Uma Garota de Letras

Desço devagar do carro, tirando os óculos escuros e os guardando no bolso da jaqueta.
O bunker ainda está intacto, como sempre esteve.
Atravesso a rua e desço os degraus da pequena escada de concreto que leva a entrada meio escondida do bunker. Enfio a velha chave que ganhei de meu pai na fechadura, e empurrou a pesada porta de ferro para abri-la.
As luzes estão apagadas – obvio, ninguém deve entrar nesse lugar a décadas – subo as escadas até o primeiro andar usando a luz de uma lanterna. Ilumino o quadro de luz, porem, para minha surpresa encaro com preocupação a chave de luz estava ligada.
No mesmo instante as luzes se acendem. Não pude deixar de reparar o quanto esse lugar é incrível. No entanto a observação durou apenas alguns segundos, pois alguem  agarra meus braços por trás e pressiona algo frio e fino em meu pescoço.
— Se fosse você – uma voz rouca sussurra em meu ouvido – não tentaria nenhuma gracinha.
— É uma pena – Digo com voz mansa.– Que você não é eu.
Em um rápido movimento rápido jogo-o contra a parede, usando meu corpo para prensa-lo. Ele geme de dor pela força com o qual bateu na parede. Passo por baixo de seus braços e o chuto na altura das costelas. Ele solta faca e eu a pego.
Tiro o cabelo do rosto e encaro o homem a minha frente. Ele é loiro, e parece ser alto - no momento ele se curvava sobre o próprio corpo gemendo.
Chego mais perto, porem sou novamente surpreendida por dois fortes braços em volta de minha cintura. Esse parece ser ainda maior que o outro. O que esses homens fazem aqui? Como entraram aqui?
Acerto uma cotovelada na barriga dele, tentando me virar como fiz com o outro, mas esse é mais resistente.
Ele me joga contra a parede e agora posso ver seu rosto. Ele tem os cabelos longos, mais ou menos ate o queixo - são um pouco maiores que os meus – castanhos.
— Quem é você?– ele pergunta tomando a faca da minha mão e a entregando para o outro.
— Não interessa se logo vocês estarão mortos – Sorrio ameaçadora.
O loiro ri com escarnio, ele parece irritado.
— E quem vai nos matar? Você? Parece meio presa.
O cabeludo segurava meus bracos me mantendo completamente imobilizada. Ele era forte.
— Eu também estava "presa" quando lhe dei esse hematoma nas costelas minutos atrás – provoco.
— Sam – hum, então o cabeludo se chama Sam – Amordaça a vadia.
Vadia?! Ah!
— Vadia?! Sera quê apanhar de uma garota feriu tanto seu orgulho macho que agora quer me ofender? – retruco irritada.
Eles nem sequer se dão ao trabalho de me responder, antes de amarrar minha boca com um pedaço de pano, o Cabeludo – não ligo para o nome ele, irei chama-lo assim – Joga um liquido de uma garrafinha de ferro em meu rosto. Identifiquei de cara que era água benta, eles estão verificando se sou um demônio. Então são caçadores, só podia. Rudes dessa maneira não espero muito.
Com a boca - e agora as mãos - amarradas eles me arrastam pelas escadas até uma sala cheia de estantes, caixas com pastas, gavetas de metal. A sala de registros dos homens de letras.
O loiro arrasta duas grandes estantes de metal, revelando uma sala. A sala não tinha muita coisa, só uma armadilha do diabo pintada no chão, uma mesa de metal, uma cadeira, e um homem sentado na cadeira.
— Hora, hora – o homem sentado fala com um sotaque – Companhia?
— Fica quietinho ai – o loiro manda. O homem sentado ergue as mãos em sinal de rendição e se cala. Posso ver que suas mãos estão acorrentadas.
O Cabeludo trouxe uma cadeira, onde eles me amarraram.
— Ótimo – o loiro se abaixa bem de frente para mim e me olha nos olhos tirando a amordaçada – Vou perguntar uma vez. Como achou esse lugar?
— Mais quantas pessoas vocês mantém presas aqui? – pergunto.
— Pessoas? nenhuma. Monstros? Contando com você e o engomadinho ali – ele sinaliza para o homem – Duas.
— Eu não sou um monstro – digo entre dentes.
— Há não é?– pergunta se aproximando mais com a faca em mãos, eu me encolho um pouco – É o que vamos descobrir.
— Hey – O Cabeludo chama o loiro – Dean calma, ela parece ser só uma garota.
— Como pode ter certeza?
— Se ela fosse alguma coisa, já teria tentado nos matar.
— Ela tentou.
— Ela se defendeu.
— Gostei de você – Sorrio para Sam. Ele acabou de ganhar o privilégio de ser chamado pelo nome.
— Cale a boca – Dean manda.
— Não to afim.
— Vou ter que fazer você calar?
— Eu realmente quero ver você tentar – Eu o desafio.
— Definitivamente essa garota é uma das minhas – O homem atrás de mim ri.
Dean bufa e se aproxima novamente.
— Só vou perguntar mais uma vez – Ele diz lentamente.– Como achou esse lugar?
— Eu segui a estrada de tijolos amarelos – respondo com um sorriso irônico.
Não vou dar nenhuma informação à esses caras. Mesmo que eles sejam caçadores e provavelmente os bonzinhos.
Sam chama o outro e eles começam a conversar aos sussurros. Por fim, simplesmente se viram e saem do quarto. Dean me lança um ultimo olhar raivoso antes de fechar as estantes novamente, bloqueando a saída.
— Eles vão deixa-la de molho um pouco. Até você abrir o bico.
O homem sentado atrás de mim volta a se manifestar.
De inicio penso em ficar calada. Mas se já estou aqui mesmo.
— É, eles que esperem o inferno congelar – Resmungo. – Quem é você? Ou melhor o que é você?
— Eu me chamo Crowley – responde. Esse nome não me é estranho – É um prazer conhece-la. — Nem tanto, não nessas condições – digo tentando soltar minhas mãos das amarras – O loiro disse que você é um monstro. Que tipo de monstro?
— Oh – Crowley exclama – você não percebeu?
Penso por um tempo. E se eu pudesse bater em mim mesma varias e varias vezes, eu sem duvidas, o faria. Ele esta em uma armadilha para demônios, o que sera que ele é sua estúpida?- Brigo comigo mesma.
— Demonio – falo alto e seu sorriso aumenta. – Crowley, o Rei do Inferno. Agora eu me lembro o por que do seu nome não me ser estranho.
— É bom ser reconhecido – Ele se endireita na cadeira. – Quanto a você?
— Não vou dizer meu nome para você – respondo.
— Claro – Ele levanta as mãos acorrentadas. – Eu poderia fazer algo terrível não é mesmo?
Ele mantem um sobrancelha erguida e me encara.
— Eu digo – Suspiro. – mas antes tem que me dizer quem são aqueles caras.
— Você não os conhece?– Questiona. – Qualquer um envolvido nesse mundo reconheceria os Winchesters logo de cara.
Os Winchesters? São eles! Eu deveria encontra-los, logo depois de achar o Bunker, minha missão era traze-los até aqui. Mas eles o encontraram antes, e entraram, de alguma maneira.
— Não acredito – Murmuro descrente. – São eles.
— É, os incríveis Sam e Dean Winchester – Crowley usa um tom de deboche. – Evitaram o apocalipse, enganaram o Rei do Inferno, salvam as pessoas e blá, blá, blá.
— Eles te enganaram?– pergunto rindo.
— Isso não vem ao caso – desconversa.
Viro outra vez para frente, encarando as estantes, e fico esperando.
Crowley disse que eles voltariam, quando voltarem irei explicar tudo, e esses idiotas terão de me soltar.
Meia hora depois e nada. Estou começando a pensar se esse dois voltam hoje quando o barulho das estantes sendo movidas chama minha atenção.
Dean entra sozinho. Ele ainda esta com uma carranca, mas pelo menos não carrega mais a faca.
— Veio me soltar?– Pergunto erguendo o queixo.
— Não – Responde simplesmente andando até mim.
— Então?
— Então, que eu vou perguntar só mais uma vez – Ele se abaixa e ficamos cara a cara, como antes. Posso sentir seu hálito quente de whisky. – Como achou esse lugar?
— Ta bem eu falo – Cedo. Sua carranca se transforma em uma expressão de confusão. Ele não esperava que fosse tão fácil.
— Vai falar?
—Vou. Mas você tem que me soltar.
— Sem chance – Ele diz convicto se virando para sair.
— Ta, não me solta. Mas pelo menos temos que ir para outro lugar, quer mesmo que o Rei ali saiba como cheguei aqui?
Meu argumento parece válido. Ele considera por uns instantes e caminha de volta até mim me soltando da cadeira, mas ainda assim, mantendo minhas mãos amarradas.
— Sem gracinhas – Alerta.
— Sem gracinhas – Sorrio.
— Então é só ela pedir com jeitinho que ganha condicional?– Crowley grita indignado.
Dean nem da ouvidos a ele e antes de passarmos pela porta viro-me para Crowley e falo em tom cínico.
— A propósito, meu nome é S/n.

