03.
A noite deveria ter sido um momento de descanso dos últimos dias agitados, turbulentos e traumatizantes, mas os gritos de Jasper não me permitiram pregar o olho.
Para mim, o pior não era nem os gritos de agonia do rapaz, era a ignorância e a falta de empatia dos outros adolescentes em reação ao enfermo.
Enquanto Jasper agonizava de dor contra um metal gélido e fedido, os outros jovens proferiam frases horríveis, totalmente ofensivas e insensíveis.
Diante daquilo, eu me via com apenas duas opções:
1ª-Defender Jasper dos gritos, mandando todos calarem a boca e enfiarem a ignorância lá onde a luz não bate.
Prós: Eu seria uma boa amiga.
Contras: A chance de eu irritar alguém e levar um soco na cara de graça, não era pequena.
2ª-Sair do módulo e me ocupar com algo.
Prós: Talvez eu conseguisse fazer algo produtivo, desviando minha cabeça da mediocridade do ser humano adolescente.
Contras: Eu estaria sendo uma amiga tolerante, mas não péssima, não é como se ele não tivesse outros amigos para cuidar dele.
Vou ter que ser a amiga tolerante hoje, porque minha cabeça está explodindo de dor.
Eu pego a pequena adaga que eu fiz com restos da nave, andando em direção a alguma das árvores ali perto, pegando vários pedaços de galhos e alguns metais espalhados por ali.
Precisava de um arco e flechas, urgentemente.
Então ali, eu passo a madrugada inteira entalhando o meu próprio arco e as minhas próprias flechas, nesse tempo, minha cabeça se desliga do mundo totalmente.
𝐃𝐞 𝐦𝐚𝐧𝐡ã, eu estava com Cardan, ele sentado em um toco de madeira e eu sentada no chão a frente dele.
Era quase um ritual ele arrumar meus cabelos todo dia quando estávamos na Arca.
Ele sempre foi bom com penteados, eu nunca entendi de onde veio esse dom.
Mas ele sempre carregava um amarrador de cabelo no pulso, sempre que eu reclamava dos cabelos no rosto, ele me entregava sem falar nada.
E hoje, ele estava fazendo o penteado que eu mais gostava, uma trança.
Algo bem simples, genérico, mas caia bem no meu rosto, então era o meu preferido.
—O grupo de caça vai sair daqui a dez minutos...—Cardan murmura, finalizando o penteado.
—Ethan vai ficar louco quando descobrir que vou junto com eles.—Respondo, olhando para o meu irmão Ethan que estava a alguns metros distante da gente, conversando com Bellamy.
—Faz a carinha de coitada, ele não resiste nunca.—Mais um murmuro, junto de um tom brincalhão, mas verdadeiro.
Ele da duas batidinhas na minha cabeça, meio que me expulsando dali.
—'Tá pronto pentelha, vai lá e faz acontecer.—O tom dele é levemente zombeteiro, mas tinha um leve orgulho saudável por trás.
Sorrio de orelha a orelha para ele, sentindo um calor invadir meu peito, eu o abraço pelo pescoço e sinto-o retribuir segundos depois, passando as mãos pelas minhas costas.
—Grazie fratello!—"Obrigado irmão!", eu agradeço, antes de desfazer o abraço, pegar meu arco e meu bolso de flechas, indo em direção a grupo que estava pronto a sair.
Quando Ethan cruza o seu olhar com o meu, ele levanta uma sobrancelha e cruza os braços na altura do peitoral definido.
—Dovresti anche conoscere la mia opinione al riguardo.—"Você já deve saber minha opinião sobre.", seu mau humor é estampado e palpável.
—Lo so, ma lo ignorerò in modo che la mia giornata continui alla grande!—"Eu sei, mas vou ignorar para o meu dia continuar ótimo!", ele revira os olhos, aceitando que eu iria com o grupo caçar.
—Non esci dalla mia vista.—"Você não sai da minha vista.", ele proclama, eu reviro os olhos e aceno com a cabeça positivamente, não querendo entrar em outra discussão.
'O caminho na mata era silencioso, concentrado, estávamos andando por uma meia hora, até que eu avisto um porco selvagem ou um javali, armo meu arco e flecha, mirando a cabeça do animal.
—Ela é minha!—A mão de Bellamy está sobre o meu ombro, em sua outra mão, está uma machadinha, pronta para acertar o porco selvagem a poucos metros de nós.
