𝟭𝟰
A luz do sol é forte, fluindo pela minha janela, aquecendo o quarto. Meus olhos ardem e meu rosto dói, levo alguns segundos para lembrar de tudo o que aconteceu na noite passada.
Suna...
Eu dou um sobressalto e olho para o meu lado na cama. Está vazio.
Meu coração aperta no meu peito. Se foi novamente? Não sei o que eu esperava, que ele acordasse aconchegado a mim? Eu estou delirando.
Lentamente, vou ao banheiro para escovar os dentes, mas quando me olho no espelho deixo escapar um grito surpreso.
⎯ Meu Deus! Eu estou mais roxa que os minions malvados!
Meu rosto está horrível. todo o lado direito está inchado e há um roxo subindo do meio da minha bochecha até o meu olho. O canto da minha boca tem um pequeno corte. Eu não tinha ideia de que aquele homem tinha me batido com tanta força assim. Ao examinar meu rosto, noto hematomas em meus pulsos e braços também, acho que devido ao quanto aqueles homens me agarraram de um lado para o outro.
Um calafrio toma conta de mim quando me lembro do que aconteceu.
Depois de tomar um banho e escovar os dentes, sai do banheiro de shorts, sem camisa ou blusa - sacudindo o cabelo com a toalha.
⎯ Sutiã com estampa de morango?
Eu grito ao ver Suna sentado na minha cama, com uma sacola de comida e dois cafés na mesa da cabeceira.
Eu me cubro com a toalha.
⎯ Pensei que tinha ido embora. -ele sorri, com o sorriso que me desarma da mesma forma de sempre.
⎯ Eu só fui tomar café. Como se sente?
⎯ Me sinto melhor. Obrigado, é muito simpático da sua parte. -mesmo que gentileza não fosse a sua praia -eu apenas penso sobre isso, mas acabo não dizendo.
⎯ Coloca uma roupa e vem comer, a não ser que queira comer assim, sem roupa. Eu não reclamaria. -eu apenas reviro os olhos em resposta a ele.
⎯ Muito engraçadinho você. Já volto.
Vestida e tomando café da manhã, tento ignorar o lindo garoto diante dos meus olhos, porque senão, não consigo comer em paz.
Suna toma um gole do seu café.
⎯ Tenho que falar, não vou conseguir viver em paz se não falar.
⎯ O que?
⎯ Morangos? Existe mesmo um sutiã de morangos para alguém da sua idade? -eu passo meus olhos pelo meu próprio sutiã.
⎯ É minha roupa íntima, ninguém vai ver de qualquer maneira.
⎯ Eu o vi. -seus olhos encontraram os meus, com as piadas ridículas que ele faz, agora falando no tom sincero e neutro. ⎯ Eu também toquei neles. -quase engasguei com o que comia nesta manhã.
⎯ Suna...
⎯ O que? -ele me olha com seus olhos amarelados e seu sorriso idiota. ⎯ Ah claro, você se lembra disso muito bem, não é?
⎯ Me lembrar? Nem um pouco.
⎯ Então por que suas bochechas estão vermelhas?
⎯ Estou com calor.
Ele sorri maliciosamente, mas não diz nada. Eu termino de comer e tomo um gole de café, mantendo meus olhos em qualquer lugar, menos nele, mas posso sentir seu olhar em mim. Isso continua me deixando nervosa, fico ciente de como estou vestida e de cada detalhe de mim que ele pode ver e desaprovar, como meu cabelo molhado e despenteado - até o roxo na pele do meu rosto.
Suna suspira.
⎯ O que aconteceu à noite?
Eu olho para cima e encontro o amarelo em seus olhos me encarando, eu sinto que posso contar tudo para ele. Por que eu confio nele se ele quebrou meu coração?
Eu nunca entenderia.
Eu corro a mão pelo meu cabelo em pequeno nervosismo.
⎯ Sai do trabalho e decidi ir pelo caminho mais curto. -suna me dá um olhar de desaprovação. ⎯ Que? Eu estava cansada e pensei que nada fosse acontecer.
⎯ Os caminhos mais curtos e escuros não são algo que você deva considerar naquele horário à noite.
⎯ Agora eu sei disso. -eu faço uma pausa. ⎯ Bem, eu passei pela ponte e antes de chegar ao fim, vi três homens.
Flashbacks que me causam um desconforto constante, percorrem pela minha mente em frações de segundos, chegando a ser inevitáveis quando a dor no meu rosto ainda o penetra.
⎯ Eles pegaram meu telefone e um deles...
As mãos sujas e o cheiro de cigarro implantaram na minha memória como se não fossem mais sumir.
⎯ Dois deles saíram e me deixaram com um dos caras. Ele me arrastou para a escuridão e ele disse para não gritar, mas eu gritei e foi por isso que ele me bateu. O menino que ligou para você me ouviu e o homem saiu correndo.
⎯ Ele fez algo com você? -os olhos de suna têm um lampejo de raiva que me surpreende. ⎯ Ele tocou em você? -eu balancei minha cabeça em negação.