Saímos da sala de registros e subimos as escadas voltando a sala principal e biblioteca. Sam espera o irmão sentado em uma das longas mesas com alguns livros em volta.
— Ela resolveu falar – Avisa o outro puxando uma cadeia para mim.
— Serio? Fácil assim?– O mais alto estranha.
—Facil?– repito o encarando – Querido, a sorte de vocês é que agora sei quem são. Ou nunca arrancariam nada de mim.
— Sabe quem somos?– Dean pergunta. – Como... Crowley.
— Esse mesmo, e ele me disse quem vocês são. Mas não se preocupem, estou do lado de vocês na guerra.
— Do nosso lado?– Sam senta a minha frente. – Que guerra?
— A guerra contra Abaddon, claro – Respondo. – A ultima dos cavaleiros do inferno.
Os dois se entre olham, parece que vão sair para conversar, mas eu me apresso e começo a dizer:
— Este é o bunker dos Homens de letras – Isso faz com que eles parem.– Eu sou um legado, assim como vocês.
Dean puxa uma cadeira e se senta ao lado de Sam, os dois me ouvem com atenção. E por um tempo, deixo de lado minha postura agressiva e debochada.
— Eu me chamo S/n Houston. Sou neta de Jeffrey Houston, um Homen de Letras. Ele era amigo do avô de vocês Henry Winchester, os dois eram jovens quando se conheceram nas reuniões, mas meu avô teve seu ritual de iniciação dois meses antes do de Henry.
Os dois continuam me encarando, respiro fundo e recomeço.
— Existem duas chaves no mundo todo que abre esse bunker, uma estava com Henry e a outra com o meu avô. No dia da iniciação do Winchester, Abaddon atacou...
— Conhecemos essa historia – Dean me interrompe. – Sabemos que ela tentou pegar a chave, mas nosso avô fugiu e não voltou mais.
— Isso mesmo – Confirmo. – meu avô contava que Henry havia fugido para proteger a chave com Abaddon atrás, e nunca mais se teve notícias dele. Mas como sabem disso?
— Henry veio para cá, para o futuro – Sam explica, e Dean o olha feio, porém Sam continua sem lhe dar atenção. – Ele chegou e logo depois Abaddon o seguiu. Ele nos deu a chave.
Penso um pouco antes de falar novamente.
— Ele morreu não é? – Sam confirma com a cabeça. – Sinto muito. Meu avô sempre quis saber o que houve com ele.
— E o seu avô? O que houve com ele?– Dean pergunta, pela primeira vez usando um tom normal.
— Poucas pessoas sabiam que existia outra chave. Por isso a que ficou com meu avô tinha de ser protegida mais do que nunca, já que Henry havia desaparecido com a outra. Eles mandaram meu avô para o mais longe possível do Bunker e dos demônios comandados por Abaddon. Ele foi morar em Londres.
— Londres?– Dean repete.
— É longe a beça – Sam comenta.
— Mesmo longe, meu avô manteve os costumes, e quando meu pai nasceu ele foi criado como um Homem de Letra. Meu avô tinha um objetivo, assim que tudo se acalmasse ele voltaria e encontraria Henry, mas uma doença não permitiu. A missão então passou para meu pai, ele chegou a vir para a América, a anos atrás, porém não encontrou nem rastro dos Winchesters ou dos Homens de Letras, então ele voltou para Londres.
— Mas e agora? O que você faz aqui?– Sam se arruma na cadeira.
— Como meu pai, eu era um legado, então fui criada como ele. Sou o que gosto de chamar de "Mulher de Letras", eu passei minha vida estudando. Quando meu pai voltou para a Inglaterra sem nenhuma notícia ele meio que ficou obcecado em descobrir o que aconteceu naquela noite com Henry, Abaddon e a outra chave. Ele descobriu um feitiço, mas deu errado e...
Aquilo sempre me perturbou. Ver ele morrer daquela maneira, eu devia ter impedido que ele tentasse.
— Sinto muito – Sam murmura. Eu manejo a cabeça. – Então, depois que o seu pai morreu você assumiu a missão de nos encontrar?
— Mais ou menos isso, não era só encontrar vocês. Tinha que tomar conta do Bunker, dos segredos dele.
Ele se vira para o irmão, uma troca de olhares rápido e Dean esta atrás de mim cortando as amarras que prendem meus pulsos.
— Obrigado – Murmuro massageado a área dolorida, para que volte a circular sangue normalmente.
— Pode nos dar um minuto?– Sam pede, eu assinto e os dois se afastam indo para um canto da sala.
Levanto da cadeira, e passo o olhar por toda a sala. Eu sonhei a vida toda com esse lugar.
Centenas de livros, talvez até milhares. Nem que passasse minha vida toda aqui conseguiria ler todos.
Minha inspeção não durou muito tempo, logo minha mente se volta para um único pensamento: Deter Abaddon.
Agora que encontrei os Winchesters. E a segunda chave. Sei que o bunker esta seguro, e que as informações nele contidas, na vão cair em mãos erradas. Por isso já posso começar a pensar em uma maneira de mata-la.
Estava tão entretida em meus pensamentos que nem ouvi Sam me chamar, foi preciso Dean estalar os dedos em frente a meu rosto para ter minha atenção.
— Sim?– digo prestando atenção.
— Você parece dizer a verdade – Dean coça a nuca. – Não estamos dizendo que confiamos em você...
— Não estou pedindo que confiem em mim – Cruzo os braços aborrecida. – Aliás meu objetivo era encontrar vocês e traze-los até aqui. O que obviamente, não é mais necessário. Então – Caminho de volta para a porta.– Tchau.
Os dois me seguem e Sam começa a dizer:
— Não... espera – Ele segura meu braço, mas depois de um curto olhar meu, ele o solta de imediato. – Não precisa ir, você disse que esta do nosso lado contra Abaddon certo?
Concordo com a cabeça.
— Então temos de ficar juntos – Ele fala. – E formar um plano. Afinal o bunker é dos homens de letras, e você é um legado como nós. Tem tanto direito de ficar aqui quanto nós.
Penso um pouco a respeito disso. E ele esta certo, ir embora e ficar trancada dias e mais dias em um quarto de hotel estudando maneiras de matar Abaddon sozinha, não parece ser a melhor maneira. E no bunker eu terei material para as pesquisas.
— Acho que você esta certo – Digo, depois me viro sorrindo para Dean. – Não vai se livrar de mim tão cedo quanto pensava loiro.
Ele se vira irritado e entra no bunker.
— Ele só esta estressado – Sam tenta justificar a ação do irmão.
— Tudo bem – Dou de ombros. – Todos estamos.
— Precisa de ajuda para pegar sua coisas no carro?–  ele pergunta.
— Na verdade não, preciso voltar ao hotel ainda, minha mala esta lá.
— Sem problemas – Ele fecha a porta e caminha ao meu lado com as mãos afundadas nos bolsos da jaqueta.
— Você é muito gentil Sam – Digo. – Mas você não se preocupa com a hipótese de que eu possa tirar uma faca da bota e o matar? Dean parece esperar que eu faça isso.
— Eu não – Ele ri. – Dean só não esta acostumado a confiar nas pessoas.
— Eu não ligo se ele não confia em mim – Abro a porta do carro e entro do lado do motorista, enquanto Sam entra no do passageiro. – Só quero matar Abaddon. E sei que vocês podem ajudar.
— Claro, Abaddon é um grande problema. Mas você não ficou sabendo dos outros problemas?
Encaro Sam de sobrancelhas erguidas.
— Não? – Ele parece surpreso.– A algumas semanas ocorreu o que eles estão chamando de "chuva de meteoros" – Bem, isso eu ouvi. – Mas na verdade foram os anjos. Todos eles, caindo do céu.
Minha boca se abre levemente.
— Isso com certeza é um problema. E dos grandes.
— É, e eles estão fazendo uma grande bagunça pelo mundo todo, procurando cascas.
— Merda – Murmuro. – O que mais pode acontecer?
—Espero que nada.
Solto um riso curto e ficamos em silencio até o hotel.

