𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚗𝚒𝚗𝚎
1 ano depois
— Vamos encerrar a aula por aqui, pessoal — O professor falou, recebendo um suspiro de alívio de quase todos os alunos da sala.
Você soltou uma risadinha baixa enquanto juntava suas coisas na bolsa. Fazia tempo desde a última vez em que você foi assistir uma aula, mas o curso prático de artes estava indo melhor do que você esperava.
Não tinha feito muitos amigos e você nem esperava que isso fosse acontecer. Além de você ser mais velha do que a maioria dos alunos, criar relações ainda era algo difícil para você.
Realmente, não tinha como ignorar cem por cento o seu passado sombrio.
Depois de se despedir do professor, você foi até o estacionamento pegar o seu carro. O fato de você ter aula na capital e morar em uma cidade no litoral, mais afastada, complicava um pouco as coisas. Era uma hora e meia para ir e mais uma hora e meia para voltar. Mesmo assim, morar de frente para o mar compensava tudo. Além do mais, ter aula apenas duas vezes por semana era uma mão na roda.
Por incrível que pareça, as ruas estavam sem trânsito naquele dia, o que facilitou a sua chegada em casa. Você fazia questão de pegar a rota mais longa, apenas porque ela era beira mar.
Ver, ouvir e cheirar as ondas lhe acalmava e lhe impedia de pensar em coisas desnecessárias.
Já fazia um ano que a missão tinha sido encerrada. Ou seja, um ano que você tinha deixado Satoru e Megumi para trás.
Você pegou (roubou) uma boa quantia de dinheiro da agência antes de sumir do mapa. No início, você buscava algumas informações de como as coisas ficaram depois de você ter estragado tudo.
Conforme os seus planos, Suguro Geto e Yuji Itadori conseguiram fugir com sucesso. A agência não conseguiu relacionar Satoru com o fracasso da missão, então mantiveram ele por perto. Megumi também não sofreu nenhuma consequência negativa, mas, por mais que a agência tivesse tentado colocar ele em outras missões, o platinado nunca mais deixou.
Depois de alguns meses, você parou de vigiar a vida deles. Já sabia que eles estavam bem. Não fazia o menor sentido insistir em algo que fazia o seu coração queimar toda vez. Não foram raras as vezes, durante as pesquisas, em que você teve vontade de largar tudo e voltar para eles. Foi preciso muito auto controle para não fazer isso.
Você precisava se lembrar dos motivos que fizeram você ir embora para começo de conversa.
— Eu preciso parar de pensar nisso — Você resmungou, enquanto estacionava o carro na frente da sua nova casa.
Assim que entrou pela porta da frente, foi até um quarto que você chamava de ateliê. Estava uma completa bagunça, mas você tinha se inspirado na aula de mais cedo e queria colocar a mão na massa. Mesmo com fome, pegou suas tintas espalhadas pelo chão, achou um pincel jogado em algum lugar e se sentou na frente de uma tela em branco.
Era algo que você já queria pintar já fazia muito tempo, mas nunca teve coragem. Pensar sobre o que aconteceu na missão lhe causava angústia, mas você percebeu que não precisava ter esse tipo de sentimento.
Aqueles foram os melhores meses de toda a sua vida e, por mais que tivessem acabado, você não deveria se apegar ao adeus, e sim às memórias incríveis que você construiu enquanto estava com eles.
Por isso, começou a pintar.
As pinceladas, que antes eram completamente sem jeito e inseguras, já se tornaram uma atividade habitual para você. Era fácil não se apegar aos erros e saber que o resultado não precisava ficar perfeito para que você gostasse.
Muito tempo se passou e você foi ficando cada vez mais e mais melada de tinta. Já estava quase na hora do almoço e você não tinha preparado nada ainda. Mas, foi somente quando você assinou o quadro, que parou para analisá-lo.
Não tinha como negar que aquele era Satoru, sem camisa e olhando para cima, com um mar de flores rosas ao redor dele. Você o desenhou apenas do tronco para cima e também fez uma auréola ao redor da cabeça dele, como se estivesse emanando luz.
Olhando agora, parecia que você tinha representado o Gojo como algum deus ou algo assim, o que lhe fez soltar uma gargalhada alta. Era estranho rir sozinha, depois de ter se acostumado a compartilhar risadas com tantas outras pessoas. Mas você iria se acostumar com isso também.
