𝟰𝟱

⎯ [Nome]. -alguém tenta me despertar. ⎯[Nome]!

Ser violentamente sacudida me traz do mundo da inconsciência de volta à vida.

⎯ [Nome]! -um sussurro exigente chega aos meus ouvidos, mas não quero abrir os olhos. ⎯ Pelo amor de Deus, acorda!

Abro um dos olhos, estreitando o outro enquanto me acostumo com a luz. Uma figura está inclinada sobre mim.

⎯ O que... -uma mão cobre minha boca e eu pisco lentamente, tentando enxergar quem está praticamente em cima de mim.

Cabelo loiro caindo nas laterais do rosto...

Sophia.

⎯ Shhh! Eu preciso que você se levante com muito cuidado.

Eu lanço um olhar de "o que está acontecendo?", ainda que ela pareça desesperada.

⎯ Explico daqui a pouco, mas preciso que você se levante com cuidado e não faça barulho.

⎯ Espera um segundo. Antes de tudo, que droga de lugar é esse?

Ontem à noite...

Uma série de imagens muito constrangedoras desfila na minha mente: margaritas, vodka, dança na mesa da boate, Greg fazendo striptease, Suna e eu nos beijando na frente de todos, Sophia e Atsumu trocando olhares de "sim, deixa comigo, esta noite promete".

Ai, Nossa senhora, acho que estou indo para o inferno.

Basicamente, cometi pecados demais em uma noite só. E, além disso, tivemos que pegar um táxi para a casa do Antony, a única sem adulto nenhum. Mais bebidas, mais shows de strip, olhares ainda mais sexuais entre Atsumu e Sophia, e muitos outros beijos entre mim e Suna.

Sophia tira a mão que cobria minha boca e eu me sento, porque meu estômago está se revirando e minha cabeça lateja.

⎯ Qual é o problema? -minha garganta queima. está seca, dolorida de tanto beber.

Sophia leva o dedo indicador aos lábios e gesticula, indicando algo ao meu lado. Suna está dormindo ali, deitado de bruços, com a cabeça virada para o outro lado. Com o lençol até um pouco acima da cintura, sem camisa e aquele cabelo castanho escuro desgrenhado.

Deus, acordar ao lado de um homem desses deve ser um privilégio, talvez eu esteja gastando toda a felicidade da minha vida com esse cara, mas está custando tontura e uma ressaca daquelas. Sophia me segura, até que eu me equilibre.

Eu não vou beber nunca mais.

Eu sei, foi o que eu disse da última vez.

O álcool é como um ex que a gente ainda não superou. A gente promete que não vai cair nessa de novo, nunca mais vai ficar com ele, mas ele seduz e a gente cai de novo.

Procuro o sapato que estava usando ontem à noite. Quando encontro o par jogado em um canto da sala, uma lembrança me vem à mente:

⎯ Me dá parabéns, amor! -grita suna enquanto entramos tropeçando no cômodo.

Ele me pega pela cintura para me beijar de leve.

Eu dou uma risadinha.

⎯ Você está tão bêbado.

Ele está tão fofo com as bochechas coradas e olhos semicerrados. Suna aponta o dedo para mim.

⎯ Você também não é a personificação da sobriedade.

⎯ Uau... Personificação. Como seu cérebro embriagado consegue dizer palavras como essa?

Suna me dá um grande sorriso, enquanto coloca a mão na testa.

⎯ QI...!

⎯ Mais alto daqui! -completo. ⎯Bonito e inteligente. Por que você é tão perfeito?

Ele dá de ombros e acaricia minha bochecha.

⎯ Por que você é tão perfeita?

E eu me lembro em detalhes de tudo que fizemos depois disso. Deus!

⎯ Planeta Terra chamando [Nome]!

Corada de vergonha, volto à realidade. Sophia acena para que eu a siga até a porta, eu balanço minha cabeça.

⎯ Eu não posso simplesmente ir embora sem falar nada.

Sophia sussurra:

Você explica o motivo depois por mensagem. Eu preciso sair daqui.

⎯ Mas, Sophia, você não acha que ele vai se sentir um pouco usado?

Ela me lança um olhar de "sério?".

⎯ Você vai explicar mais tarde, vamos lá! -pede ela, mas eu hesito. ⎯ Por favor.

⎯ Tudo bem.

Nós duas saímos do cômodo com as sandálias nas mãos, fechando a porta com cuidado.

⎯ Agora você pode explicar o que aconteceu?

Sophia balança a cabeça.

⎯ Eu te conto no caminho, e fica quieta, tem uma galera dormindo nesses quartos.

O corredor é longo, com portas dos dois lados. Eu quero protestar, mas Sophia começa a andar na minha frente, até que reparo na parte de trás de sua blusa e vejo a etiqueta. Está do avesso?

Ah, erro de principiante.

⎯ Soph, você transou ontem à noite?

⎯ Shhh! -ela cobre minha boca, me encostando na parede.

Eu me liberto.

⎯ Ai, meu Deus, você transou com o Atsumu.

⎯ [Nome]!

⎯ Diz que não então!

Sophia abre a boca para dizer algo e fecha novamente. Não consigo me conter de tanta surpresa.

— Meu Deus!

Sophia franze as sobrancelhas.