Mas um ruído ecoa sobre a mata, Bellamy vira seu corpo de forma violenta e veloz para a direção do barulho, alinhando nossos ombros e ao mesmo tempo que eu atiro a flecha no porco ele acerta a machadinha numa árvore, o lugar mais próximo do ruído.
Sem me preocupar com o animal, me viro da direção de Bellamy, me deparando com uma garotinha que aparentava não ter nem 12 anos.
Encaro Bellamy em choque, ele quase matou uma criança, sem querer, mas quase.
Ando em direção a criança em passos apressados, Bellamy não demora para me acompanhar, enquanto os outros junto com o meu irmão iam recolher o animal caçado por mim.
Largo meu arco no chão, agarrando os ombros da garota, procurando por algum ferimento grave.
—Mio Dio bambino! Non dovrebbe essere qui!—"Meu deus criança! Não deveria estar aqui!", meu timbre é raivoso e totalmente preocupado, estou tão nervosa que não percebo o motivo da cara assustada da pequena garota, que me encara sem reação, parecendo que viu um fantasma.
—Inglês, Kane, inglês.—Bellamy murmura, agachado ao meu lado, com um tom zombeteiro.
Levo minha íris de volta para a garota, como se pedisse desculpa pela minha atitude impulsiva, recolho minhas mãos, me sentindo constrangida.
—Como é o seu nome?—Bellamy quebra o silêncio, perguntando.
—Charlotte.—Ela responde imediatamente num tom choroso, ainda assustada.—Eu quase matei você...—Ele parecia realmente arrependido e chocado pelo o que quase veio a acontecer.—Por que não está no acampamento?—Ele questiona.
—Os gritos do garoto, eu não conseguia mais ouvir...—Ela começa a explicar, mas Antom a interrompe e eu levo um olhar reprovador a ele.
—Há terrestres por aí, é perigoso demais para uma menininha!
—Não sou menininha!—Ela replica, num tom reprovador e agressivo.
—Tudo bem... mas não pode caçar sem uma arma, Charlotte.—Ele entrega uma pequena adaga a garota, com um sorriso doce nos lábios.
A cena a minha frente faz meu coração esquentar de leve.
Quem diria que o maior ignorante da raça humana tinha jeito com crianças?
O resto do dia de caça foi bem quieto.
Era menos chato com uma companhia feminina para conversar do lado, apesar de ela ainda ter um certo pé atrás correlação a mim.
Acho que meu italiano e meu tom de voz nada doce traumatizaram a garota de leve.
Começamos a perceber a presença de uma neblina de cor nada convidativa, o cheiro dela também não era dos melhores.
Não sabendo o que aquilo poderia causar a nós, o grupo se divide em partes, eu, Charlotte, Bellamy e Antom começamos a correr procurando um abrigo.
Charlotte acha uma caverna e eu e Bellamy seguimos a garota para dentro da pequena gruta, mas Bellamy recua quando escuta o grito de Antom perdido atrás da neblina.
Ele tenta ir em direção ao rapaz, mas eu agarro seu bíceps, impedindo ele de fazer uma coisa idiota.
—Eu tenho que ir!—Ele fala, me encarando como se implorasse.
—Bellamy, ele se vira, você precisa entrar!—Eu respondo de imediato.Por incrível que parece ele me escuta e entra para dentro da gruta, fechando-a com uma pequena escotilha.
Só entrando ali eu percebo o quanto estava frio, não estava totalmente escuro, mas estava
gélido.
Me acomodo num canto da pequena gruta ao lado de Charlotte, enquanto Bellamy se
acomodava a nossa frente, encostando as costas na parede fria.
Quando eu olho para Charlotte, ela está tremendo de frio e tentando acostumar os olhos a
escuridão da gruda.
Então eu tiro a jaqueta de meu irmão que eu ainda estava usando e coloco sobre os ombros de Charlotte, enquanto isso, ela se aproxima de mim, se ajeitando no meu colo, deitando sua cabeça no meu busto e fechando os olhos, fico meio surpresa com a ação repentina, mas deixo ela se acomodar.
Demora para mim perceber que Bellamy não tirou os olhos de mim desde que entramos na gruta.
