Play with me
Capítulo Único.
Leitora/Gabriel (Trickster)
***
Meia-noite. Essa era a hora que marcava no painel do meu carro. Eu estava nessa droga de tocaia à quase quatro horas e ainda não tinha conseguido nada de útil.
Continuo observando a casa escura e silenciosa, esperando que alguma coisa acontecesse e eu finalmente pudesse fazer meu trabalho. Meu celular tocou e eu o peguei no bolso da jaqueta, dou uma rápida olhada no visor para saber que está ligando e atendo:
- Sam? O que foi?
- Aonde você está? - Ele perguntou.
- Aonde mais eu estaria? Estou em frente à casa na rua Finnegan, exatamente aonde você me mandou.
- Droga, eu achei que você tivesse visto minha última mensagem - Sam resmungou.- Os demônios não estão mais na casa. Parece que sairiam dai à quase três dias.
- E como você só me fala isso agora, idiota? - Pergunto, irritada. Eu sei que Sam não fez por mal, mas qualquer outro no meu lugar ficaria bem puto.
- Desculpe, eu...
- Ta bom, deixa isso - Eu o interrompi.- To voltando pro motel.
- Okay.
Desliguei o aparelho e o larguei no banco do passageiro, me preparando em seguida para ligar o carro e arrancar dali. A rua estava deserta e a maioria dos postes não acendia, porém, quando os únicos ainda funcionando começaram a piscar descontroladamente, eu soube que tinha algo muito errado acontecendo.
Talvez ainda tivessem demonios alí, eles podiam apenas estar muito bem escondidos e fora do radar dos rapazes. Meus olhos captaram uma sombra na cada aparentemente vazia que eu espreitava, seguida de um vulto nas janelas.
Desço do carro, carregando minha arma com cartuchos de balas de sal grosso. Pego também uma garrafa com água benta, e saio em direção ao outro lado da rua. Dou a volta na casa e alcanço a porta dos fundos, mas a maçaneta não oferece resistência nenhuma quando eu a giro e a porta se abre sem nenhum problema. Entro no comodo que parece ser uma cozinha, mas todas as luzes estão apagadas.
Com toda a minha experiência de caçadora, sei que está muito fácil e que vou precisar redobrar o cuidado.
Chego ao cômodo com a janela que da para a rua, a mesma janela onde vi o vulto. As cortinas estão fechadas e a pouca iluminação provida pelos pequenos espaços não é o suficiente. Começo a me esgueirar pela parede, com a intenção de chegar as escadas, já que o primeiro andar estava vazio.
— Aonde pensa que vai, caçadora?
Congelei na mesma hora. De onde ele havia saído?
Eu olhei para todos os lados até encontrar um homem alto parado ao lado de uma porta escondida. Caralho!
— Caçadora? – Repeti, usando meu melhor tom de desentendimento.– Olha, não sei do que o senhor está falando. Meu nome é Linda Bowie, sou policial. Recebi algumas ligações a respeito dessa casa e barulhos estranhos. Se não for muito trabalho, gostaria que ascendesse as luzes e se apresentasse.
Precisei dar uma desculpa, pois nao sabia quanto demônios tinha na casa e eu estou sozinha. Posso ser dura na queda, mas ainda sou apenas uma.
O outro soltou uma risada anasalada e se aproximou mais, apontei minha arma para seu peito.
— Vamos ter muito tempo para nos apresentar – Falou.
— Sugiro que mantenha distância – Avisei.
— E você vai fazer o que? Atirar em mim?
— Eu posso fazer isso – Afirmo.
Ele se aproximou ainda mais, a pouca luz iluminou sua face e seu sorriso cruel.
— Então faça.
Outras duas sombras surgiram atrás dele. Eu ainda podia escapar e chamar os garotos como reforços, mas algo me dizia que dessa vez eu estava mesmo encurralada. Isso nao significava que eu ia me entregar fácil.
Atiro contra a cabeça do demônios que estava falando comigo, ele grita e vejo fumaça sair da ferida devido ao sal na bala. Ele se curva gemendo de dor e eu sigo para o próximo demônio atrás dele, atiro em seu ombro, mas não foi o suficiente para deixa-lo incapacitado, ele vem na minha direção e eu me esquivo do primeiro soco, batendo contra um armário encostado na parede.