Parte 2.
Enfio a chave na fechadura da porta e abro, entro no que tem sido minha casa nas ultimas semanas.
— Entra – Convido Sam e atravesso o quarto indo até o armário.
Ele enta e espera na sala/quarto enquanto procuro minhas coisas no meio da bagunça.
— Você gosta muito de ler né?– Ouço Sam perguntar. Me viro para ele e o encontro olhando os vários livros sobre a mesa.
— Adoro, de todos os tipos. Sou o que as pessoas chamam de nerd.
— Dean adora me chamar assim – Ele sorri.– Somos realmente incompreendidos.
— Definitivamente – Concordo.– Gosto muito de cultura pop e tecnologia. Digamos que isso faz com que eu seja um pouco diferente do esperado quando me vêem.
— É – Agora Sam concorda.– Nunca imaginaria que você gosta de Star Wars.
Fala olhando a caixa com o box encima da cama.
— As aparências enganam – Rio colocando algumas roupas em uma mala.
— Acho que você se daria muito bem com alguém que conheço – Ele fala enquanto da outra olhada em meus dvd's.
— Quem?– Pergunto curiosa enquanto fecho uma mala e passo para uma bolsa.
— Charlie – Responde.– É uma grande amiga nossa, engraçada, é um gênio quando o assunto é tecnologia.
— Sério? – Pergunto me interessando. Seria muito legal encontrar alguem como eu.– E onde está esse pessoal incrível?
— Em Oz – Responde.
Espero alguns segundos para ter certeza de que é uma brincadeira, mas ele fala sério.
— Em Oz?– Repito incrédula.– Tipo a terra dos tijolos amarelos e macacos voadores?
— É – Confirma.– A algumas semana no bunker tivemos alguns problemas com a bruxa má e Dorothy nos ajudou. Charlie é uma grande fã e as duas se deram bem. No fim Dorothy a convidou para ir com ela para Oz.
— Wou – Rio.– Isso é incrível, Charlie tem muita sorte.
— Ela mereceu – Sam sorri e volta a ver os títulos dos livros.
Depois de uns minutos eu já terminei de organizar tudo e Sam se oferece para carregar até o carro.
— Você é muito cavaleiro Sam, mas não é o Superman – Digo pegando uma mala da mão dele.– Deixa que eu ajudo.
Ele assente e descemos até a recepção para que eu entregue as chaves do quarto.
***

