The Soul Of A Prophet [Livre]

Leitora/Kevin

***

Desabo com força na cadeira onde meus raptores me acorrentam.
- Ei - Protesto.- Da para afrouxar um pouco isso ai?
- Cala a boca que demônio aqui não tem vez não - Ouço a voz grossa de Dean Winchester falar.
- Pelo menos tirem esse maldito saco preto da minha cabeça!
Felizmente, logo estou sem aquele saco preto.
- Obrigada - Sorrio irônica.
- Ah não agradece ainda não, espera a gente brincar um pouquinho - Dean fala também sorrindo.
Confesso que meu sorriso tremeu. Sei que Dean Winchester foi aprendiz de Alastair no inferno. E isso não é nada bom.
- O que vocês querem, hein?- Pergunto de uma vez.- Me sequestraram, me acorrentaram e agora?
- Você sabe o que queremos - O mais alto diz. Sam Winchester. - Informações.
- Oh, claro - Reviro os olhos.- Eu tenho um crachá escrito: " Secretária".
O jato de água benta veio na hora.
- Ahrrr - Grito.- O que é isso? Você tem algum tipo de tara em ver as pessoas queimando?
- Você não é uma pessoa - Dean se abaixa e fica de frente para mim.- Agora, você vai falar. Onde está Crowley?
- Já olhou na sua cama?- Sorrio. Dessa vez não foi água benta, mas sim um soco certeiro no queixo.- Pode me bater o quanto quiser, eu não vou falar.
E foi o que ele fez. Ele socou meu rosto umas tres vezes entes que o irmão pudesse para-lo.
- Dean, calma - Sam segura o irmão. - Ainda pode ter uma garota inocente alí.
- Você não aprendeu nada com Alastair - Digo arrastado. Viro o rosto e cuspo o sangue que se acumulou e minha boca.- Você bate como uma criança.
Dean me agarra pela jaqueta e em uma das mãos ele segura uma faca.
- Sabemos que você é a vadia particular dele, S/n. Então, você sabe onde Crowley está, não adianta mentir. Ou nos conta onde ele se escondeu ou...
- Ou o que? - Pergunto.- Vai me exorcizar? Me matar? Eu vivi coisa muito pior. Quer mesmo acabar com a minha punição eterna como demônio me mantando ou simplesmente me mandar de volta para casa me exorcizando?- Olho bem em seus olhos e depois nos do outro caçador. - Vocês não tem escolha.
Dean se afasta de mim e se vira para o irmão. Depois de uma rápida troca de olhares, como se estivessem conversando mentalmente, eles saem da sala. Sem falar nada.
- Ótimo, deixem o pobre demônio acorrentado no porão! - Grito.
***