O terceiro demônio, mais baixo que os outro, segura algo que me parece ser um pé de cabra, ele balança a arma no ar.
— Devia ter ido embora quando o seu amiguinho Winchester ligou.
Tentei esconder o choque em meu rosto. Eu não estava espreitando eles, eles é quem estavam me observando esse tempo todo.
Desviei do golpe do pé de cabra e agarrei a ponta da arma, puxando-a para mim. O demônio que a segurava veio para cima de mim e urrou quando acertei suas costelas com o joelho. Achei que tinha conseguido uma deixa para sumir dalí quando os três se recuperaram.
— A vadia briga bem – O demônio com o tiro no ombro falou.
— Cala a boca, Trash – O que eu acertei o tiro na cabeça mandou, ele deve ser o líder dos três patetas. Os três vieram para cima de mim ao mesmo tempo, tentei atirar mas um deles arrancou a arma da minha mão enquanto os outros dois agarravam meus braços.– Vamos brincar um pouquinho.
Okay, fim do primeiro round.
~~
Três dias depois...
Abri meus olhos cansados, piscando algumas vezes para mim livrar do sangue que escorria de algum ferimentos em minha testa. Apertei meus braços e forcei as cordas que os prendiam na cadeira, na esperança de que conseguisse me soltar, mas novamente nada aconteceu.
Ao contrário do que pensei, os demônios não mataram, e nem pretendiam me matar. Eles queriam informações, informações que eu não tinha, mas eles pareciam não acreditar muito.
À três dias eu venho sido torturada por eles, sem descanso. Está é a primeira vez que consigo respirar sem que precise gritar de dor antes. Aperto os olhos fechados e rezo, mas não para qualquer anjo, para um em especial: Gabriel. O arcanjo.
"Gabbe... eu sei que não tenho sido a melhor amiga para você, mas eu preciso de ajuda. Sinto muito por estas últimas semanas... eu juro, se você me ajuda... nunca mais brigo com você de novo."
Não era muita coisa, mas era o maximo que eu conseguia nessa situação. Eu sentia tanta dor que não conseguia nem pensar direito.
Gabriel é meu melhor amigo, apesar de ser um arcanjo muito poderoso. Ele se tornou meu anjo protetor à um tempo, mas com sua personalidade tão exótica e diferente da dos demais anjos, nossa relação evoluiu para uma amizade sólida. À umas semanas, descobri o que ele tinha aprontado para os Winchester, prendendo ambos em um universo de TV, e os usando como bonecos de fantoche. Acabei brigando sério com ele, pois conhecia Dean e Sam a anos e eles são como minha família.
Pedi um tempo para ele, disse que nao queria vê-lo porque estava muito decepcionada. Ele obedeceu.
Eu sei que é muita cara de pal chama-lo de volta agora só porque preciso de ajuda, mas eu garanto compensa-lo por isso.
Os cortes estavam sangrando ainda mais agora e eu estava perdendo a consciência por isso. Manter os olhos abertos estava se tornando uma tarefa cada vez mais difícil. Ouvi a porta ser aberta e me lamentei internamente, a voz do demônio que descobrir se chamar Percy soou como um arranhado nos meus tímpanos:
— E agora? Esta mais disposta a me contar tudo o que eu quiser?
Minha cabeça tombou para trás e eu abri os olhos lentamente.
— Eu quero que você vá de foder – Respondo, tossindo em seguida e cospindo sangue.
— Péssima escolha de palavras – Ele rosnou, em seguida puxou sua faca do cós da calça e quando estava prestes a crava-la em meu ombro, alguem o impediu segurando seu punho.
— Quem...
— Surpresa! – Gabriel exclamou, puxando o braço de Percy para cima e o desarmando. Ele olhou para mim e sorriu, mas seu olhar estava pálido.– Ei, candy, pensou que eu não viria?
— Isso nem passou pela minha cabeça...– Respondi, apesar da dor.
— Quem infernos é você? Como entrou aqui? – Percy perguntou, seus olhos ficaram pretos.
