10.
Oioi amores!! Passando aqui só para pedir pra votarem e comentarem bastante! Esse capítulo deu MUITO trabalho!! Amo vocês!!
⚠️ AVISO ⚠️: ESSE CAPÍTULO CONTÉM MENÇÕES EXPLÍCITAS DE SANGUE E VIOLÊNCIA!! SE VOCÊ É SENSÍVEL, LEIA POR SUA CONTA E RISCO!⚠️
Corro até minhas pernas doerem e latejarem e os músculos das coxas falharem, até meus joelhos rangerem e travarem.
Não há tempo para parar de correr, o tempo está correndo também e se correr mais do que eu, estamos em condenação.
Enquanto o Sol se levantava no horizonte, o vento batia contra o meu rosto pálido e deixava meu nariz e bochechas cada vez mais gélidos e os galhos das árvores arranhavam e beijavam minha face agressivamente, deixando rastros de sangue escuro respingado nas minhas feições.
E por falta de atenção, eu tropeço várias e várias vezes, mas eu nenhum momento, eu deixo a mochila ou as flechas caírem, não podia haver margem de erro, não poderia dar brecha a morte, porque qualquer pequena brecha, ela não hesitaria em ceifar cada vida jovem naquele acampamento, que agora, era a minha casa e era o meu dever concertar o que eu havia feito.
Ninguém mais poderia morrer por minha causa.
Não posso voltar atrás e salvar os enfermos e doentes com a febre hemorrágica, mas posso explodir aquela merda daquela ponte e salvar a minha família.
E se eu não conseguisse, bom, então eu mesma ceifaria minha própria vida.
Meu único defeito é o orgulho.
Já ouviu falar em seppuku?
Os samurais, grandes mestres espadachins de séculos atrás poderiam servir apenas um daimiô a vida toda.
Então assim que o seu senhor morresse, o samurai deveria acompanha-lo.
Era uma maneira de demonstrar lealdade ao seu mestre e ir com ele até o além-morte.
"Perca a honra e a vida também estará perdida."
E se eu não conseguisse hoje, se meus amigos morressem pela minha falha, eu os acompanharia também.
Se eu morrer por nada, sem ter sido o bastante, pedirei desculpas eternas.
Mas minha morte será em vermelho.
Ou melhor, negra.
Não será numa estúpida e medíocre cela de metal fria e imunda, não será indolor muito menos tranquila, porque sei que não nasci para isso.
Será lutando.
Será protegendo e retribuindo todos os anos de sacrifício pelos meus irmãos.
Sendo mais velha ou mais nova, meu dever também era proteger eles, somos família independentemente.
Sangue corre mais grosso que água.
E dessa vez eu não vou errar tentando acertar.
Não darei segundas chances, não quando o meu irmão está naquela merda daquela ponte.
Quem estiver no lugar errado, na hora errada, vai queimar.
Seria muito egoísta dizer que eu sacrificaria esse acampamento se significasse a salvação dos meus irmãos.
Mas é a mais pura verdade.
E não tenho medo de ser egoísta as vezes.
Estou cansada de ser a boazinha e as pessoas erradas morrerem por causa disso.
Primeiro Wells, depois Charlotte e agora vários outros adolescentes mortos e apodrecendo no solo do acampamento.
Não vai ficar barato.
Depois de muitos minutos de falta de fôlego e passos acelerados eu consigo chegar na ponte e avisto Jasper, Monty e Finn, tentando carregar Cardan e Raven, que estavam desacordados e sangrando pelos olhos e pelas narinas.
E ao longe, ouvia-se tambores de guerra, gritos rasgando a paz serena dos pássaros, que se fossem materializados, destruiriam os ninhos, arrancariam as flores e não deixariam para trás nem um pedaço de raio de sol, apenas sangue da floresta, que choraria em pura melancolia.
E os tambores se aproximavam cada vez mais, os passos da marcha do exército fazia o chão tremer.
Eu corro mais até os meus amigos, os que estavam conscientes me encaram totalmente complexos e cheios de dúvida.
—Não tenho tempo para explicar, se afastem o máximo possível da ponte, eu vou explodir essa merda.—Passo por eles, me aproximando da pequena lata, me ajoelho ali e abro a mochila, então, eu despejo metade da garrafa de querosene em cima e ao redor, para ter certeza de que aquilo estava extremamente inflamável.
—Como? Você não tem um rifle!—Monty grita, parado na ponte, segurando Raven em suas costas com dificuldade.
Coloco a mochila fechada nas costas e rasgo mais um trapo da minha roupa, encharco de querosene e prendo na ponta de metal de sucata de uma flecha.
...𝐧𝐨𝐰 𝐢𝐬 𝐩𝐥𝐚𝐲𝐢𝐧𝐠: 𝐁𝐮𝐫𝐧𝐢𝐧𝐠 𝐏𝐢𝐥𝐞 𝐛𝐲 𝐌𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫 𝐌𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫
—Eu não preciso de um rifle.
Monty abre a boca para falar, mas eu o interrompo antes que ele comece a dizer qualquer coisa.
—Agora vão! Não vão querer estar aqui quando explodir.
E eles não me contestam, começam a correr e subir o morro, em direção ao caminho de volta ao acampamento.
O barulho da música de guerra estava cada vez mais próximo, mais letal e mais mortal a cada milissegundo tudo ficava mais acirrado.
Travo os dentes e corro até uma árvore, prendo a flecha e o arco entre os meus dentes e começo a subir por entre os galhos, cravando minhas unhas na casca seca do pinheiro.
Quando finalmente alcanço um galho alto e firme o suficiente, eu me sento ali, escondida por entre folhas, galhos e cipós, posso dizer que me tornei parte do ambiente.
Pego a caixa de fósforos no bolso da mochila e acendo, sentindo o calor fazer cócegas na ponta dos meus dedos e nas minhas unhas, posso dizer que assim como aquela ponte, eu estaria também em chamas.
Antes mesmo de encostar o fósforo flamejante no trapo inflamável, o mesmo pega fogo, acendendo-se numa chama alta e grossa, pigmentada com laranja vivo e soltando faíscas, aquecendo o meu rosto que ainda estava gélido com o ar da manhã.
De cima da árvore, eu já posso avistar os guerreiros saindo da floresta e aparecendo do outro lado da ponte, vestidos com aqueles trajes de guerra e com os rostos pintados em lindas maquiagens de traços negros, provavelmente um ritual feito antes de batalhas.
Armo o arco e a flecha flamejante, a corda do arco roça nos meus lábios e toca nos meus cílios, meu lábio inferior estava mordido em um gesto involuntário de concentração.
É agora que eu saberei se terei casa para voltar ou não.
E se eu eu errar, bom, é dessa árvore de quase 7 metros que eu vou cair e acabar com o que já deveria ter se encerrado.
Os guerreiros estão cada vez mais próximos, fazendo até as folhas da árvore tremerem com suas canções macabras de guerra.
Só mais um pouco.
Aperto os meus olhos, mirando exatamente naquela lata cheia de hidrazina, pólvora e querosene.
Mais alguns segundos.
Mais alguns passos.
1... eu aponto para a lata.
2...eu puxo a corda cada vez mais, até que o calor da chama rebelde beije as minhas bochechas.
3!
A flecha voa sobre o céu, rasga o ar em toda a sua magnitude e rapidez e apesar do vento, a chama jamais fraqueja ou recua, ela só fica mais vermelha, mais ardente e mais mortífera.
E tudo está em chamas.
O barulho machuca os meus tímpanos, faz os mesmos chiarem, os pedregulhos da velha ponte se espalha e o grande cogumelo de fumaça cinza com a base pigmentante e quente, mancha toda a paisagem com a sua destruição são massacradora.
O brilho do fogo está no reflexo das minha íris e assim como a ponte queima, todas as pontas dos meus dedos queimam, mas parecia mais um feitiço, um ritual, não me machucava, na verdade, me deixava a mostra, cheia de adrenalina e possuída por um sentimento diferente.
O calor da bomba recheia minha pele, faz meus pelos da nuca se arrepiarem e o cheiro forte de hidrazina, querosene e pólvora, corroe minhas narinas e garganta.
Eu havia conseguido.
Pelo menos por enquanto, estávamos vivos.
Eu espero que lá do acampamento estejam orgulhosos de mim.
Espero que eu tenha compensado todos os meus erros brutais e estúpidos dos últimos dias.
Ando mancando de volta ao acampamento, torci o tornozelo gravemente quando eu desci da árvore, não só isso como o meu corpo não parecia colaborar, havia muito mais do que exaustão física ali.
Eu não havia parado de fazer coisas desde que cheguei aqui.
Desde tentar salvar adolescentes sequestrados, esconder uma menina de um sociopata, caçar dia e noite, liderar adolescentes assustados e influenciáveis, ficar doente, ajudar doentes, explodir pontes.
Me pergunto se haverá paz em algum momento, porque agora estamos por conta própria desde a perca de contato com a Arca.
É apenas nós e essa Terra cheia de terrestres territorialistas e explosivos.
E mais ao longe, consigo ver os portões do acampamento e também escutar discussões e gritos, vindos principalmente de vozes masculinas.
Quando eu passo pelo portão aberto dos muros do acampamento, os gritos e discussões cessam, todos estão olhando para mim e tensão é tão tangível que me faz querer vomitar oque eu nem havia comido o dia inteiro.
Pareciam que ainda estavam processando se eu estava mesmo ali, viva e respirando ou se era um surto coletivo.
Então eu ouço assobios, gritos de comemoração, agradecimentos, palmas, meu nome sendo ecoado para além dos muros do acampamento.
