06.



Enquanto Clarke tentava salvar Finn do golpe mortal do terrestre e Bellamy e os outros carregavam o mesmo para o segundo nível do módulo eu só conseguia sentir que as coisas pioravam.

Em cima, estavam prestes a cometer atos maldosos e cruéis com alguém que nem sabíamos se entendia a nossa língua.

Em baixo, o caos não parava, porque a tempestade também não cessava.

Octávia, que estava ao meu lado, também não parecia nada bem, estava tensa e estressada e totalmente incapacitada de aceitar a atitude impulsiva e tão cruel de seu irmão.

Eu também estava com raiva dos meus irmãos, porque estavam consentindo e também liderando aquilo.

Sempre temi a má influência de Bellamy na amizade com Ethan e Cardan, agora, mais do que nunca.

Observo a morena ao meu lado levantar e começar a subir até o outro nível pela pequena escada abaixo da escotilha.

Ela parecia ansiosa, tensa e preocupada, dava para ver o quanto suas mãos suavam e tremiam, tinha algo a mais ali.

Não hesito em segui-la, mesmo que ela não me queira por perto, mesmo que desde Atom ela não esteja falando comigo, eu faço porque também não queria que alguém inocente fosse torturado a sangue frio hoje.

Quando Octavia alcança a escotilha e sobe para o segundo nível, ela estende o braço para me ajudar a e subir e eu não nego, apesar de que seu olhar em mim era misterioso, eu não sabia oque pensar sobre a atitude repentina.

—Amarre-o com firmeza.—A voz de Bellamy se sobressai nas paredes metálicas enquanto eu fechava a escotilha, seu tom não demonstrava piedade ou fraqueza, era firme e frio, como se ele estivesse lidando com um simples objeto, ele não estava blefando, iria obter respostas a todo custo.

Levo meu olhar ao homem que estava amarrado, estava estático de pé, com um olhar cheio de sangue e fúria ardente, as tatuagens e o sangue só deixavam seu aspecto menos amigável e o jeito que o olhar dele pousa sobre mim, faz minha nuca arrepiar.

Eu não conseguia olhar aquilo como Bellamy e meus irmãos olhavam.

Meu peito afunda quando eu percebo realmente oque vai acontecer aqui, eu não posso deixar isso acontecer.

Bellamy percebe que estamos aqui, ele gira nos próprios calcanhares, encarando a nós duas.

—Eu disse que não quero você aqui.—Bellamy fita Octávia de forma autoritária.

—E eu disse que ele estava tentando me proteger.—Ela afirma determinada em resposta, fitando o irmão intensamente.—Isso não é necessário.

—Isso não tem a ver com você.—Bellamy comenta cheio de fúria, sinto ele olhar para mim antes de continuar.—Estou fazendo isso por todos nós!—Ele está tentando justificar oque está prestes a fazer.

—Ah, fez isso por nós?—Octavia zomba irônica, seu rosto transmitia para mim a tempestade de sentimentos negativos, raiva, medo, repulsa.

—Fiz isso por Finn e Jasper!—O mais velho bradou, mencionando os nomes de cada vítima dos terrestres.—Por Diggs, John e Roma!—Eu fico surpresa, por que, ele lembra, ele lembra cada nome, cada vida ceifada, cada último suspiro dessas últimas horas.

Tinha luto profundo em sua voz, eu sentia, talvez, ele se sentisse responsável pelas vidas encerradas.

—Não foi ele!—A voz de Octávia estava desesperada em embargada, estava fazendo de tudo para convencer o irmão a esquecer essa ideia cruel.

—Você não sabe!—Bellamy grita levando uma mão aos cabelos, dava para ver que sua paciência estava por um triz de acabar.—Precisamos saber oque estamos enfrentando, quantos são! E ele vai dizer isso agora.—Agora havia uma fúria fria em sua voz, eu nunca tinha presenciado esse tipo de comportamento vindo dele.

Sem esperar muito tempo, ele avança para cima do terrestre, tomado por fúria e sede de vingança pelas mortes, mas Octávia agarra seu braço e começa a implorar.

—Bellamy! Não! Por favor!—Ela estava angustiada com o cenário sombrio a sua frente.

