𝟰𝟵
Remédios...
Sessões de terapia...
Consultas psiquiátricas...
E muitas outras coisas relacionadas ao estado de Oikawa é tudo que ouço no hospital ao longo do dia. Não sei se é cansaço ou privação de sono, mas acho difícil prestar atenção e acompanhar o que estão falando.
Minha mãe me tirou praticamente à força do hospital quando anoiteceu, argumentando que eu tinha que descansar, que já havia passado tempo demais ali. Sophia chegou para fazer companhia a Oikawa em meu lugar, já que os pais dele precisavam descansar durante a noite; eles estão arrasados.
Depois de chorar no ombro da minha melhor amiga por um tempo, me despeço de Tooru e saio. Chego em uma casa vazia e silenciosa. Fecho a porta, encosto ali e fico remexendo as chaves nas mãos, sem sair do lugar.
Não foi assim que imaginei que a primeira noite do ano seria; aparentemente, a vida gosta de nos atingir quando menos esperamos para ver o quanto aguentamos. Sinto como se tivesse levado um soco no estômago e tivessem me deixado sem ar, embora ainda possa respirar.
Minha mente continua tentando entender, procurar razões, apontar o culpado, me culpar. Ainda me lembro da conversa que tive com Oikawa antes de sair.
⎯ Sei que você quer me fazer uma pergunta, é só fazer. -oikawa sorri para mim. ⎯ Está tudo bem.
Esfrego meus braços, tentando me aquecer e ganhar tempo para escolher minhas palavras com cuidado, enquanto Oikawa espera.
⎯ Por quê? Por que você fez isso?
Oikawa desvia o olhar, suspirando.
⎯ Você não entenderia.
Sento ao lado dele na cama do hospital.
⎯ Vou tentar.
Seu olhar volta até mim.
⎯ Me dá um tempo, eu prometo te contar depois, mas agora eu... eu não posso.
Coloco a mão em seu ombro e dou a ele um grande sorriso.
⎯ Tudo bem, serei paciente.
Ele coloca sua mão na minha, seus olhos fixos nos meus.
⎯ Eu senti muito sua falta.
⎯ Eu também, Kawa. -abaixo a cabeça. ⎯ Eu... eu sinto muito.
⎯ Shhh. -ele toca minha bochecha suavemente, me forçando a olhar para ele. ⎯ Você não tem que se desculpar, [Nome]. -seu polegar acaricia minha pele.
⎯ Mas...
Seu polegar desliza pelo meu rosto até chegar aos lábios.
⎯ Não, para.
O toque de seu dedo nos meus lábios me faz cócegas.
⎯ Está bem.
⎯ Agora vai para casa descansar. -ele abaixa a mão e se inclina para mais perto de mim, beijando minha testa e em seguida se afastando. — Vai, vou ficar bem.
Eu suspiro um pouco e seu sorriso me faz sorrir.
Sophia entra, murmurando algo sobre a qualidade do hospital, e nos encontra sorrindo como dois idiotas. Ela levanta uma sobrancelha.
⎯ Que foi? Estavam falando de mim?
⎯ Não. -respondemos juntos.
Deixo os dois ali, discutindo sobre apelidos e besteiras, como de costume.
Eu deslizo pela porta até me sentar no chão, abraçando os joelhos. Sei que preciso tomar um banho e dormir, mas não consigo juntar energia para isso, só quero continuar aqui.
Tiro meu celular do bolso e vejo a tela apagada. Ficou sem bateria algumas horas depois de eu chegar ao hospital, e me pergunto se Suna enviou alguma mensagem. Talvez ele esteja muito ocupado comemorando o Ano-Novo com sua família para notar minha ausência, e eu não o culpo, não contei a ele o que aconteceu com o Oikawa. Minha cabeça tem estado tão focada em tentar entender e aceitar que isso realmente aconteceu com meu melhor amigo que não tive condição de escrever para Suna. Então meu celular desligou e eu não queria sair de perto de Oikawa para carregá-lo.
Com passos lentos, subo as escadas e tomo um banho quente. A água me faz bem e relaxa meus músculos tensos. Agora que estou um pouco mais calma, deixo o meu namorado invadir meus pensamentos.
Sinto muita falta dele.
Essas semanas pareceram uma eternidade. É muito angustiante quando você se acostuma a ver uma pessoa quase diariamente e, de repente, não a encontra mais. Ainda faltam alguns dias para ele voltar e sei que vai ser difícil, sobretudo agora que eu mataria por um de seus abraços, para tê-lo ao meu lado, me dando segurança.
