O seu quarto estava uma completa zona. Tinha tirado o domingo para organizar o seu guarda roupa, o que se resumia em você tirando literalmente tudo o que tinha dentro dele, jogar na sua cama, chão e bancada, ver o que você iria doar e colocar tudo de volta no lugar, mas dessa vez de forma mais organizada.

Você fazia isso pelo menos uma vez por mês, mesmo sabendo que o guarda roupa ficaria bagunçado de novo em menos de uma semana.

Enquanto separava as roupas que você não usava mais para doação, o seu celular começou a tocar, interrompendo a música que tocava pela caixinha de som. Ainda com várias peças de roupa penduradas nos braços, você foi até o aparelho e o pegou.

— Alô? — Você disse, assim que atendeu a ligação, sem nem olhar na tela para ver quem estava ligando.

— Oi, baby.

Seu corpo vacilou por um segundo. Depois de toda a história com Katsuki, o que se resumia a você ter decidido que iria tentar transar com ele e ver se o seu fogo por ele abaixava, você acabou se esquecendo de falar com Toya e resolver as coisas, como tinha dito a Keigo que faria.

— Oi, Toya — Você deixou que as roupas que estava segurando caíssem dentro da caixa de roupas destinadas à doação — Eu devia ter ligado antes, me desculpa. É que aconteceram algumas coisas e...

— Tudo bem, [Nome]. Não precisa se explicar — O seu coração relaxou um pouco, mas percebeu que ele tinha mais para falar e resolveu ficar calada, esperando — Keigo me disse mais ou menos como foi a conversa entre vocês. Eu queria pedir desculpa por não ter falado com você antes de a gente fazer aquilo. Eu entendo que você se sentiu encurralada e eu fiquei muito mal por essa ter sido a impressão que você teve do que aconteceu e...

— Essa não foi a única impressão que eu tive, Toya — Você suspirou e se sentou na cama, em cima da montanha de roupas — Eu realmente gostei da transa, só que talvez eu tivesse aproveitado mais se eu soubesse que aquilo ia acontecer.

— A gente sempre pode fazer de novo.

Você não respondeu. O que você tinha falado não era mentira. O a três não tinha sido ruim, muito pelo contrário, foi muito bom, mas você realmente acha que poderia ter sido melhor se você soubesse o que lhe aguardava. Acabou com um gostinho de quero mais.

— Tudo bem. Piada ruim em um momento ruim — A voz dele lhe trouxe para a realidade novamente — Não que eu não queira fazer de novo, porque eu quero, mas eu entendo se você não quiser falar sobre isso.

— A gente pode conversar sobre isso sim — Você disse, se levantando e olhando para a bagunça no seu quarto — Você tá livre agora?

— Eu sempre vou tá livre pra você, baby.

Você revirou os olhos e riu. Sabia que Toya era encantador assim com todas as que ele ficava. E você jamais cairia no papinho dele. Mesmo assim, sempre gostou de ter ele como seu amigo.

— Quer ir no Johnny's? — Era um bar pouco movimentado na cidade. Você tinha quase certeza de que ele estava falindo. Não devia durar até o final do ano. Mas era um lugar tranquilo e poucas pessoas da universidade frequentavam, o que fazia você gostar bastante de lá — Posso mandar mensagem pro Keigo e ver se ele tá livre também.

— Eu tô aqui na casa dele — Assim que percebeu o que falou, ele tentou se explicar — Ele tá no banho, então não tá ouvindo nossa conversa.

— Não teria problema se ele tivesse ouvindo — Você sorriu. Pelo menos, eles estavam sendo muito cuidadosos com você — Então, vocês topam?

— A gente chega lá em vinte minutos.

— Beleza — Você olhou ao redor de novo. Estava fodida — Eu vou arrumar umas coisas aqui e vou pra lá. Devo chegar por aí.

— Até, baby.

Você desligou e suspirou alto. Nunca conseguiria arrumar isso tudo em apenas vinte minutos, sem contar o tempo de você levaria para tomar um banho, tirar o pijama e colocar uma roupa descente, fazer uma maquiagem rápida e domar os seus cabelos.