—Tirem ela daqui!—Ele responde desdenhoso, chacoalhando o braço para afastar Octávia, enquanto Cardan segurava os ombros da garota, guiando ela para fora do nível.

Bellamy percebe que eu não me movo, apenas cruzo os braços, encarando ele de forma desafiadora e desdenhosa.

—Veio aqui pra defender ele também?!—Bellamy questiona diretamente a mim, eu não hesito em responder.

—Na verdade, sim.—Troco o peso do meu corpo para outra perna.—Bellamy, ele nem deve saber nossa linguagem! E tortura-lo, só vai provocar a ira do povo dele! Pelo menos, antes de fazer esse tipo de crueldade, podia tentar falar com ele, de forma pacífica!—Eu não aguento muito tempo e começo a gesticular nervosa.

Bellamy me encara de cima a baixo, parece que havia uma ideia nova na sua cabeça, eu sabia que se houvesse, não era boa, parece que as minhas palavras só aumentaram a chance do pior acontecer.

—Ele vai me entender sim.—Ele diz, sem um pingo de sensibilidade ou piedade, enquanto se virava e encarava o homem a sua frente.

E os próximos instantes foram tentativas falhas de arrancar informações do terrestre, perguntas não respondidas, seguidas por um silêncio ansioso do homem amarrado e então, socos, gritos, agressões, sangue.

Era horrível ver o terrestre a minha frente sofrer calado, eu conseguia sentir a dor dos socos que ele recebia.

Todas as perguntas sem respostas faziam eu me sentir cada vez mais estressada, eu sentia o meu maxilar e o meu cenho doerem por conta da tensão da sala, e a linguagem corporal de Bellamy só demonstrava que a paciência dele já estava no fim.

Até que nós ouvimos um estrondo, um barulho assustador, o módulo treme, há agora entre todos, um temor racional de que talvez, isso seja um ataque de terrestres, talvez eles tenham vindo buscar aquele a quem nós aprisionamos.

—Oque diabos foi isso?—Ethan questiona, parando ao lado de Bellamy, levando as mãos aos quadris, o módulo só para de tremer depois de alguns minutos.—Estamos sendo atacados?—Meu irmão indaga.

E a ideia de sermos atacados em meio uma tempestade, sem nenhum tipo de arma de fogo ou proteção, me apavora tanto que sinto um arrepio na espinha e minha garganta travar.

—Danos da tempestade, estamos bem.—Cardan diz subindo a escotilha.

Eu consigo soltar a respiração que eu nem percebi que estava segurando, passo minhas mãos pelas minhas calças, para limpar o suor que escorria sobre os meus dedos.

—Vamos tentar mais uma vez.—Bellamy limpa o suor da testa, determinado ainda a continuar a maldade dirigida ao terrestre, ele queria resposta e ele estava disposto a pagar o preço para conseguir.

Minhas paciência se esvai com a sua fala, então eu me levanto do chão e em passos rápidos caminho até ele, disposta a impedir que um assassinato aconteça a minha frente.

—Chega Bellamy! Ele não vai falar! Tá na cara!—Eu cuspo as palavras e ninguém lá me contrairia, porque minha fala pesava com a razão.—Você nem ao menos perguntou o nome dele! Só foi distribuindo socos e fazendo perguntas que ele não deve estar entendendo!—Minha voz carregava angústia, cansaço de presenciar tal violência.

Bellamy parece acatar parte do meu discurso, ele me encara, com o mesmo olhar que me encarou quando ele me viu pela primeira vez aqui na Terra, um olhar que eu nunca saberia decodificar.

Ele trava o maxilar, se vira de volta para o terrestre e começa a fazer mais perguntas.

—Qual o seu nome?—Pelo menos ele me ouviu nessa parte.—Quantos são? Onde é seu acampamento?

—Come può essere così stupido?—"Como pode ser tão idiota?" falo em alto e bom tom e Bellamy só me encara confuso com a troca de linguagem.

Ele é burro ou se faz? É claro que ele não vai revelar isso, é lógico, se ele não morrer aqui entregando as informações, vai ser visto como traidor de seu povo e vai ser morto por eles.

