𝟮𝟱

O beijo de Oikawa me pega de surpresa.

Não só pelo fato de eu não estar esperando, mas porque, no momento em que nossos lábios se tocam, sensações difíceis de acompanhar e novas invadem meu corpo. Seu beijo é suave e lento, e posso sentir o encontro de nossas bocas com tantos detalhes que cerro as mãos. Ele tem gosto de vodka e algo doce que não consigo identificar. Ele suga meu lábio inferior e recomeça o beijo, acelerando de leve os movimentos.

A parte pensante do meu cérebro deixa os hormônios assumirem o controle. Eu me permito curtir o beijo, sou uma garota solteira sendo beijada por um cara lindo, não há nada de errado nisso. Oikawa me segura pela cintura, me puxando para mais perto dele e eu envolvo seu pescoço com os braços. Nunca imaginei que esse cara beijasse tão bem. Nossas respirações aceleram e seus lábios acariciam os meus, me fazendo estremecer.

Alguém pigarreia.

E é aí que me lembro de que estamos na frente da casa, à vista de todo mundo. Me afasto dele, sem tirar as mãos de seu pescoço, e viro a cabeça para olhar quem é. Meu coração congela, porque ele não está sozinho. Atrás dele, a poucos passos de distância, está Suna, com Antony.

As mãos no bolso da calça e os olhos em mim. Ai, merda.

Seu rosto tem uma expressão vazia e indecifrável. Ele está com ciúmes? Desapontado? Surpreso? Ou simplesmente não liga? Nunca saberei a resposta só de olhar para seu rosto, que não me diz nada.

Tiro as mãos do pescoço de Oikawa e as deixo cair junto à lateral do meu corpo. Ah, o destino e suas reviravoltas cruéis... quais eram as chances de Suna sair da festa bem agora? Antony me dá um sorriso divertido, com um tom provocador.

⎯ Você não para de me surpreender.

Suna desvia o olhar e caminha em nossa direção.

⎯ Vamos, não temos a noite toda. -o tom dele é frio, me lembra da primeira vez que conversamos.

Suna passa por mim como se não tivesse visto nada. Ele realmente não se importa. Por que isso dói tanto? Por que eu quero que ele se importe? Antony me dá um último sorriso. Eles vão até o carro de Suna, que está na rua, e começam a tirar algumas caixas da caminhonete. Parece cerveja.

Oikawa segura minha mão.

⎯ Terra chamando [Nome].

Eu paro de olhar para o estúpido vizinho e me concentro no meu melhor amigo, o garoto que acabei de beijar. Merda. Que noite!

⎯ Me desculpe, só... nada.

Oikawa acaricia minha bochecha.

⎯ Se alguém tem que se desculpar aqui, sou eu. Desculpe. Agora sei o que você sente por ele, não espero que aja como se não ligasse de uma hora para outra.

Ele ajeita os óculos e eu não posso evitar o sorriso que me invade. Oikawa é tão fofo e beija tão bem.

⎯ Acho que devemos entrar. Eu não quero enfrentar Suna de novo quando ele voltar com aquelas caixas. -oikawa assente com a cabeça, sua mão brincando com a minha.

⎯ Sim, mas antes quero que você saiba que, para mim, isso não é coisa de uma noite só. Eu realmente me importo com você e quero que a gente tente dar certo.

⎯ Eu também me importo com você, mas não quero te machucar.

⎯ Eu sei. -diz ele, com um sorriso. ⎯ Se não funcionar, podemos continuar amigos, mas pelo menos saberemos que tentamos.

⎯ Eu não...

⎯ Pensa nisso, ok? Você não precisa me responder agora. -eu concordo e o puxo para que me siga.

⎯ Ok. Agora vamos.

Oikawa ri e entramos juntos na casa.

Tendo a subestimar a capacidade do álcool de deixar as pessoas bêbadas em pouco tempo. Estamos todos muito felizes, por assim dizer, mas o primo de Sophia passou um pouco do ponto. Está inconsciente em um dos sofás da casa, babando em uma almofada florida. Atsumu, sendo o garoto fofo que é, verifica a respiração dele de vez em quando em sua preocupação.

Estou me divertindo muito, e por alguns poucos momentos consigo esquecer Suna completamente. Mas quanto mais eu bebo, mais penso nele. Não sei se é efeito colateral da bebida, mas não consigo evitar, e isso me incomoda. Não quero pensar nele, não quero vasculhar a sala de vez em quando atrás dele, não quero me perguntar o que ele está fazendo e com quem está.

Eu não me importo com ele, eu não me importo com ele. Repito para mim mesma incontáveis vezes. Sophia beija Atsumu na bochecha, dizendo que é muito fofo e ele fica vermelho, abaixando o rosto. Eu balanço a cabeça e então meus olhos o encontram. Suna passa pela sala acompanhado de uma garota alta, com corpo esguio e cabelos escuros e longamente ondulados. Ele nem mesmo olha em minha direção, continua andando entre as pessoas até chegar à escada e então sobe, os dois riam.

