01.²




Bellamy Blake.

Eu percorria a floresta em uma velocidade que nem eu mesmo conseguia medir, ao meu lado, Cardan acompanhava o meu ritmo, também frenético, com o olhar perturbado e com a respiração ofegante.

Quando paro para analisar o ambiente a procura de algo, eu me viro bruscamente e me ponho em posição, Cardan ergue um rifle que havia encontrado na direção de uma voz.

—Bellamy!—Suspiro aliviado quando percebo que era apenas Monroe e Rick.

—Abaixem-se!—Cardan ordena ao meu lado e nós quatro nos escondemos atrás de um tronco caído.

—Foram seguidos?—Moroe indaga.

Sinalizo com o indicador nos meus lábios para ela ficar quieta.

Quando vistorio a paisagem em busca de alguma ameaça, me abaixo e pergunto.

—Viu o Finn?

—Finn está vivo?—Rick questiona surpreso.

—Ele estava, nos separamos.—Cardan explica, com o rifle em posição e um dos olhos nas lentes de miras.

—Sabíamos do fogo, então fugimos, mas um terrestre nos seguiu.—Termino de contar, ainda olhando por cima do tronco, apreensivo e com o meu coração saindo pela boca.

Mas uma pergunta vem a minha mente, eu encaro os dois com o cenho franzido em uma expressão que denotava minha confusão, ainda com a respiração descompassada, eu pergunto.

—Como vocês escaparam?

—Vimos a Arca cair. Achamos que poderíamos ajudar... Uma parte dela caiu deste lado. Monroe acredita que é Mecha, mas eu penso...—Rick para de falar quando começamos a escutar barulhos de cascos de cavalos, aumentando a intensidade a cada segundo, tinha alguém por perto.

—Sigam-me, fiquem abaixados e em silêncio.—Eu ordeno, travando o maxilar e levantando do chão, Cardan prontamente me segue sem hesitar.

Ao caminhar por algumas árvores, encontramos a origem do barulho em uma trilha.

—Eu não consigo...—Escuto um lamurio vindo da trilha.—Não consigo continuar...—Minhas íris viajam pelo ambiente quando eu vejo o garoto que gemia cair no chão de tanto cansaço.

—Levante!—O terrestre ordena de forma arrogante, sem ao menos olhar para trás e o meu sangue ferve de ódio.

—Eu não consigo.—Escuto o garoto murmurar.

—Ele não aguenta mais!—Finn o defende, enquanto tenta ajudar o garoto a levantar mesmo com as mãos atadas e o rosto inteiramente ferido.

—Falei para levantar!—O terrestre grita enquanto desce do cavalo.

—Levante!—Finn implora, mas nada adianta.

O terrestre puxa a corda que estava amarrada as mãos do garoto de forma violenta e agressiva e tira uma faca enorme da bainha de sua roupa.

—Não!—O terrestre ignora a súplica de Finn, degola o rapaz a nossa frente, sem nenhum remorso ou sentimento, sem nenhuma dor ao ver o sangue derramado no solo.

Eu não consigo olhar por muito tempo, encaro o chão, meu coração estava torcido e estilhaçado dentro do meu peito ao ver a cena tão perturbadora. E uma pergunta me vem à cabeça: Eu poderia ter impedido?

—Esse é um, eu perdi 300.—Depois que o terrestre diz isso a Finn, que estava no chão paralisado, vejo Cardan avançar, completamente furioso em direção ao terrestre, mas eu seguro a gola da sua jaqueta, enquanto mexia negativamente com a cabeça e ele me entende, mas ainda bufa de raiva.

Eu não iria deixá-lo fazer uma imprudência dessas.

Deixei Octávia ir com aquele terrestre e deixei Ethan e Valerie para trás. Essa foi minha maior imprudência e eu sentia isso com peso agora.

Cardan também estava sentindo o desespero tão torturante de não ter nem ideia de como estão os irmãos.

Nós dois estávamos dispostos a voltar para quem nos importava. E salvar quem nós podíamos.

