𝚝𝚎𝚗

— Eu preciso te contar uma coisa.

Izuku já tinha ouvido isso antes. Mais especificamente quando você estava na casa dele no dia anterior, contando para ele que você estava afim de transar com Katsuki. O deja vu foi tão forte e irônico que ele quase teve vontade de rir.

— Pode falar — Ele disse, observando enquanto Bakugou suspirava fundo.

Essa situação nunca tinha acontecido antes. Por mais que eles fossem amigos de infância, raramente o loiro falava sobre algo muito pessoal. Claro que eles tinham conversas mais profundas, e o esverdeado era a pessoa que mais deixava Katsuki confortável para falar sobre esses assuntos. Por mais que ele amasse Denki e Kirishima, era com Midoriya que Bakugou se deixava tirar as barreiras.

Mas essa forma de começar a conversa era novidade para Izuku. Geralmente era ele quem começava essas conversas. Por exemplo, Midoriya contou que na festa na casa de Toya ele tinha ficado com Shoto Todoroki e, somente depois disso, Katsuki contou que tinha ficado com Uraraka, sem dar nenhuma importância para o fato de que o amigo tinha ficado com um homem.

Então, Izuku estava feliz que, dessa vez, Bakugou quem começaria as conversas mais pessoais, mas ele não estava esperando por:

— Você acha que eu tenho chance com a [Nome]?

O esverdeado tinha consciência de que passou um tempo de boca fechada, tempo até demais, na verdade. Aquilo não podia estar acontecendo. Parecia até uma piada.

Você tinha, literalmente no dia anterior, conversado com ele sobre o seu novo interesse em transar com Katsuki. E agora o loiro estava perguntando para ele as chances que ele tinha com você.

Por um segundo, Midoriya cogitou contar para ele sobre o que conversou com você no dia anterior, mas ele tinha lhe prometido que não falaria nada e especificamente para Katsuki. Ele também sabia que não iria poder lhe contar sobre a conversa que estavam tendo naquele momento.

Sempre foi uma tarefa difícil ser melhor amigo de vocês dois, mas nunca tinha sido tão desafiador quanto estava sendo naquele momento. Saber os sentimentos e dúvidas dos dois lados e não poder fazer nada a respeito era realmente irritante.

— Fala alguma coisa, porra — A voz grave de Bakugou foi o que trouxe Izuku de volta para a realidade — Esquece. Foi idiotice minha perguntar, eu sei que ela nunca...

— Não acho que foi idiotice — Midoriya interrompeu, dando de ombros — Também não acho que suas chances são tão baixas quanto você pensa.

— Sério? — Ele parecia levemente envergonhado, além de relutante, e Izuku percebeu que nunca tinha visto ele daquele jeito.

— Uhum. Mas, me reponde uma coisa, por que você tá me perguntando isso?

Naquela hora, foi o loiro quem passou muito tempo sem falar nada, como se estivesse tentando organizar os próprios pensamentos e arrumar uma forma de se expressar. Midoriya já tinha até desistido de receber uma resposta, quando ele falou:

— Nem eu sei bem, na verdade — Katsuki suspirou fundo e se sentou na cama de casal do quarto dele — Eu meio que gostava dela quando a gente era mais novo.

— Eu lembro disso.

— Mas eu nunca conversei sobre isso com você.

— Não, mas você ficava me fazendo umas perguntas sobre ela o tempo todo — Mais uma vez, o de cabelos verdes deu de ombros — Eu só achei que fosse porque você era afim dela.

— É, eu era.

— E o que mudou?

— A gente cresceu e ela começou a ficar com outros caras — Dessa vez, foi ele quem deu de ombros — Eu comecei a ficar irritado toda vez que eu via ela e começamos a brigar pra caralho.

— Por isso você fica chamando ela de puta o tempo todo? Porque tem raiva de quando ela fica com outros caras?

— Basicamente.

— Se o seu intuito era fazer ela gostar de você, essa é uma ideia bem merda.

— Sei disso, mas eu nunca consegui evitar — Outro suspiro escapou dos lábios dele e Izuku conseguiu perceber o quão difícil estava sendo para o amigo conversar sobre isso — Toda vez que eu vejo ela eu penso em alguma coisa legal pra falar, mas aí ela usa uma roupa curta demais ou a porra de uma blusa daquele filho da puta do capitão do time de futebol e eu fico maluco de raiva.

