On the Wings of an Angel

Capítulo Único.

Leitora/Castiel

~~

Detroit, Michigan.

Era noite, bem tarde aliás, quando ouvi as batidas em minha porta. Eu poderia continuar dormindo e fingir que não ouvi, mas poderia ser algo importante. Levantei, amaldiçoando tudo e todos, e caminhei aos tropeços até a porta de meu apartamento bagunçado.
- Espero que seja o fim do mundo, ou alguem vai pagar por me acordar as uma e meia da manhã - Falei mal-humorada, quando abri a porta.
- Você já foi mais educada - A voz de meu velho amigo Bobby Singer veio da soleira. Encarei o caçador e sorri.
- É isso que acontece quando se convive com um velho rabugento como você - Brinquei, abraçando-o e me afastando para que ele entrasse.
- Esse lugar também já foi mais organizado - Falou.
- Veio na minha casa de madrugada, só para reclamar da minha bagunça?- Perguntei, já fechando a porta. Fui impedida por uma mão que a segurou, só então reparei na segunda pessoa que estava com Bobby.- E você é?
- Dean Winchester - Falou, sorrindo de lado.- Também é um prazer conhece-lá.
Ótimo, um garanhão. Eu o encarei por alguns instantes com uma sobrancelha erguida, até que seu sorrisinho se fechou e ele pareceu sem graça.
- Então, qual o problema, Bobby?- Perguntei, me voltando para ele.
- Precisamos da sua ajuda, S/n - O velho falou, suspirando pesado. Conheço Bobby, para que ele venha me pedir ajuda, a coisa deve ser realmente muito séria. - E é urgente.
- Deve ser realmente o apocalipse, não?- Falei, cruzando os braços. - Vamos lá, conte tudo.
Bobby então me falou sobre como Dean voltou do inferno a dois dias, também sobre as manifestações estranhas que vieram acontecendo desde então.
- E vocês não sabem quem vem fazendo isso? Quem salvou você do Inferno?- Indaguei, olhando Dean.
- Salvar não é bem a palavra - Falou, desconfortável.- Nada o que acontece na minha vida é para me ajudar. A coisa que me tirou de lá com certeza quer algo.
Apertei os lábios e procurei não discutir, Dean os parecia bem estressado e eu não estava com cabeça para brigar com um estranho.
- Mas o que querem de mim, exatamente? - Questionei.
- S/n - Bobby me chamou, ele estava aflito.- Sei que o que vou pedir é muito, acredite em mim eu não pediria se não fosse preciso. Lembra-se de Pamela?
- Claro, ela é uma vidente, certo?- Falei. Pamela também era uma antiga conhecida.
- Bem, essa coisa que resgatou Dean do inferno... - Bobby falou, incerto.- Cegou Pamela. Pedimos a ela que tentasse contatar a coisa e os olhos dela explodiram. A única coisa que descobrimos é o nome do ser.
- E qual é?
- Castiel - Dean respondeu no lugar de Bobby.- Não sabemos o que é, nem de onde vem. Não sabemos se é um demônio ou um espírito. Só que fez um grande estrago em Pamela.
- E em você?- Perguntei. - Deixou algo, alguma marca?
Dean não respondeu, no lugar disso, tirou a jaqueta e levantou a manga de sua camisa preta, mostrando uma marca no formato exato da palma de uma mão.
- Isso é bem esquisito - Falei, examinando a marca.
- Concordo. Por isso estamos aqui, Bobby disse que além de Pamela você também é uma ótima sensitiva, e conhece muitos livros.
- Não tantos quanto Bobby - Falei me virando para o velho caçador.- Querem que eu tente contatar o tal Castiel?
- Não, pode ser perigoso - Bobby negou.- Mas precisamos que tente saber o quanto ele é perigoso, ou se consegue encontrar algo sobre ele em algum livro. Vamos invoca-lo, e precisamos saber se existe alguma forma de nos proteger dele.
- Espera ai, querem invocar uma criatura desconhecida que queima olhos?- Perguntei. Os dois concordaram.- Isso é estupidez.
- Sabemos - Bobby falou, dando de ombros e lançou um olhar torto a Dean.
- Vai nos ajudar?- Dean perguntou, me encarando.
Bobby sempre me ajudou, não poderia negar um pedido a ele.
- Esta bem - Concordei. - Eu irei ajuda-los.
- Eu sabia que podia contar com você - Bobby sorriu para mim.
Passaram-se umas meia hora, tempo em que fiz uma pesquisa rápida e dei a eles todos os símbolos de proteção que eu conhecia, algum deles faria efeito.
- Quando pretendem invocar Castiel? - Perguntei, me levantando e caminhando até minha grande estante. Passei a procurar diversos livros que acredito serem úteis.
- Hoje mesmo, não podemos perder mais tempo - Dean respondeu. Ele e Bobby caminharam até a porta já prontos para irem embora.
- Okay - Soltei um suspiro, eu me preocupava com o que pudesse acontecer a eles.- Então se conseguir algo, eu ligo no seu celular Bobby. Só não sejam precipitados.
- Não seremos - Dean prometeu.
- Não acha que deveríamos ligar para Sam?- Bobby perguntou quando já estavam saindo.
- Sam deve ter os problemas dele...- Ouvi Dean resmungar um pouco ressentido, antes de fechar a porta. Não tive tempo de perguntar quem era Sam.
~~