⎯ Não. Graças a Deus fui ouvida a tempo. -ele aperta minha mão e suas palmas são macias.
⎯ Já passou. Logo você vai ficar bem e sabe que eu estou aqui.
E ele sorri para mim.
Pela primeira vez não é um sorriso malicioso ou carnal. É um sorriso genuíno, um sorriso real, que ele nunca me mostrou antes e que causa estragos no meu coração. Suna Iscariote parece tão sinceramente grato por eu estar bem que sinto uma vontade estúpida de beijá-lo.
E é neste momento que percebo que ele e eu nunca nos beijamos, apesar de termos feito coisas tão intimas juntos. Por que você nunca me beijou? Quero perguntar para ele, mas não tenho coragem de fazer isso, não agora. Além disso, o que eu ganharia perguntando isso? Se estar com ele ja está fora de alcance e eu o tenho aqui, na minha frente agora.
Ele foi terno e gentil, comportou-se como um belo cavalheiro, mas isso não significa que sua maneira de ver as coisas tenha mudado, nem a minha. Suna acaricia as costas da minha mão com o polegar, traçando círculos, e sinto a necessidade de agradecê-lo.
⎯ Obrigado, sério. Você não precisava fazer tudo isso. Muito obrigado, Suna.
⎯ Estou sempre ao seus serviços, estranha. Para todo o sempre.
Isso faz meu estômago vibrar e meu coração bater um tanto mais rápido. Ele se estica e pega meu queixo.
⎯ O que você está fazendo?
Ele avalia o lado machucado no meu rosto.
⎯ Eu não acho que você precise levar nada, mas se piorar você pode levar um analgésico e talvez fique melhor.
⎯ Você é médico agora? -suna ri um pouco.
⎯ Ainda não.
⎯ Ainda não?
⎯ Quero estudar medicina quando terminar o ensino médio. -isso me surpreende.
⎯ De verdade?
⎯ Por que está tão surpresa?
⎯ Achei que você fosse estudar administração ou direito, como seu pai e seu irmão mais velho. Nunca imaginei você como médico. Você daria um médico muito bonito, no entanto.
⎯ Isso é o que todo mundo pensa. -ele torce os lábios. ⎯ Tenho certeza de que meus pais e Osamu pensam o mesmo.
⎯ Mas eles não sabem que você quer estudar Medicina?
⎯ Não. Você é a primeira pessoa a quem digo isso.
⎯ Mas por quê?
A pergunta sai dos meus lábios antes que eu possa impedi-la de seguir adiante. Suna desvia o olhar e suspira baixo.
⎯ Não sei.
Eu mordo minha lingua para evitar perguntar a ele qualquer outra coisa.
E então, ele se levanta.
⎯ Tenho que ir, prometi a Atsumu que o levaria para o canil.
⎯ Para o canil?
⎯ Você faz muitas perguntas, [Nome]. -ele não quis dizer isso de uma maneira ruim. ⎯ Atsumu adota cachorrinhos quando mamãe está de bom humor e acaba os devolvendo quando o humor dela muda, mas sempre acaba os trazendo de volta. Nunca vou entender essa criança.
⎯Atsumu é um garoto muito doce. ⎯suna fica sério.
⎯ Sim, ele é.
⎯Diga que mandei um "oi" pra ele.
⎯ Você sente falta de dormir com ele? -e aqui vamos nós com o suna instável.
⎯ Suna, vou esquecer que você falou isso porque você tem sido muito bom comigo até agora. Vá embora, antes que você prejudique o momento ainda mais.
Suna abre a boca para dizer algo, mas a fecha imediatamente após pensar melhor no que falaria. Finalmente disse: ⎯ Bem, espero que melhore logo. Se você precisar de alguma coisa, me avise.
⎯ Estarei bem.
Eu não tenho um telefone para avisar você.
Eu quero dizer isso, mas não quero parecer carente. Talvez ele só esteja dizendo isso para ser legal e não espera que eu realmente o avise. Suna sai da minha janela e eu caío de volta na minha cama. Eu olho para o teto e suspiro.
Sophia está confusa.
Ela não pisca, não se move, ela não fala. Não tenho certeza se ela está respirando.
Até que começa a me perguntar se estou bem, o que aconteceu, que precisamos fazer uma denúncia urgentemente, e quando me recuso, ela me repreende que, ao acusar esses homens, poderíamos evitar que atacassem outras meninas. A verdade é que não quero que mais ninguém passe pelo que eu passei, então, na companhia dela e de minha mãe, vamos à delegacia para denunciar esses homens. Faço questão de mencionar aquela ponte que eles parecem frequentar, na esperança de que a polícia os encontre novamente lá, em busca de outras vítimas. Mamãe nos deixa na casa de Sophia depois de tudo, apenas pela loira não querer me deixar sozinha.
