02. The humiliated

Eu estava perdido. Atordoado. E, sinceramente, não sabia como sair desse limbo.

Minha mente era um turbilhão, girando e girando, sempre voltando para o mesmo ponto. Para ela. Para Tory.

Ela estava no Cobra Kai. Com eles. Do lado deles.

E, pior ainda, terminou comigo.

Quer dizer, um "tempo" pode ser interpretado de várias formas, mas eu sabia muito bem o que isso significava. Aquilo não era um tempo, era um fim. Um rompimento. Mas, por algum motivo, eu ainda tentava me enganar. Ainda tentava achar algum resquício de esperança em meio ao caos, mesmo quando todas as evidências diziam o contrário. Era patético. Eu sabia. Mas simplesmente não conseguia desligar minha cabeça disso.

Eu deveria estar focado no Sekai Taikai. Deveria estar me preocupando com o campeonato, com minha equipe, com os oponentes que estavam se acumulando ao nosso redor como predadores farejando sangue. Mas minha mente insistia em se prender a outra coisa. Ao peso que eu carregava.

Capitão da equipe.

Eu não queria isso. Não queria esse título. Não queria essa responsabilidade. Pelo menos, não agora. Mas Miguel perdeu aquela luta de maneira justa. Falcão sequer lutou para essa conquista. E então, todas as expectativas recaíram sobre mim. Talvez porque eu já tivesse passado por muita coisa, talvez porque eu já tivesse sido um líder antes, ainda que do jeito errado. Aceitei porque não havia outra escolha. E agora aqui estava eu, falhando logo de cara.

Perdi a aposta. Na frente de todo mundo. No meu primeiro momento como capitão, fracassei.

Foi patético.

Eu senti os olhares. O julgamento. O peso esmagador da expectativa quebrada.

E, como resultado, agora estávamos espremidos no mesmo quarto, quatro caras compartilhando um espaço que claramente não foi feito para tanto.

Dois em cada cama.

E Demetri sabia muito bem como ser espaçoso.

— Para de se mexer, cara — Murmurei, tentando encontrar uma posição confortável enquanto ele chutava minha perna sem perceber.

— Eu que deveria dizer isso —Rresmungou ele, virando para o outro lado e puxando metade do cobertor junto. — Isso aqui está parecendo um acampamento de verão da pior qualidade.

Miguel, na outra cama, soltou um riso baixo.

— Pelo menos não estamos no chão.

— Ainda. — Acrescentou Eli, com a voz carregada de sarcasmo.

Eu soltei um suspiro longo, encarando o teto escuro do quarto. A escuridão era reconfortante, mas não o suficiente para acalmar minha mente. Meu corpo estava exausto, os músculos tensionados dos treinos, da viagem, da pressão crescente. Mas minha cabeça não desligava.

O chute. A linha marcada no giz. Kwon, chutando mais alto.

A humilhação.

Senti um nó apertado no estômago. Meu maxilar estava tenso. A raiva fervia sob minha pele, mas eu não tinha para onde canalizá-la. Eu queria dar um soco na parede. Queria extravasar esse sentimento de alguma forma, qualquer forma. Mas, em vez disso, virei de lado, tentando ignorar o desconforto da cama apertada e as vozes em minha cabeça.

Mas eu sabia.

Essa noite seria longa.

Eu estava deitado na cama, encarando o teto, enquanto o ronco suave de Demetri preenchia o quarto. Todos estavam dormindo, mas eu? Eu não conseguia. Meus pensamentos martelavam sem parar, Tory, o Sekai Taikai, a responsabilidade de ser capitão, a aposta humilhante que perdi... Tudo isso se misturava em uma tempestade dentro de mim. Eu me sentia sufocado, como se cada parede desse quarto estivesse se fechando aos poucos.

Levantei-me devagar, tentando não acordar ninguém. Minhas pernas se moveram por instinto, como se já soubessem o destino antes de mim. Por um segundo, pensei em ir até o quarto de Tory. Mas da última vez que fiz isso, ela sequer me deixou entrar. "A gente devia dar um tempo", foram as palavras dela. O suficiente para me fazer mudar de direção. O caminho menos doloroso era a praia. Eu só queria um momento de paz, um único instante onde minha mente não estivesse dominada pelo peso que carregava.