— Você não devia ficar se importando com as roupas que ela usa.

— Eu nunca me importei com as roupas de verdade — As íris vermelhas desviaram do amigo, quase como se Katsuki estivesse envergonhado — [Nome] fica uma gostosa com qualquer coisa que ela use. O que me deixa puto é que toda vez que ela usa uma saia mais curta, literalmente todos os caras olham quando ela passa. E pensar que qualquer um deles pode ter a chance de tocar nela e eu não, me deixa puto da vida.

— Já disse que não acho que suas chances sejam tão pequenas assim — O olhar de Bakugou se voltou para Izuku de novo, o que fez com que o mais baixo suspirasse alto — Obviamente que você precisaria se comportar e ajudaria muito se você parasse de chamar ela de puta só por causa de ciúmes.

— Eu não fico com ciúmes.

Sério? Então tenta explicar isso — Agora Midoriya se levantou do chão, onde estava sentado, segundos antes, e andou na direção do amigo, basicamente apontando o dedo no rosto dele — Você fica chamando a garota que você gosta de "puta" porque fica com raiva quando outros homens olham pra ela. E você vem me dizer que isso não é ciúmes?

Katsuki virou o rosto, verdadeiramente envergonhado. Ele sabia que aquilo era ciúmes, mas nunca quis colocar isso em palavras, muito menos ouvir elas saindo da boca do melhor amigo dele, que raramente estava errado.

— Eu achava que se eu continuasse chamando ela assim, [Nome] ia parar de tentar chamar atenção.

— Primeiro, tenho cem por cento de certeza que isso só serviu pro contrário, já que ela é pós doutora em te aperrear. Segundo, [Nome] não precisa de uma roupa curta pra chamar atenção e você sabe muito bem disso — Izuku parecia um pouco irritado e Bakugou deu toda a razão para ele. Você era melhor amiga do esverdeado e ele acabou de descobrir que o loiro ficava tentando lhe colocar para baixo por causa de um ciúme bobo. No lugar de Midoriya, Katsuki teria ficado puto também — Ela podia usar uma camisola daquelas que avós usam e, ainda assim, metade dos caras iam querer comer ela.

— Eu sei disso — Ele respondeu, tão baixo que Izuku quase não escutou — Vou tentar me comportar, eu juro.

— Ótimo — Midoriya saiu de perto dele e foi até a bancada que ficava do outro lado do quarto, pegando o celular dele em cima da mesa.

Bakugou ficou encarando o amigo, enquanto ele desbloqueava o próprio celular e fazia algo. Quando Izuku colocou o celular perto do ouvido, depois de começar uma chamada, o loiro perguntou:

— Tá ligando pra quem?

— [Nome].

Katsuki levantou da cama em um pulo e começou a andar na direção do amigo.

— O que caralho você vai fazer? — Ele sussurrou, mas você já tinha atendido a ligação.

— Oi, [Nome] — Midoriya falava com você em um tom de voz mais dócil do que ele falava com qualquer outra pessoa — Tá fazendo o que? — Katsuki não conseguia ouvir o que você respondia na ligação e ficou paralisado a poucos passos do amigo, nervoso com o que o esverdeado poderia falar — Eu tô indo pra aquele bar perto da minha casa com Shoto e Kacchan. Quer vir?

O coração de Bakugou errou uma batida ao ouvir aquilo. Eles já tinham combinado de ir no bar para que o loiro conhecesse o namorado do melhor amigo, mas ele não estava preparado para a ideia de você ir junto.

Katsuki sabia que a forma como ele vinha agindo não era nem um pouco certa. Ele tentou lhe colocar para baixo durante muito tempo, na esperança de que você fosse menos atrevida, ficasse com menos caras e usasse roupas menos chamativas. Izuku tinha razão quando disse que isso só serviu para o contrário e Bakugou se amaldiçoava por ter começado a fazer isso. Depois de tanto tempo lhe xingando, ele só conseguiu fazer com que você ficasse ainda mais atrevida e ainda conseguiu fazer você nutrir um ódio inexplicável por ele.