Horas mais tarde e não recebi mais nenhuma visita. Esse lugar parecia um cofre blindado, não conseguia ouvir nada fora dessa caixa de concreto. Os Winchesters devem estar planejando mil formas para fazer com que eu revele o esconderijo de Crowley.
Para piorar minha situação eu não faço a menor ideia de onde aquele filho da puta está. E definitivamente não quero saber.
Crowley deve estar me caçando como um louco, e eu não vou dar a chance dele me encontrar. Mas também não vou contar aos Winchesters sobre nada disso, não duvido que eles possam me usar como isca para atrair o Rei do Inferno. Ele faria pior do que qualquer tortura, meu rosto se retrai ao pensar no que aconteceria se ele pusesse as mãos em mim.
As portas de metal se arrastam fazendo um barulho alto. A surpresa ao ver quem entrava era tanta que precisei me segurar para não demonstrar externamente.
- Kevin?- Pergunto tentando conter a incredulidade em minha voz e falhando.
- Surpresa em me ver, S/n?- O garoto pergunta, sua expressão é de desprezo. Bem parecida com os olhares que ele costumava me lançar quando me via entrando pela porta de seu cativeiro enquanto era prisioneiro de Crowley.
- Na verdade estou sim - Respondo, após passada minha surpresa. Abro um sorriso e prossigo: - Estava com saudades de brincar com você.
- Como pode ser tão...
- Incrível?- Interrompo-o.
- Cínica - Termina ele.
- Ahn - Faço um bico.- Assim você vai magoar meus sentimentos.
- Você não tem sentimentos - Ele esbraveja. Estava ficando irritado.
- O que? Como assim? Sempre fui a carcereira mais legal, tá.
- Você me torturou...
- Recebi ordens.
- Cortou minha mão!
- Olha, você não tava querendo cooperar. E para de drama, eu não a coloquei de volta?
- Deixou Crowley matar minha mãe! - Ele grita por fim.
- Será que você é tao idiota quanto aparenta? Crowley não matou sua mãe.
O profeta para por alguns segundos, o rosto paralisado. Posso notar o brilho de esperança no fundo dos olhos escuros.
- O-o que? Tá dizendo... que mi-minha mãe...
- Esta viva. Crowley não é burro, ele não ia matar sua mãe. Ela é um truque contra você. Você faria qualquer coisa por ela e ele sabe disso.
Kevin pondera por alguns segundos e então se volta para mim, ainda parece irritado - ele sempre está irritado -, mas sua voz está mais controlada.
- Não acredito em você.
- Não quero que acredite em mim, só estou falando que...
- Está querendo alguma coisa. Um trato, um pacto. Minha mãe pela sua liberdade.
Eu realmente poderia pedir isso, mas não o faria.
- Não é uma má ideia - Sorrio sarcástica.- Mas não, não é esse meu plano.
- Você tem um plano?- Ele ergue uma sobrancelha.
- Eu sempre tenho - Minto. Não tenho ideia de como sair desse lugar ou muito menos de como me livrar dos caçadores.
- Você não terá tempo para plano nenhum quando Dean e Sam voltarem - Ele sorri quase cruelmente. Tento não reagir a isso e felizmente consigo. Ainda mantendo minha expressão de deboche, retruco:
- Oh, Kevin! Essa cara malvada não combina com você. Onde está aquela carinha apavorada que você sabe que eu adoro?
- Não vai me tirar do sério, não vai conseguir o que quer.
- E o que eu quero, Kevin Tran?- Pergunto erguendo uma sobrancelha.
- Quer me ver fraquejar. Quer que eu me descontrole e então vai me manipular.
- Esta errado - Murmurei, sincera. - Eu sei que não vou sair desse lugar viva. E sei que se sair não vou permanecer por muito tempo.
- Por que?
- Crowley esta na minha cola - Admiti.- Ele está me caçando como um maldito cão do inferno. Eu não posso ajudar vocês, não sei onde ele pode estar.
- Dean e Sam irão arrancar a verdade de você, de um jeito ou outro - Kevin falava, menos agressivo agora.
- Eu tenho evitado ele. Todos os lugares onde sei que se esconde. E tenho certeza de que ele não esta em nenhum desses lugares, Crowley não é burro.
- Mas você foi capturada em um dos esconderijos dele.
- Eu fui enganada! - Gritei.- Crowley quer vingança contra mim. Fui atraída até aquele deposito e então Tico e Teco me pegaram.
- Você sempre foi a mais proxima dele - Kevin prosseguiu. Eu não entendia isso, por que estávamos tendo essa conversa? - O que fez para irrita-lo?
- Essa foi boa - Eu o parabenizei, percebendo tudo. Eu estava sendo feita de idiota o tempo inteiro. Kevin estava apenas me sondando, tirando informações para os caçadores e com alguma sorte, achava que conseguiria arrancar a localização do rei.
- O que?
- Você me enganou, Kevin, achei mesmo que estava aqui apenas para relembrar o velhos tempos - Ironizei.- Seus amigos estão aonde? Atrás da porta de metal ouvindo tudo? Ou esta com algum tipo de escuta?
- Não... - Kevin negou.- Dean e Sam não sabem que estou aqui. Eles ainda estão lá encima, decidindo o que vão fazer com você.
- E você sabe as opções? Kevin, você precisa acredite em mim - Falei, sentindo que algo estava por vir.- Eu não sei de nada. Crowley esta tentando me matar, eu nunca ficaria no rastro dele.
- O que você fez? - Kevin insistiu.
- Não... não posso...
- Não pode ou não quer?
- Não posso e não quero - Rebati.- E quer saber? Eu não me importo mais, se esses caçadores irão me matar ou me torturar, que seja. Eu não vou falar mais nada.
- Isso pode salvar sua vida, S/n. Estou dizendo, quando se trata de demônios, Sam e muito menos Dean tem qualquer tipo de piedade. Você estará perdida.
