𝟱𝟮 ─ PARTE I
Eu te amo...
É tão fácil dizer, mas é tão difícil expressar o sentimento com atitudes.
Por que?
Porque somos egoístas por natureza, uns mais, outros menos, queremos aquilo que é melhor para nós, aquilo que nos beneficia, porque nos ensinaram que precisamos nos colocar em primeiro lugar, que se não nos amarmos não poderemos amar outra pessoa. Esse último aspecto pode até ser verdade, o quanto você ama a si mesmo pode refletir na sua capacidade de amar os outros. Porém, há momentos em que podemos deixar de lado algumas coisas pelo bem-estar da outra pessoa, e isso é o verdadeiro amor para mim.
Eu sei do que Suna precisa, o que ele realmente quer para seu futuro, e eu o apoio completamente, embora não possa negar que a ideia de nós dois separados e a possibilidade de perdê-lo me apavoram. Só de imaginar esse cenário meu peito aperta e meu estômago fica estranho, mas eu o amo e porque o amo tenho que deixar o medo de lado. Por ele. Eu faria tudo em nome de sua felicidade.
Que roubada é o amor.
Fico olhando a carta em minhas mãos. Fui aceita com louvor na Universidade da Carolina do Norte e recebi uma bolsa parcial para estudar Psicologia.
Estou muito feliz, não nego, isso é o que eu sempre quis e não deveria existir nada que pudesse ofuscar isso. O problema é que quero compartilhar minha felicidade com Suna, e sei que ele ficará feliz por mim, mas também sei que isso só torna cada vez mais real que seguiremos caminhos diferentes quando este ano letivo terminar.
É um sentimento agridoce, mas acho que a vida é assim.
⎯ Essa não é a reação que eu esperava. -comenta sophia, se espreguiçando na minha cama. ⎯ Eles te aceitaram, sua idiota!
Eu sorrio.
⎯ Eu sei, só... ainda não consigo acreditar.
Ela se senta, arranca a carta da minha mão e a lê.
⎯ E com bolsa? Isso é um milagre, se você não tiver nenhum talento.
Eu lhe lanço um olhar assassino.
⎯ Eu te disse que ser campeã dos torneios interestaduais de vôlei serviria para alguma coisa.
Sophia suspira.
⎯ Eu ainda não sei como você é tão boa no vôlei, sua força física é... -eu levanto uma sobrancelha. ⎯ Parece que é o suficiente para conseguir uma bolsa de estudos, ai sim!
Coloco a carta na mesinha de cabeceira enquanto o sol que entra pela janela ilumina o quarto.
Sophia passou a noite comigo porque hoje é...
⎯ Feliz aniversário! -minha mãe entra com uma bandeja de café da manhã, sorrindo alegremente. ⎯ Volte para a cama, [Nome], ou o café da manhã na cama perde o sentido.
Eu sorrio.
⎯ Sim, senhora.
Volto para Sophia, que ainda está sentada ali, com o cabelo loiro desgrenhado e a maquiagem borrada. Ontem à noite bebemos um pouco em nossa festa do pijama pré-aniversário, que acabou com nós duas chorando pelos Iscariote; eu, porque recebi a carta de aceitação e ficaria longe do Suna, e ela, porque não sei que droga está acontecendo entre Atsumu e a mesma, uma hora ela o quer, na outra não, uma hora quer terminar, na outra não pode.
Acho que todos nós temos aquela amiga indecisa que não tem a menor ideia do que quer com algum garoto.
Mamãe coloca a bandeja no meu colo; há comida suficiente para mim e Sophia e um pequeno muffin com uma vela acesa. Apago a vela e elas batem palmas.
Eu não consigo conter o sorriso que se espalha pelo meu rosto, e mamãe se inclina e me dá um beijo na testa.
⎯ Feliz aniversário.
⎯ Obrigada, mãe.
Começo a comer e ofereço um pedaço de panqueca para Sophia, que faz uma careta de nojo e lança um olhar de desculpas para mamãe.
⎯ Sem ofensas, senhora, mas não quero a comida.
Mamãe tira sarro.
⎯ Bebeu muito ontem à noite?
Sophia parece surpresa.
⎯ Como você sabe?
Mamãe suspira.
⎯ Filha, o quarto está com cheiro de uma mistura de cerveja com vodka com um toque de vinho.