— Mas e ai?– Pergunto a Sam fechando a mala do carro e circundando-o entrando no lado do motorista.– Qual é a de vocês? São caçadores né? Como é?
— Bem – Sam se arruma no banco.– Nós caçamos coisas, salvamos pessoas, evitamos apocalipses. Nada de mais.
— Esta soando tão modesto – Digo sorrindo.
— Não é grande coisa.
— Sam – Chamo com os olhos presos na estrada.– Preciso contar uma coisa.
— O que?– Pergunta sentindo a tensão vinda de mim.
Não é algo muito serio, na verdade talvez até devesse esperar. Mas sempre achei que quando se guarda um segredo por tempo demais, mesmo que um segredo bobo pequeno, a coisa pode crescer e sair de controle.
— Preciso confessar que... – Hesito um pouco. Vamos fale, nem é tão sério.– Okay, quando cheguei da Inglaterra a algumas semana tive alguns problemas. Digamos que tenha arrumado algumas brigas com alguns caçadores em um bar de estrada enquanto procurava por vocês.
— Como fez isso?
— Eu não sabia onde estavam ou como vocês era. Não sabia se tinha sido criados como legados ou não, então fiz algumas pesquisar e descobri algumas coisas. Fui a um bar de estrada atrás de alguma informação e esses caçadores vieram mexer comigo. Parece até que nunca viram uma garota na vida. Resumindo, bati em todos eles e estou meio que com filme queimado nessa área.
— E achou que precisava se explicar?– Sam pergunta sorrindo.– Esse caras devem ter merecido, alguns caçadores são completos idiotas.
— Eu sei, mesmo assim achei melhor falar. Afinal já que vamos ser parceiros na luta contra Abaddon, entre nós não devem haver segredos.
— É você esta certa – Sam suspira.–  Mas não fazemos ideia de onde Abaddon está, ela sumiu do mapa.
— Essa parte é o de menos. Primeiro precisamos descobrir como mata-la, e só depois encontra-la.
Continuamos conversando sobre como montaremos nosso plano contra Abaddon até chegarmos outra vez no Bunker. Quando estaciono o carro Sam desce e vai até o porta-malas pegar algumas bolsas.
Pego uma bolsa também e sigo com Sam até a porta do Bunker, abrindo-a e dando passagem para ele. Entro logo depois fechando a porta.
— Hey Loiro – Chamo sorrindo ao adentrar a sala e encontra-lo debruçado em um livro. Ele ergue a cabeça e me olha com cara de poucos amigos.– Fala serio, não precisa dessa raiva toda no coração. Vamos ser grandes amigos.
Ele revira os olhos e se volta para o livro me ignorando.
Sam me guia pelos corredores ate um quarto e coloca as bolsa sobre a cama.
— Bem, meu quarto é no fim do corredor e o do Dean é o da frente, se precisar de algo é so pedir.
Sorrio para ele e me aproximo dando um abraço.
— Obrigada Sam, você é mesmo um fofo – Ele sorri um pouco sem graça e sai do quarto.
Fecho a porta e me viro para a cama olhando cansada para as muitas malas que irei precisar arrumar.
***

Estou terminado de empilhar os últimos livros na estante quando uma movimentação no corredor chama minha atenção.
Saio do quarto e vejo que a conversa foi para o quarto de Dean. Penso em voltar para o quarto, afinal não tenho nada haver com isso. Então quando estou prestes a voltar para o meu quarto ouço Dean xingar:
" Já se passou dias Zeck e ele não parece ter melhorado em nada".
Movida por minha curiosidade atravesso o corredor e vou até a porta de do quarto de Dean. A porta esta entreaberta e posso ver que ele discute com alguem, quando mudo de ângulo vejo que a pessoa com que ele esta discutindo é Sam!
— Isso leva tempo Dean – Sam fala. Essa não pares a voz dele.– Mas estou obtendo resultados satisfatórios.
— Ele não tem dormido, não come direito, isso é estar obtendo resultados satisfatórios?
— Acalme-se Dean, seu irmão vai melhorar, você só precisa deixar tudo comigo. Mas um problema surgiu.
— Qual?– Dean pergunta aflito.
— A garota – Sam ou o tal de Zeck responde.– Ela não pode ficar.
— O que? Por que?– Dean anda pelo quarto.– Tudo bem que eu também não confio em S/n, mas ela não parece uma ameaça.
— Ela é esperta e curiosa. Se suspeitar de algo ela vai investigar e vai descobrir, não posso correr o risco de ser descoberto.
— Não, ela não vai, ela...
— Escolhe Dean, se a garota ficar não vou poder continuar cuidando de seu irmão, ela é um risco para mim.
— Ta, tudo bem – Cede.– Dou um jeito nisso.
Ele começa a vir em direção a porta e eu me afasto voltando para meu quarto e fechando a porta. Droga, ele vai me despensar.
O que foi aquilo? Era Sam, mas não era. Era como se ele estivesse... Possuído!
Deito na cama e fecho os olhos, eu estou mesmo cansada e também posso usar isso como uma estratégia. Dean não me expulsaria do bunker de noite. Ou expulsaria?
Ouço o barulho da porta  se abrir e algum respirando pesado. A mesma pessoa logo sai do quarto fechando novamente a porta.
Preciso pensar em um plano para resolver isso.– É a última coisa que penso antes de ser vencida pelo cansaço e dormir.
***

Acordo e ao olhar a hora em meu relógio na cabeceira constato que ainda são sete da manhã. Maldito costume britânico.
Levanto e vou para o banheiro – que felizmente fica no quarto –, e tomo um longo banho.
Quando saio do quarto, posso ouvir uma movimentação na cozinha do Bunker. Barulho de panelas e copos.
— Bom dia Sunshine – Sorrio para Dean ao entrar na cozinha e encontra-lo tomando uma xícara de café.
— Quantos apelidos vai arrumar para mim?– Pergunta irritado.
— Quantos mais eu quiser Sunshine – Me sento de frente para ele.– Onde esta Sam?
— Saiu para comprar sanduíches – Responde esfregando os olhos com a mão.
— Que fofo – Sorrio.– Podia ser como ele sabia?
— Há claro – Dean revira os olhos.– Pode deixar, vou anotar sua sugestão.
Ficamos em silêncio por um tempo. Até que cansando disse falo tentando parecer amigável:
— Escuta Dean, vamos ter que nos suportar por algum tempo se quisermos acabar com Abaddon. Então eu proponho um acordo de paz.
Estendo a mão porem ele se levanta e me encara.
— Desculpe S/n, mas eu não confio em você – Diz.– Não gosto de você aqui e...
— Quer que eu vá embora – Levanto-me. Ele assente.– Não Dean, sou um legado como você e tenho a chave desse Bunker. Meu avô foi mandado para outro continente para proteger essa droga e agora essa missão é minha. Você não tem direito soberano aqui.
Ele me encara surpreso, acho que não esperava essa reação.
— Eu realmente não queria isso Dean – Digo me afastando e indo em direção a saída da cozinha.– Eu até pensei que talvez tivéssemos uma chance de sermos amigos. Mas parece que eu estava enganada não é?
Saio e caminho de volta para o meu quarto. Batendo a porta com força ao entrar.
***