Aquilo me aterrorizava, eu sabia que Kevin tinha razão. A ideia de contar o motivo por estar sendo perseguida por Crowley não me pareceu mais tão inacessível assim.
Baixei a cabeça, meus olhos se fixaram nas cordas que prendiam meus pulsos a cadeira de metal, e depois desceram ainda mais para a armadilha de diabo pintada cuidadosamente no chão. Eu não sairia dali viva, isso era fato. Não importava o que Kevin me diga, ou o que eu diga, eu não vou sobreviver naquele lugar... então por que manter o silêncio? Deixe que ele saiba logo de uma vez.
- Está bem - Digo, cedendo. Esses longos minutos de silêncio no qual refleti fizeram Kevin recuar alguns passos e se encostar na mesa de metal. Ele cruzou os braços e esperou pacientemente. - Eu fui acusada de traição. Crowley e todos os outros membros da "corte real" estão planejando me executar por desobediência e traição.
- Traição? - Kevin repetiu, parecendo não acreditar. - Justo você? Sempre foi a mais fiel... não acredito que o tenha traido.
- Mas eu o fiz - Afirmei, virando o rosto parar não ter que ver seu rosto.- E eu era sim a mais fiel, nisso você tem razão... mas e-eu pensei muito e percebi que aquilo não valia a pena, eu vi que não faria diferença, sabe? Apoiar Crowley, ser a cadelinha dele e fazer tudo o que ele mandava... qual a razão? Qualquer pisada de bola minha e eu estaria morta. Já o vi explodir um de seus assistentes só porque o cara não conseguiu tirar uma mancha de sangue de um dos ternos italianos dele. O fato é que minha existência terminaria de um jeito o outro e eu não quero que seja por algo tão estúpido quanto aquilo.
- Então pelo que vai ser?- Kevin descruza os braços e volta a caminhar para perto de mim, se abaixando diante a minha cadeira. Estávamos mais próximos do que jamais ficamos, nem quando ele era o prisioneiro.
- Eu resolvi que quero que valha a pena. Já fui idiota o bastante desperdiçando minha vida humana com um maldito pacto. Não quero fazer isso outra vez.
- Esta evitando minha pergunta, S/n - Kevin fala, eu podia sentir sua respiração bater levemente em meu rosto enquanto ele falava.- Qual foi o motivo tao importante que a fez mudar assim?
Fechei os olhos e os apertei por alguns instantes estava com uma sensação estranha na garganta, era a primeira vez que sentia aquilo... eu não sabia o que era ou não me lembrava o que era. Abri os olhos e por alguma razão senti minhas mãos geladas... seria apenas alguma reação de minha casca?
- Foi você - Sussurrei, finalmente. Minha boca estava seca e eu não sabia se ele havia escutado, então repeti um pouco mais alto: - Foi você, Kevin Tran.
- Eu? Mas... mas você me odiava, me torturava... - Ele parecia estar tao confuso que nem conseguia concluir uma frase.
- Eu disse que cumpria ordens. Eu cansei de cumpri-las, eu não queria mais machucar você. Eu me sentia esquisita todas as vezes que o escutava gritar aquilo era como uma facada para mim. Então eu armei um plano para libertar você, eu matei todos os guardas que estavam do lado de fora da sua cela mas quando entrei lá para liberta-lo você já tinha sumido. Crowley me pegou no ato, suja de sangue e com a faca em mãos. Não acreditou quando disse que você tinha feito aquilo para fugir, eu não tinha nenhum ferimento.
Kevin me encarou, os olhos levemente arregalados, ele parecia ter chegado a alguma conclusão. Mas sua expressão sugeria que ele não estava acreditando.
- Kevin, eu sei que parece mentira, eu sou um demônio e não é uma coisa que é comum. Eu estou confusa, não sei que esta acontecendo.
Comecei a tentar me explicar, mas percebi que não adiantaria. Ele nunca acreditaria em mim. No entanto, para minha total supresa, Kevin voltou a me encarar e dessa vez vi algo diferente em seus olhos.
- Eu não sei porque, mas acredito em você - Falou, me surpreendendo ainda mais.
Não sabia o que responder, eu apenas fiz o mesmo que ele e o encarei.
O que aconteceu em seguida foi algo que nunca imaginei que aconteceria, nunca. Kevin começou a se aproximar cada vez mais de meu rosto, eu sabia o que ele faria e não recusei. Assim que sua boca tocou na minha, outra vez senti aquela coisa que não sabia o que significava. Não parecia certo, mas eu nunca me importei com o que é certo e errado.
Quando o beijo acabou, ele se afastou parecendo assustado consigo mesmo. Eu não sabia o que pensar, só que foi muito bom.
- Isso não deveria ter acontecido - Ele murmura. - Você é um demonio. Me raptou e ajudou a me torturar, não é porque você esta me contando tudo isso que vai mudar alguma coisa.
- Eu não quero que mude. Eu sei o que eu sou, eu sei as coisas que fiz, não acha que se pudesse escolher eu não faria diferente? Droga, eu estou sendo caçada por praticamente todos os demônios do inferno, dois caçadores me prenderam e não tenho ideia do que faram comigo. Eu estaria bem melhor se não tivesse tentado ajuda-lo.
Kevin pareceu que diria algo, mas nesse momento as portas de metal foram arrastadas e os dois irmãos entraram.
- Kevin?- O mais alto pergunta, estranhando a presença dele alí. - O que faz aqui?
- Eu... - Kevin me lança um olhar e depois se volta para os Winchesters.- Nós podemos conversar? Agora?
- Ahn, claro - O mais baixo concorda, com as sobrancelhas seguidas. Ele se vira para mim e em seu rosto se forma uma carranca. - Já cuidamos de você.
Eu não estava apta para retrucar apenas me encolhi.
Os três saem da sala e bateram a porta.