Os olhos de Sophia se arregalam.
⎯ Como você sabe exatamente quais foram as bebidas? Meu deus, já pode se matar ou tá cedo?
Mamãe apenas dá de ombros e eu reviro os olhos, respondendo a Sophia.
⎯ Quem você acha que comprou a bebida, sua tonta?
Mamãe vai até a porta.
⎯ Tomem o café e levantem, seus tios e primos estão chegando e temos muito o que preparar para hoje à noite.
A festa de aniversário...
Apesar de não sermos muito próximas da família, os irmãos da minha mãe sempre vêm nos meus aniversários e trazem minhas primas. Eu me dou bem com algumas, mas tem umas que não suporto.
⎯ Argh... -resmungo quando mamãe sai. -espero que as filhas do tio Ivan Haiba não venham, elas são insuportáveis.
Sophia concorda com a cabeça.
⎯ Sim, elas sempre falam comigo no Instagram para perguntar o que precisam para fazer teste na agência de modelos da minha mãe, são muito chatas.
⎯ Vamos, temos que nos preparar.
Sophia se deita novamente, cobrindo a cabeça com o lençol.
⎯ Não quero.
⎯ Vamos logo! -eu puxo o lençol.
Você não ultrapassou os limites da intimidade em uma amizade se não escovou os dentes enquanto sua melhor amiga faz xixi no mesmo banheiro.
⎯ E... você o convidou? -sabia que essa pergunta viria à tona mais cedo ou mais tarde.
⎯ Lógico, ele é meu amigo. -respondo depois de enxaguar a boca.
⎯ Eu sei, eu só queria...
⎯ Se preparar psicologicamente para vê-lo?
⎯ Não, eu só... -ela não termina a frase e eu me viro para a loira, que ainda está sentada no vaso.
⎯ Você só o quê? Já tivemos essa conversa milhares de vezes e não entendo o que se passa na sua cabeça. Se você gosta tanto dele, por que não está com o Atsumu?
Ela passa as mãos no rosto.
⎯ É complicado.
⎯ Não, não é, Sophia. Na verdade, é bem simples: vocês se gostam muito e são felizes. Por que não podem ficar juntos? -ela passa as mãos no rosto novamente.
⎯ Tenho medo, [Nome].
Por essa eu não esperava.
⎯ Medo?
⎯ O que sinto por ele me dá muito medo, nunca me senti tão vulnerável.
Ai, meu Deus, Sophia é a versão feminina de Suna.
O que eu fiz para me cercar de pessoas assim?
⎯ É sério, Sophia? -eu cruzo os braços. ⎯ Você está se ouvindo? Com medo? Dane-se o medo, você nunca vai viver tudo que tem para viver se ficar com medo de se machucar.
⎯ Eu não sou igual a você. -admite ela, lambendo o lábio inferior. ⎯ Você é tão forte, se põe de pé novamente quando algo ruim acontece e sempre sorri como se a vida não tivesse batido em você tantas vezes. Eu não sou assim, [Nome], sou uma pessoa fraca por trás dessa imagem de força que tento aparentar, e você sabe disso. Não levanto facilmente, tenho dificuldade em rir da vida quando algo ruim acontece. Sou esse tipo de pessoa.
⎯ Você não é forte? -solto uma risada sarcástica. ⎯ Quem bateu no Sakusa no segundo ano quando ele me chamou de idiota? Quem conseguiu seguir em frente quando o pai abandonou a família? Quem apoiou a mãe quando ela se entregou ao álcool, cuidava dela, se certificando de que ela não se afogasse em bebida, e depois frequentava com ela todas as reuniões do AA? Quem ficou ao lado da mãe e a ajudou a abrir uma grande agência de modelos? -balanço a cabeça. ⎯ Não me venha com essa merda de que você não é forte, você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Tudo bem ter medo, é normal, mas não deixe o medo te paralisar.
Ela sorri para mim.
⎯ Eu te abraçaria, mas... -ela aponta para a calça na altura dos tornozelos.
⎯ Abraço imaginário... -digo, batendo em sua testa e saindo do banheiro. ⎯ Vamos, temos que trabalhar.
Ela resmunga e então a ouço se levantar.
Algo me diz que a noite de hoje será interessante.
