Problemas e imperfeições

Eu estava exausta, mais uma vez fiz com que Hades não me desse trégua. A princípio a lua de mel deveria durar alguns dias, mas por minha própria vontade fiz com que meu querido marido me satisfizesse todos os dias por exatos seis meses e agora Zeus não exige nossa presença.

— Sn não vamos demorar tudo bem? — Nesse exato momento estou deitada com a cabeça no peito dele enquanto a coberta encobre nossa nudez e óbvio que reclamei. — Sn por mais que eu adore passar minhas noites entre suas pernas temos afazeres a cumprir. — Olhei para ele entediada, mas obviamente faria o que me é pedido.

— Então vamos ao Olimpo, a sua noite ainda é minha querido esposo.

...

A reunião foi completamente entediante e doze dias depois Hades está a trabalhar, meu marido nunca vai ao Olimpo atoa então apesar do tema ter me desagradado era importante para eles, a mitologia passou a se distorcer de forma interessante enquanto o mundo se dava por si sendo tecidos pelos dedos do verdadeiros Celestiais.
Meu querido e amado Imperador ao lado dos demais conteriam a rebelião dos trinta e quatro deuses que não apoiavam a forma como Zeus governa, Hades poderia resolver isso sozinho? Obviamente, porém, seus irmãos resolveram demonstrar serviço e agora estou aqui deitada sobre as nuvens degustando algumas uvas enquanto assisto ao massacre e sei que meu lorde vai ficar revoltado pois o Cérbero está aqui em meus braços comendo banana, deu um trabalho ensiná-lo a encolher ao ponto de ficar parecido com um cão caseiro e estou tendo que segurá-lo com força pois a cada embate ele força para frente tentando ir ao seu mestre.
Cérbero começou a rosnar e olhei para baixo, os deuses caídos estavam de pé e agora lutavam de igual pra igual com os deuses, foram derrubados mais uma vez visto que a mitologia grega não estava usando nem metade de sua força, porém quanto mais eram derrubados eles levantavam com mais força.

— Que merda está acontecendo? — Me levantei e observei meu marido começando a se estressar, sem pensar muito soltei a coleira de Cérbero e o vi pular em direção aos corpos, com uma patada só e uma bocada Cérbero fez um estrago e nem assim foi o suficiente, meu doce cão não come carne humana e sim suas almas. Me peguei observando a luta com afinco e  precisei forçar meus poderes para entender o que estava acontecendo, uma curta vertigem me invadiu e só então me dei conta que meus poderes foram limitados nesse corpo.

"Pai você me paga." — Sussurrei e aos poucos senti uma presença atípica ao meu lado antes de ouvir uma risada ponderada.

— Sn... Não te mandaram aqui somente para se divertir, fiquei intensamente chateada ao saber que você foi escolhida.

Respirei fundo enquanto a presença tomou forma: seus longos cabelos brancos como a lua, as pontas mas quentes como o sol formando um belo entardecer, sua pele escura como a noite e seus olhos parecia refletir o luar.

Revirei os olhos ao notar de quem se tratava.

— Dália.

— Finalmente lembrou da sua bela irmã. — Dália nunca mudará, vive aprisionada dentro do Tempo como se fosse uma extensão do próprio e para que não cause danos a natureza humana ou constelar, ela controla o destino e é através dela que o tempo pode me mostrar todos aqueles flashes, porém essa divindade é ardilosa demais, uma vez que sabe exatamente o que vai ocorrer e pode não só vir a interferir como utilizar tal vantagem e por isso vive aprisionada.

— O tempo te libertou ou fugiu? — Questionei ignorando suas palavras.

— Ele me deu uma folga, mas amanhã terei que retornar ao seu corpo, então estou aproveitando. — Vogou pelo ar mexendo os dedos e adiantando a cena em que os deuses mais uma vez lutavam.

— E pelo visto está entediada. — Notei Hades se esquivar de um golpe e Cérbero arrancar a cabeça daquele que tentou contra o imperador do submundo.

— Completamente. Você tem se divertido bastante, mas esses deuses devem pagar, eles são tão falhos. Principalmente aquele ali. — Apontou para Zeus e balancei minha cabeça.

— Dália sabe que não é assim que funciona, se desfizer esse ciclo eu te mostro o que é diversão de verdade. — Ela fechou os olhos e uma curiosidade interessante a respeito é que mesmo de olhos fechados podemos ver suas pupilas se mexendo como se uma bola branca estivesse rodando, ou seja, ela estava prevendo o que faríamos. Outra curiosidade interessante é que posso enganá-la facilmente como qualquer outro ser, basta ficar trocando de ideia o tempo inteiro e ela terá uma pane, como um sistema eletrônico.

— Ok Sn, já entendi que quer me surpreender.  — Ela estalou os dedos e os deuses rebelados simplesmente caíram.

— Adiante essa bagunça não tenho tempo para ficar observando os outros limparem. — Exigi e apesar de não gostar do meu tom, obedeceu movendo a mão e deixando a todos confusos,  ajeitei meu vestido saindo da nuvem. — Me acompanhe, o imperador não sabe que estou aqu.

E assim retornamos ao submundo...

Dália estava deslumbrada, seus olhar vagava por todos os lados conforme eu lhe apresentava meu lar.

— Sn esse lugar é maravilhoso! — Comentou e tive de sorrir.

— Nem tanto, mas faço o melhor para ser.