Quando cheguei à praia, um vento frio cortava minha pele. Por sorte, eu estava de casaco. O som das ondas quebrando na areia era quase hipnotizante, como se pudessem levar embora tudo que me afligia. Caminhei devagar até um ponto mais afastado, onde a areia parecia mais macia. Estava prestes a me sentar quando ouvi um som ao longe. Franzi o cenho. Era baixo, um soluço abafado. Um choro.

Hesitei. Quem estaria chorando sozinho na praia àquela hora? Olhei em volta e, então, a vi. Uma garota, sentada na areia, abraçando os próprios joelhos. Ela usava uma regata branca, os cabelos curtos balançavam com o vento, e sua postura transmitia algo entre vulnerabilidade e força. Parecia perdida em pensamentos, encarando o mar como se ele tivesse todas as respostas. Ela não me notou.

Me aproximei devagar, sem saber exatamente o que dizer. Só queria perguntar se ela estava bem, qualquer coisa que não me fizesse parecer um idiota intrometido. Mas quando toquei levemente em seu ombro, tudo aconteceu rápido demais.

Em um instante, senti sua mão segurando a minha, e no segundo seguinte, fui derrubado na areia. O impacto foi rápido, mas não doeu tanto quanto a surpresa. A garota se levantou, sacudindo a roupa e resmungando algo que eu não entendi. Seu olhar estava afiado, avaliando minha reação. Percebi que ela não falava inglês, ao menos não agora. Parecia um xingamento.

— Você não pode chegar assim nas pessoas, pensei que fosse um bêbado. — Disse ela, por fim, com um sotaque impecável, confesso.

Soltei um suspiro, cruzando os braços.

— Você ataca todo mundo que tenta te ajudar?

Ela riu, ainda limpando o rosto, onde algumas lágrimas ainda brilhavam sob a luz fraca.

E sua ajuda seria chegando em mim como um encosto?

Revirei os olhos.

— Quer saber, você parece estar ótima. Eu vou dar o fora.

Ela deu de ombros, como se realmente não se importasse. Voltou a se sentar, encarando o mar outra vez. Mas algo em sua expressão me fez hesitar por um segundo. Ela podia ser rude, mas... Estava claramente passando por algo difícil. Ninguém chora à toa.

Segui meu caminho, sem olhar para trás, mas com um incômodo persistente na mente. Quem era essa garota? E por que, mesmo com sua hostilidade, algo nela parecia estranhamente familiar?

Eu me afastei, indo para um trecho mais isolado da praia, onde a areia estava intocada e o único som que se misturava ao das ondas era o do vento cortante que soprava contra o casaco que eu vestia. Fechei os olhos por um instante, inspirando profundamente, sentindo o ar frio preencher meus pulmões antes de soltá-lo em um longo suspiro. Era quase ridículo o quanto eu precisava desesperadamente de um momento de silêncio, longe de apostas estúpidas, olhares julgadores e da sensação insuportável de estar carregando um peso maior do que eu poderia suportar.

Amanhã começaria de verdade. A competição. O Sekai Taikai. O motivo pelo qual eu, e todos os outros ali, tínhamos treinado incansavelmente. O campeonato que poderia definir meu futuro no karatê, talvez até além disso. Eu deveria estar focado, afiado, pronto para mostrar do que eu era capaz. Mas, ao invés disso, minha cabeça parecia um turbilhão sem controle, um mar revolto de pensamentos que eu não conseguia apaziguar.

Eu passei a mão pelo rosto, exausto, os dedos apertando a ponte do nariz como se aquilo pudesse aliviar o aperto no meu peito. Eu precisava encontrar um equilíbrio entre meus sentimentos e a luta, porque se não conseguisse... Se não conseguisse, estaria colocando minha equipe em risco. Poderíamos perder antes mesmo de termos a chance de lutar de verdade.