—Faça perguntas diferentes Blake.—Eu indico, revirando os olhos e ficando de frente 'pro terrestre.—Chegamos aqui há poucos dias, no primeiro dia, um dos nossos foi atacado e sequestrado, porque?—Questiono firme, meu rosto estava a poucos centímetros do terrestre, mas eu não obtenho nenhuma resposta.

Levo meus dedos a têmpora e respiro fundo, precisava convencer ao terrestre que viemos aqui em paz, que somos confiáveis.

—Viemos do céu, em paz, em busca de uma casa segura, não tínhamos intenção de irritar o seu povo...—Agora ele me encarava, mas continuava mudo.—Não quero que entregue as informações do seu povo, só quero que diga porque estão nos atacando e se tem alguma possibilidade de fazermos uma aliança...—Nada, nem um sussurro ou murmuro.

Bellamy leva a mão a meu ombro, me empurrando de leve para o lado, mas eu fico estática.

—Você fez as perguntas, deu oportunidade de resposta pacífica, agora vou ter que fazer ele responder.—Ele sussurra, olhando diretamente nos meus olhos, suas íris estavam dilatadas e focadas exatamente nas minhas.

Eu respiro fundo e apenas concordo com um aceno de cabeça, porque eu não vejo outra opção se não essa.

Eu não queria ele fosse torturado, mas eu também não quero que mais gente do meu povo morra.

Precisamos de respostas também.

Me afasto em passos pesados, olhando para o terrestre como se eu estivesse pedindo perdão por deixar acontecer.

De costas para o terrestre e Bellamy, consigo escutar o barulho das chicoteadas que Bellamy desferia contra o terrestre, usando o metal de um cinto de segurança.

Meu coração afunda no meu peito e eu sinto uma lágrima escorrer de leve pela minha bochecha.

Não devia ser assim.

Não deveríamos estar vivendo isso quando chegamos aqui buscando por uma segunda chance.

Olho para o chão a minha frente e meu olhar alcança a bolsa que o terrestre carregava, eu decido agir e procurar respostas de outra forma.

Me sento ao lado da bolsa, abro e com um olhar curioso, vasculho, tinha algumas adagas, castanhas, um caderno e uma caixa cheia de fracos que continham líquidos coloridos.

Com a pequena caixa em mãos, levanto minha cabeça a Bellamy e chamo seu nome.

—Bellamy...—Ele não demora para largar o cinto laranja e andar até mim, se ajoelhando a minha frente.—Tem alguma ideia do que pode ser?—Eu esperava que ele pelo menos olhasse para a caixa em minhas mãos, mas seus olhos não saem dos meus nem por um segundo.

Ele olha de canto de olho 'pro objeto em minhas mãos e bufa impaciente.

—Só o diabo deve saber oque é isso.—Bellamy resmunga com a testa franzida e as sobrancelhas arqueadas.

Ele pega o livro que repousava na minha coxa, isso causa um comportamento estranho no terrestre, visto que ele não teve essa reação quando eu mexi em seus pertences.

E quando Bellamy percebe o terrestre inquieto, sorri de lado e começa a folhear o livro.

Me levanto e me ponho ao seu lado, observando os desenhos nas páginas meio amareladas, eram meio sem sentido e complexos, mas por incrível que pareça, não havia nada escrito.

Ele só para de folhear as páginas quando encontra o desenho de duas garotas numa mesma página.

Eu levo alguns segundos para perceber, provavelmente por conta do choque, que as duas garotas desenhadas ali, eram eu e Octávia.

E quando eu percebo, os meus batimentos cardíacos aceleram.

Eu nunca tinha visto esse terrestre, mas por algum motivo, havia um desenho meu ali.

Tão bem feito, pintado no que parecia ser uma aquarela primitiva.

Travo meu maxilar e olho para Bellamy, assustada com a minha imagem no caderno.

Eles estavam nos observando.

Era a única explicação para ter o meu desenho ali.

Provavelmente meus irmãos perceberam a tensão, porque Ethan caminha até o lado de Bellamy e Cardan até o meu lado e quando percebem o mesmo que eu, os três, Bellamy, Ethan e Cardan encaram o terrestre cheios de fúria, muito mais do que antes.

Tomo o livro das mãos de Bellamy e passo para a próxima página.