Ele sabia que, se no final das contas você não quisesse absolutamente nada com ele, Katsuki nunca poderia lhe culpar. A responsabilidade e a culpa eram exclusivamente dele.

— Okay — A voz de Midoriya interrompeu os pensamentos dele — A gente já tá indo, mas fica a vontade pra ir quando acabar de se arrumar — Ele parou de falar e ficou ouvindo alguma coisa que você estava falando — Tá certo. A gente se vê já já — Mais uma pausa — Também te amo.

O esverdeado desligou a chamada e encarou o melhor amigo. Bakugou ainda olhava para ele com os olhos meio arregalados e com uma expectativa enorme.

— Ela disse que ia se arrumar e sair de casa — Um sorriso divertido tomou conta dos lábios de Izuku, ao ver o alívio que percorria o rosto e corpo do amigo — Shoto também deve tá saindo de casa, então é melhor a gente ir logo.

— Certo, certo — Levemente desorientado, o que não combinava muito com ele, Katsuki se conferiu uma vez no espelho antes de sair do próprio quarto.

— Você tá ótimo, não precisa se preocupar — O outro homem falou, empurrando o amigo para que andassem mais rápido pelo corredor — E eu nunca te vi desse jeito. Nem parece você.

— Vai se foder.

— Esse é o Kacchan que eu conheço — Com um sorriso vitorioso, porque conseguiu fazer o amigo esquecer um pouco o nervosismo, Izuku saiu na frente e guiou o caminho até o bar, que não ficava muito longe dali, principalmente pelo fato de eles dois serem quase vizinhos.

Eles não conversaram mais sobre você, em parte porque estavam sendo cautelosos para ninguém ouvir sobre isso. Katsuki tinha certeza que se mataria se mais alguém descobrisse a dúvida dele sobre os sentimentos que ele tinha por você. Por outro lado, a conversa estava relativamente encerrada. Obviamente que Midoriya ainda queria falar muitas coisas e fazer diversas perguntas, mas se contentou com o fato de que o loiro já tinha se aberto um pouco, o que era muito difícil de acontecer.

A conversa foi basicamente sobre como Izuku e o Todoroki se conheceram. Eles dois já tinham se encontrado algumas vezes na faculdade e começaram a conversar por mensagem. A primeira vez que ficaram foi na festa na casa dos Todoroki e, depois disso, continuaram a sair mais algumas vezes. Bakugou já estava rotulando Shoto como "namorado do melhor amigo dele", mesmo que um pedido não tivesse sido feito ainda.

O fato de Shoto ser irmão de Toya dificultava um pouco as coisas para o loiro e se lembrar daquela festa na casa deles deixava ele irritado. Katsuki sabia que você tinha feito o a três com Toya, mas ele lembrou a si mesmo que Shoto não era Toya. Não fazia sentido ficar com raiva do irmão mais novo por causa do irmão mais velho. Não que ele tivesse o direito de ficar com raiva de Toya de qualquer maneira.

— Shoto — Midoriya chamou, quando viu o garoto de cabelo metade branco e metade vermelho. Ele cumprimentou o muitíssimo provavelmente futuro namorado com um selinho rápido e se virou na direção do amigo ao lado — Esse aqui é o Kacchan.

— Muito prazer — O Todoroki estendeu a mão para Bakugou, que a apertou rapidamente — Izuku fala muito sobre você.

— Tenho certeza de que ele só fala as piores partes — O fato de Shoto ter esboçado um sorrisinho divertido fez com que o loiro ficasse aliviado. Ele não tinha como negar que estava nervoso. Estava conhecendo o namorado do melhor amigo e queria causar a melhor impressão possível — E o prazer é meu.

Midoriya tinha um sorriso enorme no rosto. Estava na cara que ele tinha ficado nervoso com a ideia de apresentar o futuro namorado para os amigos mais próximos, principalmente pelo fato de que ele se assumiu a poucos dias, mas estava tudo indo bem.

Os três entraram no bar e encontraram uma mesa no fundo, onde a iluminação da tarde não estava tão forte e o barulho das outras mesas era menor. Katsuki pediu logo um chopp, enquanto os outros dois pediam drinks com tanta coisa que o loiro chega se perdeu.