O simples pensamento fez um gosto amargo subir pela minha garganta. Eu não podia deixar isso acontecer. Eu não podia falhar com eles. Mas como diabos eu ia fazer isso se tudo dentro de mim estava desmoronando? Eu cheguei aqui confiante. Treinei, lutei, construí um caminho que parecia sólido. Mas bastou um único "tempo" para que tudo ruísse. Bastou Tory olhar nos meus olhos e dizer aquelas palavras para que minha confiança se despedaçasse como vidro jogado contra o concreto. Agora, tudo o que restava eram os cacos, e eu não sabia como juntá-los.

Eu encarei o horizonte, observando as ondas quebrando contra a areia, a espuma se dissolvendo antes de ser puxada de volta para o mar. Parte de mim desejava que minha mente pudesse funcionar da mesma maneira, deixar os pensamentos perturbadores serem arrastados para longe e desaparecerem na imensidão do oceano. Mas não era assim que funcionava. Nunca era tão fácil.

E talvez o pior de tudo fosse a sensação de estar sozinho. Não fisicamente, havia pessoas por toda parte, meu time, meus amigos –, mas internamente. Como se um abismo tivesse se aberto entre mim e aqueles que antes pareciam próximos. Meu pai? Distante. O senhor Larusso? Ele tentava ajudar, mas eu não conseguia mais absorver seus conselhos como antes. Miguel? Samantha? Eles tinham um ao outro. E eu? Eu estava aqui, na beira da água, com os pés afundando na areia fria e a solidão me esmagando como uma maré incontrolável.

Eu apertei os punhos dentro dos bolsos do casaco. Isso era difícil. Muito difícil. Mas eu não podia me permitir fraquejar. Amanhã, eu teria que entrar naquele tatame e lutar. E, mais do que tudo, eu teria que encontrar um jeito de não deixar que tudo o que estava me quebrando por dentro me fizesse perder o controle. Porque eu não podia perder. Não agora.

Eu fiquei ali por mais alguns minutos, apenas encarando o mar, deixando o som das ondas quebrando na areia preencher o vazio da minha mente. O vento frio continuava a bater contra meu rosto, bagunçando meu cabelo, mas eu mal ligava. Minha mente ainda estava girando, ainda tentando processar tudo o que estava acontecendo comigo. O Sekai Taikai era amanhã, a competição mais importante da minha vida. E eu não conseguia me concentrar.

O peso de ser capitão, de liderar uma equipe que contava comigo, parecia esmagador. E saber que Tory estava no Cobra Kai, que ela tinha terminado comigo, apenas tornava tudo mais insuportável. Eu queria não me importar, queria ser capaz de desligar os sentimentos e apenas focar no karatê, como meu pai sempre falava. Mas não era assim tão simples. Eu sentia como se tudo estivesse se despedaçando ao meu redor, como se eu estivesse sozinho no meio de uma multidão.

Passei a mão pelo rosto, tentando afastar o aperto no peito, engolindo o choro que ameaçava subir pela minha garganta. Eu não ia fraquejar. Não podia me dar ao luxo de fraquejar.

Foi quando um movimento ao meu lado me fez franzir o cenho.

Uma mão estendida segurava um lenço de pano, bordado com algum idioma que eu não reconhecia.

Levantei o olhar, surpreso, e vi aquela mesma garota, a asiática.

Ela estava ali, parada com a expressão fria e inabalável, os olhos escuros me analisando. Os braços dela estavam ligeiramente arrepiados pelo frio, e a regata branca que usava não ajudava nem um pouco contra o vento gelado que vinha do mar. Por um momento, fiquei sem saber o que dizer, ainda tentando entender o que ela estava fazendo ali. Mas antes que eu pudesse abrir a boca, ela falou.

— Sabia que plantar bananeira impede que você chore?

Pisquei algumas vezes, processando aquelas palavras absurdas. Soltei uma risada entrecortada, mais por incredulidade do que qualquer outra coisa.

— O quê?

Ela suspirou, como se já esperasse aquela reação, e balançou o lenço de leve.

— É sério. A força da gravidade faz o fluido lacrimal não sair. Eu testei quando era criança.