Um calor preenche o meu peito e se revira ali, aquece a boca do meu estômago e me faz ficar estática ali em reação aos sorrisos, vários e vários agradecimentos e comemorações.
E ali eu vejo uma gratidão genuína.
Mas eu não entendia porque me viam como heroína.
Eu só estava tentando consertar oque eu havia feito, tentando evitar mais mortes.
Vários jovens se aproximam de mim, animados e aliviados com a nova chance de vida.
Eu só conseguia acenar com a cabeça timidamente e responder: "Por nada, não precisa agradecer..."
Fico na ponta dos pés, tentando ver por cima dos deliquentes juvenis, que ainda se concentravam ao meu redor.
E ao longe, vejo Bellamy, quando percebe que eu o vi, anda rapidamente até mim, em passos apressados, largos e ansiosos.
Ele passa pelos adolescentes, que no mesmo instante, se afastam para dar passagem ao "líder" do acampamento.
Não tenho ideia se isso é medo ou respeito.
A testa de Bellamy está franzida em alívio e ele está sorrindo de orelha a orelha, mostrando seus dentes e nos seus olhos algo brilhante reflete nos meus orgulho, supresa, conforto... E eu consigo ver eu mesma no reflexo das pupilas dilatadas dele.
—Você voltou...—Bellamy solta uma risada nasal, passando as mãos pelos cachos negros.
—Eu disse que ia voltar.—Sibilo, soltando uma risada anasalada.
Eu estava tão preenchida de alívio.
Tão confortável presa naquele olhar.
Sabendo que eu havia conseguido, que eu consegui voltar para cá.
Escuto alguém muito próximo coçar a garganta, quando eu olho 'pro lado, está Ethan, com os braços cruzados acima do peitoral e encarando o Blake de cima a baixo.
Bellamy trava no lugar onde está e eu não consigo evitar se não rir e revirar os olhos com a insinuação de Ethan.
Meu irmão rapidamente se vira para mim e pergunta.
—Todo mundo aqui 'tava num 'chororô porque você acharam que você tinha morrido.—Ele enlaça os tríceps acima do peito me fitando.
—E você não chorou?—Murmuro provocativa, sorrindo de lado.
—Eu sabia que você estava viva.—Ethan desfere um peteleco na minha testa e eu apenas reviro os olhos com a brincadeira.
Ele me abraça fortemente, dando leves tapinhas nas minhas costas, colocando seu queixo acima da minha cabeça.
E quando se afasta, faz uma cara feia e diz.
—Vai se banhar, 'tá fedendo hidrazina, querosene e pólvora...—Ele empurra o meu ombro de leve.
—Que delicado...—Maneio com a cabeça, olhando para a entrada do módulo.—Onde está Cardan?
Vejo Bellamy levar a mão a nuca enquanto pregava o olhar no chão, Ethan limpa a garganta e responde.
—Perdeu bastante sangue, está descansando agora.
Inspiro uma forte lufada de oxigênio, tocando minha própria testa com os meus dedos.
O resto do dia foi repleto de comemorações, festança e o alívio de estar mais um dia vivos nesse lugar.
E foi bom ser abraçada, agradecida e admirada durante todas essas horas.
Mas nenhuma das palavras iria aliviar a torção no meu peito quando a noite, tivemos que enterrar 14 mortos.
Adolescentes, filhos, futuros pais ou mães...
Tudo aquilo porque eu insisti em trazer Murphy de volta para o acampamento.
Mesmo tentando fazer o certo, mesmo querendo fazer diferente, pessoas morreram agonizando por minha causa.
300 terrestres e 22 adolescentes...
Todo o sangue deles estavam nas minhas roupas, nas minhas mãos, no meu rosto, nos meus sonhos.
Mais 14 covas...
14 covas de adolescentes que morreram sem se despedir da família.
14 enterros de futuros roubados pela maldita doença.
Inspiro rispidamente enquanto travava os meus punhos fechados e o meu maxilar, sentindo a luz torpe do sol sumir cada vez mais no horizonte.
O frio da noite começa a agarrar o meu corpo e o silêncio fúnebre e de certa forma respeitoso faz o vislumbre dos meus olhos estilhaçar em cacos de vidros.
Ninguém precisava lamentar em voz alta, os clamores, murmúrios e choros da minha mente gritavam por todos ali.
Não havia ninguém mais culpado ali, se não eu.
Bellamy está estático do meu lado, fitando as novas 14 covas cobertas com terra remexida e molhada, o cheiro terroso ardia nas minhas narinas.
Ele troca o peso do corpo para outra perna e encaixa uma mão na nuca, algo parece ferroar seus olhos e fazê-los sangrar, a tristeza e a carga emocional vazam pelos seus olhos, havia raiva queimando em sua pele ao mesmo tempo, tantos sentimentos que eu jamais imaginaria que ele sentisse.
É de uma intensidade muito maior do que eu poderia sentir alguma vez na minha vida.
Seu olhar penetrante e cortante desliza para o meu, suas pupilas dilatam e faíscas surgem na íris castanha de Bellamy.
Ninguém fala nada.
Não precisamos.
Está confortável assim. Desse jeito.
Eu sei oque ele sente, ele sabe oque eu sinto.
E um olhar basta para que as palavras não sejam necessárias.
Ele inclina o corpo para frente e a minha pele arde, seus olhos parecem estar costurados nos meus e dizem.
"Eu te entendo, não é culpa sua."
E eu costuro meu olhar de volta, dizendo.
"Eu também te entendo, não é culpa sua."
Bellamy molha os lábios, deixa um carinho no meu ombro e um leve toque no ombro de Ethan, caminhando em direção a tenda que compartilhava com a irmã.
Eu espero que ele durma bem.
Dois dias transcorridos sem nenhum sinal dos terrestres.
Mas eu sabia que era uma falsa paz, um falso alívio.
Eles iriam retaliar, mais cedo ou mais tarde.
Voltariam para vingar as 300 mortes naquela ponte, que não restara nada, nem mesmo os ossos para enterrar.
Nessa última madrugada, a falta de sono me permitiu sair de mansinho do acampamento para caçar.
No dia retrasado, cacei duas lebres enormes e uma porca selvagem.
Nessa madrugada, cacei um cervo macho de grande porte, provavelmente um dos alfas grupo.
Eu não havia pregado o olho, estava afiando mais flechas sentada contra um toco de madeira, já era a terceira vez que eu havia cortado meus dedos por falta de atenção.
Tudo me irritava, o jeito desleixado que alguns adolescentes faziam as tarefas, as brincadeiras toscas, o bom humor matinal.
A privação de sono faz isso, sei que isso é mais meu problema.
Mas se alguém me cutucar de novo hoje, eu não sei se vou conseguir manter minha compostura e minha calma.
Sou violentamente arrancada da minha própria mente quando escuto gritos e sinto cheiro forte de fumaça.
Quando caminho abrupta em direção a origem da fumaça, vejo a casa de defumação em chamas.
Toda a comida que eu cacei nos últimos dias foi simplesmente torrada.
Um veado inteiro, que poderia alimentar mais da metade do acampamento, em cinzas.
Minha pálpebra inferior contrai involuntariamente, várias e várias vezes, um sinal claro de que eu estava perdendo a cabeça.
—Bell, oque vamos fazer?! Essa era toda a comida que nós tínhamos!—Octavia lamenta, encarando o irmão no momento desesperador.
Bellamy passa uma das mãos pelo rosto, bufando rispidamente, encarando o monte de cinzas fedidas a nossa frente.
—Quem fez isso?—Indago pausadamente, inspirando oxigênio, meu olhar desliza entre os irmãos Blake, meus irmãos, Murphy e mais um rapaz.
Ethan junta as palmas das mãos e olha para o céu, como se estivesse implorando para que aquilo não estivesse acontecendo.
—Del alimentou demais o fogo, mesmo depois de eu e Octávia dizermos para não jogar mais lenha.—Murphy cruza os braços contra o peitoral e aponta o queixo para o garoto loiro que tinha um pequeno corte na bochecha.
Respiro profundamente, travo o meu maxilar, cerro os meus punhos e olho para o chão.
Eu aguento mais um pouco, eu aguento mais um pouco, eu aguento mais um pouco...
Paro de respirar e me segurar, as palavras de Murphy cortam qualquer fluxo de consciência da parte frontal do meu cérebro.
Minha pele queima de ódio, minha raiva escorre como veneno dos meus lábios e minhas mãos tremem do estresse acumulado, minhas juntas estão brancas de tão forte que eu apertava meus punhos.
Agarro a nuca do rapaz agressivamente e de forma bruta e grotesca, o coloco contra uma árvore, meu antebraço pressionado com força em seu pescoço, meu tato reconhece seu pomo de adão e seu queixo está prensado contra o meu braço.
—Filho da puta! Bastardo!—Grito as palavras em seu rosto, que estava próximo demais do meu , depois de ouvir um grito desesperado de Octávia.—Qual o seu problema, seu idiota?! Vou usar a sua carne de isca para caçar tudo oque você perdeu!—Del não rebate, apenas me olha assustado e depois levanta o olhar aos garotos atrás de mim, como se pedisse ajuda.
Sinto alguém agarrar minha cintura, me puxando para longe do corpo do loiro, mas eu resisto, me debato e esperneio.
—Me solta! Vou fazer ele comer cada pedaço de merda desse lugar! Imbecil! Arrombado! Vou te jogar para os terrestres te jantarem!—Minha raiva é voraz, faminta e pulsa pelas minhas artérias.—Me larga Cardan!—Me debato ainda mais contra o corpo do meu irmão, que apenas ignora o meu pedido.—Vou encher sua cara de tiro seu desgraçado! Ninguém da sua família vai te reconhecer!—Del foge, assustado, em direção a outro canto do acampamento.