Resolvo ignorar o olhar do mais velho sobre mim e apoio o queixo na cabeça de Charlotte, fechando os olhos me permitindo descansar.
Mas alguns momentos depois eu acordo com gritos da mais nova, que fazem meus ouvidos doerem.
—Não!—Ela gritava enquanto dormia, se debatendo no meu colo e consequentemente me acordando ainda mais.
Bellamy parece acordar imediatamente e se arrasta até a garota.
—Charlotte! Acorde!—Ele chacoalha os ombros da menina de leve.
Ela encara nós dois com um olhar constrangido, como se quisesse que o chão a engolisse.
—Me desculpe.—Ela murmura, se encolhendo contra o meu corpo.
—Isso acontece muito?—Bellamy questiona.—Do que tem medo?—Ele não obtém resposta da mais nova então continua.—Quer saber? Isso não importa! O que importa é como você lida com isso.
—Mas eu estou dormindo...—Ela argumenta.
—Medo é medo, enfrente seus demônios acordada e não vão te machucar nos sonhos.—Ele explica.
—Como?—Chatlotte questiona agora curiosa.
—Não pode ser fraca, aqui, medo é fraqueza, medo é morte.—Bellamy acrescenta, com um olhar acolhedor, mas ainda firme.
Ela volta as íris azuis para mim, como se me pedisse para confirmar a verdade do discurso, procurando minha aprovação.
—O medo é uma reação natural do corpo, está ali para nos proteger de perigos eminentes, é normal, é inevitável.—Eu acrescento, passando minha mão pelas costas da garota.—Mas você tem que ter coragem e coragem não é a ausência de medo, é como você reage quando se amedronta.
Bellamy leva um olhar enigmático para mim, eu nunca conseguia saber porque suas pupilas dilatavam tão repentinamente quando me miravam ou como os seus lábios ficavam sempre entreabertos quando estava me fitando.
—Cadê a faca que eu te dei?—Ele pergunta a Charlotte, que logo tira a pequena faca do bolso, entregando para o mais velho a sua frente.
—Quando você sentir medo, segura essa faca bem forte e diga: "Dane-se, não estou com medo."Ele devolve a faca para Charlotte, que segura bem firme, fecha os olhos e repete a fala de Bellamy.
—Dane-se! Não estão com medo!
Levo minhas íris a Bellamy, que encarava a garota com uma expressão orgulhosa.Ela não demora a guardar a faca no bolso e voltar a deitar contra o meu ombro, fechando os olhos, em poucos minutos, já está dormindo profundamente.
Eu tento voltar a dormir, mas minha mente estava muito ocupada pensando em como Ethan estava lá fora.
Será que ele encontrou abrigo a tempo? E se ele estiver precisando de ajuda?
Meus pensamentos começam a aparecer tão rapidamente que deixa minha respiração pesada e faz minhas têmporas doerem enquanto eu olhava para a "porta" da gruta.
—A vossa majestade não vai voltar a dormir? Precisa de auxílio para derrotar seus dragões?—Bellamy questiona num tom irônico e zombeteiro, mas tinha ali um pingo de preocupação.
—Estou preocupada com o meu irmão...—Assumo, pendendo minha cabeça para trás.
—O Ethan é duro na queda, não deve estar em uma gruta muito longe da nossa.—Ele diz fingindo alivio, mas algo em seu jeito de olhar para a entrada da gruta transmitia que ele estava preocupado com o melhor amigo e dava para ver que estava sentindo-se culpado por deixar Antom para trás.
—Obrigada... por me salvar...—Eu agradeço, podia não gostar de sua personalidade difícil e seu tom arrogante e ignorante, mas reconhecia que não estaria aqui viva se ele não tivesse segurado meu braço.
Ele olha para mim surpreso com a minha demonstração de gratidão, como se estivesse processando se eu estava sendo irônica ou não.
—Obrigado...por salvar a minha irmã e me impedir de ir procurar Antom...—Arregalo meus olhos com repentinas palavras, já que eu esperava um comentário irônico e arrogantemente da sua parte, não um reconhecimento das minhas ações.
—Boa noite, Blake.—Eu encerro o assunto, constrangida com a tensão palpável naquela gruta.
—Boa noite, Princesa Kane.—Ele responde segundos depois, cruzando os braços acima do peito, pendendo a cabeça para o lado.