Eu soltei um riso curto, balançando a cabeça. Ela era... Peculiar. Estranha, no mínimo. Seu sotaque americano era impecável, tanto que se eu não a tivesse ouvido xingar em outro idioma mais cedo, nem perceberia que ela não era americana.

— Eu estou bem. — Respondi, cruzando os braços.

Ela riu, limpando o rosto com a palma da mão, onde algumas lágrimas ainda brilhavam sob a luz da lua.

— É mesmo? Porque parecia que ia chorar.

Revirei os olhos, soltando um suspiro irritado, mas antes que eu pudesse retrucar, ela jogou o lenço no meu colo.

— Vai precisar disso mais do que eu. E agradeço sua tentativa de ajuda mais cedo, por isso estou retribuindo.

E sem esperar uma resposta, se virou, caminhando na direção da calçada que levava ao hotel. Fiquei ali por um instante, observando-a se afastar.

Aquele encontro inteiro tinha sido... Estranho. Ela não era exatamente como as outras pessoas. Havia algo nela que parecia completamente impenetrável, mas ao mesmo tempo, ela tinha se importado o suficiente para me dar um lenço. Para ficar ali e jogar uma piada aleatória para aliviar o clima. E obviamente não é todo mundo que chega de repente e fala sobre plantar bananeira.

No entanto, antes que ela pudesse se afastar demais, me levantei e gritei:

— Espera aí!

Ela parou e se virou, me olhando com aquela expressão neutra e analítica. Caminhei até ela e tirei meu casaco, estendendo para ela.

— Uma troca justa? Você parece estar congelando até os ossos.

Ela me analisou de cima a baixo, como se estivesse calculando se deveria aceitar ou não. Seu olhar era tão intenso que, por um momento, senti como se estivesse sendo avaliado.

Então, com um pequeno sorrisinho de canto, ela disse:

— O frio ajuda a diminuir as dores musculares.

— Sério? — Cruzei os braços. — Porque parece que você está tremendo.

Ela riu baixinho, mas não respondeu. Em vez disso, olhou para mim por um instante, e antes que ela pudesse se virar outra vez, perguntei:

— Qual o seu nome? Eu lembro de ter te visto...

Ela me interrompeu antes que eu pudesse terminar.

— É Lin. Sou da equipe japonesa.

Assenti, processando a informação. Então, tentei retribuir.

— Meu nome é Robby.

Ela soltou uma risadinha e arqueou uma sobrancelha.

— É, eu sei disso.

E sem mais uma palavra, se virou novamente, alongando os braços enquanto caminhava de volta ao hotel. Eu fiquei ali, observando-a por um momento, antes de olhar para o lenço bordado em minhas mãos.

Soltei uma risada curta, quase indignada. Ela era... Um pouco peculiar, com certeza.

Eu fiquei ali por mais alguns minutos, observando o mar escuro se mover sob o brilho pálido da lua. O vento frio ainda soprava contra meu rosto, mas eu já nem sentia mais. Minha mente estava uma bagunça. A conversa estranha com Lin, o peso esmagador do torneio, Tory, tudo isso girava em círculos na minha cabeça. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando absorver pelo menos um momento de paz antes de voltar para o hotel.

Ainda segurava o lenço que ela jogou no meu colo. Passei os dedos pelo bordado, tentando identificar o que estava escrito, mas era inútil. Eu nem sabia qual era o idioma. Talvez japonês, talvez outra coisa. Lin era estranha, mas de um jeito... Interessante. Ela me atingiu com uma rasteira antes de sequer perguntar quem eu era, depois me deu um lenço como se tivesse alguma obrigação em retribuir um favor. O que ela quis dizer com isso? Retribuindo? Como se ajudar alguém fosse algo que precisasse de compensação? Eu realmente não entendia essa garota.

Ri sozinho, balançando a cabeça. E a ideia dela sobre plantar bananeira para não chorar? Quem fala esse tipo de coisa para alguém que claramente está tendo uma noite difícil? Mas de um jeito bizarro, isso ficou gravado na minha mente. Talvez eu devesse testar se funcionava, caso tudo continuasse desmoronando ao meu redor. Não que eu fosse admitir que precisava disso.