Eu não havia queimado 300 terrestres e ficado dois dias em claro caçando para que morrêssemos de fome.
Nem entendo o porque de explodir por algo tão pequeno perto de tudo oque já passamos.
Mas eu simplesmente não consegui não surtar dessa vez.
Algumas horas depois, eu, meus irmãos, Bellamy e Clarke estávamos no segundo nível do módulo, discutindo oque faríamos sem comida aqui.
—Só tem castanhas 'para mais alguns dias.—Clarke avisa, apoiando as costas contra o metal da nave.
—Castanhas não sustentam.—Respondo ríspida e mau-humorada, massageando minha têmpora com os dedos.
—Sobrou alguma coisa?—Cardan questiona, seu olhar passando por todos nós.
—Nada, tudo virou pó.—Bellamy diz e eu bufo rudemente, molhando os lábios.
—Se eu ver aquele idiota na minha frente, eu não respondo por mim.—Murmuro ríspida, afastando a franja do meu rosto com a minha palma.—Vamos caçar, eu monto a equipe e lidero.
—Ninguém vai sair daqui, tem um exército de terrestres lá fora.—Ethan diz, negando com a cabeça e apontando para fora do módulo.
—Ah sim, então vamos logo cavar nossas próprias covas! Já que vamos morrer por conta de um imbecil, demente que queimou toda a nossa comida e tem gente com medo demais de sair!—Eu bufo sem paciência, gesticulando com as mãos.—Não querem uma equipe de caça? Ótimo! Eu faço sozinha.
—Ela tem um ponto.—Cardan argumenta, olhando para nós três no pequeno espaço.—Se ficarmos aqui, vamos morrer de fome sem dúvida alguma, se sairmos e caçarmos, temos chance de viver, mesmo sendo pouca.
—Vamos montar o grupo de caça.—Bellamy diz, convencido, mas ainda relutante.
Eu pego meu arco e a bolsa de flechas do chão, encaixando no meu corpo, mas antes que eu descesse as escotilhas, Ethan segura meu pulso.
—Você fica.—Sibilou.
—Agora eu vi!—Bufo desacreditada, rindo nervosa, colando minha palma na testa.
—Viu mesmo, você não dorme tem dois dias e acabou de surtar com uma coisa pequena, você fica aqui.—Ethan aponta o dedo para mim e gesticula verticalmente em círculos, com uma feição nada satisfeita no rosto.—Além disso, você é a única que consegue ficar mais de 5 minutos em uma conversa com o Murphy, você vai ficar de olho nele.
—Stronzo.—"Cuzão." Sibilo, cruzando os braços e encarando o loiro a minha frente.
—Guarda il rispetto moccio! Chi ti ha insegnato queste cose?!—"Olha o respeito pirralha! Quem te ensinou essas coisas?!" Encaro o mesmo de cima a baixo, como se eu dissesse: "Você."
Com os grupos reunidos no nível térreo do módulo, começamos a organizar os armamentos, separando duas lanças e um rifle para cada grupo.
—Usem as lanças para caçar! Peguem oque conseguirem! Voltem no fim da tarde! Ninguém fica lá fora depois de escurecer!—Bellamy ordena, com um tom autoritário e firme, distribuindo os rifles.
Minha feição mal-humorada não falhou por um segundo, eu estava distribuindo as lanças, afiando as pontas e firmando os cabos.
—'Tá assim só porque não vai caçar hoje?—Bellamy sibila, erguendo uma sobrancelha e levando as mãos a cintura, enquanto eu afiava a ponta de metal de uma lança com uma pedra.
—Modéstia a parte, eu sou a melhor caçadora daqui, consigo trazer comida para todo mundo sozinha.—Murmuro, amarrando meu cabelo num coque desgrenhado, afastando a franja do meu rosto.
—Eu não duvido disso, mas todo mundo merece descanso uma hora...—Bellamy passa a mão pelos cabelos, entregando outro rifle para um trio de adolescentes.—Não vai cair um dedo se você não sair para caçar hoje.—O moreno diz irônico, sorrindo, acentuando suas covinhas nas bochechas e no queixo.
Eu rio de leve, me permitindo livrar-me da tensão que pesava nos meus ombros, dando espaço para o bom humor preencher minha consciência.
—Estamos saindo!—Escuto Ethan gritar de fora do modulo, sinalizando para Bellamy.
—Vão na frente! Estou logo atrás de vocês!—O mais alto responde, mandando outro sinal com o queixo.
Os vários grupos de caça saem do módulo, organizados e separados, três pessoas, uma com o rifle e duas com lanças.
—Se cuida...—Eu tiro uma pequena pequena sujeira que estava na jaqueta dele, sentindo o olhar perfurante dele em mim.
—Não aleija ninguém...—Bellamy sussurra, sorrindo de novo, mostrando os dentes brancos.
—Af, isso eu não consigo fazer, me desculpa!—Eu finjo decepção, revirando os olhos e erguendo as mãos em sinal de rendição.
Oque eu falo faz ele gargalhar, aquela risada gostosa e boa de escutar, que faz você se viciar e querer falar mais coisas engraçadas, só para ver a pessoa rir mais.
A risada dele faz meu coração errar uma batida na minha caixa torácica, faz um sorriso involuntário e grande surgir no meu rosto, tão grande que as minhas bochechas doem.
—Até.—Sussurra sorrindo de canto, virando nos próprios calcanhares e andando em direção aos portões do acampamento.
Ele vira de costas antes de sair e olha para mim, eu faço um sinal de tchau com os dedos, sorrindo de leve.
Algumas horas depois dos grupos saírem para a caça, eu estava sentada perto da fogueira, descascando castanhas e comendo alguns mirtilos, separando alguns que estavam amassados e algumas sementes para oferecer para um ninho de passarinhos aqui perto.
Tudo estava tranquilo, os cortes nos meus dedos estavam levemente cicatrizados e limpos, a dor não era insuportável, era fácil ignorar, minha cabeça já estava posta no lugar depois do surto.
Mas então eu sinto uma presença, escuto passos pesados e hesitantes e alguém senta a minha frente em outro toco de madeira.
Quando olho para frente, reparo nas madeixas escuras e sujas que caiam no seu rosto, além dos enormes olhos azuis, quase transparentes, eram frios, mas como vidro, carregavam vulnerabilidade.
—Oque quer Murphy?—Questiono paciente, mas não interrompendo oque eu estava fazendo.
—Sei lá, ninguém quer chegar muito perto de mim e também ninguém 'tá muito afim de chegar perto de você, depois do seu show então...—Ele diz com aquele tom de humor tóxico, com veneno nos lábios, não tirando os olhos azuis de mim.
Concordo de leve com a cabeça, passando a minha franja para trás da orelha.
—É Murphy, no fim, todo mundo é igual, todo mundo surta quando as coisas passam do ponto...—Eu explico, mas depois reclamo, corto novamente um dos meus dedos, que faz cair sangue de pigmentação negra.
—Foi por isso que me resgatou?
Deslizo o meu olhar sobre ele, inspirando uma forte lufada de ar, depois estalo as juntas dos meus dedos manchados de sangue.
—Te resgatei porque acredito em segundas chances.—Declaro, massageando minha têmpora com o indicador.—Eu gostaria que me dessem uma segunda chance.
Molho os lábios e continuo a falar.
—E porque eu acho, que o peso que você vai carregar pela morte da Charlotte é maior do que qualquer punição que alguém possa te dar...—Sou genuína e gentil com as minhas palavras, tentando trazer o tom de reflexão.—E porque também, eu não acho você uma pessoa ruim ou que tenha culpa do que aconteceu, sei que tem algo bom aí... eu gosto de acreditar nisso.
Murphy trava em sua posição, com os lábios entreabertos, ele parece querer falar algo, mas desiste.
—Eu tenho um coração muito mole, então...—Eu brinco, mesmo sabendo que era verdade.
O garoto ri genuinamente pela primeira vez desde que eu o conheci, o sorriso é meio torto e acentua seu nariz grande.
Eu me levanto do toco, segurando um punhado de pequenas frutas, sementes e castanhas trituradas, guardando minha adaga no cós da calça.
Lanço um aceno de cabeça ao rapaz, que não responde, está olhando para o chão, pensativo.
Depois de me virar de costas e andar alguns passos em direção ao galho que segurava o ninho com filhotes de passarinho, ouço Murphy dizer.
—Obrigado, Kane, de verdade.
Meu coração da um pulo enorme.
John Murphy? Me pedindo desculpas? Me chamando pelo sobrenome? Sem ironia ou provocações?
Eu morri ou o que?
—De nada, Murphy.—Sibilo sorrindo.
A noite havia caído, os que haviam ido em busca de comida mais cedo, já estavam de volta.
Quando caminho em direção ao pessoal e não avisto a cabeleira loira de Clarke, meu coração sai pela boca.
Raven está do meu lado e ao perceber que Finn também não havia voltado junto com Clarke e mais algum garoto, fica aflita, passa as mãos pelos cabelos morenos e suados e foge em direção a sua barraca, tensa com o desaparecimento do namorado.
Bellamy se aproxima, eu ajeito minha postura, mas ele passa reto por mim, me dando apenas um "oi" bem rápido, seguindo Raven para dentro da tenda da garota.
Meu peito torce e minha boca seca, não consigo conter meus lábios de entreabrirem nem o sentimento de insatisfação crescendo no meu âmago, era meio decepcionante.
Claro que eu entendia o porque todo mundo babava em cima de Raven.
Nunca tive inveja disso, sempre admirei.
Ela era inteligente, tinha senso de humor, a primeira em tudo, uma aparência simplesmente invejável por todos, tinha atitude, atraia olhares por onde andava, acho que o sonho de qualquer pessoa.