Toc, toc, toc...
As batidas na porta tiram minha concentração que até agora estava voltada para a leitura de vários livros sobre como matar demônios, lendas antigas e qualquer coisa que eu precise saber para acabar com Abaddon.
— Pode entrar – Murmuro sem tirar os olhos do livro e fazendo algumas anotações em um bloco de notas.
Ao entrar posso ouvir a pessoa fechar a porta outra vez e se aproximar da cama.
— S/n – Chama e eu suspiro aliviada por dentro, pois a voz é de Sam.– Precisamos conversar.
— Claro – Sorrio tirando alguns livros para que ele se sentasse.– Algum problema?
— Na verdade sim – Ele senta e passa a me encarar.– Olha, eu sei que chamei você para ficar aqui eu realmente achei que fosse uma boa ideia mas...
— Mas quer que eu vá embora – Completo estreitando os olhos.– Não é?
— Isso – Ele confirma sem rodeios.– Sinto muito mas Dean não confia em você. E eu não quero arrumar briga com meu irmão e...
— Para Sam – peço. Esse não é o Sam, posso conhece-lo a pouco menos de um dia, mas sou muito observadora e guardo muito bem os detalhes.
— S/n...
— Olha, eu não sei o que você é – Começo em tom ameaçador.– E não sei qual o seu problema comigo. Mas sei que não é o Sam falando.
— Você enlouqueceu...
— Não, eu ouvi você e Dean conversando " Zeck " – Faço aspas com as mãos. – Não sou burra, já pude notar que Sam não sabe o que esta acontecendo. Estão fazendo tudo pelas costas dele, e você esta fugindo de algo, por isso acha que sou uma ameça.
A face de Sam se contorce e ele me encara mas logo disfarça.
— Escuta S/n, eu não faço ideia do que esta falando, mas acho melhor você ir embora ou...
— Ou o que Zeck?– pergunto ficando de pé. No momento a melhor opção é o ataque.– Vai me expulsar? Me matar?
Sam... ou Zeck...arg... Isso é difícil, se levanta também.
— Não deveria me desafiar dessa maneira. É estúpido.
— Prefiro ousada – Sorrio com deboche.– Não vão se livrar de mim tão cedo. Pelo menos até a morte da Abavadia, então acho bom avisar ao Sunshine que daqui eu não vou sair.
— Não sabe com quem esta lidando garota, não quero machuca-la.
— Ótimo, e eu não quero entrega-lo a Sam. Eu não vou me meter nos seus assuntos e nem você na minha vida.
caminho até a porta e a abro apontando com a mão para o corredor.
— Agora pode por favor se retirar?
Ele caminha para fora mas antes me lança um último olhar ameaçador.
— Vai se arrepender...
— Ta, ta okay – E bato a porta.
***
Uma semana se passou desde que me mudei para o bunker. Dean ainda me lança olhares tortos toda manhã, e Sam me trata normalmente, ele realmente não faz ideia de que esta sendo enganado pelo próprio irmão.
Me sinto mal por estar escondendo a verdade dele. Sam é um cara legal, não merece ser enganado assim.
Eu também passo a maior parte do tempo no quarto. Saio raramente para pegar algum livro quando preciso ou comer algo, o que é ainda mais raro. Sam me questiona as vezes, pergunta se estou bem.
Ele estranha por eu não comer com freqüência, mas eu disse que é normal para mim.
Agora mesmo, são quase quatro da tarde e não comi absolutamente nada. Quando me concentro em algo, se torna extremamente difícil me desviar para fazer qualquer outra coisa.
No entanto, mesmo que esteja totalmente focada nas pesquisas, não aguento mais ficar trancada nesse quarto.
Levanto-me da cama e sinto todo o meu corpo estralar.  Começo a caminhar meio zonza pelo quarto, sentindo agora as consequências por não comer a tanto tempo e não dormir direito.
Chego a porta aos tropeços e me apoio na comoda girando a maçaneta e tombando para frente.
Não acerto o chão, algo macio e quente evita isso, não consigo ver quem me segurou pois minha visão esta turva e quando tento olhar para cima por alguns segundos desmaio devido a fadiga.
***

Antes de abrir os olhos ouço barulho de passos dentro do quarto. Noto que estou deitada em uma cama, então já posso deduzir que quem me segurou no correr foi um cavaleiro, ou seja: Sam.
Fico realmente muito surpresa quando abro os olhos e dou de cara com Dean andando de um lado para o outro.
— Finalmente você acordou! – Exclamou, sentando-se na beirada da cama. – Sam e eu chegamos a pensar que você estava morta.
— Não se preocupe Sunshine – Sorrio fraco.– Sou dura na queda. Esqueceu que vaso ruim não quebra?
— É, você esta certa – Ele da uma leve risada.
— Olha, ele sabe sorrir – Brinco um pouco surpresa por ele ter demonstrado gostar de algo que saiu da minha boca. – Não é tão difícil, eu sou hilária.
— Não exagere – Retruca.
— Onde esta Sam?– Pergunto franzino as sobrancelhas.
— Foi comprar alguma coisa para você comer – Responde mudando o ar para aborrecido.– Quando começou a fazer greve de fome?
— Não é greve de fome é só que – Digo um pouco desconfortável mexendo em uma linha solta da colcha.– É só que eu me esqueci, estava concentrada de mais.
— S/n – Dean me chama.– Você quase morreu de inanição agora, precisa prestar mais atenção nisso.
Ergo um sobrancelha surpresa por Dean estar chamando minha atenção assim. Pensei que ele não se importasse comigo.
— Esta preocupado comigo?– Pergunto soltando uma risadinha.
— Estou como qualquer pessoa ficaria se outra quase morresse no seu próprio colo.
— Ta Dean – Suspiro me recostando na cama. – Eu já estou bem, não é mais responsabilidade sua, já pode voltar a me repudiar.
— Eu não repúdio você – Ele responde.– Só... espera ai, me chamou de Dean?
— É o seu nome não é?– pergunto como se fosse óbvio.
— Quero dizer que você não usou nenhum apelido ou adjetivo ofensivo – Ele parece incrédulo.
— Idiota – Murmuro.– Eu só não me dei conta. Como você agora, todo preocupadinho comigo.
— Não tem como conversar com você – Fala se levantando e caminhando até a porta do quarto.– Por que não tenta ser um pouco mais agradável?
— Pode deixar, vou anotar a sua sugestão – Respondo irônica.
Ele revira os olhos e sai do quarto, não antes de me ouvir gritar:
— Hey Sunshine, podia sorrir um pouco mais também. Fica bem mais bonito.
Posso jurar que o ouvi rir.
***