De pijama, me sento na cama e coloco meu celular para carregar, ansiosa. Eu observo o aparelho enquanto liga, os sons das mensagens começando a ecoar por todo o quarto.
Rapidamente, abro a conversa de Suna. Recebi muitas mensagens dele. Não era isso que eu esperava.
00h15
Te liguei para desejar feliz Ano-Novo e você não atendeu.
00h37
Meu bem?
01h45
Por que você não atende o telefone?
02h20
Está dormindo?
09h05
[Nome], estou começando a ficar preocupado. Está tudo bem?
10h46
Merda, [Nome], estou muito preocupado agora.
Essa foi sua última mensagem.
Mordo o lábio quando começo a digitar uma resposta. No entanto, mal consigo terminar de escrever a primeira palavra quando meu celular começa a tocar na minha mão.
Chamada recebida
Meu amor <3
Meu coração faz o de sempre, ameaçando pular do peito, e eu respiro fundo.
⎯ Alô?
Há um segundo de silêncio, como se ele não esperasse que eu atendesse, como se estivesse acostumado a que eu não respondesse, mas a seriedade de sua voz me surpreende.
⎯ Onde você está?
⎯ Na minha casa.
⎯ Olhe pela janela.
E ele desliga. Confusa, fico olhando para o telefone. Meu olhar corre para a janela, que está fechada por causa do frio; lá fora está nevando de novo. Eu levanto e ando até a janela, abrindo as cortinas.
Suna...
Ali, parado em seu quintal. Ele parece um pouco vermelho, de calça jeans e uma jaqueta preta sobre uma camisa branca. Seu cabelo castanho escuro naquela bagunça que só fica perfeita nele. Queria poder dizer que me acostumei a vê-lo, a profundidade daqueles olhos amarelos, a postura confiante, a beleza, mas é mentira, acho que nunca vou me acostumar com ele e muito menos agora, depois de duas semanas sem olhar para ele.
Meu corpo reage como de costume, o coração batendo desesperadamente, o estômago se revirando e as mãos suando um pouco. Porém, não são as reações físicas que me pegam de surpresa todas as vezes, mas as sensações, a emoção que enche meu peito, o poder que ele tem de me fazer esquecer que existe um mundo ao meu redor.
Flocos de neve caem sobre ele, aterrissando em sua jaqueta e no lindo cabelo escuro. Eu não posso acreditar que ele realmente está aqui.
Suna me dá aquele sorriso que deixa qualquer um sem fôlego.
⎯ Oi, meu bem.
Estou paralisada, sem palavras, e ele parece perceber, porque pula devagarinho a cerca que separa nossos quintais e sobe as escadas para chegar ao meu quarto pela janela.
Dou um passo para trás, de frente para ele, seus olhos vendo através de mim. Quero conversar e contar o que aconteceu, mas pelo jeito que ele me olha, vejo que já sabe. Sem aviso, Suna agarra meu braço e me puxa até eu encostar em seu peito e me abraça com força, seu cheiro me envolvendo, fazendo com que eu me sinta em segurança. E naquele momento, não sei por que, lágrimas brotam sem controle dos meus olhos e me vejo chorando compulsivamente.
Suna me conforta, acariciando minha nuca, e as palavras jorram de mim.
⎯ Ele... quase morreu... não sei o que eu teria feito se... me sinto tão culpada.
Ele me deixa chorar e murmurar, me segurando com força contra seu peito. Meu Deus, senti tanto a falta dele. Nós nos afastamos e ele segura meu rosto com as mãos, seus polegares enxugando minhas lágrimas, e pressiona seus lábios levemente contra os meus, me dando um beijo suave e delicado como se tivesse medo que eu quebrasse.
Ele então descansa sua testa na minha, seus olhos perfurando minha alma.
⎯ Por que não me contou?
Dou um passo para trás, dando uma distância entre nós; não consigo me concentrar com ele assim tão perto.
⎯ Eu... eu não sei, foi tudo tão rápido. Minha cabeça estava uma bagunça. Além disso, você estava muito longe, não queria te atrapalhar.
⎯ Me atrapalhar? -a palavra parece incomodá-lo. ⎯ [Nome], você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, se não for a mais importante; você nunca vai me atrapalhar, seus problemas são meus problemas, pensei que o lance de ser um casal era poder contar um com o outro. Me incomoda que você sinta que não pode contar comigo.
⎯ Sinto muito.
⎯ Não pede desculpas, não é isso que eu quero, só quero que você me diga se estiver em uma situação difícil, não é para ficar quieta só porque não quer incomodar. Promete?
Dou a ele um sorriso sincero.
⎯ Prometo.
⎯ Quer falar sobre o que aconteceu?