Hoje é a primeira vez que eu gostaria de estar nos sapatos dela.
Mas não é a primeira vez que me sinto insatisfeita com o meu próprio ser.
E eu conhecia esse sentimento, sentia sempre que via todo mundo babando em cima de Clarke na estação Phoenix.
É uma insatisfação que eu não posso mudar.
—Disfarça um pouco, 'tá tipo, muito na cara.—Murphy cutuca meu bíceps e eu reviro as íris.
Eu sabia que toda aquela gentileza e simpatia não ia durar muito tempo.
—Voltamos a estaca zero.—Eu murmuro levantando a sobrancelha, girando nos meus próprios calcanhares e encarando o garoto não tão mais alto que eu a minha frente.
—Não sabia que era ciumenta, Kane.—O garoto usa aquele mesmo sorriso provocante e irritante de sempre.
—Ciúmes? Com certeza, não tem nem de quem eu sentir ciúmes aqui.—Rebato irônica, cruzando os braços acima do peito e encarando as orbes azuis de Murphy.
—E ainda mente muito mal, puta que pariu!—Ele gargalha e eu empurro seu ombro com a minha mão, rindo também, cedendo as suas provocações infantis.
—Estou seriamente cogitando em te devolver para os terrestres...—Digo com sarcasmo, não tirando os olhos dele, levando uma mão a minha testa.
—Mancada, não sabe nem brincar...—Ele diz e eu gargalho mais ainda, cobrindo minha boca com a minha palma.
Mesmo rindo e fingindo que não, a sensação de incômodo e decepção no meu âmago continua residindo ali, pulsante, martelando meus sentimentos e o meu coração de cristal.
E esse é o problema nos olhares que eu roubo de Bellamy.
Ficam para mim, me rodeando, contam a verdade na hora, mas depois todas as lembranças distorcem e contam mentiras para mim.
E eu sei que esse problema não está em Bellamy, está em mim.
Tenho que esquecer isso, deixar de lado, ignorar.
Há coisas mais importantes do que os sentimentos de uma tola de 17 anos.
Eu nem ao menos deveria me importar.
São só olhares.
Não passa disso.
Mais tarde, na penumbra da noite, quando estava me preparando para deitar, eu vejo Monty, Raven e Ethan conversando atrás do módulo numa parte isolada do acampamento.
Me aproximo por trás de Monty, deixando um leve aperto no ombro do rapaz, que apenas olha de canto e lança um sorrisinho gentil.
—Oque está havendo?—Indago, cruzando os braços acima do peito.
Os três se olham e Ethan responde.
—Clarke e Finn não voltaram até agora.
Raven bufa frustrada, atraindo os olhares do grupo para ela.
—Que surpresa...—Murmura irritadiça, travando o maxilar, provavelmente estava pensando que seu namorado e Clarke estavam juntos, de novo.
—Eles estavam com outro rapaz.—Monty corrige, tirando a ideia da cabeça da morena.—Myles também não voltou.
Agora Raven parece preocupada, seu cenho franze e seus lábios comprimem.
—Vamos atrás deles.—Ethan diz com autoridade.
—Agora? Não podemos ir agora! Está um breu lá fora!—Eu exclamo, olhando para meu irmão, cheia de dúvida.
—Você não vai.—O loiro diz e eu reviro os olhos.
—De novo isso? Qual sua desculpa agora?
—Não há desculpa, não precisamos de muita gente na busca, eles não devem estar tão longe, você vai ficar.—Meu irmão explica e eu bufo impaciente.
—Sono anche miei amici!—"São meus amigos também!"Argumento impaciente.
—Non discuterò con te.—"Não vou discutir com você."Ethan apenas ignora a minha fala.
Depois de alguns minutos, após Ethan debater a ideia com Bellamy, Octávia, Raven, Monty, Ethan e Bellamy estavam no portão do acampamento, se preparando para ir a procura dos jovens desaparecidos.
—Fica de olho no Murphy.—Raven lança uma piscadela para mim e eu reviro os olhos.
—De melhor caçadora e rastreadora para babá de marmanjo...—Murmuro impaciente, encarando o grupo parado a minha fronte.
—Põe as coisas na reta e se a gente sumir, não mande ninguém atrás de nós.—Bellamy ordena.
—Vai nessa.—Respondo encarando o mais velho de cima a baixo com uma cara fechada.
—Se cuida, princesa.—Ele parece ignorar meu mau humor e bagunça os meus cabelos, afagando minha cabeça.
—Se cuidem, tragam as três donzelas de volta.—Murmuro entre dentes, encarando os meus amigos.
—Sim senhora, senhora.—Monty finge um tom de obediência, lançando um sorriso para mim.
Quando eles partem em direção daquela escuridão sem fim, eu fecho o portão e faço uma oração silenciosa para que todos voltem bem.
Pelo visto, minhas preces não foram atendidas, muito menos escutadas.
Quando o grupo voltou, carregando Myles gravemente ferido, eu percebo a ausência de Monty e Finn e Clarke não foram encontrados, mesmo depois das longas horas de busca árdua.
—Levem ele para o módulo.—Eu digo, suando frio ao ver o estado do garoto tão novo.
Ethan e Bellamy não hesitam em fazer o que peço, andando em direção a nave, carregando o corpo do jovem.
Olho para Raven e Octávia, como se perguntasse sobre os outros, elas apenas acenam com a cabeça, dizendo silenciosamente que não foram encontrados.
—Me ajude com Myles, Octávia.—Peço, olhando para a morena de olhos claros a minha frente, que rapidamente assente.
Clarke, a única "médica" não estava, então eu e Octávia tínhamos que nos virar para salvar o garoto de uma possível infecção apenas com o que nós aprendemos ao ver Clarke curando Jasper e Finn.
Dentro do módulo, eu analiso o ferimento na perna do garoto, percebendo o quão fundo a flecha cravou em sua coxa.
—Traz água e panos molhados.—Sibilo a Octávia, pondo a mão na testa do garoto, verificando sua temperatura, que estava estável.
O garoto estava tenso, respirando ofegante e suando frio, gemendo levemente de dor.
Ele estava nervoso demais, talvez precisava conversar para se distrair da dor exorbitante em seu membro.
—Seu nome é Myles, certo?—Pergunto gentil, dando um aceno de cabeça a Octávia, que me entregou um trapo junto de um pote de água limpa.
—Uhum...—Ele responde rapidamente, apertando o metal da "maca" com força, fazendo as juntas de seus dedos ficarem brancas.
—Relaxa os músculos, vai doer menos.—Minha voz sai tranquila, livre de qualquer tensão, mesmo que as minhas mãos estivessem trêmulas.—Quantos anos tem?—Indago novamente, tentando tirar a atenção dele da situação desesperadora.
—Fiz quinze no mês passado...—Minhas mãos travam quando eu escuto sua resposta.
Ele era mais novo que eu.
Não tanto, mas ainda era.
Se me sinto despreparada, vulnerável e sozinha agora, com os meus irmãos, eu imagino como ele deve se sentir.
—Bom, eu tenho dezessete...—Continuo o assunto, molhando os lábios e limpando a pele ao redor do ferimento com cuidado para não causar mais dor, o sangue escarlate manchando o trapo cinza.
Octávia apenas observava tudo com cautela, esperando o meu próximo pedido.
A flecha ainda estava ali, cravada profundamente em sua coxa, eu respiro fundo, pensando em alguma forma de tirar aquilo dali.
—Octávia, verifica se tem mais alga no reservatório?—Eu peço com calma, me referindo as algas que Clarke encontrou junto de Finn e Wells quando precisavam curar Jasper.
Quando toco na flecha, ele respira mais rápido, nervoso, assustado, com medo.
Percebendo sua aflição eu afirmo.
—Não se preocupe, não sou a Clarke, mas vou conseguir te deixar vivo...—Eu prendi o meu cabelo num coque desajeitado, colocando minha franja para trás das orelhas.
Analiso o ferimento, eu poderia quebrar a ponta da flecha, deixando só a parte de ferro ali, cortar um pouco mais de pele para a garra não enroscar e tirar com rapidez.
Era isso que eu ia fazer.
Tenho curso de medicina? Não, mas eu aprendo olhando.
E isso não pode ficar muito tempo aqui, pode haver veneno na ponta.
Octávia chega com um punhado de algas e um copo de chá feito das mesmas.
—Serve o chá para ele e me passa alguma adaga.—Eu peço, esterilizando minhas mãos com álcool que havia estocado na nave.
—Valerie, tem certeza que consegue? Não quer esperar encontrarmos a Clarke?—A morena pergunta, me dando uma pequena adaga, que eu também esterilizo e sentando na "maca" colocando a cabeça de Myles em seu colo para servir o chá analgésico.
—Algo me diz que ela não vai voltar tão cedo.—Eu murmuro, sentindo minhas mãos trêmulas.—Acho que dou conta, não deve ser difícil.
Espero alguns minutos até Myles terminar de tomar o chá, respiro fundo e seguro a estrutura da flecha com firmeza, quando tento quebrar, Myles começa a gritar, mas Octávia faz um rolo de trapo e o dá para morder.
Finalmente eu quebro, deixando apenas a ponta de metal cravada em sua pele, o garoto tenta se remexer na maca mas Octávia o segura.
Eu estava suando frio, respirando ofegante, aquele sangue vermelho pesava nas minhas mãos.
Eu nunca tive fobia de sangue.
Mas esse parece fazer minha pele pinicar.
Ignoro a sensação, limpo minha testa do suor mas sujo-q ainda mais com o sangue.
—Se você ficar parado, vou conseguir acabar rápido.—Eu afirmo, olhando para o rosto do garoto de olhos claros, ele apenas fecha os olhos, se preparando para o pior.