Soltei um suspiro cansado e finalmente me levantei, limpando a areia da calça. Já estava tarde e eu precisava dormir. Eu não podia me dar ao luxo de estar cansado no dia seguinte. A primeira prova do torneio aconteceria em poucas horas, e eu precisava estar no meu melhor. Ou pelo menos fingir que estava. Meu time contava comigo, e eu não podia decepcioná-los. Mesmo que uma parte de mim sentisse que já tinha falhado antes mesmo da competição começar.

O caminho de volta ao hotel foi silencioso. As ruas estavam quase vazias, só o som distante do mar e o vento preenchiam o espaço ao meu redor. Meu corpo estava exausto, e meus pensamentos ainda mais. Quando cheguei ao quarto, tomei cuidado para não acordar ninguém. Demetri estava espalhado pela cama como se fosse dono do espaço inteiro, Miguel e Eli pareciam mais civilizados na outra cama. Suspirei baixinho, tentando encontrar um espaço onde eu pudesse me encaixar sem ser chutado para fora no meio da noite.

Joguei o casaco na cadeira e olhei uma última vez para o lenço antes de deixá-lo na mesa ao lado da cama. Por algum motivo, eu não conseguia jogá-lo fora.

Me deitei, ajustando o travesseiro da melhor forma que consegui, e encarei o teto. Mesmo cansado, sabia que demoraria a pegar no sono. Ainda assim, fechei os olhos e tentei ignorar o peso no meu peito. O amanhã chegaria de qualquer jeito, e eu precisava estar pronto para encará-lo.

۶

O ginásio do Sekai Taikai era imenso, com arquibancadas cercando a área principal onde estavam os tatames. As luzes fortes iluminavam cada canto do espaço, destacando as cores vibrantes dos uniformes das diferentes equipes. O chão era impecável, com marcações bem definidas para cada uma das áreas de luta. O teto alto e o eco das vozes no ambiente davam a sensação de estarmos dentro de uma arena prestes a testemunhar algo grandioso.

Todas as equipes estavam reunidas sobre o tatame principal, formando um grande círculo. O apresentador estava no centro, explicando a primeira prova do torneio. Ele gesticulava energicamente, transmitindo a importância da competição e destacando como essa prova seria crucial para o desempenho das equipes ao longo da semana.

A prova consistia em um combate dentro de um círculo, onde os lutadores seriam intercalados entre membros de duas equipes diferentes. Apenas um membro de cada equipe poderia estar no círculo por vez, e a qualquer momento, um competidor poderia bater na mão de um companheiro de equipe para fazer uma troca estratégica. Mas isso precisava ser feito com precisão e inteligência, pois cada erro poderia custar pontos valiosos.

O senhor Larusso se dirigiu a nós, sua voz calma e firme transmitindo autoridade.

— Precisamos fazer boas escolhas. Ter calma e precisão vai ser fundamental para garantir um bom desempenho. Trabalhem juntos, confiem nos seus companheiros e ajam com estratégia.

Meu pai, Johnny, já foi mais direto e prático como sempre.

— Só não deem brecha pra levar uma surra. Sejam rápidos, não hesitem. Se virem que vão se ferrar, passem a bola pra alguém que possa segurar a bronca.

Então Chozen Toguchi deu um passo à frente, com aquele seu jeito único de falar, misturando seriedade com um toque de leveza.

— Escolham bem quando trocar. Se fizer isso na hora errada, vão se arrepender. E confiem em seus instintos... Mas não sejam idiotas.

Alguns competidores riram da última parte, mas sabíamos que cada conselho dado ali tinha peso. Eu respirei fundo, sentindo o nervosismo subir. Eu precisava focar. Não podia deixar nada me distrair. Era hora de lutar.