— Não. Ele é completamente diferente, já estou acostumada com a beleza da superfície e do universo, mas isso aqui é novo, é diferente e intenso, fora que me sinto tão bem. — Pela sua alegria entendi que possuía pré-disposição aos vertentes sombrias, uma vez que sentia-se melhor aqui do que com a calmaria da terra, deixei meus pensamentos de lado enquanto ela se sentava em uma das cadeiras e eu lhe servia um chá.

— Vamos ao que interessa, o que você quer fazer primeiro? — Perguntei.

— Bom — ela analisou a xícara antes de levá-la até a boca e consumir toda a bebida.

— Que tal se me mostrasse algo inovador. Nada de canto e dança, há dez mil anos atrás eu vivi isso assim como a guerra.  Já sei! Que tal me apresentar aos deuses? — Mexeu as sobrancelhas duas vezes.

E tive de sorrir novamente.

— Por acaso acha que sou burra? Dália você não vai escapar da sua punição, mas se quer conhecer um deus posso te ajudar com isso, venha comigo.

Ela assentiu e assim retornamos a superfície, pedi para que se escondesse e observasse enquanto eu caminhava pelo Olimpo conversando com alguns deuses e depois de algumas horas retornei ao meu reino, Hades ainda estava ocupado por isso não preciso me preocupar já que planejo terminar com ela antes mesmo dele saber de sua existência.

— E então? — Confrontei.

— Eu gostei desse. — Dália puxou uma de suas pétalas presas a sua veste dourada e me mostrou a escrita:

— Anúbis...

Passos soaram e ela se escondeu, o manto negro aos poucos deu ar da graça a suntuosa bengala.

— Não imaginei vê-la tão cedo rainha. — Deixei meio sorriso escapar.

— E não esperava que você estivesse tão longe de seus aposentos, por acaso alguém lhe interrompeu ou incomodou? — Questionei enquanto ele se aproximava.

— É tão perceptível? — Assenti — Asmodeus resolveu tirar a minha paciência com uma brincadeira estúpida.

— Imagino que você vá puni-lo por isso.

— Certamente. — Me aproximei lhe entregando uma das chaves que guardo comigo, depois de nosso casamento e ter me habituado ao submundo, ganhei de Hades as chaves de todos os locais proibidos do submundo onde nenhum deus deve pisar sem consentimento do próprio imperador ou no caso, o meu. Beelzebub demonstrou-se agradecido. — Sabe que não pegarei leve — afirmou.

— Depois só me diga de valeu a pena. — Enquanto um dos infernais saia Dália voltou a mim tão alegre que seus fios irradiavam luz e se moviam como as ondas do mar.

— Quero ele também.

— O quê?

— Não seja assim Sn, voltarei a prisão amanhã, me deixe me divertir. — Respirei pesado saindo de seu caminho, preciso que esse ser se disperse de uma vez para me dizer o real motivo de estar aqui, sendo assim concordei com seus termos. — E como farei?

— Vá assisti-lo e se apresente como minha irmã. Não deixei que descubram quem você é ou terá problemas.

Não precisei dizer mais nada, pois Dália aos poucos sumia e agora era Cérbero que me encarava com suas três cabeças desaprovando meu comportamento.

— Não me olha assim. Ela quer os dois, pois que se vire. — Meu cão lambeu meu rosto voltando ao seu tamanho normal e ali eu resolvi o deixar e segui meu caminho, por hora não preciso me preocupar mais com Dália...

O escritório de Hades estava silencioso, meu marido completamente concentrado em seus afazeres, tranquei a porta atrás de mim e fui até o mesmo envolvendo suas costas e as massageando.

— Não te vejo a dois dias inteiros. — Sussurrei sentindo sua destra segurar a minha e alguns beijos serem deixados em meus pulsos. — Onde estava?

Ele respirou calmamente antes de se desfazer do meu carinho e se virar me puxando para o seu colo.

— Sn não tente me fazer de idiota... Sabes muito bem o que aconteceu já que Cérbero estava no campo de batalha. — Senti sua destra prender meus fios os puxando pela nuca e a esquerda segurar minha cintura.

— O que farei com você? Uma rainha desobediente e cheia de segredos. Certamente te punirei. — Coloquei dos dedos em seu peito abrindo os botões de sua camisa. — Pensa que é essa a punição que receberá, amarrada em minha cama ao estalo de um chicote e uma noite inteira de prazer? Pois está enganada. — Meu pulso foi travado.

— E como pensa em me punir por desobedecer todas as suas ordens se não dessa maneira? Aproveite que tem todo o controle, pois depois voltará a ser meu. — O desafiei, sejamos sinceros o que Hades pode fazer contra mim que me afete? Eu sou uma deusa suprema, a única coisa que me deixaria completamente estressada ou revoltada é caso resolvesse fazer celibato e bastou olhar em seus olhos para entender que essa é a sua intenção. — Não ouse...

— Já transferi seus pertences para o outro lado do reino, quatrocentos e setenta dias para que aprenda a respeitar as leis do reino que agora governa.

Meu marido me soltou e me levantei sem me exaltar, em breve estará em minhas mãos novamente e até lá sou perfeitamente capaz de dançar sua música.

*Dália é a deusa do destino na mitologia lituana/Lituânia (escreve-se Dalia se for se referir a deusa, mas coloquei com acento para fazer jus a flor).

Em breve sai um spin-off dela com Beelzebub totalmente canônico com essa fanfic.

Imagem pertencem a serafleur no intagram