Deixou o quadro onde estava, para a tinta secar, e saiu do seu estúdio, que era apenas um quarto pequeno na frente da suíte principal da casa. Você pensou em descer as escadas e ir preparar o seu almoço, mas já estava ficando tarde e você queria conseguir aproveitar o sol.
Por isso, decidiu apenas limpar a tinta dos seus braços, colocar um biquíni, passar protetor solar e sair se casa. A maior vantagem de se morar na frente da praia era que, em apenas alguns passos, você na estava pisando na areia.
Poucos metros depois da sua casa tinha um bar e restaurante. Como você sempre passava por ali durante a semana, os garçons já lhe conheciam.
— Senhorita [Nome]! — Um deles gritou, assim que você chegou perto o suficiente para conseguir sentir o cheiro de peixe e batata frita atingindo suas narinas, fazendo o seu estômago roncar ainda mais — Guardei uma mesa para a senhorita.
— Obrigada, Nik — Talvez fosse abreviação de "Nicolas", mas você nunca soube.
Seguiu ele até a mesa que ele indicou e se sentou, pedindo o de sempre. Enquanto esperava o seu almoço chegar, colocou a cadeira para fora da sombra do guarda sol e se sentou.
O dia estava quente, como todos os dias daquele verão. Pouquíssimas nuvens apareciam no céu e você aproveitou para deitar a cabeça no encosto da cadeira e fechar os olhos. Sabia que não existia nenhuma forma de bronzeamento saudável, mas não conseguia evitar. Amava a sensação do sol esquentando a sua pele.
O som das ondas relaxavam o seu corpo, ao mesmo tempo em que você pensava no que faria para o jantar. Só teria que ir para o curso daqui a dois dias, então provavelmente viraria a madrugada assistindo alguma coisa. Talvez um anime, porque, depois de assistir uns quinze com Megumi, acabou se viciando.
Um sorriso genuíno tomou conta dos seus lábios ao se lembrar dele. Talvez o próximo quadro que você fizesse fosse dele. Seria divertido.
— Puta que pariu, finalmente.
Você conhecia aquela voz. Conhecia muito bem. Sem nem dar tempo suficiente para o seu cérebro raciocinar, você arregalou dos olhos e se virou na direção dela. Aquela voz que foi o seu porto seguro durante tanto tempo.
E então você não acreditou no que estava vendo. Satoru Gojo estava ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Alguns fios do cabelo grudaram na testa por causa do suor e, mesmo parecendo acabado, o sorriso que ele esboçava fazia parecer que ele tinha todo o mundo aos pés dele.
— Tem noção do quão difícil foi te encontrar? — Ele continuou a falar, mas você ainda estava sem palavras.
Tentava responder, mas só saiam resmungos da sua boca. Estava com medo de ter ficado louca de uma vez por todas. Ou talvez o sol apenas estivesse muito forte e você estava vendo coisas por causa disso.
Mesmo assim, não conseguiu evitar. Lutou para se controlar e conseguir responder.
— Como você conseguiu me achar?
— Foi difícil pra um caralho — Sem mais nem menos, ele puxou uma cadeira para o seu lado e se sentou nela — Mas imagino que seja mais fácil quando o seu melhor amigo é um mafioso com muitas conexões.
— Suguro te ajudou?
— Ele começou a procurar por você um dia depois de todo o desfecho da missão — Satoru ainda estava tentando controlar a respiração ofegante, mas estava fazendo um ótimo trabalho em falar enquanto isso — Acho que ele ficou com a sensação de que devia te agradecer ou alguma coisa do tipo.
— Por mais fofo que isso seja, não é o mais importante agora — Você se virou na direção dele e, depois de todo o susto ter passado e você ter confirmado de que não estava louca, uma expressão séria e irritada tomou conta do seu rosto — O que você tá fazendo aqui?
— Achei que tivesse na cara — Por mais sarcástico que ele tivesse sido, não tinham muitos traços de brincadeira no rosto dele também — Eu vim atrás de você.
— Então você só ignorou tudo o que eu escrevi naquela carta?
— Claro que não. Pra sua informação, eu li e reli ela umas trezentas vezes no último ano — Ele genuinamente parecia ofendido — Mas você nem me deu a oportunidade de discordar de você. Eu já tinha decidido que iria embora com você, [Nome]. Você só complicou as coisas indo embora.