Acordo sentindo ao chacoalhar os meus ombros de leve, como seu eu fosse feita de vidro.
—Kane, acorda.—Bellamy sussurrava com a voz rouca, como se tivesse acabado de acordar.Abro os meus olhos, piscando enquanto sentia a luz do Sol atingir minhas pupilas, Charlotte se remexe no meu colo.
—A névoa passou, vamos procurar o pessoal.—Bellamy explica, falando num tom mais alto, Charlotte levanta rapidamente do meu colo, esfregando os olhos sonolenta.
Só agora percebo o quanto estava me sentindo dolorida por ser o colchão humano de Charlotte.
Surpreendentemente, Bellamy estende a mão para mim, para me ajudar a levantar.
Aceito sua ajuda depois de alguns segundos processando sua ação, tentando descobrir o porque de tanta gentileza.
Saímos da gruta rapidamente, meus olhos piscam nervosos em contato com a luz forte do Sol.
—Tem alguém aí?—Bellamy grita, andando um pouco mais a minha frente.—Ethan!—Ele chama, esperando uma resposta.
—Estamos aqui!—Ouço a voz de meu irmão e um alívio ocupa o meu coração.
Corremos até o resto do grupo, prontamente abraço meu irmão, que retribui quase que imediatamente, enfiando o rosto nos meus cabelos.
—Nos separamos na confusão, onde estavam?—Ethan desfaz os abraço mas não tira a mão do meu ombro.
—Encontramos uma gruta no caminho.—Bellamy explica prontamente, com as mãos nos quadris.
Vejo ele procurar algo com um olhar e quando não encontra, pergunta num tom preocupado a Ethan.
—Ethan, onde está Antom?—Bellamy questiona, quase implorando para que Ethan soubesse.
—Eu ia te perguntar isso, ele não estava com vocês?—O tom de Ethan agora é preocupado, assim como de Bellamy.
Bellamy leva o olhar para mim, uma mistura de frustração, estresse e remorso, crescendo a cada segundo que me mirava.
E eu sinto meu peito afundar.
—Blake, ele deve estar em alguma caverna!—Sigo-o quando o mais alto começa a andar, olhando para os lados, a procura de qualquer vestígio do rapaz.
Quando seu olhar volta para mim, ele arqueia uma sobrancelha, como se estivesse questionando algo.
—Onde está Charlotte?—Quando as palavras saem de seus lábios, minha garganta trava, eu não havia percebido o paradeiro da garota.
Ouço um grito assustado ecoar sobre as árvores, era com certeza de Charlotte, eu e Bellamy voltamos a nos encarar e sem falar nada, corremos até a origem do barulho.
Encontramos Charlotte, mas o alívio ao encontrar a garota era substituído por aflição e surpresa ao ver o corpo de Atom deitado sobre a terra, todo queimado, agonizando de dor.
—Atom!—Bellamy chama ao meu lado, ficando totalmente chocado com a visão perturbadora.
Ver o jovem deitado ali, incapaz de falar corretamente, incapaz de levantar-se, faz meu peito afundar e lágrimas molharem meus cílios.
Agacho ao lado do garoto, vendo seus olhos cinzas sem expressão e seus lábios se mexendo, tentando formular palavras e só saiam ruídos ininteligíveis.
Bellamy se agacha ao meu lado, aproximando-se do rosto de Atom para escutar melhor.
—Me mata... me mata...—Ele suplicava com dificuldade e eu só conseguia reparar na sua pele vermelha e cheia de bolhas, alguns lugares estavam em carne viva.
Bellamy arregala os olhos ao ouvir, se afastando do corpo, voltando suas pupilas angustiadas para mim.
—Oque ele está falando?—Questiono, sabendo que não seria algo bom pela feição de Bellamy.
—Está pedindo para morrer...—Ele sussurra, como se estivesse em negação.Ouço os passos de Charlotte atrás de nós, ela entrega a pequena faca que possuía para Bellamy, que aceita depois de alguns segundos de pensamento.
—Por favor...—O garota deitado implorava, com lágrimas escorregando pelos olhos.
Bellamy manda Charlotte junto dos outros voltar ao acampamento, sinto o olhar do meu irmão pousar sobre mim antes de ele voltar ao acampamento liderando o grupo.
As mãos do mais velho ao meu lado tremiam absurdamente, dava para ver um suor escorrer pelos seus dedos, seus lábios também tremiam, ele não queria fazer aquilo.