***

Eu já não sabia se a demora para que eles voltassem era boa ou ruim. Kevin parecia muito estranho quando chamou os caçadores para conversar, o que ele diria a eles?
Ainda estava pensando no beijo, eu nunca fui assim. Por que aquele humano conseguia me deixar daquela maneira?
A porta se abriu, e apenas Dean e Sam entraram. Estranhei Kevin não estar com eles, pensei em perguntar mas desisti segundos antes de abrir a boca.
- Não sabemos o porquê ou como conseguiu isso - O loiro começa.- Mas graças ao Kevin, o garoto que você torturou, estará livre.
- Como assim? - Perguntei sem entender.
O mais jovem saiu da sala e voltou carregando um caixa de isopor. Ele a depositou na mesa e a abriu, de lá tirou uma seringa com um líquido vermelho. Sangue.
- O que vão fazer comigo?- Perguntei, forcando meus braços na corda, tentando me soltar.
- Vamos torna-la humana outra vez. Essa é uma técnica com sangue humano. Isso vai transforma-lá de volta - Explicou Sam.
- Isso é impossível - Falo, desacreditando totalmente.- Estão mentindo, não se pode curar um demônio, minha alma foi corrompida.
- Você deveria nos agradecer, não contariar - Dean bufa. Ele não parece nada feliz com isso.- Não entendo porque Kevin quis isso. Essa vadia quase o matou, deveriamos...
- Dean - Sam chama a atenção do irmão que se cala com um revirar de olhos. O mais jovem se volta para mim e posiciona a seringa em meu braço. - Isso é novo para nós também, ainda não tentamos com nenhum outro demônio, vou avisando... isso vai doer.
E realmente doeu. Não me lembro de ter gritado tao alto assim nem no inferno quando fui torturada em meus primeiros anos.
Aos poucos a dor e queimação passou, eu não queria outra doze, eu só queria que me matassem de uma vez. Será que aquilo era mesmo uma cura? Ou só uma nova forma de me fazer pagar por meus pecados? Eu não me sentia diferente.
Sam disse que voltaria em uma hora.

***

Minha cabeça não ficava mais erguida. Não conseguia mais abrir os olhos, estava fraca demais para qualquer coisa.
- Não está funcionado - Resmungou, quando Sam se aproxima com outra doze.- Eu disse que era impossível. Ainda sou eu...
- Vai funcionar - Uma voz que não é a de Sam afirma. Era Kevin, que pela primeira vez em horas entrou ali. - Você precisa acreditar nisso.
Continuei em silêncio, apenas soltando um fraco ganido quando a agulha entrou em meu braço.
Dessa vez alguma coisa mudou, eu me sentia diferente. Como de todas as outras vezes, Sam jogou um jato de agua benta em meu rosto, mas diferente de todas as outras vezes minha pele não queimou. Não veio a ardência.
- S/n? - Sam me chamou, quando ainda não havia me movido. - Como se sente?
Levanto a cabeça, algumas de minha forças haviam retornado.
- E-eu não sei... não sinto mais o cheiro de enxofre, eu me sinto outra pessoa...
Kevin avança até mim e liberta meia braços das cordas. Mais uma vez contrariando minhas espectativas, ele me abraçou.
- Você é outra pessoa, S/n - Murmurou próximo a meu ouvido.
Com uma reação um pouco atrasada, passo meus braços um pouco trêmulos em volta dele e afundo meu rosto em seu peito, murmurando:
- Graças a você.

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