Sam entrou no quarto uns cinco minutos depois. Ele carregava uma bandeja, o que eu achei um gesto super fofo.
— Sammy – Sorrio balançando a cabeça. – Não precisava disso, eu podia ter ido na cozinha.
— Esta muito fraca, não chegaria nem na porta. O que você tem na cabeça S/n?
— Preocupações, problemas e um grande desespero – Falo tirando o sorriso do rosto enquanto dou uma grande mordida no hambúrguer que Sam trouxe.
— Eu sei que você esta empenhada em derrubar Abaddon e tal mas não pode ficar assim. Trancada a dias em um quarto sem comer ou sair. Tem outras maneiras de fazer isso.
Grande parte do motivo pelo qual eu não saia do quarto era por estar tão centrada nas pesquisas, mas um outro motivo oculto também teve uma certa relevância.
Esse motivo eu negava até para mim mesma, não querendo aceitar que isso tenha me afetado. O motivo era que eu não me sentia bem transitando pelo bunker. Tudo aquilo que disse para Dean de também ter direitos aqui foi para desafia-lo, porquê eu sei que essa é a casa deles não a minha.
Andar por aqui sabendo que ele não gosta da minha presença, e que também tem esse tal de Zeck que provavelmente me odeia muito agora, e que quer que eu suma esta ficando difícil para mim.
— Eu sou assim Sam – Falo com desanimo.– Quando estou empenhada em descobrir alguma coisa, fico meio paranóica.
—  Admito que também sou assim as vezes, mesmo assim S/n você não pode ser tão relapsa com a sua saúde.
Sorrio e aperto as bochechas de Sam, fazendo com que ele core de leve.
— Obrigado pela preocupação Sammy, você é adorável.
Ele sorri e se levanta retirando-se do quarto, falando que iria me deixar comer.
Foi o que eu fiz.
***
Depois do dia que quase morri por inanição, nem Sam e surpreendentemente Dean deixaram de me vigiar. Todos os dias um deles batiam na minha porta lembrando-me de me alimentar.
Eles saíram para caçar algumas vezes, me convidavam para ir. Não fui nenhuma das vezes, porquê afinal eu não sou uma caçadora. Ficava no bunker lendo e cuidando para que Crowley não saísse da linha.
Hoje é um dos dias em que Sam e Dean saíram. Já faz algumas horas e eu não perguntei para onde iam porquê estava ocupada.
Não passo mais tanto tempo no quarto, agora mesmo estou na sala de reuniões do bunker, lendo alguns livros, quando a porta se abre e eles entram.
— S/n voltamos – Sam avisa. – E estamos com alguem.
Ergo a cabeça surpresa, nesse tempo todo que estive aqui não conheci nenhum amigo dos Winchesters. Exceto Crowley, mas acho que ele não conta.
— Sério? – Pergunto genuinamente curiosa.
— Hey – Um rapaz de traços orientais cumprimenta descendo as escadas com uma bolsa no ombro.– Sou Kevin Tran.
Levanto um pouco sem graça e estendo a mão para cumprimenta-lo. Estou terrivelmente desarrumada, meus cabelos estão um ninho, não tenho maquiagem alguma e não durmo bem a dias.
— S/n Houston – Ele aperta minha mão.
— Kevin é um gênio – Sam explica e se senta.– É um profeta do senhor também.
Volto o olhar para Kevin um pouco supresa.
— É um profeta do senhor?
Ele da de ombros e responde:
— Não por vontade própria, esse trabalho é um porre.
— S/n também é muito inteligente – Sam comenta. O que ele esta tentando fazer? Falando essas coisas.– É um legado dos homens de letras.
— Ótimo os nerds já estão interagindo – Dean comenta descendo as escadas.
— Claro Sunshine – Sorrio com minha usual expressão de deboche.– Mentes brilhantes sempre se atraem.
Kevin ri da minha resposta e eu levando o punho, ele bate de leve com o dele.
— Sunshine?– Ele se vira para Dean.
— Vocês não tinham que estar trabalhando não? – Dean pergunta aborrecido ignorando Kevin antes de sair pelo corredor.
— Claro – Sento cansada virando a pagina de um dos livros que estava á minha frente.–  É só isso que eu venho fazendo.
Kevin arrasta uma cadeira e senta ao meu lado.
— Ela esta péssima – Observa.– há quanto tempo não dorme?
— Vai completar 37 horas – Respondo com um bocejo.
— Se continuar nesse ritmo quando chegar nas 45 já vai ter caído – Avisa.
— Como sabe?
— Experiência própria.
— O que tem feito ultimamente Kevin?– Pergunto desviando o foco dos livros por alguns instantes e observando-o.
— Estou traduzindo a placa dos anjos – Responde com um suspiro.– Procurando uma maneira de devolver os anjos ao Céu.
— Trabalho difícil – Suspiro.– Mas você parece bem.
— É, descobri que tanto desespero as vezes só nos prejudica – Responde.
— Não fiz essa descoberta ainda – Bocejo.– Sério, agora eu realmente preciso dormir.
Levanto tocando o ombro de Kevin e depois o de Sam.
— Boa noite rapazes – Eles desejam um bom descanso e eu sigo para o meu quarto ao tropeços.
Quando já estou próxima ao meu quarto topo com Dean no corredor. Ele parece aflito com alguma coisa, o que não é nenhuma novidade, já que ele sempre esta aflito com algo. Só que dessa vez é alguma coisa diferente.
— Tudo bem?– Pergunto segurando seu ombro para evitar que ele siga andando.
— Estou ótimo – Responde desviando o olhar.
— Não é o que parece – Observo.
— Desde quando se importa?
— Não seja grosseiro – Advirto com um leve sorriso.– Só estou tentando ser amigável.
— Agora eu pergunto se ta tudo bem – Ele franze as sobrancelhas.
Reviro os olhos e passo por ele voltando a andar na direção do meu quarto. Desisto de tentar qualquer aproximação com esse cara.
— Hey S/n – Dean me segura dessa vez.– Eu entendo o que você ta tentando fazer... eu ando notando que você está meio reclusa.
Humm então ele repara em mim.
Sorrio e abro a porta do meu quarto, entrando e puxando Dean comigo.
— O que tá fazendo?– Pergunta confuso.
— Nada – Fecho a porta.– Eu vou dormir Sunshine.
— E por que me trouxe para cá?
— Sério Dean?– Pergunto não acreditando na lerdeza da criatura.– Eu quero dormir, mas não sozinha.
— S/n – Dean murmura finalmente entendendo a situação. – O que deu em você?
— Curiosidade – Murmuro me aproximando de Dean.– Ou só estou ficando louca pela falta de sono.
Estou tão perto de Dean.
— E a curiosidade seria por…?– Ele pergunta também se aproximando.
Em resposta, passo meus braços em volta do pescoço de Dean e o puxo para baixo. Ele vem, acho que sabe a minha intenção, e não recusa.
Ao mesmo tempo em que aproximo meu rosto de seus lábios, Dean passa o braço em minha cintura me puxando para cima de seu colo. Envolvo minhas pernas em sua cintura e finalmente o beijo.
Dean retribui intensamente, ele aperta minha cintura enquanto aprofunda o beijo cada vez mais. Quando separo minha boca de dele, Dean passa a beijar meu pescoço. Subo minhas mãos para seus cabelos e seguro-os com força.
— Dean – Murmuro quando ele morde a base de meu pescoço.
Ele ergue a cabeça e me olha sorrindo com malícia, tomando meus lábios outra vez nos seus.
Ele ainda está de pé, comigo em seu colo no meio do quarto. Isso não parece muito confortável. Dean nos leva para a cama, sem separar nossos lábios e então nos deita, ele por cima enquanto mais uma vez aperto minhas pernas em sua cintura.
— Dean – Chamo novamente, e agora minha voz soa sonolenta. Acho que as horas de falta de sono estão começando a cobrar seu preço.
Ele não parece perceber meu tom e continua a me beijar. Ele desce movente até meu pescoço e esta ainda mais difícil para mim manter os olhos abertos. O cansaço me domina quase que completamente.
Resolvo desistir e ceder, meu último pensamento antes de dormir é que Dean ficará muito frustrado. E isso me faz soltar um curto riso.
***

