mas já fazia um tempo desde sua última cirurgia. Não podia falhar naquele momento. Geto não podia morrer. De jeito nenhum — Vou acabar logo.

O moreno apenas assentiu e relaxou mais a cabeça no travesseiro. Ninguém nunca tinha depositado tanta confiança no Gojo e isso mexeu muito com ele.

Ao aplicar a anestesia, as mãos do platinado tremiam um pouco menos.

Foram necessárias seis horas para retirar todas as balas e tratar todos os ferimentos. Mesmo assim, Satoru nem tinha sentido a hora passar. Os homens não tinham batido na porta uma única vez para se assegurarem de que estava tudo certo.

Somente quando o último ponto foi dado, ele abriu a porta para avisar que tinha acabado a cirurgia para outros quatro homens que estavam lá, diferentes dos que tinham saído da sala. Ainda assim, disse que ficaria mais um tempo na sala, até que Suguro acordasse e ele pudesse se certificar de que estava tudo certo.

Enquanto isso não acontecia, Satoru se deixou relaxar um pouco e se jogou em um dos sofás no lado direito do cômodo. Ao pegar o celular, resolveu que mandaria uma mensagem para você avisando que provavelmente só voltaria para casa no dia seguinte, quando percebeu que a última mensagem da conversa de vocês era o "não" que ele tinha mandado mais cedo.

O platinado não gostava da ideia de mentir para você, mas não tinha o que fazer. Estavam em uma situação delicada e essa história de Geto só tinha piorado ainda as coisas. Satoru não sabia o que você poderia fazer com as informações adquiridas naquele dia. Queria confiar em você, mas também não queria que algo fizesse com que Suguro fosse preso antes do previsto.

Resolveu apenas bloquear o celular e desistir da ideia de mandar alguma coisa. Você provavelmente descobriria o que aconteceu por conta própria se quisesse. O platinado só precisava arrumar um jeito de ter uma conversa com você depois disso sem estragar tudo.

Ele passou algum tempo apenas sentado. Talvez tivessem se passado horas. Talvez ele tivesse cochilado algumas vezes. Mas precisava ficar ali até Suguro acordar e Satoru ter certeza de que ele estava bem.

Não podia correr o risco de alguma coisa dar errado.

Ele não podia perder o Geto naquele momento. Ainda não estava preparado para isso.

— Satoru? — A voz era fraca, mas ele a reconheceria em qualquer lugar.

Antes mesmo de responder, o Gojo se levantou do sofá e caminhou até a maçã improvisada. Tinha um sorriso leve no rosto, tentando esconder o semblante preocupado.

— Quando você me liga eu geralmente espero um convive pra tomar uma — Ele brincou, conseguindo arrancar, com muito esforço, um pequeno sorriso do moreno — Nunca imaginei que eu ia acabar tirando três balas do seu corpo.

O sorriso no rosto de Suguro morreu. Ele fez um leve sinal com a cabeça, mas foi o suficiente para que os homens dele entendessem e deixassem o cômodo. Ele só voltou a falar quando a porta do cômodo se foi.

— Eu sou o líder de uma gangue — O Geto disse, sem rodeios, e também sem olhar nos olhos do platinado, quase como se estivesse com vergonha — Vou entender se você não quiser mais falar comigo depois de hoje.

As sobrancelhas de Satoru se arquearam. Pela primeira vez em muito tempo, ele até ficou sem palavras. Nem sabia como responder aquilo sem entregar que já sabia de tudo.

— Se você tá tão envergonhado, por que faz isso?

Os olhos de Suguro encontraram com os dele de novo.

— Eu não tô envergonhado.

— Tá, sim. Se não teria olhado na minha cara enquanto fala isso.

— Sério que eu acabei de dizer que eu sou um mafioso e é isso que você me diz?

— Uhum — Satoru respondeu, dando de ombros — Ah, e se continuar a falar muito assim vai acabar abrindo os pontos.

O Geto se ajeitou um pouco na cama, desconfortável. Ele suspirou fundo, ou tentou, antes de continuar a falar.

— Não é que eu me envergonhe disso, mas eu também não me orgulho.

— Então por que você faz?

— Quando eu adotei Yuji, eu não tive muita opção. Ele tinha acabado de perder o avô e era violentado no orfanato — Foi a vez dele de dar de ombros — Eu tinha passagem na polícia por ter me envolvido em uma briga alguns anos atrás. Um cara tava abusando de uma menina e eu fiz a idiotice de intervir — Uma risada fraca escapou dos lábios dele — Mas o filha da puta era filho de um desembargador. Peguei três anos de cadeia e você provavelmente não sabe, mas não é muito fácil arrumar um emprego quando se tem a ficha suja.

— Foi por causa do Yuji que você começou a fazer isso?

Satoru estava tentando ao máximo, mas era muito difícil não se identificar com a história do moreno. Olhando por um lado, os passados deles eram bem parecidos.