A tensão no ginásio era palpável, e a energia no ar fazia meu coração acelerar. Eu sentia o peso da responsabilidade nos meus ombros, mas tentava manter a mente focada. Samantha e eu traçamos um plano, mas era difícil saber se ele funcionaria até a luta começar. Nossos oponentes eram do Sebaitsu Usu, o dojô do Japão, e eu não podia deixar de achar uma ironia do destino sermos emparelhados logo contra eles. Meu olhar rapidamente encontrou Lin, a garota da noite anterior, que parecia ter enterrado qualquer traço de fragilidade que demonstrara na praia. Agora, ela era pura determinação, como se nada pudesse abalá-la. Isso tornava tudo ainda mais intrigante.

O anúncio do início ecoou no ginásio, e Devon foi a primeira a entrar no círculo. A garota que se posicionou contra ela era baixa e ágil, com olhos afiados como os de um predador à espreita. O árbitro deu o sinal, e, num instante, a adversária avançou.

Devon tentou manter a defesa firme, mas a japonesa era incrivelmente rápida. Seu primeiro ataque foi uma sequência veloz de socos diretos, forçando Devon a recuar. Ela ergueu os braços para bloquear, mas cada impacto era preciso, calculado para criar aberturas. Quando Devon tentou se esquivar para a esquerda, a garota antecipou o movimento e girou o corpo em um chute lateral, mirando a costela. Devon conseguiu se abaixar no último segundo, mas a outra não hesitou, usou o impulso do próprio chute para girar e disparar um golpe descendente com o punho fechado.

Devon desviou para trás, respirando com dificuldade. Precisava reagir. Então, tentou usar sua agilidade para contra-atacar, se lançando em uma sequência de golpes rápidos, forçando a adversária a recuar pela primeira vez. Mas a garota do Sebaitsu Usu tinha um olhar calmo, como se tudo estivesse sob controle. Foi então que Devon viu a brecha e estendeu a mão para chamar Samantha ao combate.

A adversária, no entanto, não hesitou nem por um segundo. Com um chute certeiro e poderoso, atingiu a mão de Devon no exato momento em que ela tentava fazer a troca. Devon cambaleou, levando a outra mão ao pulso atingido, e o árbitro ergueu a bandeira: ponto para o Sebaitsu Usu.

Fechei os olhos e suspirei. Um ponto perdido logo no início não era o ideal, mas a luta estava apenas começando. Precisávamos de mais garra, mais estratégia, e acima de tudo, precisávamos nos adaptar. Isso era um jogo de resistência e inteligência, e eu não pretendia deixar minha equipe ficar para trás.

Assim que dei um passo para dentro do círculo, senti meu corpo se ajustar automaticamente à postura de luta. Minhas mãos subiram, os joelhos levemente flexionados, e minha mente tentou se esvaziar para focar unicamente no garoto à minha frente. Ele parecia mais jovem que eu, talvez um ou dois anos mais novo, mas seu olhar era firme, seguro. E ele era mais alto. Seus olhos desviaram ligeiramente para Lin antes de voltarem para mim. Ele buscava aprovação. Ela ergueu a mão, fez um sinal rápido com os dedos e ele assentiu. Meu cenho se franziu, mas tentei ignorar isso. O tempo de distração tinha acabado. Agora era luta.

O juiz deu o sinal e, num instante, ele avançou.

Os primeiros movimentos foram rápidos. Ele testava minhas defesas, jogando golpes diretos e rápidos, mas nenhum encontrou espaço. Bloqueei cada chute com precisão, recuei nos momentos certos e mantive meus olhos atentos a qualquer abertura. Ele era bom, ágil, mas eu também era. Meus pés deslizaram pelo tatame, desviando de seus ataques com fluidez. Um soco dele veio direto para o meu rosto, e eu bloqueei com o antebraço, usando o impulso para girar e tentar um chute lateral. Ele saltou para trás no último segundo, o calcanhar da minha perna passando rente ao seu peito.

O tempo parecia desacelerar, e a adrenalina percorria minhas veias como um choque elétrico. Nós dois estávamos equilibrados, sem pontos ganhos para nenhum lado. Mas então, algo aconteceu.

Meu olhar se desviou por um milésimo de segundo.

Tory.