Rolo de um lado a outro da cama sem vontade alguma de me levantar. Não faço ideia de a quanto tempo estou dormindo.
Abro os olhos que ainda estão cansados e me sento na cama.
Parece que tem um bloco de chumbo em minhas costa quando me levanto da cama e caminho até o banheiro para fazer o necessário. Depois de sair, me troco e saio do quarto.
Quando entro na cozinha só encontro Sam. Ele esta sentado na bancada tomando algo de uma caneca, pelo cheiro é café.
— Achamos que havia morrido lá dentro – Diz sorrindo.– Já estava quase indo lá descobrir se estava respirando.
— Eu não dormia assim há dias – Digo me sentando.– Quanto tempo?
— Um dia e meio – Responde pegando um embrulho de uma sacola e me entregando.– Dean comprou, para o caso de você acordar com fome.
Desembrulho o sanduíche e dou uma grande mordida. Estou realmente faminta.
— Nunca mais… fico acordada por mais de vinte horas seguidas – Falo engolindo.– Achei que entraria em coma.
— Olha S/n, eu aprecio muito que você esteja tão empenhada em derrubar a Abaddon… mas sabe que se continuar assim, vai acabar se matando.
— É, eu sei – Digo mal-humorada.– E isso que me irrita, eu sou uma descendente dos homens de letras, a única coisa que eles faziam era estudar. E nem isso sou capaz de fazer. Lembro de meu pai ficando por dias sem dormir e nem ao menos piscar os olhos.
— Esta se culpando por precisar dormir?– Sam pergunta sorrindo sem acreditar.– Pelo seu corpo exigir descanso e comida?
— É. Isso mesmo, eu estou além dessas necessidades biológicas – Digo abrindo um sorriso brincalhão.
—  Olha, a Bela Adormecida acordou – Dean entra na cozinha.– Sam, contou a ela que já estávamos cavando a cova?
— Oh, Sunshine – Me levanto da mesa, já tendo terminado de comer e caminho para a porta.– Eu sei que você não pode mais viver sem mim, mas se enterrar em uma cova? Só porque ficou algumas horas sem a minha bela presença, já é demais.
— Claro, fui realmente muito sufocante ficar quase dois dias sem ouvir esse apelido ridículo ou alguma piadinha – Ele retruca.
Não lhe dou ouvidos e saio da cozinha. Vou para a biblioteca, onde encontro Kevin concentrado na pedra com os “inscritos divinos”.
— Hey – Cumprimento tocando seu ombro. Ele da um pequeno salto na cadeira, surpreso pela minha chegada repentina.– Como vai?
— Mais ou menos, acho difícil conseguir um jeito de devolver os anjos ao céu – Ele esfrega os olhos.
— Cansado?– Pergunto, ele nega.– A verdade.
— Um pouco – Ele sorri.– Mas nada que uma duas ou três horas de sono não resolvam.
— Então acho melhor ir agora – Digo carregando para a mesa alguns livros que estava lendo antes.– Não espere virar um zumbi.
Ele sorri e se levanta, dando um até logo e se retirando.
Meia hora mais tarde, Dean entra na biblioteca, ele esta inquieto.
— S/n, precisamos conversar.
— Precisamos ou você precisa?
— Tente ser educada uma vez na vida. por favor.
— Está bem – Cruzo as pernas e o encaro. – Diga.
— O que aconteceu entre nós, naquele dia. Aquilo…. o que foi aquilo?
— Desejo reprimido e falta de sexo de ambas as partes. Algo mais?– Continuo o encarando como se não tivesse dito nada de mais.
— Falta de sexo? Fique você sabendo, que eu não tenho problema de falta de sexo.
— Ah claro, se isso o faz sentir-se melhor.
— Poderíamos conversar como duas pessoas normais pelo menos uma vez?– Dean bufa irritado.
— Ta, Dean. Desculpa – Digo mudando de postura.– Eu não sei o que deu em mim. Eu estava com sono… é horrível, acho que nem quando bebo todas fico tão confusa.
— E então depois...– Ele cruza os braços.– Você simplesmente apaga. Dorme. O que foi aquilo?
— Já disse, eu estava caindo de sono.
— Serio? Precisava me deixar…
— Aceso?– Completo sorrindo maliciosa. Dean revira os olhos.
— Talvez – Ele murmura.– Você dormiu de repente, e eu fiquei… em uma situação complicada.
Meu sorriso aumenta.
— Eu imagino.
Alguns segundos de silencio e eu me levanto da cadeira. Vou até Dean e pouso uma de minhas mãos em seu braço. Ele é forte.
— Talvez pudéssemos terminar o que começamos – Murmuro.
Vejo que logo ele reage minha proposta. Saio caminhando de volta ao meu quarto, e Dean me segue. logo quando entramos Dean já me puxa pela cintura.
— Ow – Sorrio.– Tem alguém ansioso.
Dessa vez é Dean quem da um sorriso malicioso.
Ele fecha a porta e me prensa contra ela. Seu corpo me aperta contra a madeira e consigo sentir cada músculo pulsante dele.
Finalmente nossas bocas se encontram em um beijo demorado.
Dean desliza as mãos pelo meu corpo, me puxando contra ele, mais e mais. Subo em seu colo sem muitas dificuldades e o abraço com minhas pernas.
— Acho que podemos nos livrar disso – Murmuro mordendo o nódulo de sua orelha. Ele se arrepia embaixo de mim, e eu sorrio vitoriosa.
Levanto a camisa dele, enquanto Dean beija meu pescoço. Isso esta ficando quente demais.
Quanto termino de tirar a camisa dele, voltamos a nos beijar, e Dean sai da porta, voltando para a cama. Onde com a minha ajuda, removemos minha camisa.
Dean me deita e se deita sobre mim, como fez antes, e desce seu rosto para meus seios cobertos com o sutiã.
Solto um gemido razoavelmente alto quando ele aperta meu peito.
Ele tira meu sutiã com certa prática, e volta para meus seios. Ele os aperta e para meu grande prazer os chupa com força.
— Acho que assim você não pode dormir – Dean murmura sorrindo.
Puxo seu rosto para mim e o beijo por um longo tempo.
— Nem se eu quisesse, Sunshine – Sorrio e nos viro na cama, subindo encima dele.– Minha vez.
Sua expressão de satisfação significa que ele sente o que irei fazer. Acho que eu irei surpreende-lo.
***

