𝟮𝟰


O jogo acabou e ainda não consegui assimilar que Suna Iscariote dedicou um gol para mim. Pensei em mil coisas nos últimos dez minutos, desde que ele estava brincando a que talvez tenha uma namorada secreta que tem o mesmo nome. Só que ele olhou e sorriu para mim. Estou pensando muito ultimamente.

Não devo permitir que ele me afete, não posso deixar que seu gesto atrapalhe minha decisão de me manter afastada dele. Sim, ele me dedicou um gol e foi a coisa mais linda, mas isso não deveria ser suficiente, não depois de todo o mal que me causou.

Uma parte de mim - a maior - quer correr para os braços dele, mas a parte racional, a que recuperou a dignidade, não aprova. Embora essa minha firmeza venha de uma emoção nova para mim: o medo. Medo de que ele me machuque, medo de deixá-lo entrar e eu sair ferida outra vez. Eu não aguentaria passar por isso de novo, então não vou me arriscar.

─ Uau, foi emocionante. -afirma sophia, cutucando minhas costelas ao meu lado nas arquibancadas, brincando enquanto descemos as escadas.

─ Foi mesmo. -opina atsumu inocentemente. ─ Adorei o jogo, e aquele goleiro mereceu depois do que fez com o meu irmão.

─ Temos que comemorar.

Procuro o olhar de Oikawa, que está um pouco sério. Que estranho.

─ Pessoal, a gente podia ir dar parabéns aos jogadores, quero ver meu irmão.

─ Essa ideia é boa... -a voz repentina de oikawa ecoa pelos nossos ouvidos, cortando a fala de sophia.

─ Não parece muito boa no momento.

Ele tem razão. Não quero encarar Suna. Uma coisa é ser forte para me afastar dele e outra bem diferente é tê-lo diante de mim e depois precisar me afastar.

Sophia percebe meu desconforto.

─ Ah, é melhor irmos para a festa de comemoração mesmo.

─ Festa de comemoração? - pergunto, confusa.

Atsumu me dá um tapa nas costas.

─ Você não está por dentro dos eventos sociais, [Nome]? É a festa que o time faz quando vence.

Óbvio. Como esquecer as festas infames de Inarizaki? Fui apenas uma vez e só porque o Primo de Sophia nos convidou.

Passamos ao lado do gramado enquanto caminhamos para sair e seguir para o estacionamento, e não deixo de olhar para os jogadores conversando. Suna está lá, completamente encharcado de suor, seu cabelo grudado nas laterais do rosto, assim como o uniforme em seu corpo. Como ele pode continuar atraente para mim mesmo depois de tudo? Preciso de ajuda profissional, vai se foder.

Seu olhar encontra o meu e eu congelo, paro de andar. Ele lança um sorriso malicioso, agarra a barra da camisa e a puxa pela cabeça. Muitos jogadores estão sem camisa, então ninguém vê o gesto como algo incomum. Meus olhos descem para seu peito e abdômen definidos, onde meu nome já desbotou mais ainda com o suor. Eu mordo o lábio.

Não caia nessa, [Nome].

Balançando a cabeça, desvio o olhar e continuo meu caminho. Dou alguns passos até que esbarro em Oikawa.

─ Ai! Não vi você!

Ele apenas pega minha mão.

─ Vamos sair daqui.

Oikawa me arrasta para o estacionamento, onde todos já estão no carro de Sophia, esperando por mim. Atsumu tomou meu lugar no banco do carona, então fico ao lado de Oikawa atrás.

O lugar da festa fica a norte da cidade, a cerca de quinze minutos da minha casa. A música pode ser ouvida do lado de fora, o baixo trovejando nas paredes do gigantesco imóvel de dois andares. Estou surpresa de ver tantas pessoas, elas são bem rápidas quando o assunto é festa.

Olha quem fala.

Minha consciência me censura quando saímos do carro e nos dirigimos para a entrada. Há algumas pessoas no jardim com copos nas mãos.

Ao entrar, luto contra a necessidade de tampar os ouvidos. A música eletrônica vibra por toda a casa, as luzes estão apagadas, apenas algumas lâmpadas de meia-luz iluminam o local em verde e azul, o que dá um toque meio hippie ao cenário. Me sinto como se estivesse em uma festa eletrônica no meio de um campo aberto. O DJ está na sala, é um cara alto, de cabelos compridos e braços tatuados, que parece concentrado.

─ Vamos pegar alguma coisa para beber! -sophia segura minha mão para que não nos separemos na multidão.

A cozinha está lotada, mas de alguma forma a loira consegue trazer bebidas para todos nós. Tomando o que quer que esteja dentro daquele copo de plástico, não posso deixar de me lembrar da última vez que bebi na casa de Suna, como brincamos com a tequila, seu sorriso, seus beijos.

Não, não, [Nome]. Estou aqui para me distrair, não para pensar nele.

Como se Sophia pudesse ler meus pensamentos, ela fala:

─ Vamos dançar!

Todos nós vamos para o centro da sala que se tornou a pista de dança e começamos a nos movimentar ao ritmo da música, com os copos no ar. Por um segundo, deixo minha mente vagar para longe de qualquer memória do meu vizinho e danço, bebo, rio dos passos malucos de algumas pessoas e do rosto corado de Atsumu enquanto Sophia se mexe ao lado dele. Me sinto livre de rancor e preocupações.

Oikawa pega meu braço e me gira em sua direção. Sigo a correnteza, danço com ele, coloco meus braços em volta de seu pescoço e eu cometo o grave erro de olhar para cima. Quando os olhos dele encontram os meus, a intensidade de seu olhar tira meu fôlego. Ele nunca me atraiu e é a primeira vez que o tenho tão perto.