Ela estava no tatame ao lado, lutando contra uma garota da equipe irlandesa. O movimento delas era intenso, mas o que me fez prender a respiração foi quando Tory foi jogada com força no chão. Um impacto seco ressoou pelo ginásio. Por um instante, meu corpo congelou.

Foi o suficiente.

O golpe me acertou como um raio. Senti o impacto no meu peito e fui empurrado para trás com violência. O garoto aproveitou minha distração e desferiu um chute forte no meu tronco, um golpe típico de taekwondo. Minha respiração falhou e meus pés deslizaram no tatame antes que eu conseguisse recuperar o equilíbrio.

O apito soou.

— Ponto para o Sebaitu Usu! — A voz do juiz ecoou pelo ginásio.

Fechei os olhos por um segundo, sentindo o gosto amargo da frustração na boca. Droga. Droga! Eu sabia que isso era minha culpa. Um erro infantil, um descuido imperdoável. Meu olhar foi automaticamente para Tory de novo, mas ela já estava de pé, sacudindo a poeira e voltando para a luta dela como se nada tivesse acontecido.

Enquanto eu saía do círculo, ouvi Miguel soltar um suspiro irritado e levantar as mãos, claramente frustrado. Falcão não demorou a se manifestar.

— O que foi isso, cara? — Ele me olhou com uma expressão de incredulidade.

Eu não respondi. Não conseguia. Minha mandíbula se contraiu enquanto minhas mãos fechavam em punhos ao lado do corpo. Sabia exatamente o que tinha acontecido, sabia por que tinha perdido aquele ponto, e isso me deixava com ainda mais raiva de mim mesmo.

Agora, Miguel entrava no círculo. Ele me lançou um olhar rápido antes de se posicionar. Nós já tínhamos perdido dois pontos. Mais um, e seríamos eliminados.

Eu precisava me recompor. Precisava deixar todas as distrações de lado. Porque se eles perdessem, se saíssem daqui derrotados, parte dessa derrota estaria nas minhas costas. E eu não podia deixar isso acontecer.

Miguel entrou no círculo, ajustando a postura e respirando fundo, preparando-se para a luta. Do outro lado, o mesmo garoto com quem eu havia lutado se posicionou novamente. Ele parecia diferente agora, mais tenso, mais focado. Seus olhos estavam afiados como lâminas, e seu maxilar estava travado, como se estivesse segurando a respiração. O jeito como ele se moveu para a posição de combate me fez perceber que ele não iria segurar nada dessa vez.

Ele queria marcar outro ponto, sem dúvidas.

O árbitro deu o sinal de início e, em um piscar de olhos, o garoto avançou. Ele era rápido. Muito rápido. Sua sequência de golpes era precisa, alternando socos e chutes com uma fluidez impressionante. Mas Miguel não era qualquer um. Ele era ágil, feroz quando queria ser, e acima de tudo, determinado.

E agora, ele parecia furioso.

Dava para ver no jeito como ele bloqueava cada golpe, como seu corpo se movimentava no tempo exato, sem hesitação. Ele não estava apenas lutando, ele estava atacando com força, pressionando o adversário sem dar espaço para contra-ataques. Seus golpes eram firmes, agressivos, e quando finalmente viu uma abertura, não desperdiçou a oportunidade.

Um soco direto no peito do garoto japonês.

O impacto foi forte o suficiente para empurrá-lo para trás, fazendo-o tropeçar para fora do círculo. O árbitro ergueu a mão, anunciando o ponto para o Miyagi-Do.

Finalmente.

Miguel desceu do tatame, os ombros ainda tensos, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. Seus olhos passaram por mim por um breve momento, e ele balançou a cabeça negativamente antes de seguir para onde estavam os outros.

Eu sabia exatamente o que aquilo significava.

Ele estava irritado.

Comigo.

Eu era o capitão e estava falhando.

Eu podia sentir um nó se formar no meu estômago, mas engoli seco e ajeitei minha postura. Não podia continuar assim. Não podia deixar tudo desmoronar só porque minha cabeça estava em outro lugar.

Na próxima, eu faria melhor. Eu precisava fazer melhor.

Obra autoral ©

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