Sinto um vazio, como se todo o ar tivesse saído de dentro do meu corpo, e isso dói. Eu sei o que as pessoas vão fazer nesses quartos, e, pelo olhar que a garota está lançando para Suna, ela está com muita vontade. O ciúme me atormenta, e então me dou conta de que ele realmente não se importa comigo, porque só de vê-lo passar com aquela garota já faz com que eu sinta que meu coração vai explodir, e imaginar os dois se beijando faz meu estômago revirar. Ele me viu beijando Oikawa e não se importou, nem parecia surpreso.

Essa é a grande diferença entre nós. Eu sinto tudo e ele não sente nada.

Estou apaixonada e não sou correspondida, sempre foi assim.

Então, por que estou me torturando dessa maneira? Eu preciso tirá-lo da cabeça, do meu coração, tenho que esquecê-lo. Não quero mais me sentir assim, machucada, decepcionada. Pego o copo de Oikawa e viro toda a bebida. Todos me olham, surpresos. Tanto álcool de uma vez me deixa tonta por um segundo, mas passa, e eu pego o copo de Sophia e começo a fazer o mesmo, mas ela me interrompe.

⎯ Ei, calma aí, sem pressa!

Devolvo o copo dela, respirando pesadamente depois de beber tanto de uma vez só.

⎯ Sinto muito, me empolguei. -ela me lança um olhar cético.

⎯ Está tudo bem?

Um sorriso forçado preenche meus lábios, a imagem de Suna com a garota carimbada em minha mente.

⎯ Eu estou muito bem.

Minhas orelhas esquentam, assim como meu rosto. Lembra dos efeitos do álcool? Me sentindo corajosa, pego a mão de Oikawa e fico em pé, forçando-o a se levantar também.

⎯ Ei, o que foi? - pergunta oikawa, surpreso.

⎯ A gente já volta. -aviso a sophia e atsumu, puxando oikawa atrás de mim.

Subir as escadas é mais difícil do que parece quando o mundo está girando ao nosso redor. Eu seguro firme no corrimão e com a outra mão continuo puxando Oikawa, que ri, confuso.

⎯ Para onde estamos indo, meu bem? -questiona ele quando chegamos ao fim da escada e encontramos um corredor escuro, cheio de portas dos dois lados.

Inevitavelmente, imagino Suna atrás de uma daquelas portas, beijando a garota de cabelos escuros, suas mãos a tocando, fazendo-a atingir um orgasmo delicioso. Vai se foder, vizinho de merda. Tropeço pelo corredor com Oikawa atrás de mim. Escolho uma porta ao acaso, porque sei que o destino não será tão cruel assim para me fazer entrar no quarto em que Suna está. É um quarto pequeno com uma cama de solteiro. Não perco tempo acendendo a luz. A claridade externa ilumina o suficiente. Puxo Oikawa pela camisa e o jogo na cama. Fecho a porta, rindo, brincando com a barra da minha blusa.

Oikawa só murmura:

⎯ O que você está fazendo, [Nome]?

⎯ O que você acha? -tento me mover sedutoramente em direção à cama, mas cambaleio tanto que preciso me apoiar na parede.

Oikawa levanta a mão que estava apoiada na cama para acenar em negatividade.

⎯ Não, [Nome], você está bêbada, assim não.

⎯ Você também tá bêbado.

Tento tirar a blusa pela cabeça, mas ela fica presa no meu pescoço; eu me enrosco, perco o equilíbrio e caio. Levanto o mais rápido que posso, ainda tropeçando.

⎯ Estou bem!

Mas Oikawa não me responde, logo ouço um ronco alto. Lanço um olhar mortal para ele, enquanto ajeito minha blusa.

⎯ Isso é sério?

Resmungo de frustração e belisco a perna dele.

⎯ Oikawa?! Vamos, acorde! Oikawa!

Outro abraçado pela inconsciência. Frustrada, saio do quarto e me apoio na porta. Vejo uma luz no final do corredor, e não, não estou morta. Mesmo assim, sigo aquela luz. Dizer que ouço todo tipo de coisa enquanto atravesso o corredor é pouco. Estou diante de uma porta branca com quadrados de vidro e a abro, porque a luz vem de lá.

É uma varanda e não tem ninguém.

Ou é o que acho até fechar a porta e ver uma pessoa encostada no parapeito à minha direita, a fumaça de cigarro no ar. Só consigo ver suas costas, mas sei que é ele; meu coração também sabe e acelera, como o idiota masoquista que é. Suna está ali. Não me mexo, minha boca está seca, minha língua está pesada, acho que é por causa da bebida. Ele me olha por cima do ombro e não parece surpreso ao me ver, seu rosto inexpressivo, como há algumas horas. Apertando minhas mãos com força, eu enfrento o estúpido vizinho que tem assombrado meus pensamentos a noite toda. Meu primeiro instinto é fugir.

Não sei por que, mas depois de pensar nele incansavelmente e de procurá-lo com os olhos durante toda a festa, agora que o tenho a poucos passos de mim, quero fugir.

