031 - Premonição

“A manhã invade a noite, derretendo a escuridão.”

- William Shakespeare

Premonição - Um sentimento perturbador.

   Um suspiro escapou enquanto eu passava a mão pelo meu cabelo, bagunçando-o. Devo ligar para Archer para falar? Ele era melhor em lidar com pessoas do que eu.

   O pequeno telefone pesava muito na minha mão, minha mandíbula cerrou enquanto eu tentava me recompor.

   Loren era alguém maior que a vida, ela estava apenas em uma idade florescente, no entanto, ela tinha visto mais da vida do que deveria. Ela foi apresentada ao lado negro do espectro ainda jovem.

   Ela deveria ter sido estimada e amada. Ela deveria ter dinheiro suficiente para se sustentar, deveria ter uma figura parental.

   Em vez disso, ela teve que crescer rápido. Ela teve uma vida difícil.

   A impaciência corroeu dentro de mim quando senti meu coração gaguejar. Loren era como um pedaço de vida para o meu cinza, uma partícula de corrida entre minha tristeza.

   Seu cheiro se fixou em minha mente, a sensação de sua pele, seus lábios que me adoravam e faziam minha cicatriz parecer um enfeite...

   Ela merecia a verdade.

   — Ei, Siri — soltei um suspiro trêmulo. — Disque Loren.

   — Chamando “Loren” — a voz feminina robótica respondeu e ouviu tocar.

   Um nó se formou na minha garganta, e engoli. Minha mão apertou minha bengala enquanto uma respiração trêmula me escapou.

   — Chamada recusada. Quer rediscar?

   — Sim.

   — Rediscando.

   Eu me mexi na cadeira, a agitação rastejando dentro de mim como pequenos insetos.

   — Chamada recusada.

   Soltei um grunhido irritado. Sério, o que ela estava fazendo?

   Repeti o processo três vezes, sempre que a ligação era repassada para o correio de voz.

   A agitação se transformou em irritação, a irritação se transformando em raiva.

   Soltando outro grunhido, ordenei ao bot que ligasse para Archer.

   Ele atendeu no terceiro toque.

   — Ei, mano—

   — Onde está Loren? Ela está com você? — eu deixei escapar antes que ele pudesse terminar a frase.

   — Uh- — ele fez um som que soou terrivelmente como um bufo. — Loren não está comigo.

   — Onde ela está? Na mansão?

   — Não, ela não está na mansão — ele soltou um suspiro. — Bro, preciso te contar uma coisa. Promete que não vai ficar bravo comigo?

   O silêncio permanecia entre nós, minha raiva fervente se acalmando até uma saturação entorpecente. Eu me senti frio, frio como uma pedra.

   — Eu ofereci a Loren uma pequena ajuda.

   Considerando como ele murmurou “pequena ajuda”, isso estava relacionado à condição dela ou à situação financeira.

   Uma respiração escapou enquanto meu coração batia freneticamente contra minha caixa torácica enquanto sentia meus músculos tensos sob minhas roupas abafadas.

   — Você fez o quê?

   — Agora—

   — Você pediu minha permissão? Com que base você ajudou ela, Archer?

   O silêncio picou minha pele.

   — Responda, caramba! — eu gritei ao telefone, a raiva queimando em minhas veias.

   — Não posso ajudar minha amiga?

   A voz dele era grave, uma frieza que combinava com a minha. Cerrei a mandíbula, apertando o telefone com mais força.

   — O que irrita você, Ares? — sua voz era solene quando ele perguntou. — O fato de eu ter ajudado Loren quando ela mais precisava? Ou o fato de ter sido quem a ajudou?

   Parei por um segundo, um arrepio percorrendo meu corpo.

   Ele... sabia?
   Não poderia ser bom.

   — O que você quer dizer? — eu respondi, tentando manter minha voz calma.

   — Não finja ser um ignorante, irmão — ele cuspiu. — Você sabe exatamente o que quero dizer. Fazer-se de bobo não combina com você.

   Nossa respiração pesada ao telefone, a distância parecia ser de um fio de cabelo enquanto ele exalava.

   — Eu não gosto do fato de que foi você quem a ajudou.

   — Viu que não foi tão difícil admitir agora? — sua voz era nervosa e rouca. — Que pena, eu fiz isso de qualquer maneira. Ela precisava de ajuda e eu forneci a ela. Qual é a porra do problema?

   — Eu queria fazer isso — minha garganta queimou quando a confissão saiu dos meus lábios em um sussurro lento.

   Um véu de silêncio caiu entre nós, a distância aumentando.

   — Por quê?

   — Porque… — eu cerrei os dentes, cerrando os punhos. — Porque ela foi designada para mim.

   — Isso não deveria incomodá-lo então — Archer suspirou. — Loren entrará em contato com você em mais ou menos uma hora, tenho certeza disso.

   Um som evasivo me deixou quando ele desligou, o único som que me apoiou foi o silêncio cada vez maior.

   — Volte para casa, temos coisas para discutir — ele encerrou a ligação.

   Não demorou muito para que eu chegasse à mansão, angustiado, se assim posso dizer, liguei mais três vezes para Loren no caminho, tudo indo direto para o correio de voz.

   — Betânia! — lati ao entrar em casa, tirando o casaco e jogando-o em algum lugar.

   — Sim, Sr. Estevan — um som de passos apressados ecoou pela casa enquanto a senhora corria até mim.

   — Loren disse para onde ela estava indo?

   — N-Não senhor—

   — Porra! — eu murmurei.

   Eu sabia que não tinha motivos para me preocupar quando o próprio Archer prometeu segurança a ela. Eu sabia que ele devia ter enviado alguns guardas para garantir a segurança.