Meu cenho se franze quando eu passo os dedos pela página, havia vários traços na folha, alguns traços estavam riscados, parecia ser uma lista.

Passo para o verso da folha, onde estava retratado um desenho detalhado do nosso acampamento, cheio de exatidão e detalhes.

Viro a página de volta, começo a contar os traços, registro 102 e 10 dos traços estavam riscados na horizontal.

—102 traços e 10 eliminados...—Eu sussurro, passando meus dedos na folha.

—É o número de pessoas que perdemos.—Bellamy responde meu sussurro com pesar e repúdio.—Estão nos vigiando desde que chegamos aqui.

E a fala de Bellamy faz um silêncio perturbador se instaurar no nível, enquanto eu encarava o terrestre, assustada com cada revelação nova, mesmo não vindo da boca dele.

Dava 'pra ver que todo mundo estava tenso ali, principalmente meus irmãos e Bellamy.

Mas parece que o desenho do meu rosto ali foi o estopim de um ataque de raiva de Cardan, que sem pensar duas vezes, começa a desferir socos atrás de socos no terrestres.

E quando ele para 'pra respirar, ele pergunta.

—Porque ela tá no seu caderno?—Cardan pergunta ofegante, mas o terrestre só grunhe de dor, não esboça nenhuma resposta.

E de novo, os socos recomeçam, tão fortes, tão cheios de raiva que enchiam o rosto estoico do terrestre de sangue e hematomas, dessa vez, ele nem para de agredi-lo para perguntar.

—Ela é uma das suas próximas vítimas é? Vai sequestra-la assim como fez com a outra garota?—Os socos não cessam e eu percebo que se eu não impedir, Cardan vai estourar o crânio dele na nossa frente.

Agarro o braço dele, fazendo ele cessar os socos e chacoalhar as mãos cheias de sangue terrestre, o olhar dele sobre mim é carregado de uma raiva quente, não uma fúria fria, controlada, é algo explosivo, sensível como uma bomba.

—Já chega! Vai mata-lo!—Eu ordeno, empurrando ele para longe do corpo do terrestre, que estava quase entrando em inconsciência.

—Eu quero respostas!—Cardan exclama contra o meu rosto e consigo ver o quanto seu maxilar está travado e o seu cenho está franzido.

—Você quer vingança!—Corrijo, olhando para ele sem fraqueza.—Estava quieto até me ver desenhada naquele caderno! Isso é algo pessoal, já não é busca de respostas!

—Você achou que eu ia ficar calmo depois de ver o seu rosto no livro de vítimas desse psicopata?! Caralho Valerie!—Ele passa as mãos pelo cabelo e bufa impaciente.

Olho para Ethan que estava atrás de mim, ele não estava totalmente calmo, dava para ver que tinha terror em seu olhar, que ele também estava assombrado por ver alguém importante desenhada tão detalhadamente no caderno.

—Lo porta a prendere un'aria.—"Leve ele para tomar um ar." Eu peço a Ethan.

Depois de uns segundos, ele passa o braço pelo ombro do gêmeo e o guia de forma carinhosa para o nível de baixo.

Depois de uns minutos de tensão enquanto Bellamy encarava o terráqueo de frente para ele, provavelmente, estava pensando no que fazer, sabendo que toda a tortura física não adiantara.

—Me passa o livro, princesa.—Ele estende a mão para mim e eu entrego aberto na página da lista de 102 traços.

Eu só consigo me questionar sobre oque ele vai fazer, qual era o plano desta vez?

A postura de Bellamy é impaciente, furiosa e destemida, ele não ia desistir tão cedo, não depois de ver o rosto da irmã estampado no caderno.

Ele mexe nas folhas do caderno, concentrado nas simbologias, ele estava tentando entender a linguagem do caderno, a conotação dos desenhos.

Bellamy para numa página, tem um homem retratado nela, com tatuagens no rosto e cabelo longo e bagunçado.

—Que diabos é isso? Amigo seu?—Bellamy questiona, mas eu só consigo reparar no cansaço que o terráqueo esboçava em seu olhar.

Ouço a escotilha ser aberta, num estalo rápido e repentino.

Quando olho para trás, está Clarke, mas ela é barrada por um delinquente, o que deixa a loira totalmente impaciente e raivosa.