O terráqueo percorre alguns passos até a direção de Finn, que recuava cheio de pavor, se arrastando pelo chão, temendo ser o próximo, mas o homem cheio de tatuagens faciais apenas entrega uma garrafa de água a ele.

—Beba. Você está com sorte.—Diz estoico.—Preciso de um de vocês vivo para falar com o Comandante.—Finn aceitou a água de bom grado, bebendo um gole sedento e desesperado.

O homem põe Finn em pé e pega a garrafa de volta, voltando a realizar sua viagem. Comprimo os lábios e aponto com o queixo para a direção do terrestre, uma ordem silenciosa que deveríamos segui-los.

Apesar de estar com o corpo aqui, minha cabeça está lá no módulo, torcendo, ou melhor, rezando, como a Valerie diz, para que aquele acampamento esteja inteiro, para que quando voltássemos, tudo estaria bem de novo e Valerie e e Ethan estariam esperando a gente.

Eles provavelmente pensam que morremos e isso de alguma forma acaba comigo.

Minha mente também está em Octávia, que eu simplesmente em um momento de adrenalina, deixei-a fugir com um terrestre que nem a conhecia direito. Agora o arrependimento profundo atingiu minha consciência.

Depois de tanto correr para tentar acompanhar o terráqueo e Finn, nos escondemos por entre as árvores para elaborar um plano.

—Eu sei que estão assustados, mas já passamos por coisa pior, conseguimos fazer isso!—Eu murmuro baixo, para apenas os três me escutarem.

—Como?!—Rick pergunta confuso.

—Atacamos em equipe! Quando ele vier atrás e mim, Cardan solta o Finn, quando estiver livre, será 5 para um, não tem erro.—Eu explico resumidamente, também não sabendo ao certo da eficácia do meu plano gerado de tão última hora.

—Oque fazemos?—Monroe e Rick indagam em uníssono.

—De preferência, não morram.—Cardan responde com um tom de voz carregado de veneno e amargura, não muito aberto a qualquer tipo de perguntas óbvias demais.

—Prontos?—Eu falo, minha respiração pesada e meus olhos focados no terrestre a poucos metros.—1! 2! 3!—Termino a contagem e corro sem olhar para trás, passando por entre os arbustos cheios de espinhos da mata.

—Hey!—Chamo a atenção a atenção dos dois e o terrestres se vira.

Olho para trás em descrença quando percebo que estava sozinho. Os três canalhas me deixaram para trás. Vou encher a cara do Cardan de soco.

Agora estou sozinho.

É oque temos para hoje.

—Bellamy! Saia daqui!—Finn exclama mas eu ignoro, estava disposto a enfrentar o rosto horripilante do terráqueo para salvar ele.

O terráqueo da meia volta com o cavalo e começa a galopar em minha direção. Finn é arrastado pela corda conforme o cavalo corria.

A adrenalina fluía livremente pelo meu sangue, eu não recuo nem um passo. Atiro a lança que carregava em direção ao homem, mas ele desvia rapidamente e precisamente. Me arrependo profundamente de ter tentando quando o guerreiro acerta com o cabo do facão no meu rosto, me fazendo cair de costas contra o chão úmido.

O terrestre desce do cavalo, caminha em passos confiantes em minha direção e desfere um soco em minha barriga, me atirando alguns centímetros longe de onde eu havia caído. Ele segura minha blusa, desfere socos atrás de socos contra o meu rosto e o mundo a minha volta girava e ficava cada vez mais escuro. É nessa hora que eu tenho certeza que eu vou morrer, porque eu sinto que não posso aguentar mais.

[...]

Sabe quando você pensa que algo é tão ruim que não pode piorar? Pois é! Sempre pode.

Depois de uns minutos em inconsciência, o terrestre amarra os meus pulsos, agora estou ao lado de fim, com as mãos atadas, meu corpo inteiro dói e os hematomas abertos no meu rosto ardem em contato com o oxigênio.