   Tive uma premonição espreitando minha mente pessimista. O pensamento engoliu o pequeno raio de luz na escuridão.

   Eu balancei minha cabeça. Foi apenas uma paranoia minha. Ela estava segura, ela tinha que estar.

   Mas depois daquele incidente, não consegui ficar tranquilo sabendo que ela estava em algum lugar nas ruas onde o perigo espreitava nas sombras.

   Seus gritos de terror, seu pedido de ajuda me perturbaria para sempre.

   Ficou gravado em minha mente, como se fosse um instinto para protegê-la. Para lutar por ela. Matar por ela.

   Ela se tornou meu instinto primordial.

   Eu me sentei no sofá, tentando reunir meus pensamentos confusos.

   — Atenda o telefone… — murmurei, ligando para ela novamente.

   "O número que você discou não está disponível no momento. Tente novamente mais tarde”

   — Que porra é essa? — eu ofeguei pesadamente enquanto a pedra em meu peito ficava mais pesada, os dedos tremendo com o pensamento nauseante que nublava minha mente.

   Liguei para ela novamente. Nada.

   Então de novo. E então, novamente, disquei o número dela até ficar uma bagunça trêmula, entrando em pânico como nunca antes.

   — Irmão? — a voz de Archer veio da porta. — Você está bem? Lô te contou sobre tudo—

  Sua voz caiu

   — Você está bem? Onde está—

   — Onde diabos ela está? Ela não atende, seu telefone está desligado. Archer, onde ela está? — minha voz estava trêmula, minha garganta seca como giz.

   — Desligado? — ele murmurou. — Não deveria estar desligado, ela já deveria estar de volta.

   — Você enviou os guarda-costas com ela, certo? Para ficar de olho nela, como eu instruí?

   — Sim — o som da discagem no teclado ressoou em meus ouvidos. — Deixe-me ligar para a Dra. Jones.

   — Doutora Jones? — eu falei asperamente. — Você a mandou para—

   — Sim — ele murmurou. — Deixe-me falar com ela.

   Agarrei a ponta da minha bengala, com a palma da mão machucada.

   — Silvia, Você sabe quando Loren saiu da câmara?

   Demônios arranharam meu coração enquanto eu tentava me acalmar.

  — Ah? Ok. Obrigado! — sua voz estava desanimada.

   — Loren... saiu há uma hora. A câmara fica a apenas dez minutos de distância.

   A escuridão em que mergulhei… Parecia que eu estava confinado em um pequeno aglomerado de nada caótico.

   — Ares, não entre em pânico — sua voz estava tremendo. — Vou chamar os guardas. Me dê um momento. Eles estão com ela.

   — Miller, onde está Loren?
   — O que você quer dizer?
   — Eu não pedi a TODOS vocês para ficarem de olho nela?!

   O telefone foi cortado, deixando um silêncio estranho para trás.

   — Havia dois guardas com ela, um deles foi drogado e outro foi espancado.

   A frieza penetrou em minha veia enquanto senti meus dedos entorpecerem.

   Loren... Loren estava em perigo e eu não podia fazer nada. Foi tudo culpa minha.
   Eu não pude protegê-la

   Passei a mão pelo rosto que estava ardendo.

   Eu não pude protegê-la

  — Entre em contato com o detetive Jonas.

   — Ligar do — ele fez uma pausa no meio da frase. — Seu telefone—

   Sua mão quente roçou a minha enquanto ele pegava o objeto segurado por mim.

   Eu estava desmoronando, desmoronando em pedaços como vidro quebrado.

   Loren estava sofrendo

   A fúria bombeou em minha veia enquanto eu tentava segurar minha bengala e me levantar, minhas pernas não permitiam.

   — Há uma mensagem — sua voz não passava de um sussurro. — De um número desconhecido.

   Meu coração pulou na garganta.

   — Leia.

   "Eu sei que você é bom em jogar, Ares. Tenho orgulho de ser um jogador um pouco melhor do que você. Rastreie esse número e você a encontrará. Ela é toda sua, mas não antes de jogar um joguinho comigo há muito inacabado…” a voz de Archer tremeu quando ele fez uma pausa.

   Então foi para mim. Ela não.
   Ela foi sequestrada por minha causa

   Minha cabeça ficou mais pesada enquanto eu segurava o bastão com ainda mais força, a escuridão que eu vim a governar de repente protestou contra mim.

   Sangue furioso dançou em minhas veias enquanto eu sentia meu corpo pulsar com o súbito desejo de vingança despertado por esse estranho desconhecido que afirmava ser um jogador do destino.

   Quem quer que fosse essa pessoa, tinha um assunto inacabado comigo. Arrastar Loren entre nós pode ter sido o maior erro dele.

   Eu sorri, o demônio sanguinário dentro de mim ergueu a cabeça.
   Eu iria banhar a cidade em seu sangue e saborear sua seus gritos.

   — Há uma imagem anexada...

   — Abra — eu estava calmo. De repente, pude pensar com mais clareza.

   — É uma caligrafia?

   Eu fiz uma careta.

   — O quê?

   — Diz: Memento Mori.

   O som da minha bengala quebrando ao meio ressoou pela mansão. Eu respirei pesadamente, a dor floresceu na minha palma.

   Quem quer que fosse esse bastardo, eu iria arrancar seu coração e alimentar os lobos.

   Loren foi a pequena centelha de luz que entrou em minha vida como uma bênção. Não havia nenhuma maneira no inferno que eu iria deixá-la ir

   Como eu disse, eu não era pecador, mas mataria por ela.

   — O-o que isso significa?

   Minha mandíbula apertou.

   — É latim.

   O som da nossa respiração pesada ressoou pela mansão.

   — Diz: Lembre-se da morte.

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