—Saia da minha frente!—Ela rosna ao delinquente, que esse eu sabia o nome, era Miller.

—Deixa ela passar.—Bellamy diz sem tirar os olhos do livro, depois de um tempo de hesitação, Miller cede e deixa Clarke ir ao nosso encontro.

Ela caminha até o lado de Bellamy e analisa o rosto do terráqueo torturado por alguns segundos, quando toma a conclusão do que aconteceu ela diz.

—Bom, se não nos odiávamos antes, com certeza que agora eles nos odeiam.—Ela zomba irônica, trazendo peso e incerteza ao ambiente.

Bellamy revira os olhos e sem pensar, puxa a loira para um canto da sala.

Arqueio uma das sobrancelhas com a cena a minha frente, ouvindo sussurros inteligíveis da conversa dos dois, apenas dou de ombros e me viro para o terráqueo.

Ele tinha enormes cicatrizes no peitoral, seu cabelo era raspado, mas sua barba não, tinha uma aura misteriosa ali.

Oque essa tatuagens significam? Crimes? Origem? Méritos? Mortes?

E as cicatrizes? Haviam algumas espalhadas pelo corpo, pareciam que foram feitas propositalmente.

Havia um símbolo tatuado em seu ombro, algo que parecia ser um símbolo de "perigo radioativo" e também, haviam letras escritas ali.

—Trigedakru...—Sussurro, no início, eu não compreendo o meu próprio sussurro.

Mas parece que uma voz dentro da minha cabeça ecoa, algo de dentro de mim, parece tão familiar, parece que eu já ouvi ou já senti algo parecido.

—Povo das Árvores...—Solto mais um sussurro, algo dentro de mim tinha certeza de que essa era a tradução.

E quando o terráqueo escuta meu sussurro, ele arregala os olhos e me mira intensamente, tinha confusão e surpresa no seu olhar, a respiração dele se torna irregular e suas pupilas retraem.

—Valerie, se afaste.—Bellamy diz e eu corto contato visual com o terrestre, me vendo arrancada do meu próprio pensamento.

Eu nem percebi que eu estava perto demais dele, vulnerável a qualquer golpe violento que ele resolvesse soltar contra mim.

Obedeço rapidamente e recuo alguns passos quando ouço Raven gritar no nível inferior.

—Convulsão!—A voz de Raven é embargada e desesperada, fazendo Clarke correr de volta para o nível inferior.

Meu coração erra umas batidas, minhas mãos voltam a suar e tremer, eu até cogito em descer e ajudar as duas, mas eu seria só uma pilha de nervos estressados.

Pego o caderno e me sento no chão, começo a folhear e analisar cada página, em busca de mais algumas pistas, enquanto Bellamy continua seu trabalho tentando extrair respostas do terrestre.

Ouço a escotilha abrir, olho na direção do barulho, esperando alguma boa notícia, mas é apenas Ethan, provavelmente deixou Cardan tomar um tempo no piso inferior.

Ethan não hesita em se juntar a Bellamy, fazendo mais perguntas, intercalado entre socos e mais violência.

Eu apenas tento entrar de volta no meu próprio mundo, afim de não ter que guardar lembranças de tortura.

Quando escuto a voz abafada de Clarke por baixo da escotilha, levanto minha cabeça rapidamente, fechando o livro e repousando-o no chão.

—Ethan! Abra!—Dava para ouvir os socos que a loira desferia contra a escotilha.

O loiro só revira os olhos e chuta a barra que prendia e travava a entrada.

Clarke emerge sobre a entrada, empurrando os delinquentes que estavam por perto.

—Me deixa passar, Miller!—Ela esbraveja, fazendo seu grito ecoar por todo o nível, ele parece se assustar com o tom de voz da garota e permite a passagem dela.

Ela caminha em passos apressados e ansiosos até o terráqueo, dava para ver em sua postura que havia algo errado.

Clarke para em frente ao terráqueo, impaciente e cheia de determinação no olhar.

Ela ergue a mão que carregava a faca que estava cravada em Finn.

—Oque há nisto?—Ela questiona, com o cenho franzido, esperando por alguma resposta.

—Oque quer dizer?—Bellamy questiona, alternando o olhar entre Clarke e o terrestre.