A voz de The Weeknd em algumas de suas maravilhosas músicas, toca ao fundo, e o ritmo suave e sedutor nos faz mover lentamente o corpo um contra o outro. Suas mãos deslizam pela minha cintura até ficarem em meus quadris. Meus lábios se separam e ele lambe os dele, umedecendo-os. Mas não quero beijá-lo.

Essas sensações me pegam de surpresa. Oikawa aperta meu corpo e se inclina em minha direção, até que sua testa toca a minha, seu nariz roça no meu. Cada momento que compartilhamos invade minha mente, todas as vezes que ele me fez sorrir, esquecer meus problemas, me apoiou. Ele é meu melhor amigo e eu o via assim e acabará por ser assim até o fim. Oikawa suspira, fechando os olhos.

─ [Nome]...

Eu fico tensa com a seriedade do tom dele. O moreno quase sempre me chama pelo apelido, raramente usa meu nome, só quando está falando de algo muito sério e delicado.

Com o coração na boca, respondo:

─ Sim?

─ Estou morrendo de vontade de te beijar.

Meu coração acelera e ele observa minha reação. Eu apenas fiquei imóvel, dando meu consentimento desleixado. Quase posso sentir seus lábios nos meus quando fecho os olhos por um segundo. Mas o rosto de Suna aparece na minha mente, me fazendo dar um passo para trás. Oikawa me encara confuso e estou prestes a falar quando um garoto com o microfone nos interrompe.

─  Muito bem, pessoal! É hora de dar as boas-vindas aos jogadores.

Todos gritam, levantando os copos. O time entra na sala e todos já tomaram banho e estão arrumados. Suna é um deles, com uma camisa preta que lhe cai muito bem. Preto é uma cor que fica bem demais nele para o meu gosto. O garoto que reconheço como um dos jogadores do time continua:

─ Antes de mais nada, vamos dar as boas-vindas ao capitão, que fez belos gols hoje.

─ Suna! Suna! Suna!

Todo mundo grita seu nome e eu abaixo a cabeça. O jogador passa o braço pelos ombros de Suna.

─ Você jogou como nunca, mas também sabemos que dedicou um gol a uma garota.

─ Sim!

Gritam as pessoas ao meu redor.

─ Acho que todo mundo aqui quer saber quem é a garota sortuda. O nome ficou tão borrado!

Uma garota levanta a mão.

─ Eu posso ser sua garota quando quiser, lindo! -a proposta faz algumas risadas femininas ecoarem.

─ Você vai contar quem é ela, capitão?

Suna ri, balançando a cabeça.

─ Ela sabe quem é, e isso é o suficiente.

Uuuu! Conta! Conta!

Suna balança a cabeça novamente e sai, o outro jogador dá de ombros.

─ Ok, vamos parar de atrapalhar a festa. Aproveitem! -com isso, ele sai da sala onde está o DJ.

Sua presença me faz sentir culpada por quase beijar Oikawa, mas sei que não deveria me sentir assim. Suna não é meu namorado, então posso beijar quem eu quiser. Oikawa pega minha mão e me arrasta em meio às pessoas.

─ Ei, Oikawa! -reclamo de sua brusquidão.

Quando saímos da casa, ele me leva até a calçada, longe o bastante das pessoas que ainda estão no jardim. Ele me solta e posso perceber sua chateação.

─ Qual é o problema? Por favor, me diga que não foi com ele.

─ Do que você está falando?

─ Me diga que você não perdeu a virgindade com aquele idiota.

Fico paralisada, sem saber o que responder.

─ [Nome], me diga! -grita ele, e eu baixo a cabeça. ─ Ah! Merda! Suna Iscariote? Aquele idiota arrogante que trata as mulheres como lixo? Onde você estava com a cabeça?

─ Eu não estava com a cabeça em lugar nenhum! Eu só... Ele...

─ Você o quê? Você o quê?

─ Me deixei levar pelo que eu sinto!

─ Pelo que você sente? -eu percebo o erro que cometi ao dizer essa palavra. ─ Você está apaixonada por ele?

Quero dizer que não, quero gritar que não, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Oikawa parece tão desapontado que dói muito vê-lo assim.

─ Oikawa...

─ Tá na cara que você se apaixonou.

Ele coloca as mãos na cabeça e solta um suspiro longo e exasperado.

Não sei o que dizer, uma onda de sentimentos toma conta de mim. Nunca me senti tão confusa, mas então ele morde o lábio inferior e diz, me deixando ainda mais confusa e sem reação:

─ Eu gosto muito de você, [Nome]. Sou louco por você. -só consigo olhar para aqueles olhos castanhos inundados de lágrimas. ─ Eu sempre gostei de você. Pensei que nós dois acabaríamos juntos, como nos filmes. -ele solta uma risada triste. ─ Acho que era bom demais para ser real.

─ Oikawa...

─ Estou indo embora. Avisa o pessoal, e aproveite a noite com aquele idiota.

─ Espera!

Ele não me escuta e começa a se afastar. Meu coração bate loucamente. Não quero que vá embora, mas o que faço se ele ficar? O que eu digo? Mas então Oikawa para a alguns metros de distância e se vira para mim outra vez. Eu o observo surpresa, enquanto ele caminha rapidamente em minha direção mais uma vez. Seus olhos estão cheios de determinação.

─ Que se foda!

─ Mas o quê você...

Ele pega meu rosto com as mãos e me beija.

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