Com a faca contra a pele da perna do rapaz, o sangue começa a escorrer, faço duas incisões de cada lado da ponta da flecha, depois, largo a faca hesitante.
Myles não havia parado um minuto de segurar-se no metal, deixando suas mãos roxas.
Com os meus dedos em forma de pinça, eu retiro a ponta de ferro do músculo, sentindo a textura quente e pegajosa da pele aberta.
Jogo a lâmina em qualquer lugar, depois limpo o sangue com um pano úmido e então, o ferimento não parece tão feio quando antes.
—Deu certo...—Eu murmuro, limpando o suor da minha testa, apoiando meus cotovelos na mesa.
Depois de cobrir a região com a alga e enfaixar com um pedaço de trapo limpo, eu lavo minhas mãos no álcool, ainda me sentindo meio tonta com oque eu havia acabado de fazer.
—Como ele está?—Ouço a voz de Ethan, indiferente e tranquila, talvez estivesse perguntando mais por curiosidade do que preocupação.
—Vai sobreviver.—Murmuro, afastando novamente os cabelos do rosto, depois colocando as mãos nos quadris, olhando para o loiro a minha frente.
Depois de várias horas e de me recompor e lavar as minhas mãos, eu comecei a auxiliar o pessoal na preparação do terreno e na instalação de minas, já que uma hora ou outra, nós sabíamos que os terrestres viriam retaliar oque eu fiz na ponte.
Eu ajeitava a mina na terra com cuidado, ativando-a e cobrindo com terra, seguindo todas as instruções que a Raven me dera.
—É melhor essas minas funcionarem.—Escuto a voz do meu irmão bem perto, junto de Bellamy e Cardan.
—Poderíamos ter feito granadas com a pólvora.—Bellamy lança outra reclamação.
—Juro por Deus, se eu escutar mais uma reclamação eu enfio uma mina na boca de cada um e puxo pela bunda.—Cuspo venenosa, batendo as palmas uma na outra, limpando a terra molhada, os três apenas riem com o comentário, me encarando presunçosos.
—Você é uma fofa.—Cardan mete um peteleco no meu ombro.
—Aguentei demais e ainda fui simpática, agradeçam.—Molho os lábios, me levantando da minha posição, ficando ao lado dos três.
Após andar alguns metros ao lado deles, procurando alguém que estivesse precisando de ajuda na instalação, escuto Bellamy dizer.
—Vamos concluir isso até amanhã, depois vamos ir para o campo sul!
Meu cenho se franze em confusão com as suas palavras, até porque além disso, meus irmãos agiram tranquilamente, como se já soubessem disso.
—Vocês disseram que iríamos atrás de Monty, Clarke e Finn amanhã.
—Mudança de planos, ninguém vai sair do acampamento.—Ethan fala e eles me encaram ao mesmo tempo, amo e odeio essa sincronia em certas horas.
Inspiro profundamente, juntando paciência e calma para não levantar o tom de voz.
—Não podem simplesmente deixar eles para trás, precisamos deles, sabem que eles podem estar sendo torturados!—Eu entro na frente deles quando começam a andar, tentando evitar a minha conversa.—Não finjam que não estão escutando!—Esbravejo, lançando um olhar nada satisfeito.
Os três parecem parar para me escutar e eu digo.
—Se quiserem respeito e liderança de verdade, precisam mostra que se importam.—A minha frente, carregam faces concentradas nas minhas palavras.—Principalmente você, Bellamy, você é o que eles mais escutam.
Coloco meu indicador contra o seu peito, ele parece afetado com as minhas palavras.
É uma afronta direta aos três, mas principalmente a Bellamy, uma forma de abalar o ego deles, que eu sabia que uma hora iria funcionar.
Mas o barulho alto e exorbitante de um tiro ecoa pelos ares, nos deixando em estado imediato de alerta, nós corremos rapidamente em direção ao tiro, dispostos a enfrentar e encarar o que quer que esteja acontecendo.
Quando chegamos no local, descobrimos que fora apenas um jovem que havia dormido durante a vigília e sem querer apertou no gatilho, isso acalma o coração que batia estabanado no meu peito.
Mas Bellamy parece se estressar ainda mais, provavelmente pensou nas consequências enormes e irreversíveis que essa bala perdida poderia ter causado.
O mesmo avança em direção ao rapaz, em passos firmes e cheios de autoridade, sabia que aquilo não ia ser bom.
—Oque diabos deu em você?!—Bellamy esbraveja furioso, pronto para socar a cara do indivíduo.
E o rapaz, ainda com a face sonolenta e letárgica, responde o mesmo assustado, com a voz trêmula.
—Foi mal aí cara! Caí no sono! Passei o dia todo na vigília!—Bellamy o interrompe, agarrando a gola do casaco do garoto, gritando contra o rosto do mesmo, tudo aquilo fazia a tensão que pairava pesar mais e os olhares dos adolescentes que trabalhavam focarem cada vez mais no que acontecia.
—Todos passamos o dia todo na vigília!—Suas íris não hesitavam em demonstrar a raiva bruta e impulsiva que continha dentro de si.—Aquela bala perdida é menos um terrestre morto e mais um dos nossos morto!—Bellamy aponta com o indicador aonde a bala atingia, seu timbre cheio de raiva fugaz.
—Bellamy, está assustando todo mundo.—Murmuro, me aproximando dele, encarando o
mais alto com seriedade profunda.
—Eles tem que se assustar!—O moreno me responde elevando o tom, com a voz preenchida por aflição.—A explosão na ponte nos deu um tempo para nos prepararmos, mas esse tempo acabou! Os terrestres estão na espreita, prontos para caçar cada um de nós!
Os estresse gerado pela situação faz as faces dos adolescentes se preencherem de preocupação e constrangimento, ninguém tinha coragem de retrucar, porque sabia que era verdade.
—Clarke, Finn e Monty se foram.—Continua, exclamando para todos presentes ali escutarem suas palavras verdadeiras e cruas.—Provavelmente estão mortos! E se querem ser os próximos, não posso segurar ninguém! Mas nenhuma arma sai desse campo! Esse lugar, é a única coisa que nos manteve vivos desde que pousamos aqui!—Mais silêncio palpável preenche a atmosfera de cheiro terroso e lamacento.
—Voltem ao trabalho!—Cardan declarou e eu me aproximo do rapaz que estava apoiado contra a árvore, ainda assustado com a atitude repentina e cheia de ira de Bellamy.
Pego a arma das mãos trêmulas dele com calma, antes de lançar um olhar reconfortante ao mesmo e dizer.
—Sei que está cansado, tudo bem, eu encontro alguém para ficar no seu posto.—Eu deixo um leve aperto no ombro do rapaz, que me encara com uma certa gratidão.—Vai lá, lava o rosto, coma umas frutas, se hidrata e descansa um pouco, volta daqui meia hora.—Digo com firmeza, mas também sou gentil com o rapaz, mesmo sem dar espaço para o mesmo discordar da minha autoridade.
O rapaz de madeixas castanhas me agradece de imediato e caminha em direção ao módulo.
Quando me viro em direção aos meus irmãos e Bellamy, os três estão me encarando, com o mesmo olhar.
—Você é muito mole.—Ethan revira os olhos desdenhosos e eu bufo.
—Sou empática, já ouviu falar?—Cruzo os braços acima do peito, lançando uma provocação ao mais velho.
—Para quem você pediu permissão para liberar ele?—Cardan ressalta, arqueando uma das sobrancelhas.
—Nem preciso pedir, vocês fazem oque eu quero.—Encaro os meus irmãos, com um sorriso ladino, sabendo que era verdade.
—E o Bellamy?—Ethan indaga e eu sorriso, porque eu tinha uma resposta perfeita na ponta da língua.
—É só você pedir, ele faz tudo o que você quer, já que sei lá, vocês são o maior casal homoafetivo desse acampamento.—Sorrio provocante, molhando os lábios, quando olho de rabo de olho, Cardan está com as bochechas inchadas, segurando a risada com algumas lágrimas nos olhos, mas então ele cede e começa a gargalhar como raramente eu o via fazer.
Os dois me encaram com os lábios entreabertos, em choque com as minhas palavras, perplexos e paralisados, como se não acreditassem no que acabaram de ouvir.
Não havia constrangimento em suas feições, só algo como surpresa com o jeito natural que eu havia falado aquilo, mesmo eu sabendo que era mais fácil Ethan arrancar o próprio braço do que os dois se enxergarem dessa forma.
—Como você é engraçada!—Ethan sibila revirando os olhos, arrancando o meu prendedor de cabelo da minha trança, tentando me provocar.
—Eu sou a rainha da comédia!—Dou de ombros rindo.
Eu entrego a arma nas mãos de Ethan falo:
—Dico con te, fratello!—"É com você, irmão!"
Mais tarde, no segundo nível do módulo, após verificar os estado da perna de Myles, eu estava junto de Jasper, tentando ajudá-lo com o manuseio da pólvora e também com o seu ânimo, já que seu amigo também estava desaparecido.
Não vou negar que também estou furiosa com meus irmãos e Bellamy, eles simplesmente recusaram-se a procurar, eu me sentia cheia de decepção e vulnerabilidade, me sentia inútil por não conseguir resgatar meus amigos.
Me sentia frustrada também, porque os três estavam agindo que nem idiotas, eu sabia que os três desaparecidos seriam os primeiros a irem atrás deles se os mesmo desaparecessem, mas isso não parece ser recíproco.
—Vou pegar algo lá em baixo, já volto.—Jasper avisa e eu lanço um sorriso leve, mostrando que eu o havia escutado.