Eu respiro fundo.
⎯ Não...
⎯ Tudo bem.
Suna tira uma mochila escura que eu não tinha notado que estava em suas costas e a coloca na mesa do computador. Tira um embrulho de presente de dentro dela.
Ele se aproxima de mim, estendendo a mão com o presente.
⎯ Feliz Natal, meu amor.
Fico olhando para ele, surpresa.
⎯ Você não precisava me dar nada.
Ele segura o queixo como se estivesse pensando.
⎯ Acho que você me disse que só aceita presentes em ocasiões especiais, então tenho que aproveitar esse momento.
⎯ Você se lembra de tudo que eu te digo?
⎯ Sim, tudo o que importa para mim fica aqui. -ele coloca a mão na testa. ⎯ Vai, pega, você não tem desculpa para rejeitar.
Suspirando, pego o embrulho. Suna me olha impaciente. Ele parece mais empolgado do que eu, e sua emoção me contagia de leve. Coloco o presente sobre a cama e abro. A primeira coisa que pego é uma caixa dourada de chocolates que não só parecem caros, mas também importados.
⎯ Chocolates?
⎯ Eu sei, eu sei, eu sou clichê. -levanta as mãos. ⎯ Tem mais.
Eu o acuso.
⎯ Achei que fosse um presente só.
⎯ Como eu disse, tenho que aproveitar a oportunidade.
A próxima coisa que pego é uma pequena caixa de que me lembro muito bem: o iPhone. Eu dou a ele um olhar assassino.
⎯ Você está me zoando?
⎯ É um novo, não é o daquela vez, eu juro. -explica ele apressadamente. ⎯ Eu sei que você gosta de iPhones e não conseguiu comprar outro, e aquele aparelho que a Sophia te emprestou está a um passo da autodestruição.
⎯ Você é...
⎯ Por favor? -ele faz aqueles olhos pidões que me lembram o gato do shrek.
⎯ Você só quer um celular que dê para tirar nudes para te mandar.
Suna finge estar surpreso.
⎯ Como você sabe?
Eu reviro os olhos, sorrindo, e retiro outra caixa pequena e alongada. Quando eu abro, meu coração derrete: é um colar de prata com um pingente com meu nome, mas a inicial do meu nome é cruzado com o nome de Suna. Parece uma pequena cruz com nossos nomes. Só sei que estou com vontade de chorar de novo, nunca ganhei um presente tão detalhado e fofo.
⎯ É... -estou sem palavras. ⎯ É lindo, meu amor.
Ele me ajuda a colocar o colar e me beija rapidamente na nuca então se afasta e se recosta na mesa do computador, cruzando os braços.
⎯ Muito obrigada! Isso foi muito gentil da sua parte! -digo com sinceridade. ⎯ Nunca pensei que você pudesse ser assim tão fofo.
⎯ Eu tenho meus momentos.
⎯ Eu comprei uma coisa para você também. -seus olhos se arregalam; ele não esperava por isso. ⎯ Não é muito e não está embrulhado porque não achei que você voltaria tão rápido.
Nervosa, olho embaixo da cama e pego a sacola plástica com os dois presentes que comprei e entrego a ele.
⎯ Estou com vergonha de te entregar depois de ter ganhado presentes tão bonitos.
Suna me lança um olhar cansado.
⎯ Você pode parar de dizer essas coisas? Vamos ver o que temos aqui... -o primeiro item que ele puxa é um livro, e lê o título em voz alta. ⎯ "Medicina para iniciantes". -seu sorriso desaparece, mas seu rosto se preenche de tantos sentimentos que meu coração fica pequenininho. ele me encara em silêncio por alguns segundos. ⎯ Obrigado.
⎯ Continua, tem mais.
⎯ Ok, ok. -delicadamente, ele puxa um estetoscópio da sacola.
⎯ Queria te dar seu primeiro instrumento profissional para que me leve sempre com você quando for médico.
Eu gostaria de poder descrever como ele está agora, as emoções tão claras como o dia cruzando seu rosto, mas me faltariam palavras. Seus olhos amarelos ficam úmidos enquanto ele lambe os lábios devagar.
⎯ Você realmente acredita que vou conseguir.
Dou a ele um sorriso confiante.
⎯ Não acho, tenho certeza. -faço um joinha. — É todo seu, doutor!
Suna coloca o estetoscópio sobre a mesa e corre para mim.
⎯ Como eu te amo. -seus lábios estão nos meus antes que eu possa dizer a ele que também o amo e que sei que, mesmo que ninguém mais o apoie em seus sonhos, eu sempre farei isso, não importa o que aconteça.
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