—Tem que ficar de pé, se não ele vai matar você.—Finn sussurra com a voz trêmula e aflita e eu apenas finjo que não sabia oque estava acontecendo.

O terráqueo mau começa a andar e eu escuto gritos vindo da floresta, quando viro meu rosto, vejo Monroe e Rick, correndo com armas brancas nas mãos em nossa direção.

O terrestre saca a mesma faca que usou para matar o garoto há momentos atrás, dá dois passos e exibe um sorriso sádico em nossa direção.

O que eu esperava ser um banho de sangue é impedido quando o terráqueo cai no chão paralisado e com buraco de tiros no peito.

Ao olhar na direção de onde eu suponho ser o tiro, vejo Cardan, com um sorriso ladino, apoiado com as costas contra o tronco de uma árvore, uma postura calma e relaxada que condizia com sua expressão facial.

—Achou que eu ia te deixar para trás, besta?—Cardan sibila ainda mantendo um sorriso, apontando com o queixo para alguma direção, lançando uma piscadela.

Com o sinal de Cardan, vários homens de uniforme começam a se revelar por entre os arbustos densos da florestas. Homens guardas armados até os dentes.

Eu reconhecia mais do que bem esse uniforme e a figura a minha frente.

Marcus Kane.

—Estamos aqui agora. Tudo vai ficar bem.—Marcus diz com aquela voz de homem diplomata de sempre, que sempre irritou a Ethan num nível estratosférico.

—Porque não atirou antes?—Finn pergunta indignado a Cardan, que caminhava até a gente com o fuzil apoiado no ombro.

—Gosto de uma entrada bem dramática.—Ele lança um sorriso.—Vou contar isso 'pra Val, quero ver ela dizer que tem a melhor mira dos irmãos.—Cardan diz orgulhoso e eu reviro os olhos.

Depois de um assovio de Kane, as tropas começam a se dissipar e uma mulher de cabelos louros queimados caminha até a mim, carregando um kit médico.

—Não se levante.—Ela pede, mas eu faço do mesmo jeito.

—Estou bem. Precisamos voltar para a nave.—Eu explico, apontando o caminho em direção ao módulo com o queixo.

—Onde está Clarke? Ela está bem?!—A mulher puxa o ombro de Finn e por sua pergunta eu suponho que seja Abby Griffin.

—Ela estava quando partimos.—Finn revela num tom preocupado, seu rosto estava menos coberto de sangue que o meu.—Nós te levaremos até ela.

—Esperem, devagar. Sinclair!—Kane interrompe nosso caminho e começa a conversar baixo com o homem.

—Vocês três, liderem o caminho!—Mais uma ordem de Kane e finalmente começamos a andar.

Ele não falou nem dez palavras e já estava me tirando do sério com o jeito mandão.

Mas eu dou um sorriso, porque eu percebo a quem Valerie puxou.

[...]

Durante todo o trajeto, eu andei com os punhos apertados, o maxilar rígido e o olhar transtornado. Repetindo várias e várias vezes que tudo estaria em seu devido lugar quando voltássemos, que Ethan estaria liderando a organização junto de Clarke e Valerie estaria ajudando a enterrar os cadáveres dos jovens que tiveram a vida ceifada nessa batalha.

E eu fico repetindo em minha cabeça como um mantra, Ethan e Valerie estão bem, assim como todo o acampamento, há mais sobreviventes do que mortos...

Mas apesar de tantas palavras e pensar com tanta convicção, algo dentro do meu estômago embrulhava e dizia ao contrário, que eu teria a pior decepção da minha vida quando eu chegasse lá.

Perto do terreno do acampamento, há não 1 ou 2, mas dezenas de restos mortais dos deliquentes que desceram da nave, escorados em árvores, com flechas perfurando brutalmente suas caixas torácicas, outros deitados no chão, enquanto o sangue purpúreo maculava o solo e as roupas que vestiam.

A vista era das piores que eu poderia um dia expectar.