⎯ Aí eu disse: "Óbvio que não, seu bobo, você é muito feio para sair comigo", e ele ficou em estado de choque, então mal olhei para ele e fui embora. A escola inteira falou sobre isso por meses.
Sophia e eu nos olhamos, ouvindo de Alisa Haiba, a prima que eu menos gosto, e acho que com seu discurso de rejeição a um menino dá para imaginar o porquê. Eu gostava dela antes de o pai dela, meu tio, fazer um bom negócio e começar a ganhar dinheiro, o que fez com que ela e seu irmão Lev e minha tia Akiko ficassem incrivelmente arrogantes. Agora elas pensam que são melhores do que nós, já que são as pessoas ricas da família. Meu tio é o único que permanece o mesmo de sempre.
Os preparativos da festa estão prontos. Mamãe decorou o quintal de casa com luzes de douradas e azuis que se alternavam e balões transparentes com pequenas luzes lilás dentro de cada um, que combinam com o vestido florido de primavera que estou usando. Tudo parece muito mais bonito do que eu esperava.
Alisa está prestes a continuar falando quando vejo Oikawa entrar.
⎯ Kawa! -me afasto da minha prima tagarela e caminho até meu melhor amigo.
Ele me dá um de seus grandes sorrisos.
⎯ Feliz aniversário, irmã! -me abraça com força e, quando nos separamos, ele me entrega uma caixinha.
⎯ Obrigada. -me viro para cumprimentar miwa kageyama, a garota que ele conheceu no grupo de terapia e com quem ele namora há um mês.
⎯ Olá, bem-vinda ao hospício.
Miwa dá uma risadinha.
⎯ Oikawa disse que você ia dizer isso como boas-vindas.
Balanço minha cabeça.
⎯ Me conhece tão bem.
Oikawa olha para trás, para o grupo dos meus primos.
⎯ Ah, vejo que todas vieram.
Suspiro.
⎯ Sim, isso vai ser interessante.
O local se enche rapidamente e, na verdade, não é tão difícil que isso aconteça com o tamanho do quintal da minha casa; alguns amigos do colégio, alguns vizinhos e meus tios e primos são suficientes para preenchê-lo.
Eu olho para o celular, não tem nenhuma mensagem de Suna, mas não estou preocupada. Eu o vi ontem à noite, alguns minutos antes de Sophia chegar na festa do pijama. Ele me disse que me daria um dia de folga para eu poder ficar com a minha família e que depois da festa eu seria toda dele. Avisou também que viria à festa com Atsumu. Também convidei Osamu e Alice por educação, mas não acho que virão. Mamãe ainda não o aceita completamente, mas acho que percebeu que, mesmo que não aceite, não vou terminar com ele.
Estou prestes a responder a uma pergunta que uma das minhas primas fez quando os olhares se concentram atrás de mim em direção à entrada, então me viro lentamente.
Sabe aqueles momentos em câmera lenta dos filmes?
É o que estou vivenciando agora e tenho certeza que não sou a única, a festa toda parece ter congelado. Os irmãos Iscariote caminham em nossa direção. Osamu está usando um terno preto sem gravata e os primeiros botões de sua camisa estão desabotoados, seu cabelo está perfeitamente penteado.
Atsumu dá um sorriso largo, seu lindo rosto se iluminando, seu cabelo úmido caindo gracioso por suas orelhas e testa. Ele veste uma camisa azul-escura com calça jeans.
E Suna...
Suna está entre os dois, caminhando como se o mundo pertencesse a ele, dobrando as mangas de sua camisa preta até os cotovelos, deixando à mostra um lindo relógio prata, e depois passando os dedos por seu cabelo bagunçado. Nesse rosto deslumbrante desponta um sorriso torto e seus olhos dourados brilham, tirando meu fôlego.
⎯ Cacete! -ouço alisa exclamar.
Minha tia está de boca aberta, literalmente.
⎯ De onde saíram esses caras?
Todos observam os três irmãos em absoluto silêncio enquanto eles se aproximam de mim. Osamu é o primeiro a me cumprimentar gentilmente, acenando para todos.
⎯ Boa noite.
Suna me dá um sorriso malicioso e se inclina para mim, me dando um beijo rápido.
⎯ Feliz aniversário, meu amor!
E a festa inteira presencia esta cena com seus olhos dilatados sobre nós.
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