E eu também não queria fazer, mas tinha que ser feito.
Coloco minha mão por cima da dele, abrindo seu punho lentamente, pegando a pequena faca para mim, enquanto eu fazia, Bellamy não tirava seus olhos de mim.
—Tudo bem...—Eu falo para Atom com uma voz chorosa, sentindo minha visão ficar embaçada com lágrimas.—Já vai acabar, vai ser rápido.—Eu tentava transmitir o conforto que faltava em mim, levando uma mão aos cabelos morenos do rapaz, passando os dedos por entre as mechas.
Sem esperar muito tempo, eu respiro fundo, levando a faca até o pescoço do rapaz, fazendo um corte profundo que cruzava a garganta, sentindo o sangue carmesim manchar a ponta da faca e a ponta dos meus dedos.
E Bellamy me olhava de forma enigmática, como se estivesse preso ao momento, ele não parecia perceber o jeito que olhava para mim, era um misto de gratidão, de orgulho, de admiração.
—Está feito... precisamos de alguém para vir busca-lo.—Proclamo, limpando o sangue da faca na minha calça preta e logo após entrego nas mãos de Bellamy, que não deixava de me mirar por um segundo.
—'Tá eu... vou chamar alguém.—Ele se afasta do corpo aflito, como se não estivesse nesse mundo.
Ando até Bellamy calmamente, coloco uma mão sobre seu ombro.
—Não foi sua culpa.—Eu afirmo, olhando para ele de forma empática, tentando aliviar sua tensão.
—Octávia vai me odiar...—Seus olhos estão brilhando com lágrimas, sua voz sai trêmula, ele estava prestes a ter um colapso na minha frente.
—Ela vai entender, eu faço ela entender.—Diminuo meu timbre, mirando seus olhos castanhos e cheios de lágrimas, que refletiam a luz solar.
Ele só acena com a cabeça de forma positiva, afastando as lágrimas da sua feição.Estendo minha mão de forma convidativa, querendo apoiar e acolhê-lo.
Ele poderia ser alguém idiota, mas não merecia carregar tudo sozinho.
E por incrível que pareça, ele aceita e segura minha mão, entrelaçando nossos dedos.Seu aperto é tão forte que suas juntas ficam brancas, mas eu ignoro o desconforto e aperto sua mão de volta de forma acolhedora e andamos o caminho inteiro de volta de mãos dadas.
A NOITE JÁ HAVIA CAÍDO QUANDO eu e Bellamy havíamos chegado ao acampamento, depois de ter pedido para alguém buscar o cadáver de Atom.
O que era para ser uma comemoração que o grupo de caça veio bem, virou um silêncio quando os adolescentes perceberam um cadáver coberto com lona sendo embalado por outro jovem rapaz, provavelmente amigo próximo de Atom.
—Vou cavar a cova.—Wells afirma de forma hesitante, tentando não parecer ignorante.
Bellamy apenas acena positivamente, e o rapaz que carregava o cadáver seguia Wells, tudo teria dado certo se Octávia não tivesse surgido.
—Já era hora!—Ela exclamava aliviada e animada, caminhando até Clarke.—Conseguiram o remédio?
—Sim...—A loira confirma prontamente, com os braços cruzados sobre o peito.
—Vem, tenho que te falar uma coisa.—Octavia agarra o antebraço de Clarke, mas antes que voltasse ao módulo.
Mas ela percebe o que está acontecendo e anda até eu e Bellamy com passo apressados e irritados.
—Octávia, fica longe.—Bellamy fala numa tentativa falha de segura-la.
Ela ignorou o irmão, foi até o cadáver e descobriu o rosto, se deparando com a feição mórbida de Atom.
—Não consegui fazer nada.—Bellamy põe a mão sobre o ombro da irmã.
Ela leva um olhar cheio de repulsa e ódio para o irmão e eu entro no meio, ficando de frente para Octavia.
—Foi minha culpa, Bellamy tentou salva-lo, eu deixei Atom para trás e quando vi que ele estava todo queimado, eu o matei, porque não tinha nada que pudesse salvá-lo, minhas mãos estão cheias do sangue dele.—Eu mostro minha mão direita, que estava manchada de um vermelho vinho e o olhar de ódio da garota a minha frente só se intensifica.