Já tive muitas noites incríveis. Com caras diferentes de diversas maneiras. Mas nenhum se compara a Dean.
Sexo com esse cara é uma arte. E não digo isso por ele ser gostoso, beijar bem e ter vários outros atributos… digo porque ele simplesmente sabe o que fazer na hora de fazer.
Quando ele saiu desse quarto eu estava tão cansada que só consegui apagar a luz e dormir, dormir, domir e dormir mais.
Eu estava morando esse tempo todo com uma maquina de prazer e perdi um tempo precioso discutindo? Eu mereço levar um soco.

Quando finalmente saio do quarto, logo que entro na biblioteca, encontro todos reunidos.
— Algum problema?– Pergunto percebendo que as caras não são boas.
— Acabamos de descobrir que não temos como terminar de traduzir a placa – Sam responde com um suspiro.
— Como assim? Kevin?– Me viro para o profeta.
— Eu simplesmente não entendo – Ele de de ombros confuso.
— Essa linguagem...– Digo.– Acho que a vi algo relacionado a isso em alguma dessas enciclopédias.
— Ta falando serio?– Sam pergunta.
— Claro, mas eu não lembro qual era – Digo me levantando e correndo os dedos pelas lombadas de livros na estante.– Já pensaram em perguntar ao Crowley?
— O que?– Kevin pegunta.
— Podiam ver se Crowley conhece. Afinal ele tem seculos de vida. E ele pode ser útil.
Ele não responde. Continuo procurando até achar o que procurava.
— Aqui – Ergo o livro.– Volume um de… nove.
— Ai, não – Dean lamenta.
— É o que temos – Sam fala se levantando e vindo até mim. Ele pega uns cinco livros e volta para a mesa. Eu levo o restante.
— Vamos, Dean – Dou um dos livros para ele.– Não é um sacrifício tao grande.
Ele me lança um olhar torturado e pega o livro, bufando e o abrindo.
Sento ao lado de Kevin e abro outro livro.
Não completou nem um minuto, o celular de Dean começou a tocar.
— Deus existe – Ele murmurou e atendeu o telefone. Reviro os olhos e tento me fixar na leitura.
Parece que ele esta falando com Castiel. Eu não o conheço pessoalmente, mas já ouvi varias historias sobre ele. O Anjo que resgatou Dean do Inferno. Depois os traiu se tornado um deus maluco e por fim libertou os monstros do purgatório. Bem, ele também foi enganado pelo escriba psicopata de Deus e perdeu a graça angelical.
Dean desliga o celular e pega a jaqueta sobre a cadeira.
— Cass acha que tem um caso – Diz.
— Precisamos decifrar a placa – Sam argumenta.
— Seguinte, vocês ficam e tentam descobrir algo nos livros ou tirar algo de Crowley, enquanto eu vou checar as informações.
— S/n, pode ir com você – Sam sugere.– Ela nunca sai à campo e você pode precisar de ajuda.
— Eu?– pergunto olhando Sam de olhos arregalados. – Sam, eu não sou caçadora!
— Mas pode vir a ser – Ele argumenta.– Vai lá, S/n. Dean pode precisar de ajuda. E você nunca sai.
Solto um suspiro pesado, havia um motivo para nunca sair e era: Eu não gostava de sair. Ponto. Para mim era mil vezes mais fácil viver entre os livros do que com as pessoas.
Infelizmente eu não tinha opções, então me levantei e pedi licença, alegando que iria trocar de roupas. Eu não podia ir caçar usando pijamas.

Quando volto, estou usando uma de minhas calças de couro, acompanhada por uma camisa preta de botões e uma jaqueta também de couro. Dean me encara da porta e solta um assovio:
— Gata, mas consegue lutar usando isso? – Ele aponta desde minhas roupas justas até minhas botas de salto fino.
— Posso lutar vestindo qualquer coisa, Winchester. Agora vamos.
Saímos do bunker e embarcamos no impala que estava do outro lado da rua. Dean começou a dirigir em silencio, nenhum de nós falava, sei que nossa distancia ainda persistia e que não seria apenas uma noite de sexo que iria mudar aquilo.
— Acho que precisamos conversar – Dean quebra o silencio. – Sobre o que aconteceu.
— Transamos, isso aconteceu, não temos o que conversar – Falo, afim de evitar uma conversa constrangedora.
— S/n, não foi apenas sexo – Dean balança a cabeça. – Nós... nós temos muitas diferenças, e até hoje o único lugar onde nos entendemos é a cama. Mas você tem que concordar que isso não pode continuar.
— Esta pedindo uma anistia, Sunshine? – Pergunto, um sorriso malicioso toma meu rosto.
— Talvez, de você parar com esse apelido estúpido – Ele sorriu de volta.
— Jamais, Sunshine – Devolvi, ele havia parado no farol, aproveitei que ele me olhava com aquela expressão "aborrecida" mas dessa vez era fingida, Dean estava gostando. Me aproximo do mesmo e o beijo, segurando seu rosto bem próximo ao meu. Dean tirou as mãos do volante e segurou minha cintura, apertando.
Foram as buzinas dos outros carros que fizeram com que nos separassemos. Sento no passageiro, rindo, enquanto Dean se volta para a direção e segue o caminho.
— Você é terrível, baby – Murmura enquanto faz uma curva.
— Sou obrigada a concordar – Digo, mordendo o lábio.

Eu estava sentindo que minha primeira caçada com Dean seria no mínimo.... interessante.




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