— Eu jamais diria que foi por ele que eu fiz isso — Suguro estava sério e olhava para o Gojo com uma intensidade que ele nunca tinha visto antes — Yuji não tem culpa nem responsabilidade de nada. Eu podia ter achado outra opção, mas não fiz. Escolhi esse caminho porque era o mais fácil e mais rápido no momento.

Mesmo tendo um bilhão de pensamentos rodando dentro da cabeça do Gojo, ele não foi capaz de falar nenhum deles em voz alta. Eles eram parecidos. Tinham feito suas escolhas por motivos parecidos. Claro que Satoru jamais poderia julgar ou culpar Suguro.

Por isso, ele riu. Riu de verdade.

— Porra — Ele disse, ainda entre as risadas, enquanto o moreno apenas observava ele com as sobrancelhas levemente arqueadas — Não posso dizer que eu teria feito uma escolha diferente.

O Geto também não respondeu. Apenas assentiu com a cabeça. E Satoru entendeu que isso significava que o moreno já sabia disso. Eles eram muito parecidos de diversas formas diferentes.

— Não vou me afastar — O platinado falou, depois de um tempo — Ao invés disso, vou deixar uma lista com os remédios que você vai precisar tomar ao longo das próximas semanas. Vai ser uma recuperação chata, até porque levar três tiros não é pra qualquer um.

Uma risada fraca seguida por um resmungo de dor saíram dos lábios de Suguro.

— Você vai contar pra [Nome]?

— Não — Satoru respondeu sem nem pensar.

— Ótimo, porque eu gosto muito dela e ficaria arrasado se ela deixasse de gostar de mim por causa disso.

Ela já sabia dessa informação a meses e, mesmo assim, nunca deixou de gostar de você. Na verdade, tenho certeza de que ela nem te enxerga mais como "amigo do meu marido" e sim como "meu amigo". Ela, inclusive, pareceu nunca ligar muito para o fato de você ser um criminoso e, ao invés de me aconselhar a ficar longe de você, faz de tudo para que possamos aproveitar essa amizade pelo máximo de tempo possível.

Mas essas foram palavras que nunca escaparam dos lábios do platinado.

— É melhor deixar as coisas como estão — Foi isso o que ele falou no final das contas — Eu tenho que ir e pensar em uma desculpa pra dar pra ela, inclusive. Mas venho aqui amanhã de novo ver como anda a sua recuperação.

— Obrigado, Satoru — Palavras simples, mas carregadas de sentimentos.

— Não precisa agradecer, Suguro.

O Gojo saiu do cômodo depois de dar um leve aperto no ombro do amigo na cama. Ao passar pelo corredor, orientou os homens sobre os remédios que deveriam comprar, as dosagens e o período de tempo em que Suguro deveria tomar todos eles. Além disso, também falou sobre quando ele poderia se levantar e os exercícios que deveria fazer quando estivesse se sentindo melhor, além de como deveria ser a alimentação dele. Avisou também que voltaria no dia seguinte para ver como o Geto estava e os homens afirmaram que providenciariam para que a entrada dele fosse liberada.

Saiu da mansão depois de precisar perguntar algumas vezes como se saia daquele lugar. Entrou no carro, que estava exatamente no mesmo lugar em que havia deixado, e deu partida para voltar ao apartamento.

Era como se uma tonelada tivesse saído dos ombros dele. Pelo menos Suguro estava vivo e se recuperando. Poderia lidar com as consequências daquela tarde depois.

Acabou chegando em casa antes do previsto, já que era madrugada e não tinham muitos carros na rua, então nem conseguiu pensar em que desculpa lhe dar. Pelo menos, acreditava que você estaria dormindo e precisaria resolver isso apenas no dia seguinte.

Contudo, ao abrir a porta do apartamento, percebeu que um abajur da sala estava ligado. Você estava sentada no sofá, tomando algo em uma xícara que Satoru logo reconheceu como chá. Ele teve que conferir a hora no celular, mas sabia que já se passavam das três da manhã.

— Oi, amor — Ele disse, se aproximando, mas você não se virou na direção dele.

— Suguro está bem?

O platinado não sabia até onde você já tinha descoberto. Se você sabia que ele estava quase morrendo. Se você sabia que foi Satoru quem salvou a vida dele. Se você sabia que ele tinha acabado de confessar para o Gojo que era líder de um grupo da máfia.

— Está — Mas foi só isso o que ele respondeu.

— Que bom.

Você se levantou do sofá, ainda sem olhar na direção dele, e foi até a cozinha colocar a xícara na pia. Satoru apenas observava enquanto você voltava pelo mesmo caminho que tinha feito e passava por ele para ir em direção ao quarto, sem levantar o olhar para ele nenhuma vez sequer.

— Boa noite — Você disse, já de costas e entrando no cômodo de vocês.

— Boa noite, amor — Ele respondeu, cogitando se deveria dormir no sofá ou ir para o quarto dormir ao seu lado.

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