Depois de alguns segundos que Jasper desceu pela escotilha, consigo escutar vozes acaloradas no nível de baixo e demoro um tempo para perceber que pertenciam a Murphy e Jasper.
Algo não estava certo, Murphy não deveria estar aqui dentro, Bellamy havia proibido-o de entrar no módulo sem supervisão.
Abro a escotilha cautelosamente, olhando para o nível inferior, tendo a visão de Murphy mirando em Jasper com um rifle.
Deslizando meu olhar para o lado, vejo Myles, com uma sacola de plástico embaçada em volta de sua cabeça, estático, morto.
Que merda!
Mais uma pessoa morta porque eu insisti para que Murphy ficasse.
Mais uma morte pela qual sou responsável.
Porque eu deixei quem não deveria viver, estar vivo.
No fim, ele nunca mudou, só queria vingança e está disposto a fazer tudo por ela.
—Você sabe oque vai acontecer comigo se contar a Bellamy.—Murphy diz e isso confirma todos os meus pensamentos.
Jasper estava de pé, aflito, com um olhar desesperado e cheio de pavor, com as mãos trêmulas e levantadas na altura dos olhos, estático no lugar.
Sinto meu coração sair pela boca e as pontas dos meus dedos formigando, além do suor frio e a falta de ar diante da situação tão desesperadora e terrorista.
—Contar o que para Bellamy?—A voz do citado ecoa pelo rádio que estava no bolso de Jasper e a minha respiração se prende em meus pulmões.
Os olhos de Murphy se arregalam ao ouvir a voz tão familiar e tão temida, novamente ele aponta a arma para Jasper.
—Jasper, me dê o rádio.—Seu tom é autoritário, mas sua voz estava trêmula, dava para ver o quanto a arma pesava contra os seus braços.
Jasper pega o rádio lentamente, sem presença de movimentos bruscos ou impulsivos, tentando não levar um tiro.
Rapidamente ele leva o rádio a boca e fala as palavras tão rápidas que eu mal consigo entender.
—Murphy está armado! Acabou de matar...—O garoto nem ao menos termina de falar e Murphy o ataca com o cano da arma, fazendo Jasper cair contra o chão de metal gélido da nave.
—Murphy! O que está fazendo?!—Bellamy questiona, mas o garoto apenas o ignora e puxa a alavanca, nos trancando dentro do módulo.
Minha garganta se fecha em pura angústia e minha boca fica seca.
Não consigo evitar o sentimento de impotência crescendo na boca do meu estômago quando eu percebo oque pode ou não acontecer aqui.
Eu não podia deixar Murphy machucar Jasper.
Um suspiro desesperado escapa dos meus lábios quando eu vejo a presilha de cabelo de Caroline que eu havia encontrado nas ruínas da nave Exodus, cair do meu bolso, indo direto para o segundo nível e fazendo um barulho considerável.
Tapo minha boca com a mão, saindo do campo de visão de Murphy, enquanto meu coração batia descompassado no meu peito e meus olhos insistiam em soltar lágrimas de pavor, fecho os meus olhos com tanta força que poderiam colar.
—Quem está aí! Desça agora! Ou eu atiro na perna dele!—Não dou resposta, engulo em seco, tentando respirar enquanto minhas costas estavam coladas no chão gelado e fedido da máquina.—Tem três segundos!
Respiro fundo e antes que o mesmo contasse o número três, eu desço as escotilhas lentamente.
Jasper me encara apavorado, com os lábios entreabertos e os olhos carregados de água, como se eu tivesse feito a maior burrada da minha vida.
E eu acho que eu fiz.
—Se tentar ser o herói, Jasper e sua vadiazinha morrem.—Murphy anuncia com os lábios colados no rádio e meu estômago embrulha.
Eu sabia que ficaria longas horas ali, então eu me sento, colocando uma mão contra o meu peito, sentindo uma dor crescente ali.
Os dois me encaram perplexos com a minha rendição tão fácil e eu só reviro os olhos e digo.
—O que é um peido para quem já 'tá cagado né?—Resmungo, pendendo a minha cabeça para trás, encarando Murphy com desprezo.—Minhas pernas doem, não vou ficar de pé.
—Tem o rosto de um anjo e a boca mais suja que um pedaço de merda, incrível.—Murphy solta uma risada, encarando-me com o seu olhar presunçoso e arrogante de sempre.
—Posso ser o que for, mas não sou ingrata.—Cuspo, encarando o garoto de cima a baixo, numa tentação de intimida-lo.
Murphy bufa e revira os olhos, ainda com a arma apontada para a minha cabeça, que faz a minha nuca arrepiar.
—Não 'tava afim de te machucar, Valerie, você é a menos pior daqui...—Ele parece ser genuíno com as palavras.
—Enfia no cu e gira, eu não ligo, você tá com um rifle colado na minha testa agora, infeliz.—Murmuro me deitando de lado, encarando ele com o meu olhar fuzilante.—'Tá com um cagaço de levar uma paulada do Bellamy porque a gente te pegou com a boca na botija.
O mesmo me encara confuso com a atitude desafiadora, coça o rosto e apenas ignora as minhas palavras.
Não tenho ideia de quantas horas haviam se passado desde que Murphy encarcerou a gente nesse lugar apodrecido, provavelmente, o Sol já havia nascido.
Eu e Jasper estávamos amordaçados e com os pulsos amarrados, provavelmente, por que Murphy percebeu que quando eu quero, consigo ser mais irritante que ele, por isso resolveu me calar.
Meus olhos viajam até a figura de Murphy quando eu escuto um ruído vir do rádio na mão do rapaz, que não havia largado a arma um minuto sequer.
—Murphy, eu sei que pode me ouvir.—Meu coração erra uma batida quando ouço sua voz autoritária chegar aos meus ouvidos.
Levo meus olhos a Jasper, verificando silenciosamente o seu estado, ele ainda estava assustado e aterrorizado, comprimido em um canto da nave.
—Toda a comida e munição estão no nível médio, estamos vulneráveis a um ataque, não posso permitir isso.—Bellamy continua falar e eu engulo em seco, fechando os meus olhos fortemente por conta do cansaço.
—Não sei se você notou, mas não está no comando, Bellamy.—Murphy desdenha, cheio de deboche e desafio em seu timbre, disposto a tirar Bellamy do sério.
—Vamos lá, Murphy! Sei que você não quer machucar o Jasper e muito menos a Valerie.—Franzi o cenho com a fala do mais velho saindo pelo auto falante do rádio.—Você quer a mim.
Nem fodendo que ele vai fazer uma coisa dessas.
Ele não é tão louco assim.
Meu coração fica inquieto novamente, minhas mãos voltam a tremer e eu começo a me mexer angustiada contra o chão.
Eu sabia muito bem do ódio de Murphy por Bellamy.
Sabia que era ardente e vivo e que ele não hesitaria se tivesse a oportunidade de por as mãos nele.
Eu nem ao menos consigo imaginar as coisas que ele faria se fosse Bellamy em meu lugar.
Se bem que ele não tem lá muita criatividade, provavelmente tenho muito mais ideias de como torturar alguém do que ele.
Mas isso não melhore muito a situação.
—Oque me diz? Quer trocá-los por mim?—Mais uma pergunta de Bellamy, que estilhaça o meu coração em mim pedaços.
Eu me remexo inquieta no lugar, murmurando coisas ininteligíveis por debaixo do trapo sujo, eu sabia que seria inútil tentar qualquer coisa com essa mordaça.
Antes que eu pudesse me mover, Murphy desfere um chute contra a minha têmpora, sinto o sangue quente escorrer pelo meu rosto e a minha visão embaçar, além de escutar Jasper murmurar de forma distante.
—Como?—Escuto sua voz, mas parecia tão fraca, eu tenho que ter um esforço absurdo para me recompor.
—Abre a escotilha, eu entro, eles saem.—Bellamy explica e eu nego com a cabeça, mais lágrimas quentes desciam pelo meu rosto e se misturavam com o sangue, faziam os fios de cabelos grudarem na minha testa.
—Só um vai sair.—Murphy murmura contra o rádio, abre a escotilha e pisa em uma das minhas mãos, me impedindo de me mover.
Ele agarra Jasper pela gola da jaqueta e o empurra para fora.
—Sozinho Bellamy! Sem armas!—Ele não tira Jasper da mira do rifle.—Dez segundos ou eu atiro na perna dele!—Murphy não para de pisar na minha mão por um segundo e consigo sentir latejar.
Quando ele entra dentro do módulo, com as mãos levantadas e a face afundada em preocupação, seus olhos castanhos encontram os meus, meu coração queima, sabendo que eu não deveria ter esperança de que algo melhoraria.
Murphy puxa a alavanca novamente e a porta enorme da nave se fecha, suspiro profundamente olhando para o chão, perdida e afogada em um mar de angústia e tortura.
O garoto aponta o rifle para Bellamy e depois aponta com o queixo para os cintos de couro laranjas arrancados dos bancos da nave.
—Amarre!—Murphy ordena e Bellamy franze o cenho, tenta andar em direção a Murphy, mas ele aponta o rifle em minha direção.
Ele aperta o dedo no gatilho e eu aceito o meu destino.
Mas o tiro pegou de raspão na minha bochecha, o meu sangue escorre pelo rosto e desce pelo pescoço, enquanto eu chorava em pura agonia, aterrorizada pela experiência de quase morte e a dor exorbitante no lado esquerdo do meu rosto.
—Quer sua namorada com o rostinho bonito? Amarre.
Meu olhar estava no de Bellamy, uma implicância silenciosa para que ele não fizesse o que Murphy pedia, sabendo que não seria algo bom, mas ele não entende meu olhar e segura o pedaço de couro laranja vivo por entre os dedos.