Rapidamente, desistiu de arrumar o quarto. Faria isso quando voltasse para casa (ou acabaria deixando do jeito que estava e dormindo no quarto de hóspedes, o que era mais provável). Foi para o banheiro e tomou um banho rápido, antes de começar a se arrumar.

Sabia que o tempo era curto, então você não demorou muito tempo na maquiagem, fez apenas um coque alto para esconder seus cabelos bagunçados e escolheu roupas confortáveis e simples. Mesmo que estivesse indo encontrar com dois dos caras mais cobiçados da faculdade, eles ainda eram seus amigos e já tinham lhe visto em condições muito piores.

A quantidade de vezes que Keigo já lhe ajudou quando você passava mal por causa de bebida era absurda. Se ele ainda não tinha corrido de você depois de lhe ver vomitar por horas, não era agora que ele pularia fora.

Quando você saiu de casa, se certificou de que a porta estava bem trancada, como você sempre fazia, muito embora a cidade onde você morava era bastante segura.

O caminho até o bar era um pouco longo, mas a tarde estava tão agradável que você nem percebeu o tempo passando. Enquanto virava a esquina em uma das ruas, tinha recebido uma mensagem de Izuku perguntando se você iria dar alguma investida em Katsuki.

O esverdeado realmente tinha entrado nisso de cabeça, o que fez um sorriso feliz tomar conta do seu rosto. Você achava que ele era um amigo do caralho por estar fazendo isso por você. Mal você imaginava que ele estava escondendo diversas cartas na manga.

Midoriya não pensava apenas em lhe ajudar a ter uma noite de sexo louco com Bakugou e ficar por isso mesmo. Ele sabia que o loiro podia realmente gostar de você e ajudaria vocês dois a descobrirem os seus verdadeiros sentimentos. Além disso, para ele, seria muito mais fácil se vocês apenas começassem a namorar e parassem de querer se matar o tempo todo.

Mina e Jiro também mandaram mensagens no grupo de vocês três. Não se viram durante o final de semana, o que não era algo normal na dinâmica da amizade de vocês, e a culpa era sua. Você tinha tirado esse final de semana para organizar seus pensamentos em relação a Katsuki. Foi para a casa de Izuku para atualizarem sobre suas vidas, já que não faziam isso a algum tempo. No outro dia, passou a manhã inteira pensando sobre a conversa que tinha tido com ele, além de toda a situação com Toya e Keigo, antes de ser chamada para ir no bar "conhecer" Shoto.

E agora você estava a caminho de outra situação que precisava ser resolvida na sua vida. Mesmo assim, mandou mensagem para elas, dizendo que durante a próxima semana você sairia com elas sem falta, já que a universidade não teria aula na quinta por causa de um congresso.

— Linda! — Você reconheceu a voz de Keigo ao entrar no estabelecimento. Aquele sorriso de golden boy sempre foi uma das características mais marcantes dele.

Por outro lado, Toya tinha uma personalidade mais de um gato preto, ainda que os cabelos brancos chamassem a atenção onde quer que ele fosse. Os dois eram completos opostos, tanto de aparência quanto de personalidade. No início, você achava até engraçado eles serem amigos, mas não era como se você e Midoriya fossem muito parecidos também.

— Oie — Você cumprimentou cada um deles com um beijinho na bochecha e se sentou em uma das cadeiras vazias, ao lado de Toya e na frente de Keigo. Estava nervosa, só esperava que não estivesse transparecendo tanto isso — Então... primeiro, me atualizem sobre as vidas de vocês.

— Keigo tá te traindo com a Mirko — O Todoroki falou, fazendo as bochechas do loiro ficarem levemente vermelhas.

— Vai se foder, cara — A indignação dele arrancou uma risada muito alta sua — Eu não tô traindo ninguém.

— Fico feliz que você finalmente começou a conversar com ela — Você disse, sendo completamente sincera em cada uma de suas palavras. Keigo era um cara incrível e merecia uma mulher que estivesse disposta a dar tanto amor quanto ele tem para oferecer. E, desde o começo, você sabia que não era essa mulher — Você tá atrás dela já faz um tempo.