Adolescentes que antes respiravam, com uma força tão vitalícia, com faces enérgicas, sangue quente correndo pelo corpo e um coração pubescente batendo tão fortemente no peito, agora estavam estáticos, gelados, com as pupilas ausentes de emoção pela tão longa vida que eles tinham pela frente, tirada tão injustamente.

E nesse instante eu quero culpar os terrestres, quero culpar o Conselho, que é sempre tão autoritário e indiferente principalmente com Walden, sempre servindo benefícios aos ricos e deixando os pobres morrerem por falta de oxigênio.

Foi o Conselho que teve a decisão estúpida de mandar a última geração de pessoas para cá. De por pessoas inexperientes em risco de morte, sem se importar se realmente sairiam vivas, por causa de crimes que eram tão pequenos.

Aqui nessa hora, presenciando os corpos largados no chão como se fossem nada, eu percebo que há algo muito errado. O silêncio de todos os lados. A ausência de movimentação. Tudo isso me faz pensar o pior. Meus olhos se arregalam enquanto eu comprimia os lábios.

Cardan também percebe e mantém os olhos atentos, mas cheios de angústia e ansiedade.

—Está muito quieto.—Cardan afirma, agachado ao nosso lado, procurando por qualquer sinal pela lente do rifle que carregava.

Quando me levanto para avançar em direção ao portão, Kane puxa meu ombro e diz.

—Nós assumimos daqui em diante.—Sua voz está baixa, mas ainda sim, autoritária e firme.—Banks, Scanlon, fiquem com eles. Avisaremos quando soubermos que é seguro.—O homem levanta, nem nos dá tempo para questionar, me pergunto se os guardas são para nos proteger ou nos vigiar, e penso seriamente que a segunda opção seja a mais plausível.

Encaro Finn e Cardan que estavam ao meu lado, os dois tinham os cenhos franzidos e os olhos preocupados. Depois de alguns segundos, me pego tamborilando os dedos no tronco, cada vez mais apreensivo pela espera.

Então eu me levanto, começo a andar e dar meia volta e andar, pensando em todas e quaisquer possibilidades que estejam havendo lá dentro daquele módulo.

—Precisamos de macas!—Escuto alguém gritar lá de dentro dos portões e ao mesmo instante, eu, Cardan e Finn estamos de pé e caminhando em direção ao portão.

Mas os dois guardas encarregados por nós, impedem. Eu lanço um olhar de canto para Finn e para Cardan, um breve e simples sinal sobre o que cada um deveria fazer e eles entendem muito rapidamente.

E nós corremos, com toda a força que tínhamos nas pernas, em direção a uma outra entrada do acampamento, que foi sugestão de Valerie construir para casos de emergência.

—Onde está todo mundo?—Questiono, observando criticamente toda a região do acampamento, devastada, com cinzas e ossadas de terrestre espalhadas pelo chão, acompanhado por um cheiro forte de queimado.

Meus passos até o módulo são cautelosos e meu olhar ainda estava absorvendo a mudança drástica na aparência do acampamento, até eu ouvir alguém.

—Foi horrível! Havia centenas deles... se não fosse por Raven... Não sei oque aconteceria!—Era Murphy. Caminhando com a ajuda de Kane. Ele estava sendo carregado pelo pai da menina que ele agrediu tão cruelmente.

Meu sangue ferve por todo o meu corpo. E cada minuto do que aconteceu passa na minha cabeça. Cada mísera gota negra de sangue que escorreu do rosto de Valerie quando ele agrediu ela sem motivo algum. O olhar de pavor dela. O jeito que chorou e se debateu como uma criança. Como pediu para morrer quando acordou.

Aperto minhas mãos, tensiono o maxilar, minha respiração se torna lenta, marcante, meus olhos ardiam de ódio, de pura ira.

—Bellamy... você está... você está vivo...—O idiota diz com a voz carregada de insatisfação e desdém.

Eu perco a linha.

Minha mãe dizia que na raiva as pessoas não ficam lúcidas. Fazem sem saber. Por puro instinto, impulso.