⎯ Primeiro, ele está no céu e, segundo, cala a boca, [Nome], nem mais uma palavra.

⎯ É, por essa eu não esperava. -confesso, me divertindo.

Sophia segura meu braço.

⎯ Anda logo, não vamos deixar esta Walk of Shame pior do que já é.

⎯ Guok o quê?

Sophia revira os olhos.

Walk of Shame, a caminhada da vergonha, sabe? Geralmente um dia depois de ter transado com alguém que não devia. Já fizeram até um filme com esse nome.

Eu rio.

⎯ Eu tinha certeza! Eu dei um mês para vocês dois transarem!

Sophia me lança um olhar assassino.

⎯ Vamos, são nove horas e sua mãe está de folga hoje a partir das onze.

⎯ Ai, droga, você deveria ter começado por aí.

Estamos no meio do corredor quando ouvimos a maçaneta de uma porta girando.

⎯ Ai, merda, merda. -sophia murmura e nós duas andamos de um lado para outro sem saber o que fazer, esbarrando uma na outra várias vezes.

Por fim, congelamos e vemos Samy saindo de um dos quartos cuidadosamente, também com as sandálias nas mãos e uma atitude que lembra bastante a nossa.

Não me diga que...

Samy nos vê por um segundo depois acena com a mão livre. Nós nos aproximamos e Sophia pega a mão dela para escaparmos juntas.

⎯ Ninguém julga ninguém.

Quando descemos, encontramos Luna. Sim, a não sei o quê de Greg, na porta, abrindo sem fazer barulho.

⎯ Você está me zoando?

Sophia, Samy e eu trocamos olhares e sorrimos. Eu suspiro.

⎯ Este deve ser o Wouk de Chin mais popular de todos os tempos.

Samy ri.

— Você quer dizer Walk of Shame?

Eu abaixo a cabeça e murmuro.

⎯ Às vezes vacilo no inglês.

Saímos da casa e paramos um pouco no jardim. Samy confere o celular. Sem bateria.

⎯ Alguém tem bateria para chamar um táxi?

Luna sorri para nós.

⎯ Estou de carro, posso dar uma carona.

É um carro muito bonito, delicado e pequeno. Samy vai no banco do carona, Sophia e eu sentamos atrás. Luna puxa o assunto.

⎯ Essa situação é muito peculiar, não é?

Samy concorda com a cabeça.

⎯ Eu diria que peculiar demais.

Incapaz de ficar quieta, deixo escapar:

⎯ Sinto muito, mas acho que estamos todas curiosas para saber com quem...

Sophia concorda.

⎯ Ninguém julga ninguém, vamos nos falando.

Luna ri e começa.

⎯ Greg.

Samy enrubesce.

⎯ Antony.

⎯ Quê? -digo, surpresa. ⎯ Por essa eu não esperava.

Samy suspira.

⎯ Nem eu.

Luna estreita os olhos.

⎯ Ninguém está surpresa com a minha revelação? Era assim tão óbvio?

Todas nós respondemos ao mesmo tempo.

Sim.

⎯ Ai. -luna faz um biquinho. ⎯ O seu também é óbvio, [Nome]. Suna, quem mais seria?

Mostro a língua para ela, que me vê pelo espelho retrovisor e me mostra o dedo do meio. O fato de estarmos todas compartilhando uma situação tão vergonhosa e vulnerável gerou um clima de confiança muito agradável entre nós.

Samy se vira ligeiramente em seu assento.

⎯ E você, Sophia?

Sophia abaixa a cabeça e, com sua dignidade no subsolo, sussurra.

⎯ Atsumu.

O quê?! -samy e luna gritam tão alto que faço uma careta, levando a mão à testa.

⎯ Sem gritos. Ressaca, lembram?

Luna para no sinal.

⎯ Isso sim é uma coisa que eu não esperava.

Sophia passa a mão no rosto.

⎯ Eu sei, ele é muito criança.

Luna olha para Sophia como se ela fosse louca.

⎯ Não, não é isso, mas porque eu não fazia ideia de que vocês se conheciam tão bem.

Samy assente.

⎯ Não acredito que está se sentindo mal por causa da idade dele, Sophia. -a culpa está estampada na cara dela. ⎯ O Atsumu não é uma criança e, se me permite dizer, ele é bem mais maduro do que vários caras mais velhos que conheço.

Estou muito feliz que Samy e eu concordamos.

⎯ Foi o que eu falei. Ela está paranóica com a diferença de idade e com o que os outros vão dizer.

Samy dá a ela um sorriso reconfortante e estende a mão para apertar a de Sophia.

⎯ Não fique pensando nisso, tá bom, Soph?

Luna está nos conduzindo pela avenida principal.

⎯ Desculpe interromper, mas você se importa se eu passar na farmácia? Minha cabeça está me matando, preciso de um remédio para a dor.

⎯ Preciso de um Gatorade para me hidratar. -sussurra samy.

⎯ Você perdeu muito líquido na noite passada? -brinca sophia, e todas nós fazemos careta.

⎯ Sophia!

Luna para na farmácia e soltamos um longo suspiro. Algo me diz que esse é o começo de algumas novas amizades; afinal, não tem jeito melhor de estreitar laços do que nos hidratando e tendo que lidar com uma das piores ressacas das nossas vidas.

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