Mas antes que começasse, o voz de Octávia surge do rádio no bolso de Murphy, perguntando desesperadamente pelo estado do irmão mais velho, consigo ouvir também as vozes de Ethan e Cardan, cheias de fúria contida e uma raiva imensurável.
—Quer que saiba que estão vivos? Comece a amarrar, agora!—Murphy repete e eu tensiono o maxilar, me contorcendo com as mãos e calcanhares amarrados tão fortemente.
Ele percebe a minha inquietação e se ajoelha a minha frente, deixando nossos rostos à centímetros de distância, seu hálito acaricia minhas bochechas e ele aperta meu queixo entre seus dedos.
—Fica calminha, se ele obedecer, garanto que sai viva daqui, princesinha.—Murphy provoca, apertando ainda mais agora as minhas bochechas, fazendo meu rosto todo doer, enquanto eu me sentia oprimida, assediada e indefesa.
Não penso duas vezes antes de com as minhas duas mãos atadas, agarrar os cabelos sujos e enosados dele, usando toda a minha força para bater a cabeça dele contra o chão repetidas vezes.
Consigo fazer isso até ver sangue escorrer pelos cabelos, Murphy consegue recuperar a força e desfere um soco forte em meu rosto, fazendo o mundo todo a minha volta girar e eu começar a sentir um gosto metálico preencher a minha boca.
—Não!—Bellamy grita, sua voz rasga sua garganta e também preenche meu coração de dor, e tenta se aproximar de nós dois, mas Murphy rapidamente recupera o rifle do chão e aponta novamente para ele.
Caio com as costas contra o chão, ecoando um barulho nada agradável, Murphy chuta a minha lombar, me fazendo encolher ainda mais.
Ele puxa meus cabelos, erguendo o meu rosto, forçando-me a olhar para ele.
—Quando eu matar seu cachorro, vou te educar.—Eu queria não entender a mensagem subliminar por trás das palavras tão carregadas de maldade.
—Larga ela Murphy!—Bellamy grita cheio de raiva, chamando a atenção do rapaz para ele, em seus olhos havia ódio incendiando em suas pupilas e seu maxilar estava tensionado.—Eu juro, vou te encher de porrada que nem Deus vai saber quem você é.
—Eu estou com a arma aqui, Bellamy.—Murphy aperta ainda mais o cano da arma contra a minha testa.
Novamente, a voz de Octávia ecoa pelo rádio, mais uma pergunta carregada de preocupação e ansiedade.
Bellamy encara Murphy, suplicando para que ele o deixasse dar uma resposta a irmã.
Murphy aperta um botão do rádio, esperando Bellamy responder.
—Estou bem, foi apenas um acidente.—Bellamy bufa e eu vejo uma gota de suor escorrer da sua testa.—Parem de se preocupar comigo e voltem ao trabalho!
—Murphy! Seu merda! Solte a minha irmã ou eu faço você desejar estar morto!—Ouço a voz de Ethan rosnar pelo rádio.
O rapaz apenas ignora, guarda o rádio no bolso da calça, bufando com desdém.
Abro os olhos em sobressalto quando eu vejo a porta fechada do módulo ser amassada pelo lado de fora, formando irregularidades no relevo de metal, junto de barulhos estridentes.
—'Tá vendo o que Cardan 'tá fazendo com a porta? Ele vai fazer pior em você se não soltar ela.—A voz do meu irmão volta a ressoar pelo rádio.
Murphy aperta um botão do rádio e diz olhando para Bellamy, ainda com a ponta da arma colada na minha cabeça.
—Fala para os seus cachorros ficarem quietos ou eu vou encher a fuça da vadia de tiro.—Eu encaro Bellamy como uma súplica, havia um bolo formado e preso em minha garganta, me impedindo de fazer qualquer outra coisa.
Então esse é o medo da morte?
Não da minha morte.
Mas da morte dele.
De Bellamy.
Murphy solta o botão do rádio, um sinal não verbal de que Bellamy poderia falar.
—Ethan, Murphy está armado, mirando em Valerie, volte ao trabalho, eu dou um jeito aqui.—Ethan parece não escutar e eu ouço os gritos de fúria dele pelo rádio.—Por favor, Ethan!—O desespero na voz de Bellamy é tangível.
Dessa vez, Ethan parece escutar, porque os socos na porta cessam e os gritos também.
Agora, apenas silêncio vem do rádio.
—Bellamy...—Ouço a voz de Cardan agora fraquejando e ofegante pelo rádio.—Por favor, não deixe...
—Não vou.—Bellamy responde sem nem esperar ele terminar de falar, olhando diretamente para mim, como uma promessa de que eu estaria protegida, faíscas pulavam pelos seus olhos e queimavam as minhas bochechas.
Murphy solta o botão e coloca o rádio de volta no bolso.
—Não vou repetir de novo, comece a amarrar.—Rosnou implacável, seus olhos estavam em chamas de vingança.
Bellamy faz rapidamente, passando o a corda laranja por entre os dedos, fazendo o nó de forca.
Murphy aponta com o queixo para o teto, sinalizando o próximo passo e Bellamy não demora a fazer, seu olhar ainda focado em mim, como se estivesse pedindo desculpas com as pupilas e tentando me tranquilizar com o brilho do seu olhar, que eu sabia que se demorasse muito, não existiria mais brilho residindo em suas íris.
A esse ponto eu já sabia o que ele estava planejando.
Ele queria que Bellamy sofresse da mesma forma que ele.
Queria chutar o banco assim como Bellamy chutou.
Ceifar a vida dele do jeito que Bellamy quase fez.
Pagar sangue com sangue.
—Oque você quer que eu diga?—Bellamy questiona, engolido o orgulho de forma seca, sua voz estava embargada e trêmula, Murphy apenas sorri sadicamente quando percebe a fraqueza de Bellamy.—Quer que eu me desculpe? Eu...—A postura dele cai novamente.
—Eu sinto muito.—diz, denotando toda a sua culpa, remorso e arrependimento, sua voz vacila junta com a sua postura.
Murphy revira os olhos e sorri, como se tudo aquilo fosse uma brincadeira, ele arqueia uma sobrancelha e aperta a ponta do rifle contra a minha testa, fazendo minha cabeça pender para trás.
—Você não entendeu, Bellamy.—Solta uma gargalhada, depois ergue a cabeça novamente, encarando Bellamy com sangue nos olhos.—Eu não quero que você diga nada! Eu quero que você sinta o que eu senti e depois, quero que você morra.—O sorriso não escapa dos lábios dele.—Quero que a cadela assista tudo, sem conseguir fazer nada.
—É isso o que eu quero.—Ele conclui pausadamente, não vacilando em sua postura.
Bellamy suspira fundo, me encarando com pesar e culpa.
Mas na verdade, a culpa era toda minha.
Eu que havia salvado ele, duas vezes.
Mesmo tentando fazer melhor, mesmo tentando não matar ninguém, parece que tudo oque eu faço só piora.
E agora, estamos em risco por que eu banquei a salvadora, mesmo sabendo do que ele era capaz de fazer.
Eu sinto muito Bellamy.
Eu não esperava que chegasse a esse ponto.
—Murphy, ela não tem nada a ver com isso...—O tormento na sua emoção estava palpável, uma tentativa desesperada de me salvar da tortura.—Ela te salvou, duas vezes! Ela cuidou de você!—Bellamy lembra-o, tentando avançar em direção a ele.
Murphy apenas engole seco e me encara, seu pomo de Adão se mexendo em sua garganta, entregando seu nervosismo e sua dúvida.
—É, e agora vai sofrer com isso.—Respondeu inabalável com a súplica.
Bellamy engole seco, me encarando com lágrimas nos olhos, pedindo desculpas silenciosas pela tentativa falha de salvação.
Eu nem hesito em olhar para ele de volta, assumindo toda a culpa da situação.
Eu nem culpo a Murphy, culpo totalmente a mim.
O garoto de olhos azuis ordena para Bellamy pegar um banco e colocar debaixo da corda e ele obedece, mas faz tudo isso encarando Murphy enojado e cheio de repulsa.
—Fique em cima.—Me contorço no lugar quando ouço Murphy dar mais uma ordem de suicidio à Bellamy, ainda com a mira da arma colada no meu rosto.
Sem paciência alguma, ele desfere um soco contra os meus lábios, fazendo meu corpo amolecer e os meus olhos piscarem.
—Murphy...—Bellamy ameaça, mas é interrompido.
—Calado!—Ele late, fitando Bellamy com uma chama ardente de fúria no âmago.—Suba em cima.—Ele repete pausadamente e Bellamy o faz.
A cada segundo que passa o meu coração se aperta e dilacera cada vez mais.
Como se eu estivesse sendo comida viva ou minha pele estivesse sendo queimada.
A sensação era horrível, tudo era.
O pior era não fazer nada, apenas assistir.
Eu preferia morrer.
Preferia que a bala atravessasse a minha cabeça.
—Passe sobre a cabeça.—Mais uma ordem, Bellamy molhou os lábios, denotando sua angústia e ansiedade com a situação.
—Isso é loucura! Os terráqueos...—Bellamy não termina de falar e eu ouço um disparo e uma dor excruciante e incessante na minha coxa.
Dou um grito imediato, vendo a bala funda na minha perna e o sangue jorrando sem pausa pelo chão.
Me encontro ofegante, olhando para cima e gemendo de dor, desejando arrancar minha perna com os dentes.
Aperto meus punhos com força, deixando minhas juntas brancas.
Agora Bellamy estava com a corda em seu pescoço, totalmente a mercê das maldades vindas da mente cruel de Murphy.
—Está satisfeito agora?—O Blake pergunta com desdém e num tom de deboche recheado de ódio.