Mas eu tenho plena certeza do que eu estou fazendo quando eu parto para cima do filho da puta, quando eu desfiro tantos socos no rosto já coberto por sangue seco. Eu tenho certeza de tudo oque faço, é uma escolha totalmente lúcida. Livre de qualquer instinto.

Tenho plena certeza de que eu o quero morto. Não pelo que fez comigo.

Mas por outra coisa. Meu âmago sabe até o nome dela, eu nem preciso dizer o porque estou fazendo isso.

Uma parte de mim também sabe que depois daquilo, Valerie não vai ser a mesma e isso me corrói, porque sinto que falhei não só com ela, falhei comigo, com Ethan e Cardan.

—Seu assassino filho da puta!—Eu grito, minha voz rasga minha garganta, não paro de socar a cara dele.

Meu abdome contrai numa ação repentina quando eu sinto algo queimar todo o meu corpo, faz me amolecer os membros e cair no chão, totalmente desorientado, sentindo parte da minha lombar arder muito.

—Prenda-o.—Kane está olhando para mim, de pé, a minha frente, com a postura de sempre. Os cachorros, ou melhor, guardas começam a me carregar.

—Espere! Você não entende!—Finn se põe à frente dele, minha visão está meio turva mas ainda consigo escutar tudo muito bem.—Murphy matou dois dos nossos! Atirou em Raven e tentou enforcar Bellamy.

—Eu não me importo! Vocês não são animais!—Eu reviro os olhos ao ouvir o que Kane diz, enquanto os guardas me algemavam.

—Olha aqui Kane.—Cardan se aproxima do homem, a postura firme e cheia de fúria marcando presença no ambiente. Quando Kane abre a boca para falar, Cardan impede.—Não! Agora você vai me escutar! Sua filha tava por aqui de ser abusada pelo merdinha que você estava ajudando a andar! E você não se importa!? Valerie só está viva porque Bellamy a salvou, incontáveis vezes! Eu, Ethan e ele fizemos mais do que você fez a sua vida inteira! Se vai começar com essa palhaçada agora, eu não vou mais proteger Valerie por você, vou começar a proteger ela de você!

—Você era um bom guarda, Mason. Infelizmente sentimentos te atrapalharam demais.—Marcus responde sem deixar a postura firme de lado e aponta o queixo para Cardan e Murphy.—Duvido que vai conseguir proteger ela de mim preso com o seu amigo.—Outros guardas caminham até ele, apesar de estar sendo algemado, Cardan não deixa de encarar Kane, nem por um minuto.—Eu não sou o vilão que você e Ethan pintam, Mason.

Cardan tenta partir para cima, mas um bastão de choque atinge suas costas e ele cai de joelhos no chão, se contorcendo de dor.

—Existem regras e leis. Vocês não estão mais no controle.—Kane agora está encarando a mim e Cardan com uma expressão dura.

Ouço o farfalhar das cortinas que cobriam a entrada do módulo e de lá, saem quatro guardas, carregando duas macas.

Valerie estava lá, deitada, inconsciente, pálida e com a mesma beleza indescritível e angelical de sempre, mas estava mórbido, com lábios brancos e olheiras roxas.

Ter que ver isso, faz meu mundo cair. A possibilidade de não haver pulso. De que ela não esteja mais respirando.

Porque por mais que ela não acredite, ela é a última pessoa que merece morrer.

Se eu não estivesse algemado, eu mesmo carregaria ela, sem ao menos precisar de maca.

Raven que também estava sendo carregada, estava acordada e consciente, mas fraca da mesma forma.

—Perderam muito sangue, é um milagre estarem vivas.—Abby diz a Finn, que estava perto da maca de Raven, olhando aflito para o corpo semi-inconsciente da garota.—Não há mais ninguém lá.—Abby olha agora para mim e para Cardan, sabendo por quem nós iríamos perguntar.

Kane estende a mão e ajuda Murphy a levantar, agora com um semblante mais rijo e com um fúria fria no olhar.

Um furacão se forma no meu peito e no centro dele há um questionamento que eu vejo quase como impossível de matar: Onde estão os outros?