— Sem tempo para apresentações – Gabriel respondeu, torcendo o braço do demônio ate ouvir o som que denunciava o osso quebrando.
Senti outra onda de tontura, o sangramento estava cada vez pior.
— Gabbe – Murmurei.– Rápido.
— Claro, candy – Disse docemente para mim. Ele se virou para o demônio e seu tom mudou completamente.– Eu queria poder estripar você, causar tanta dor que você imploraria para voltar aquele buraco imundo de onde você veio, mas minha Sweet precisa de mim agora. Você deveria agradecer muito a ela por ter uma morte tão rápida e mal merecida.
Eu não cheguei a ver como Gabriel o matou, pois acabei logo desmaiando.
~~
Senti uma superfície macia embaixo de mim e abri os olhos para ver aonde estava. Eu estava no meu quarto, no meu apartamento. Tentei me lembrar como cheguei aqui e não consegui, minha cabeça estava tão embaralhada...
— Você ronca bastante, sabia?
Me virei rápido na direção da voz e encontrei Gabriel, sentado ao meu lado na cama. Ele estava tão quieto que só o percebi agora quando falou.
Sorri levemente. Lembrei aos poucos do que aconteceu, e eu não sentia mais dor alguma, com certeza Gabriel teve participação nisso também. Segurei sua mão.
— Obrigada, Gabbe. Você me salvou.
— É meu trabalho, S/n – Falou.– E eu gosto dele.
— Pensei que estivesse com raiva de mim. Eu gritei com você, te mandei embora... desculpe.
— Você teve seus motivos – Ele deu de ombros. Gabriel tirou um pirulito do bolso e abriu a embalagem, levando-o a boca.– Eu posso ser bem babaca as vezes.
— Mesmo assim, eu fui muito dura com você – Falei. – E mesmo assim você salvou minha vida.
— Eu já estava te procurando – Ele falou, baixo.– Fazia três dias que você tinha sumido do meu radar e eu nao conseguia achar você. Então você rezou para mim... e consegui localiza-la.
Me sentei na cama e me aproximei dele.
— Eu tenho o melhor anjo da guarda de todos – Falei, roubando o pirulito de sua boca e colocando na minha. Gabriel fez uma expressão de aborrecimento mas logo a substituiu por um sorriso malicioso.
— Isso foi quase como um beijo, sabia?
Balancei a cabeça e me ajoelhei na cama.
— Então deixa eu te dar um de verdade e agradecer da melhor forma por ter me salvado.
Tiro o pirulito da boca e uno nossos lábios, beijando-o devagar. Gabriel abraçou minha cintura e me puxou para seu colo. O arcanjo retribuiu intensamente o beijo, segurando minha cintura com força.
Eu sempre me senti atraída por Gabriel, mas não achava certo, pois além de ser um anjo ele era meu anjo protetor. Mas eu preciso parar de me censurar, de sentir medo.
— O que foi isso? – Gabbe perguntou quando me afastei, ainda no seu colo.
— Meu jeito de dizer obrigado.
Ele riu, sua risada tão única e que eu amo tanto.– Eu amo você.
Foi de repente. Eu nem me toquei e já tinha falado. Gabbe Me encarou surpreso e continuou em silêncio.
— Pode agradecer um pouco mais – Falou, acariciando minha cintura.– E não só agora, mas todos os dias porque nunca mais vou sair do seu lado.
— O que...
— Eu amo você, S/n – Respondeu, também me deixando surpresa. – Nunca mais vou me afastar, mesmo que você me chute para longe.
Dei um sorriso meio perdido e dei um selinho em seus lábios.
— Quer namorar comigo, Sweet? Arregalei os olhos e fiquei muda por alguns segundos.
— É claro! – Aceitei no momento em que recuperei minha voz. Dei outro beijo nele, dessa vez bem mais quente que os outros. Quando parei por um momento, perguntei rindo: – Satisfeito, brincalhão?
— Longe disso – Ele sorriu, beijando meu pescoço e descendo mais.– Vamos brincar por um bom tempo, Candy.
Segurei seus ombros com minhas mãos e sorri maliciosamente para ele. As luzes do quarto diminuíram do nada e uma música de fundo começou. É, Gabriel sabe mesmo como criar um clima.
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