— Satoru, para de brincadeira.
— Eu não tô brincando — E você nunca tinha o visto tão sério em toda a sua vida — Você não é a única que pode decidir sobre isso.
— Você vai estragar sua vida por minha causa.
— Uma vida que não vale a pena ser vivida se você não 'tiver nela.
Você ficou sem palavras.
Queria chorar. Queria gritar. Queria espancar o platinado até a morte. Queria beija-lo. Queria chamar ele de todos os xingamentos possíveis que você conseguisse imaginar. Queria dizer que o amava tanto e que sentiu a falta dele todos os dias desde que saiu do Japão.
— O que você fez? — Você perguntou, baixinho.
— Larguei a agência e sumi.
— E o Megumi?
— Veio comigo.
Você olhou ao redor, à procura do seu bebê, mas não o encontrou em lugar nenhum.
— E onde ele tá agora?
— Te esperando em casa — Você arqueou as sobrancelhas. Não tinha ideia de que eles tinham descoberto até onde você estava morando — Inclusive, espero que você tenha um quarto de hóspedes sobrando, porque Suguro e Yuji vieram também.
— Suguro tá aqui!? — Você tentou não gritar, mas estava sendo muito difícil. Tudo isso parecia um sonho do qual você acordaria em poucos segundos. Mas você não acordou — Eles vão morar com a gente também?
— Só até a casa deles ficar pronta — Um sorriso radiante tomou conta dos lábios de Satoru quando ele percebeu que você já tinha aceitado que eles morariam com você — É a casa ao lado da nossa, por falar nisso.
Nossa. A casa de vocês.
Você tinha tentado impedir que Satoru e Megumi desperdiçassem as vidas deles por você, mas não conseguiu. Essa foi a única missão da sua vida em que você falhou e, ainda assim, as lágrimas que escorriam pelos seus olhos não eram de tristeza, mas sim da mais pura alegria.
— Sabe que eu não ia conseguir viver sem você, não é? — Satoru usava os dedões para tentar afastar as suas lágrimas, em um carinho cuidadoso, enquanto falava — Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, [Nome], e você sabe que eu sou teimoso ao ponto de não largar o que eu quero — Um beijo casto foi depositado nos seus lábios — E o que eu quero é você. Quero que a gente construa uma casa e veja o Megumi crescer sem precisar da desculpa de uma missão.
Satoru colocou uma das mãos no bolso e retirou de lá uma aliança. Era a aliança que vocês tinham recebido na missão. Antes de ir embora, você tinha deixado a sua em casa e, olhando agora para a mão do Gojo, parecia que ele nunca tinha tirado a dele do dedo.
— Eu quero que a gente se case de verdade e não só por causa de uma missão idiota — Devagar, ele colocou a aliança no seu dedo de volta e olhou firmemente no fundo dos seus olhos — E, então, meu amor? Você aceita se casar comigo?
— É claro que sim, eu idiota.
Ele lhe beijou e você retribuiu. Nada naquele momento parecia mais importante do que o calor do corpo de Satoru. Desde que se separaram, você sentia esse vazio dentro do seu corpo, sempre com a sanção de que algo estava errado, como se alguma coisa estivesse faltando. Mas você parou de ter esse sentimento no momento em que aquela aliança estava no seu dedo de novo.
Era como estar completa de novo.
* notas da autora*
Acabar uma história é sempre muito ruim, mas acabar duas no mesmo mês está acabando comigo. Eu tentei ao máximo postergar o final de Marry You para poder me recuperar de ter terminado Enemies e esse foi o máximo que eu consegui.
Acho que essa história foi a minha fanfic que teve um "bum" mais rápido. Um dia tinha umas 20 mil visualizações e no outro mês já estava em umas 70 mil. Eu fiquei muito empolgada com ela, principalmente porque eu via que vocês estavam gostando.
Eu amei cada segundo escrevendo essa obra, principalmente na conexão dos personagens.
Queria agradecer imensamente a todo mundo que acompanhou essa saga até aqui, porque ela não seria nada sem cada um de vocês.
Espero que vocês tenham gostado de ler ela tanto quanto eu gostei de escrever. Podem aguardar que, em um futuro não muito distante, vem aí uma fanfic do Geto para quem ficar órfã dessa história daqui (mas ela não vai ter absolutamente nada haver com essa daqui).
Mais uma vez, muito obrigada!
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