— É difícil encontrar com ela, já que ela se formou faz um tempo — Ele soltou um suspiro alto, como se estivesse cansado, mas você sabia que ele estava feliz — De qualquer forma, a gente só ficou uma vez e ela não quer nada sério no momento. Então, se puder continuar me ajudando a afastar as calouras, eu vou aceitar.

Você revirou os olhos de brincadeira e fingiu se sentir ofendida. Sua relação com Keigo sempre funcionou como essa troca e você não poderia estar mais satisfeita. Quando chegasse o momento em que ele quisesse acabar com tudo porque achou alguém, você ficaria mais do que satisfeita em voltar a ser só amiga dele.

— E você? — Perguntou, agora virando na direção de Toya.

— Continuo tendo aversão à qualquer tipo de relacionamento sério, se é isso que você tá me perguntando — O sorriso lascivo que ele lançou já denunciava que vinha alguma coisa a mais — A não ser que seja com você, baby. Aí eu ficaria mais do que satisfeito em largar a vida de solteiro.

— Pra quantas você lançou esse papinho essa semana?

— Três — Isso só fez o sorriso no rosto dele crescer.

— E quantas acreditaram?

— Você é a primeira que não acredita.

— Cara, sério — Keigo revirou os olhos — Você precisa parar de falar isso pras mulheres.

— Por que? Quando elas parecem acreditar eu digo logo um "brincadeira" — Ele começou a rir alto, o que acabou arrancando um sorriso divertido seu — A cara de decepção delas é memoriável.

— Você não presta — Foi você quem falou.

— Meus atributos são outros — Uma piscadela que faria as pernas da maioria das mulheres da universidade tremerem foi lançada na sua direção — Mas e você?

Um suspiro pesado escapou de seus lábios. Claro que você se sentia confortável conversando sobre qualquer coisa com aqueles dois. Confiava neles quase tanto quanto confiava em Mina e Jiro. O problema era que nem você mesma sabia exatamente o que estava sentindo.

— Lembram daquele cara que é amigo de todos os meus amigos mas eu não suporto?

— Não era aquele cara que tava segurando o seu braço na festa? — Toya perguntou.

— Esse mesmo — Keigo também assentiu com a cabeça, confirmando que se lembrava de Katsuki — Então, eu meio que comecei a ficar atraída por ele, só Deus sabe o porquê, e Izuku disse que ia me ajudar a ficar com ele pra ver se a porra do meu fogo abaixa.

— Izuku, o namorado do meu irmão?

— Shoto tá namorando com o melhor amigo de [Nome]!? — Ops, você tinha esquecido de mencionar esse detalhe para o loiro.

— Esqueci de te contar — Você disse para o homem na sua frente, com um sorrisinho inocente — E é ele mesmo. Enfim, essa é a nova saga da minha vida. Tô com tesão no cara que eu mais detesto no mundo.

— Me dá meia hora e um carro que eu acabo com esse seu tesão indesejado — Você deu um soquinho no braço de Toya, mas isso só fez com que ele soltasse outra risada alta — Mas, falando sério agora, isso significa que você não vai ficar com mais ninguém?

— Nem fodendo — Foi a sua vez de rir — Eu ainda quero continuar ficando com vocês, se vocês quiserem. Eu não acho que eu tenha sentimentos românticos por ele ou algo do tipo. Acho que é só fogo mesmo e, depois de uma transa, espero que passe.

— Então a gente pode continuar ficando? — Keigo perguntou, depois de um tempo sem falar.

— Por mim, sim.

— Até ao mesmo tempo? — Dessa vez, foi Toya quem perguntou.

— Agora que eu já absorvi a ideia, sim — Um sorriso pretensioso tomou conta dos seus lábios pela primeira vez desde que vocês chegaram no bar — Tenho certeza de que eu consigo fazer melhor do que da outra vez.

— Porra, baby — O Todoroki falou, baixinho, depois xingou de novo e desviou o olhar, com um sorriso radiante no rosto.

— A gente pode tentar quantas vezes você quiser — Foi Keigo quem falou, com um brilho perigoso nos olhos. Um que você nunca tinha visto antes.