—Pensei que você fosse diferente, mas você é ainda pior que os privilegiados, é uma assassina!—Ela cospe as palavras, chocando nossos ombros e caminhando para longe de nós.—Vai se foder Kane, deveria ter sido você!—Ela grita, se afastando dos olhares dos jovens a nossa volta.Respiro fundo e fecho os olhos, tentando não surtar na frente de todo o acampamento.
—Não foi culpa sua.—Bellamy afirma frustrado, ele não estava querendo me confortar, era como se estivesse questionando porque eu assumi toda a culpa em seu lugar.
—Em parte, foi.—Levo meu olhar a ele, limpando o suor das minhas mãos na minha calça.
Se conseguimos salvar Jasper, então podíamos ter salvado o Atom? Seria muito egoísmo não aliviar o sofrimento dele por medo de condenar minha alma ao título de assassina?
E pela primeira vez, o meu pelego branco de cordeiro estava manchado com o vermelho carmesim violento e mórbido.
Mas antes que Bellamy respondesse ao meu argumento, Murphy se aproxima de nós, desviando o foco da conversa.
—Perderam alguém?—Bellamy questiona, depois de Murphy sussurrar algo.
—Não.
—E Jasper? Como está?—Ele questiona, parecendo preocupado, nem parecia a pessoa de horas atrás disposta a mata-lo por "estava enlouquecendo os outros com os seus gritos".
—Tá respirando, mas está mal, tentei dar um fim nele mas a louca da sua irmã...
Bellamy interrompe a fala do rapaz em um pulo, agarrando Murphy pela gola da jaqueta, tomado por uma raiva violenta e descontrolada.
—Minha o que?!—Ele grita contra o rosto de Murphy, pronto para explodir.—Minha o que?!
—Sua irmãzinha.—Murphy não tira os olhos dos de Bellamy, pareciam transmitir uma insegurança ou uma indignação.
—Isso mesmo! Minha irmãzinha!—Ele solta a gola do casaco do rapaz prontamente.—Tem mais alguma coisa a reclamar sobre ela?
—Não, nada, desculpe.
Bellamy se vira de costas e começa a caminhar, eu fico parada ali, sem conseguir esboçar reação com oque havia acabado de acontecer.
Me viro para começar a caminhar em direção ao módulo, para ver como Jasper estava se recuperando mas então ouço Murphy gritar a Bellamy.
—Mas me conta! Foi bom foder a vadia mais gostosa dos 100?—Seu tom é provocativo, sem medo de como os outros iriam reagir.
Eu só sinto repulsa, nojo crescendo na minha garganta, porque ele falava tudo aquilo olhando para mim.
Bellamy imediatamente se vira de volta a Murphy, caminhando em direção ao rapaz, pronto para avançar no pescoço do jovem.
Mas antes que pudesse chegar aonde queria, Murphy é atacado por um soco na boca, vejo até um dos seus molares cair no chão junto do corpo do rapaz.
E o dono do punho que socou o rosto de Murphy, é Cardan, que logo após, sobe em cima do tórax do garoto, puxando ele pela gola.
—O nome da minha irmã nunca mais vai sair da sua boca, tá entendendo?! Fala algo desse tipo de novo e eu estouro seu crânio, filho da puta!—Ele gritava contra o rosto de Murphy, assim como Bellamy fizera antes.
Só vejo Murphy confirmar com a cabeça, então Cardan o puxa pelo casaco, fazendo-o ficar de pé e depois o empurrando para longe.
Eu já tinha presenciado um desses ataques furiosos de Cardan várias vezes, mas todas as vezes, me deixava em choque, porque ele não era do tipo que explodia por qualquer coisa.
Ele guarda tudo 'pra si e quando chega no limite, desconta no primeiro que o tira do sério.
—Voltem ao trabalho!—Cardan grita, andando em uma direção oposta a minha provavelmente para esfriar a cabeça.
Eu comprimo os lábios quando sinto os olhares dos outros sobre mim, então, volto a caminhar em direção ao módulo.
3.6K words!
Não se esqueçam de votar e de comentar sobre o capitulo! é horrível ter leitores fantasmas! votar e comentar ajuda a motivar o autor.
Oque acham da minha escrita? fácil de ler, fluída, ou muito maçante/repetitiva? aceito críticas construtivas sobre!
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