—A lâmina está envenenada!—Meus olhos se arregalam em choque com a revelação e todos dentro do nível parecem ter a mesma reação que eu.—O tempo todo, ele sabia que Finn ia morrer, não importa oque fizéssemos!—A voz dela carregava uma angústia tangível e uma ansiedade para solucionar o problema.

—Ele não entende Clarke!—Octavia sobe pela escotilha, dava para ver que ela estava frustrada.

Olho para Bellamy e percebo que ele já estava olhando para mim, comprimo os lábios nervosa, pensando em alguma solução.

Os frascos!

Claro, ninguém andaria com veneno sem o antídoto.

Ando em passos largos até e mochila, pegando a pequena caixinha de metal que continha os vários frascos coloridos.

Minhas mãos estavam trêmulas e suadas, então eu tomo o devido cuidado para evitar derrubar qualquer um no chão.

Me ajoelho na frente do terráqueo, em desespero, distribuo os frascos no chão, pego a adaga da mão de Clarke, mostro a ele e depois pergunto.

—Qual?!

Nada, nem um sequer murmúrio.

—Por favor! Precisamos salvar nosso amigo, nos ajude e soltamos você!—Eu imploro mais uma vez, nessa hora eu rezo para que eu obtenha uma resposta.

De novo, tudo que eu recebo é o silêncio.

—Eu não quero que torturem você! Fale logo qual é a merda do frasco!—Eu pedia desesperada, sentindo o meu sangue ferver, batendo os punhos contra o chão.

Mudo, nenhum sequer movimento.

Sinto uma mão apertar o meu ombro de leve, num gesto de carinho, compreensão e apoio.

Eu acreditava ser Ethan, mas na verdade.

—Valerie...—Era Bellamy.

Era a primeira vez que eu ouvia ele pronunciar meu nome com todas as letras.

Antes eram apelidos zombeteiros e irônicos, com conotação piadista.

Agora eu percebia, que ao se referir a mim, seu tom era mais respeitoso, como se me admirasse.

Mas isso só deve ser algo da minha cabeça.

Todos ali estavam furiosos, cheios de tensão e estresse, esperando alguma resposta, cansados da tortura e do terror psicológico.

Em passos largos Octávia se põe em frente ao terrestre, jurando que ele a responderia.

—Mostre! Por favor!—Até a minha paciência com ela estava se esvaindo, ela se achava um caso especial, bancando a pocahontas.

—Qual?! Nosso amigo está morrendo e você pode impedir isso!—Clarke se mete e eu reviro os olhos, já estava virando algo esgotante.

—Ele não se importa.—Travo meu maxilar encarando o terrestre a nossa frente.

—Vou fazer ele falar.—Bellamy cerra os punhos, denotando seu objetivo determinado, numa prece desesperada, Octávia segura o braço dele e implora.

—Não Bell! Por favor!—Ela apelava para o apelido carinhoso, suplicando para que ele confiasse nela.

—Ele quer que o Finn morra!—Bellamy esbraveja contra o rosto da irmã, perdendo a paciência com ela na segunda vez naquela hora.—Porque não vê isso?! Você quer que ele viva ou não?!—Ele afasta o aperto da irmã num gesto agressivo.

—Valerie! Você mesma disse! Nós não somos assim!—Ela apela o pedido para mim, leva as mãos ao meu ombro e o meu coração se parte.

Porque isso já aconteceu antes.

Eu matei Atom, o primeiro amor adolescente dela.

Agora, ela estava me dando um voto de confiança, uma chance para provar que eu era diferente, que eu era nobre.

E eu tenho que escolher entre a sobrevivência do meu amigo e a confiança da minha amiga.

—Ele estava me protegendo! Salvou a minha vida!—Ela me tira das minhas reflexões, chacoalhando meus ombros.

—E agora ele está pondo a vida do nosso amigo em risco!—Calo suas preces nervosas com o meu argumento.—Se não tomarmos as medidas necessárias, o Finn não vai ter a mesma chance que você!

Talvez eu me arrependa profundamente doque vou fazer nesse momento.

Mas pelo menos, meu amigo vai viver.

—Force-o.—Ordeno a Bellamy, dando um ponto final na discussão.