No conforto do quarto de Sophia, conto a ela tudo o que aconteceu com Suna. Ela leva alguns minutos para absorver tudo. Para ela, eu pulei de perseguir Suna das sombras, para lutar com ele por um simples WIFI e de repente, estou dormindo com ele, tanto que mal percebi o tempo passar naquela manhã. Eu coro apenas por lembrar do que falamos.
Estamos sentadas com as pernas cruzadas em sua cama, usando nossos pijamas. Temos um balde de pipoca entre nós. Decidimos ter uma última festa do pijama antes do início das aulas ou do fim daquele doce verão.
⎯ Meu deus, [Nome]. -ela inspira, deixando escapar um grande suspiro, colocando o loiro atrás da orelha.⎯ Tenho que admitir que estou impressionada.
⎯ Impressionada?
⎯ Sim. Você o colocou no lugar dele quando foi necessário, você é corajosa; Estou orgulhosa de você. -seu sorriso vai de orelha a orelha.
⎯ Não é para tanto.
⎯ Claro que é. Nunca pensei que você teria algo com ele e muito menos que você o colocaria no seu devido lugar.
⎯ Não foi fácil, Soph. Você sabe bem o quanto gosto dele.
⎯ Eu sei que não foi fácil, por isso estou te parabenizando, sua boba.
Pego um punhado de pipoca antes de respondê-la.
⎯ Às vezes não consigo acreditar que tive alguma coisa com ele. Ele sempre foi tão fora do meu alcance. -eu coloco toda a pipoca que posso na minha boca.
⎯ Eu também não posso acreditar. Quem diria? A vida é imprevisível. -sophia come a pipoca devagar.
⎯ E ele não está interessado em mim por algo sério, ele só quer se divertir. Eu nem sei se ele gosta de mim.
A loira estala a língua.
⎯ Você deveria gostar que ele tenha se envolvido com você. Pelomenos ele está fisicamente atraído. Caras não mexem com garotas de quem eles não gostam, isso não faria sentido.
⎯ Mas ele me disse, com seu rosto estúpido e lindo: "Porque você gosta de mim, mas eu não sinto o mesmo". -repito com amargura, tentando imitar sua voz.
⎯ Se ele não gostasse de você, não teria tentado nada com você. Qualquer um sabe disso.
⎯ Pare com isso, Sophia. Não diga essas coisas, você me faz ter esperanças sobre ele novamente.
Sophia junta os dedos e cobre a boca como se a fechasse.
⎯ Bom, eu calo a boca, então.
Eu jogo uma pipoca nela, seguida de um riso bobo.
⎯ Não se incomode. -ela não fala comigo e faz sinais como se estivesse muda. ⎯ É sério, Sophia? -eu jogo outra pipoca nela e ela agarra e come, mas ela não fala comigo. ⎯ Soph, Soph, fale comigo!
Ela coloca os braços no peito.
⎯ Só estou falando a verdade e isso te incomoda. Suna é ótimo, ele tem dinheiro, ele é inteligente, ele pode ter qualquer garota a seus pés... Ainda assim, você vem me dizer que ele estaria com alguém mesmo que não gostasse? Sim, ele pode não querer nada sério, mas gosta de você, [Nome].
Ela está certa e joga o cabelo sobre o ombro totalmente arrogante, com a razão sobre seus pés.
⎯ Sempre tenho razão, mas agora vamos dormir. A única coisa que não queremos é chegar cansadas no primeiro dia de aula. É o nosso último ano, temos que causar bom pressentimento.
⎯ Estamos sempre cansadas. Vivemos em uma cidade movimentada, Sophia.
⎯ Você adora tirar a diversão da vida. -a loira se levanta e coloca o balde de pipoca no chão.
Nós nos acomodamos e nos enrolamos sobre os lençóis. Desligando a lâmpada da cabeceira, nós duas suspiramos. Um momento de silêncio passa e o belo sorriso genuíno de Suna enche minha mente - pare de pensar nele, [Nome].
⎯ Ninguém nunca me deixou assim, com esse sentimento de felicidade.
⎯ Eu sei.
⎯ E dói, dói que ele não queira me levar a sério. Faz-me sentir como se eu não fosse boa o suficiente.
⎯ Mas você é, não deixe ele te fazer duvidar disso. Você fez bem em afastá-lo, [Nome]. Mais tarde teria sido muito mais doloroso.
Pego uma mecha do meu cabelo e começo a brincar com ela. Sophia se vira para mim e nós duas ficamos cara a cara, deitadas.
⎯ Soph, gosto muito dele. -ela sorri para mim.
⎯ Você não tem que dizer isso, eu te conheço, mas não complique tanto a sua vida pensando em um único garoto, você é jovem. Se ele não sabe valorizar você, vai aparecer alguém que fará isso.
⎯ Você realmente acredita nisso? Parece tão impossível encontrar alguém como Suna.
⎯ Talvez não alguém como ele, mas alguém que te faça sentir o mesmo que sente agora.
Eu ainda duvido muito.
⎯ Bom, é hora de dormir. -eu digo e viro meu olhar para o teto.
⎯ Boa noite, amorzinho.
⎯ Boa noite, Soph!
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