🎨- 007 | Hello, Grandma

𐮙༻Lee Luna point of view༺𐮙

— Luna, preciso falar com você — a voz de papai não foi nenhum pouco carinhosa, mas também não chega a ser cruel. Desinteressado.

Os tons cinzentos e adultos do seu escritório não são muito animadores para se passar o dia, mas não acho que ele se importe em adicionar um pouco de cor ao ambiente, já que se senta em sua cadeira novamente. Não sei como ele consegue voltar ao assento depois de passar o dia ali, deve estar com a bunda quadrada e dolorida, ou deveria caso prestasse atenção nisso.

Não entro muito naquele cômodo da casa, então não deixo de reparar no que vejo. O teto tem uma altura considerável e agradeço ao fato das janelas também se estenderem até o alto, iluminando o local. Há cortinas de veludo cinza que se estendem até o chão. Na mesa do meu pai tem vários papéis de tantos assuntos quanto se pode imaginar, todos organizados cuidadosamente.

O único resquício do meu antigo papai é um porta-retrato antigo da minha família, em que é notável a sua presença, Felix, eu e mamãe de férias na Disney. Eu devia ter uns oito anos na foto, o que significa que meu irmão tinha sete. Apesar de que faz nove anos desde aquilo, parece que se passou uma vida inteira.

Na foto, estamos na frente do famoso Castelo da Disney, eu uso uma tiara vermelha na Minnie e estou no colo de mamãe. Felix, por sua vez havia sido convencido por mim à usar um chapéu do Pato Donal ao invés do Mickey porque A, Minnie e Mickey são um casal e B, pois estava certa de que ele se parece muito mais com uma ave do que com um rato.

Vocês devem estar se perguntando sobre minha mãe. Não, ela não está morta, pelo menos não de acordo com o que sabemos. Quatro anos atrás acordamos em uma bela manhã e ela havia ido embora, deixando apenas uma carta para cada integrante da família. A carta dos seus filhos devia ser lida apenas quando atingissem seus dezoito anos ou estivessem à beira da morte, no meu caso ainda não li. Felix tinha lido sua carta duas semanas antes de morrer, mas não me contou nada do conteúdo que havia lá e jogou o papel no fogo para eu não descobrir.

Não faço a mínima ideia do motivo pelo qual minha mãe nos abandonou, mas espero que tudo seja revelado quando eu ser maior de idade.

Voltando ao assunto principal da minha vinda ao tão prestigiado escritório, meu pai digita algumas coisas em seu computador gigante e volta a me encarar.

— Filha, sua vó irá morar conosco novamente, ela chegará amanhã por volta da manhã. Terei uma reunião na empresa nesse horário então não vou poder vir recebê-la, faça isso por mim.

A notícia chegou como uma grande mistura entre surpresa e alegria. Eu amo minha avó profundamente, mas não esperava uma visita dela tao cedo, ainda mas definitivamente assim.

Após a perda de meu irmão, vovó se afastou um pouco para cuidar da sua saúde, por isso permaneceu na França mesmo após nossa vinda. Imagino que esteja um tanto melhor agora que irá voltar a morar conosco, será mais suportável passar o dia nesse castelo frio e vazio com uma presença como a dela por aqui. Sua energia quente e animada com certeza podem descongelar esse lugar, mesmo que ela tenha esfriado um pouco nos último tempos, assim como o resto da família.

— Assim de repente? Isso é uma surpresa boa, ela já está em condições de saúde melhores? — pergunto tentando ver o que ele tanto olha no seu computador.

— Comparado ao estado deplorável de antes, sim. Ela partiu de Paris hoje cedo e chegará amanhã, ajude a organizar as coisas dela, se não for te atrapalhar.

Assinto concordando e me levanto, imaginando que já devo ir embora. Quando seguro a maçaneta para abrir a porta papai me chama novamente.

— Ei, filha. Como está indo na escola? Conseguiu se adaptar e fazer novas amigas?

Uma pontada verde de esperança e alegria amarela surgiu genuinamente em meu peito. Meu pai nunca tem tempo para conversar comigo, principalmente algo tão fútil quanto minha vida, então isso é algo de se alegrar né?

— Sim! Eu fiz alguns amigos, acho que o senhor gostaria deles. A escola está indo bem, ontem estava na casa de um amigo para um trabalho da feira.

Não posso deixar de notar uma leve ruga se formar em seu cenho na palavra amigo, mas não significa nada.