Octávia larga meus ombros e burra eu discordância a minha fala, o jeito que ela olha para mim faz meu peito afundar em angústia.

Bellamy pega o cinto utilizado antes, enrola em uma das mãos, deixando a ponta da fivela de metal pendurada.

E mesmo depois de vários golpes e sangue derramado, ele continua ali, parado, sem falhas.

Tudo ali fazia meu coração despedaçar.

A crueldade que eu permiti, as súplicas de Octávia, que estava sendo segurada por Ethan, o jeito que o terrestre continuava mudo apesar da dor.

Dava para ver que Bellamy estava exausto com a ineficácia dos golpes, que não resultavam em nada.

Antes que ele continuasse, Octávia se liberta dos braços do meu irmã e o impede de fazer.

—Já chega! Ele não vai falar, não entenderam?!—Sua fala é carregada de razão, todo mundo no fundo sabia que, o terrestre morreria, mas não falaria.

—Ele tem que falar!—Clarke diz, trazendo outra realidade, ele tinha de falar, ou nós perderíamos mais um hoje.

—Ele vai falar.—Raven diz entrando pela escotilha.

Era nítido a tensão e o terror em seu rosto, simplesmente pelo fato de perder a única família e o namorado não ser uma ideia tão distante.

E eu entendia ela completamente se ela quisesse esfolar a cara do terrestre a nossa frente.

Raven abre um compartimento no nível, desconecta dois cabos de cobre e aperta um botão, fazendo faíscas saírem das pontas dos fios.

E sem hesitar, ela coloca as pontas dos cabos contra o abdome do homem, fazendo ele se contorcer com a corrente elétrica.

Eu levo meu olhar ao chão, porque não consigo mais assistir isso.

As ondas elétricas cessam, mas o terrestre só geme de dor, não da nenhuma resposta.

—Certo, vocês são todos selvagens! Violência não vai ajudar!—Ela cospe as palavras nas minhas costas e eu apenas reviro os olhos e cruzo os braços.

Ela estava apenas criticando os nossos métodos, falando que estávamos errados, mas não dava nenhuma solução.

—Ah e você quer que nós peçamos por favor? Se toca Octávia!—Eu explodo, virando-me nos meus próprios calcanhares, tomada por fúria.

—Eu tenho uma ideia melhor.—Ela anda até Clarke e toma a lâmina das mãos da loira e sem dar-nos chance de contestar, ela corta o próprio antebraço, fazendo sangue grosso e escarlate escorrer pelos pulsos e dedos.

Eu abro a minha boca em puro choque, meus olhos se arregalam e eu não consigo evitar sentir uma leve tontura.

—Você não quer que eu morra né?! Você me salvou por algum motivo! Me salve de novo!—A morena ordena encarando o terráqueo a sua frente, que tinha uma feição assustada e supresa.

Ele parecia se importar com ela, parecia que não queria que ela morresse.

E se desse certo?

Antes que Bellamy avançasse para afastar a irmã do terrestre, eu seguro seu bíceps.

Ele me encara com um olhar nada bom, insatisfeito com a minha intervenção.

Mas eu apenas nego com a cabeça, indicando que dessa vez, ele deveria apenas confiar na irmã e deixá-la fazer.

Ele entende o meu gesto e recua, sem contestar ou resmungar.

—Eu estou envenenada! Não vai fazer nada?!—Octavia resmunga impaciente.

Foram longos segundos até nós obtermos uma resposta.

Foi apenas um aceno de cabeça, mostrando que por Octávia, ele iria ajudar.

A garota sorri animada em resposta, pega um frasco do chão e levanta a ele, como se perguntasse qual era.

E por sorte, ela pegara o frasco certo, porque ele assente positivo.

—Obrigada! Obrigada!—Octavia agradece, genuinamente feliz e grata.

Clarke não demora nenhum pouco para pegar o frasco dos dedos de Octávia e correr junto de Raven em direção ao nível inferior.

Não consigo parar de encarar o terráqueo a minha frente.

E o estado era tão decadente que fazia meu estômago revirar.

Ele estava suado, com o rosto manchado com o próprio sangue.

Sua feições mostravam o cansaço extremo que estava enfrentando desde o início da tortura.