[...]

—Estamos indo.—Finn diz se aproximando de mim, enquanto eu estava sentado em uma rocha, olhando para o chão, tentando aguentar a ardência dos ferimentos que manchavam o meu rosto.

—Oque?—Indago rapidamente.—É para cá que eles vão voltar!—Eu explico.

—Não acho que vão voltar.—Finn indaga, me fitando com seriedade.—Os terrestres os pegaram e você sabe disso.—Ele confirma a minha paranoia.

Eu olho para o chão, consternado e em dúvida sobre qual passo dar.

—Veja...—Finn se abaixa a minha altura.—Vamos com Kane a divisão Alpha, arranjamos reforços, armas... e encontramos nosso amigos.

—E quantos de nós vão ter morrido até lá?—Pergunto, minha voz carregada de mágoa e ansiedade ao levantar a possibilidade tão real.

Finn suspira, olha para o chão e depois volta à cabeça para onde Valerie e Raven estavam sendo tratadas.

—Abby falou que se Raven não for operada, vai morrer em horas. Se Valerie não receber atendimento apropriado, vai precisar de transfusão de sangue e você sabe que ela não tem ninguém compatível.—Finn reforça, trazendo a realidade a tona.

E eu sabia que ele estava mais do que certo.

Valerie desmaiou naquele dia da febre hemorrágica e ficou isolada em uma tenda por conta da cor do sangue. Só deixou todos nós mais aflitos.

Mesmo Clarke assegurando que aquilo não era contagioso, ela ainda não sabia explicar o porque daquele único sintoma em Valerie e mesmo tendo conhecimentos sobre medicina, não era médica formada e nunca tinha visto aquilo.

Mas com poucas horas de pensamento ela concluiu que não havia oque fazer, apenas acompanhar o estado dela e torcer para que Valerie estivesse bem até a equipe médica de verdade chegar, também dizendo o quão arriscado seria se perdesse muito sangue sem ter alguém compatível, temendo que a cor fosse algo ligado ao DNA.

E quando Finn me lembra sobre isso eu já tenho certeza de para onde vamos ir.

Algo em mim não permitia ir embora sem ter certeza que Valerie estivesse bem, mesmo eu não tendo nenhuma noção sobre medicina.

—É hora de ir.—Finn diz e depois se levanta, eu olho para o chão, preenchido por aflição.

Os guardas vem em minha direção, me erguem e me escoltam de maneira nada gentil durante o caminho, Cardan estava ao meu lado, diferente de mim, estava com os olhos furiosos, uma cólera profunda que eu não conseguia medir o tamanho. Ele estava planejando algo e eu o conhecia muito bem para saber exatamente oque era.

Minhas íris deslizam sobre todo o acampamento, que era querendo ou não, a nossa casa, onde enterramos nossos mortos e descansávamos os ossos. Saber que talvez eu não volte mais aqui, não me acalma.

Meus olhos param em um desenho feito de giz numa das paredes externas da nave. Um sorriso pequeno e instantâneo se curva nos meus lábios.

Valerie arranjou em algum lugar e junto de Charlotte, em um dia onde não tinha tantas obrigações, passou a tarde desenhando e ensinando a garota a desenhar.

O desenho de Valerie estava queimado, mas o de Charlotte estava intacto.

Eram três bonecos de palito, estilo clássico de alguém que não tem coordenação motora ou técnica em desenho.

Dois deles tinham cabelos longos e alguns lacinhos e o outro, o mais alto, tinha cabelo curto.

Todos com rostos felizes.

E acima da cabeça deles, os nomes.

Val, Charlotte e Bell.

E um coração do lado.

Meu coração aperta por uma saudade irracional.

3.5K words! Não revisado! 

Um capítulo curtinho só para introdução do ponto de vista do Bell e também para saber a opinião de vocês sobre, porque foi complicado para mim escrever o ponto de vista dele.

Não se esqueçam de votar e comentar amores, vejo vocês no próximo capítulo. 

Beijinhos da V!💋

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