Ele não responde, se ajoelha na minha frente e corta as amarras nos meus calcanhares, cada movimento nas minha pernas fazia eu implorar para desmaiar.
Me puxa pelos cabelos de forma brutal para me levantar, quando estava de pé, colou seu corpo atrás do meu, e a sua boca no pé da minha orelha, me deu a corda em minhas mãos atadas, com uma mão, apertava meus pulsos numa força descomunal e com a outra, havia pego um revólver e colado com a ponta na boca no meu estômago.
A esse ponto, eu queria arrancar toda a minha pele.
Sentir o toque dele, me fazia querer vomitar, me deixava tonta e me sujava.
Eu com certeza preferia a bala na minha cabeça.
O sangue negro só jorrava mais da minha perna, ficar de pé era um sacrifício e eu acho que vou desmaiar a qualquer momento, havia sangue seco na minha têmpora, sujava o meu cabelo.
—Puxe...—Ele sussurra, seus lábios encostam no lóbulo do meu ouvido e eu quero arrancar meus próprios tímpanos para não ter que ouvir a voz nojenta dele, Murphy força os meus pulsos para baixo, fazendo o corpo de Bellamy se erguer alguns centímetros do banco.
Minha respiração ofegante estava alta demais, eu estava tentando suportar o terror da situação, a maneira ultrajante que Murphy me tocava e como Bellamy estava por um fio de nunca mais respirar.
Além disso, eu já estava aos prantos, chorando de soluçar, enquanto lágrimas pesadas caíam pelo chão metálico.
Encarar Bellamy nesse momento era a única coisa que me mantinha sã.
Ele me fitava de volta, mas no seu olhar havia a dúvida de encarar Murphy com desgosto e ódio ou me encarar com arrependimento e dor.
Murphy puxa meus pulsos cada vez mais e o corpo dele fica cada vez mais suspenso no ar.
—Não!—Eu grito e a voz rasga as minhas cordas, rasga todo o silêncio torturante do ambiente e acho que rasgou o coração de Bellamy também.
Ele estava na ponta dos pés, com as mãos na corda que rodeava o pescoço, por um triz da morte e acho que eu também estava, não por conta da arma na minha barriga ou do tiro que eu tomei, mas por conta da dor que amassava as paredes do meu estômago e dilacerava o meu coração.
—Vocês são tão corajosos, não são?—Murphy diz, ainda com a boca colada no pé do meu ouvido, cheio de malícia e crueldade, Murphy parecia alegre ao ver Bellamy naquela posição tão humilhante.—Bellamy veio aqui pensando que poderia reverter a situação, esperando que eu o perdoasse, que seus amigos o resgatassem ou melhor...—Ele dá uma risada sádica, que quase estoura meus ouvidos.—Que poderia salvar a princesinha dele!—Murphy sorri contra o meu pescoço.—E agora Bellamy? Oque está pensando?
Bellamy engole seco em resposta, me encarando, implorando por perdão silenciosamente, mal sabe ele que quem tem que pedir perdão sou eu.
—E a princesa? Vive bancando a certinha, a inocente, a Madre Tereza de Calcutá! Mas no fim, não é muito melhor que eu ou você, quer dizer, 14 pessoas morreram porque ela quis bancar a santa, perdoando e acolhendo, no fim, consegue ser pior que eu.—Cerro os lábios com força quando a voz dele perfura os meus ouvidos e as lágrimas não cessam de cair dos meus olhos.—E vai ver seu namoradinho morrer por causa disso também.—Ele rosna as palavras, com um sorriso de canto.
Ele volta a olhar para Bellamy, aperta cada vez mais a arma contra a minha barriga, apoio o seu queixo em meu ombro, colando as nossas bochechas, enquanto minhas costas estavam coladas em seu peito.
Eu queria degolar ele.
Arrancar os cabelos, arrancar seus olhos com os meus dentes e entregar para os lobos.
Cada mísero dedo que me tocava da maneira mais agressiva e suja, do qual eu não podia lutar contra, muito menos me esquecer.
—Eles realmente respeitam você, Bellamy, assim como adoram a princesa aqui e respeitam os irmãos dela e a Clarke. Mas nós sabemos a verdade! Você é um covarde!—Ele exclama, gritando contra o meu ouvido, desabafando.
E Bellamy permanecia estoico e com uma calma enorme na situação, inabalável, impenetrável, mantendo a postura arrogante, tentando mostrar que a posição que estava não o afetava, mas eu sabia que afetava, sabia que estava com medo e que queria sair dali.
E Murphy só falava aquelas palavras provocativas, arrogantes e desconexas para humilhar, rebaixar, elevar o próprio ser.
—Descobri isso no dia que chutou o caixote em baixo de mim.—Sua voz entregava que o que aconteceu naquele dia, ainda o atingia profundamente. Ele admirava Bellamy, o seguia, fazia o que ele pedia e quando precisava de um defensor, Bellamy deu as costas a ele.—Mas só estava dando as pessoas oque elas queriam. Certo?—Ele questiona retórico, seu olhar carregado de mágoa.
—Eu devia ter impedido.—Bellamy admite, ferindo o próprio orgulho, encarando Murphy com o arrependimento tangível na atmosfera do olhar.
—Sim, é tarde para isso agora.—Murphy da de ombros, sua voz carregada de ressentimento e ódio.
Eu tento segurar minhas lágrimas, manter minha podadura firme, mesmo sentindo-me apertada e suja eu falo.
—Você ao menos pensa no que está fazendo? Acha que eles vão deixar você sair daqui ileso?—Minhas voz estava cheia de veneno e eu gaguejava e soluçava.
—Bem, Clarke está morta.—Ele explica e um bolo se forma no meu estômago ao pensar na possibilidade.—Depois de matar o "Rei" e os cachorros dele, quem vai liderar essa porra vai ser eu.—Eu sabia a quem ele estava se referindo e minha angústia só aumenta em cogitar tal acontecimento.—E claro, provavelmente vou ter que matar sua amiguinha que adora terrestres.—Ele menciona Octávia e eu mordo minha própria bochecha.
Cheio de fúria, Bellamy segura a corda em seu pescoço e com um impulso, acerta um chute em Murphy, era óbvio o nosso desejo mútuo de impedir esse psicopata de matar a nossa família, era isso que tínhamos em comum, ele também sacrificaria o acampamento e a si mesmo por Ethan, Cardan e Octavia.
Mas Murphy desvia de forma ágil, com a mão que estava na arma, de alguma forma inexplicável, também segura os meus cabelos e me joga no chão, fazendo-me bater a cabeça com força contra o chão, minha testa é assolada por uma dor absurda e eu paro de ouvir por alguns segundos.
Mas eu consigo escutar um pequeno grito ecoar na parte inferior, a área onde ficava a fiação e os tanques de combustível hidrazina do módulo.
—Suponho que seja ela agora.—Murphy murmura com o mesmo sorriso maníaco, agora ele mirava a arma em Bellamy, mas antes que ele pudesse atirar, eu jogo meu corpo contra o dele com muito esforço e o tiro passa de raspão pela coxa de Bellamy.
Mas o tiro pega no chão e Bellamy grita em desespero pelos amigos que estavam lá em baixo e tinham grande possibilidade de serem atingidos.
Murphy rapidamente se recompõe, me puxa de volta a mesma posição de antes, agora um braço dele estava me aplicando um mata-leão enquanto sua outra mão segurava os meus pulsos e os forçava para baixo, suspendendo o corpo de Bellamy cada vez mais, que começou a espernear e se debater no ar.
Eu não podia chorar agora, nem deveria, não poderia parar de lutar, mesmo que a dor na minha perna me fizesse querer morrer.
Eu piso em um de seus pés, o aperto dele em meus pulsos falha e Bellamy volta a pisar no pequeno banco.
Mas ao perceber meu plano, Murphy chuta o banco, Bellamy fica totalmente suspenso no ar, suas veias estavam saltadas e ele se debatia no ar, segurando a corda no pescoço com as mãos, implorando por ar.
—Não!—Eu grito com dificuldade, me debatendo contra Murphy, que agora, ao invés de me aplicar uma mata-leão, havia tapado a minha boca.
A luz de fora começa a invadir o módulo quando a porta começou a se abrir lentamente, gritos desesperados podiam ser ouvidos do lado de fora.
Não penso duas vezes, abocanho o dedo anelar de Murphy, que grita de dor.
Impulsivamente ele puxa sua mão para longe da minha boca, mas eu apenas mordo mais forte, travando o meu maxilar ali.
Consigo sentir o gosto metálico de sangue na minha boca e é repugnante, mas não vacilo na força que aplicava.
Meus dentes se cravam em sua pele, ele puxa a mão com mais força.
Mas quando eu olho para sua mão, seu dedo anelar estava decepado, o resto de mão estava em carne viva.
Cuspo o dedo dele para fora, sentindo o cheiro forte de carne e querendo vomitar tudo que eu havia comido.
Quando Murphy percebe os rifles apontados para ele, me larga rapidamente e começa a subir as escotilhas, enquanto eu caia contra o chão ensopado do meu sangue e Bellamy continuava pendurado ali, cada minuto de vida se esvaindo de seus olhos.
Consigo ouvir os gritos, duas mãos enormes envolvem o meu corpo, mas minha visão estava turva e embaçada, mas eu sinto o calor do corpo de Bellamy perto do meu.
Tateio pelo chão, procurando seu pulso.
Dois dedos meus ali, está fraco.
Sinto alguns leves tapas no meu rosto, tentativa falha de me acordar.
Porque eu deixo a escuridão me levar, deixo tomar minha consciência e descanso.
11.4K words! Não revisado!!
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Kisses da V, até a próxima!!
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