E ele me encarava com um olhar que doeria menos se tivessem me esfaqueado nas costas.

Eu permiti isso.

Nós somos os vilões e hoje fizemos uma vítima.

Eu engulo seco, passo a mão pela minha testa, que se encontrava cheia de suor frio.

Nego com a cabeça.

Nego a mim mesma que fizemos isso.

Nego a mim mesma que eu permiti isso acontecer.

Nego a mim mesma que eu assisti isso acontecer.

Foi maldoso, foi frio.

Eu desço pela escotilha, sentindo meu peito afundar em puro remorso.

A tempestade de fora já se fora, estava tudo calmo.

Mas no meu coração havia uma tempestade ainda mais violenta, sanguinária e agitada.

E ao contrário da tempestade de fora, que afetava todos os outros de forma uniforme, essa tempestade no meu coração apenas destroçava a mim mesma com o peso da culpa.

Eu sinto que essa tempestade não vai embora tão cedo.

Eu só quero que acabe.

Quero que as coisas fiquem claras de novo, quero voltar a lucidez.

Eu levo uma mão ao peito, porque eu sinto uma pressão tão forte, que eu acho que meu coração não vai voltar a bater se parar.

E meus pulmões insistem em não funcionarem, travam e puxam menos oxigênio do que o necessário.

É avassalador, é triste, agonizante e aterrorizante.

Porque minhas mãos não param de tremer e o suor escorrendo pela ponta dos meus dedos, fazendo minha pele enrugar me deixar em pura agonia.

E por mais que eu esteja ao ar livre, o mundo parece me prensar com as paredes da realidade.

Como se inalasse uma fumaça invisível, toxica apenas para os meus pulmões.

Tudo está incendiando.

Eu quero arrancar meu próprio nariz.

—Valerie?

Meu corpo gela quando eu ouço sua voz.

Era a última pessoa que eu pensaria que correria para saber do meu estado.

Me viro de frente para a figura masculina.

E estava lá ele.

Alto, imponente, com os cachos negros caindo sobre as sardas do rosto, que só destacavam na pele bronzeada.

Mas ele parecia alguém muito diferente, eu não sabia nem identificar onde havia mudança.

Talvez pelo jeito novo que ele chamou meu nome, que agora, era preocupado, carregava uma tensão genuína e tinha uma certa delicadeza na forma como ele pronunciava o final do meu nome.

Ou talvez pelo jeito que ele me olhava.

Era o mesmo jeito passivo e compreensivo que Cardan me olhava.

Mas tinha algo a mais que eu não saberia identificar tão cedo.

—Eu.—Eu passo as costas da minha mão nas minhas bochechas, secando as lágrimas e fungando de leve.

—Finn está vivo.

—Que bom...—Eu me sinto culpada, porque não vem alívio no meu peito, na verdade, oque ele fala só reforça nas memórias oque eu permiti ser feito para ele continuar vivo.

Bellamy parece processar oque eu falei, parece tentar descobrir se eu sou genuína na minha fala, ele troca o peso do corpo para outra perna e pergunta.

—Você está bem?—É uma pergunta retórica, obviamente, porque eu estou longe da definição de bem, seja lá oque isso signifique aqui na Terra, depois de um apocalipse nuclear.

—Eu só... acho que... oque fizemos foi algo horrível... não vou esquecer tão fácil...—Eu coloco uma mecha da minha franja para trás da minha orelha e meu nariz funga de leve.

Ele parece ficar sem reação, não esboça nenhuma pelo menos, não solta um murmuro por vários segundos, antes de suspirar fundo e dizer com pesar.

—O que somos e o que fazemos 'pra sobreviver... são coisas diferentes, princesa.—Ele coloca uma mão sobre o meu ombro, acredito que seja uma tentativa de me confortar.

E por incrível que pareça, funcionou, por que a pressão do meu peito se esvai no momento que eu sinto sua mão em mim.

—Eu realmente espero que você esteja certo.




4.8K words!! Não revisado!!

O capítulo tá mais curtinho hoje por organização mesmo.

EU VENCI O BLOQUEIO CRIATIVO MUAHAHAHAHAHAH.

Não esqueçam de votar e comentar oque estão achando da fic.

Beijões da V! <3

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