Quem o entende? Suna nem mesmo se deu ao trabalho de virar para me olhar direito e ainda assim consegue acelerar minha respiração e as batidas do meu coração. Sua presença é imponente e a tensão na varanda é demais para mim. Como uma covarde, eu me viro para a porta de novo, no entanto, antes que eu alcance a maçaneta, ele anda a passos rápidos e fica no meu caminho, bloqueando a passagem.

Sempre esqueço o quanto ele é alto, quão lindo e perfeito é cada detalhe de seu rosto e como seus olhos são intensos. Eu desvio o olhar, me afastando para tentar sair mais uma vez, mas Suna se move comigo, me fazendo recuar até que eu encoste no parapeito da varanda.

⎯ Fugindo novamente? -sua voz é fria me faz estremecer.

⎯ Não. -balanço a cabeça e fico um pouco tonta. mantenho os olhos em seu peito. nem mesmo a coragem que o álcool me dá é suficiente para enfrentá-lo. o perfume de suna invade meu nariz e luto para não fechar os olhos e inspirar fundo.

Senti falta de seu cheiro, de sua presença e da habilidade que ele tem de me fazer sentir tudo sem nem sequer me tocar.

⎯ Olha pra mim. -ele ordena, mas eu me recuso. ⎯ [Nome]. Olha.

Obedeço com relutância; o oceano infinito de seus olhos está espléndido ao luar. Sem querer, fito os lábios dele, que parecem úmidos, e noto que está sem o piercing.

Pigarreio.

⎯ Eu... preciso ir.

Tento me afastar para ir embora, mas ele coloca os dois braços na grade do parapeito, me prendendo.

⎯ O que você está fazendo aqui em cima? -pressiona suna. ⎯ Você veio me procurar?

⎯ Não, o mundo não gira ao seu redor. -ele me dá aquele sorriso estúpido que eu amo e odeio. ⎯ Não o mundo. Mas você, sim.

Sua declaração arrogante me irrita e eu o empurro, mas ele não se move.

⎯ Me deixa sair, caramba! -eu o empurro novamente, sem sucesso.

⎯ Por quê? Eu te deixo nervosa? -eu desvio o olhar, fingindo desinteresse.

⎯ Não. Seu maníaco.

⎯ Então por que está tremendo?

Não sei o que responder, então desvio o olhar outra vez.

⎯ Você está tremendo e eu nem toquei em você, e não se preocupe, não vou.

Por quê? Quero perguntar, mas fico quieta. Ele está fora da minha vida, tenho que manter minha palavra desta vez. O silêncio reina entre nós e me atrevo a olhar para ele, sua expressão impassível como sempre. Como faz para não sentir nada? Como faz para me ter tão perto e não mostrar uma emoção que seja? Enquanto estremeço, lutando para manter meus sentimentos sob controle, ele está impassível, calmo. Então por que não me deixa ir embora se não se importa comigo? Por que está bloqueando meu caminho?

E então sou tomada por uma onda de emoções. Suna me machucou muito, mas também parece não querer sair da minha vida, porque sou um joguinho ou sei lá o quê. Mas já cansei de andar em círculos, de esperar dele o que não vou receber. Ele não tem interesse algum em ficar comigo, não lutou nenhuma das vezes que eu disse que o tiraria da minha vida.

E a verdade é que eu assumo minha parcela de culpa. Ele foi honesto comigo desde o início, me disse o que queria e eu me entreguei a ele, voluntariamente. A memória daquele dia em sua sala de jogos me vem à mente. Seu rosto impaciente, esperando que eu fosse embora. Sua mão me oferecendo o celular, como se fosse um pagamento. Apertando as mãos, eu o empurro de novo.

⎯ Me deixa ir! Sai daqui caralho! Como você consegue ser assim?!

Ele se move para o lado e eu me afasto. Cambaleio na direção da porta da varanda, meu estômago se revira. Não, agora não, não vomita agora, [Nome], não é a hora.

Fico tão tonta que me agarro a uma cadeira de metal perto da porta. Caio sentada sobre ela. O suor frio desce pela minha testa.

⎯ Não estou me sentindo muito bem.

Suna aparece ao meu lado em um segundo.

⎯ E você esperava o quê? Bebeu muito.

Não sei como ele entende meu balbucio.

⎯ Como você sabe que eu bebi mui...?

Vomito.

Sim, senhoras e senhores, vomito gloriosamente na frente do cara por quem estou apaixonada. Óbvio que isso se qualifica como o episódio mais constrangedor da minha vida, mais desagradável e Suna segura meu cabelo enquanto eu passo terrivelmente mal e vomito no piso de madeira da varanda. Lágrimas escapam dos meus olhos pelo esforço. Quando termino, sinto como se tivesse bebido uma garrafa inteira de álcool. Não consigo nem sustentar meu corpo, pareço uma boneca de pano.

Ao que parece, vomitar me deixou mais bêbada. Sempre pensei que seria o contrário. Desse momento em diante, tudo se tornou um borrão, com a voz de Suna soando cada vez mais distante.

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