A conversa era calma e tranquila, e Bakugou se impressionou com o quão divertido Shoto era. Todo mundo na universidade sabia sobre Shoto Todoroki, principalmente por ele ser o irmão mais novo de Toya. Era comum ouvir que o irmão mais velho era o divertido, enquanto o mais novo era o caladão. Mas, talvez pelo histórico de Katsuki odiar Toya, ele preferiu Shoto mil vezes.

— Oi, gente — Assim que sua voz atingiu os tímpanos dele, todo o corpo de Bakugou congelou no lugar. Ele tinha estado tão nervoso em causar uma boa impressão para o Todoroki que acabou se esquecendo que você ia se encontrar com eles também — Me desculpem o atraso.

— Tudo bem — Midoriya falava olhando na direção dela, mas desviou levemente o olhar para Katsuki uma vez — A culpa foi minha por ter avisado em cima da hora — Então, ele apontou para o futuro namorado que estava sentado ao lado dele — Esse é Shoto.

— A gente já se conhece — O Todoroki disse, se levantando para lhe cumprimentar com dois beijinhos — Pelo menos de vista.

— Eu vi ele algumas vezes quando eu ia na casa de Toya — Você respondeu, quando viu a expressão confusa do esverdeado.

Bakugou não olhou na sua direção enquanto você se sentava ao lado dele no sofá. A mesa era relativamente pequena, com sofás dos dois lados. Obviamente, Izuku e Shoto se sentaram juntos em um deles, e você e Katsuki ficaram com o outro. O lugar era apertado, o que fez com que o seu joelho batesse no dele levemente, mas foi o suficiente para um calafrio gostoso percorrer por todo o corpo dele.

— O chopp daqui é bom? — Só depois de alguns poucos segundos Katsuki percebeu que você estava falando com ele.

— É — Ele se forçou a falar com a expressão mais neutra que conseguiu colocar no rosto — Quer provar?

Você ficou surpresa, mas se recusou a demonstrar. Ao invés disso, assentiu com a cabeça e aceitou a caneca que ele estendeu na sua direção. De fato, era gostoso, mas nem perto do quão gostoso era o homem sentado ao seu lado.

Bakugou usava uma camisa cinza escuro muito fina e levemente justa, dando uma bela visão do corpo dele que você já sabia ser impecável. As lembranças do dia na piscina lhe atingiram em cheio, fazendo você se lembrar de ter encarado aqueles músculos (todos eles) por tempo demais.

— Eu vou pedir um — Você disse, entregando de volta a caneca dele e chamando um garçom logo em seguida.

Não demorou para vocês engajarem em diversas conversas, com você e Bakugou sempre tentando conhecer melhor Shoto. Você já sabia um pouco sobre ele, das vezes em que Toya comentava sobre o irmão mais novo, sempre com muito carinho. Você sabia que eles dois eram próximos o suficiente para, pelo menos, Toya saber que o irmão estava quase namorando.

— Vocês dois namoram?

Uma de suas sobrancelhas se arqueou com a pergunta do Todoroki. Demorou um tempo para você perceber que ele estava falando de você e Katsuki. Sua cabeça automaticamente se virou para o lado e encarou o loiro, que também já estava olhando na sua direção, com a mesma expressão de espanto no rosto.

— Não — Ele disse.

— Definitivamente não — Você falou, ao mesmo tempo que ele.

— Eles são aqueles meus amigos que brigam literalmente o tempo todo — Midoriya foi o único de vocês que conseguiu dar uma resposta descente — É a primeira vez que eles passam vinte minutos sem mandar o outro tomar no cu.

— Sério? Vocês parecem se dar tão bem — A única coisa que você e Bakugou conseguiram responder foram alguns múrmuros e palavras desconexas — Me desculpem por ter perguntado, mas é que vocês dois realmente parecem um casal quando não tão brigando.

Você ficou vermelha. Katsuki desviou o olhar. E Midoriya começou a rir alto.

Shoto poderia ser uma gracinha o tempo todo, mas com certeza estava precisando de algum auxílio psiquiátrico. Somente um louco pensaria que você e Bakugou são um casal.

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