Amigo? No masculino? Por mim está tudo bem, só não traga namoradinhos tão cedo.

— Pai! Somos bons amigos, só. E outra, meu grupo de amigos também estava lá. Não tenho intenção de namorar assim tão cedo.

Para minha maior surpresa do dia, meu pai desliga o computador e empurra sua papelada para o canto da mesa. Então começa a conversar comigo sobre as coisas mais aleatórias possíveis. Como se fosse só nós dos mis no mundo e nada mais importasse. Como se fosse os velhos tempos.

Quando a campainha toca no dia seguinte, corro para a enorme porta da casa e abro com um sorriso.

— Minha netinha! Que bom te ver. Está tão magrinha, tem comido direito? Se aquele bastardo do meu filho não estiver providenciando alimento para você ele estará encrencado — vovó Eunjoo passa as mãos em meus braços e me abraça.

A mulher está visivelmente mais saudável do que a última vez em que a vi pessoalmente. O rubor rosado de seu rosto já voltou, seus movimentos são mais seguros e fortes, antes ela parecia um senhora frágil e não a vovó poderosa que eu conhecia. Fico feliz em saber que ela já voltou a ser o que era.

— Oi, vovó. Papai está cuidando de mim muito bem, não se preocupa. A senhora também está mais saudável pelo que vi. Já comeu no avião? Posso te mostrar o café da manhã estilo Coreia se quiser — pergunto empurrando uma de suas malas para dentro da casa.

— Estou meio cansada da viagem, minhas costas estão me matando. Mas se quiser me mostrar, posso ficar sentada lhe fazendo companhia enquanto prepara, a louça fica por minha conta.

Essa é uma das coisas que mais admiro em Lee Eunjoo é o tanto que ela se importa com quem ama. Por mais que esteja super cansada de uma viajem de volta à sua terra natal, ela está disposta a me deixar feliz mesmo que isso sacrifique suas costas.

— Acho melhor você descansar primeiro, vovó. Como vamos nos divertir se a senhora estiver com a coluna travada depois? Tenho muitas coisas para lhe mostrar! — saio empurrando sua mala como um carrinho e paro na raiz da escada para mostrar com qual quarto ela ficará e iniciar meu tour na casa.

Após um bom tempo localizando e mostrando cada cômodo minha avó praticamente desmaia na cama de seu quarto e começa a roncar tão alto que é possível ouvir os barulhos pelo meu próprio quarto.

Minha família paterna é a parte coreana da família. Então quando meu pai se casou com Isabelle Delacour, minha mãe, os dois foram para Paris e assim permaneceram até depois de seus filhos terem nascido.

Sendo sincera, não conheço muito minha família materna. A relação de mamãe com seus pais era bem conturbada, me lembro que minha avó materna morreu antes que eu tivesse idade para ter algum apego. Então enfiaram o avô em um asilo para idosos doentes, ele deve ter permanecido lá por uns dois anos, pois deixou a Terra quando eu tinha sete anos. Não sinto falta deles, mal os conhecia mesmo e sempre foram cruéis com minha mãe durante sua vida mesmo.

Em relação à família paterna, tenho alguns primos espalhados pela Coreia e alguns tios nos Estados Unidos, quando era mais nova vivia indo em festas e comemorações da família, pois eles gostavam de visitar a França quando algum evento importante acontecia.

Sobre os avós paternos, tenho vovó Eunjoo que é incrível desde sempre, não cheguei a conhecer nenhum dos meus avôs paternos, sim, no plural. Minha avó se casou pela primeira vez e teve meu pai, só que enquanto meus pais ainda namoravam ele faleceu. Mesmo mesmo após a enorme perda ela conseguiu seguir em frente e se casou novamente com meu segundo avô, infelizmente o câncer de garganta o levou de nós quando eu tinha cerca de um ano e pouco, uma semana antes do meu irmão nascer. E quando ela começou a sair com um cara quando eu tinha uns dez anos ele morreu, por isso seu apelido local é Viúva Negra.

É incrível como ela conseguiu continuar mesmo após tantas adversidades crescentes e tantas perdas. Dois maridos, um namorado, seus pais, familiares e recentemente seu amado neto. E apesar de tudo, ela ainda é uma enorme estrela que brilha iluminando meu céu.

𖦹Diário𖦹
Amado Lixie, vovó chegou da França hoje e já está aqui em casa. Ela continua animada como sempre, embora não seja difícil notar que ainda tem aquela dor crescente no peito, aquela dor que ainda não deixou nenhum de nós.

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