Já devia ser o sexto ou sétimo livro que eu procurava. Eu não sei mais. Também já perdi a conta de quantos copos de café eu já tomei.
Me despertei ao captar algo que me pareceu útil, era uma imagem, bem esquisita e no minimo idiota, mas útil. Não dizia nada sobre esse tal Castiel, aliás, nenhum dos livros falavam sobre algo ou alguém que se chamasse Castiel, porém encontrei nesse livro um curto capítulo sobre Anjos.
A imagem era um cara forte, com cabelos longos, e segurando uma espada de luz, com grandes asas abertas. Muito parecido com He-Man. O que me chamou a atenção nesse texto, foi a citação de como os Anjos eram capazes de salvar almas no Inferno.
Lembrei-me imediatamente do que Dean havia me contado. Ele tinha sido resgatado do inferno, mas não sabia por quem. Uma luz se acendeu no fundo minha mente. Então não estávamos lidando com um demônio, nem com um espírito ou qualquer monstro que seja, era um anjo.
Preocupei-me na hora. Nenhum dos sigilos que dei a eles funcionaria, nenhum deles teria algum efeito contra Castiel.
Peguei meu celular e disquei o mais rápido que pude o numero de Bobby, esperando realmente que ele atendesse. O que não aconteceu.
Peguei um sobretudo e joguei por cima das roupas que usava para domir, saindo as pressas do apartamento, deixando tudo como estava. Carregando apenas um pedaço rasgado do livro.
~~

O caminho até o local onde Dean e Bobby disseram que iriam foi longo, assim que sai da garagem com meu carro, uma tempestade terrível desabou. Tentei tirar de minha cabeça que aquilo podia ser algo criado por Castiel. Nunca acreditei em anjos, na verdade não acreditava em nada além de monstros e humanos. Agora que descobri essa provável existência, estou pirando. Anjos são poderosos, muito poderosos, são capazes de fazer coisas assustadores.
A chuva atrapalhava minha visão, de repente fui obrigada a frear o carro antes que fosse atingida por um dos cabos dos postes que se arrebentou em uma explosão após ser atingido por um raio.
- Meu deus - Murmurei, aflita. Tentei mais uma vez ligar para Bobby, mas ele não atendeu. Voltei a ligar o carro e dirigir em direção ao grande celeiro abandonado que já podia ser visto.
Confirme me aproximava mais do celeiro, mais me assustava com o que via. As luzes dos relâmpagos brilhavam no céu, e os raios praticamente dançavam em volta do lugar.
Estacionei bem atrás de um carro preto, e sai no meio da chuva, correndo até as grandes portas abertas. Quando entrei, presenciei algo no mínimo extraordinário.
Minha primeira visão foi de um homem, ele estava parado em frente a parede dos fundos do celeiro. Um relâmpago cruzou o céu, iluminado o interior do celeiro e consequente o homem, sua sombra se estendeu e atrás dele surgiu duas grandes asas. Ele não se parecia em nada com a imagem do He-man daquele livro.
Por um tempo, não consegui desviar meus olhos da imagem a minha frente. Era simplesmente incrível... ele era incrível. Sempre ouvimos que anjos são lindos, bem, ele fazia jus a isso.
Quando consegui desgrudar meu olhar do Anjo, vi Dean ajoelhado no chão, ao lado de um corpo. Demorei poucos segundos para identificar esse corpo como sendo o de Bobby. Me desesperei na hora.
Mesmo assim não me mexi, assim que o clarão desapareceu, e tudo voltou ao normal, Dean e Castiel voltaram a uma conversa concentrada. Aparentemente nenhum dos dois percebeu minha presença, para e molhada na entrada, então me esgueirei até o lado de Bobby e verifiquei como ele estavam. Não parecia morto, apenas dormindo.
Tirei o pequeno papel do bolso e vi o símbolo estampado, não sabia isso funcionária mas é a única opção. Avistei uma faca caída próximo a uma mesa de metal, peguei-a cortei a palma de minha mão, tentando não fazer nenhum ruido.
Tentei reproduzir da melhor maneira possível o sigilo na parede e quando já estava quase terminado, escutei uma voz se sobressair ao som da tempestade:
- Eu não faria isso se fosse você.
Me virei, encontrando Castiel de olhos fixos em mim, aquele olhar me travou por alguns instantes. Dean também não parecia muito ativo.
- Você não é - Tive forças para retrucar, encarando seus profundos olhos azuis, antes de bater minha palma ensanguentada no sigilo, gerando uma forte luz que me forçou a fechar os olhos.
Ao abri-los, Castiel já não estava mais lá, e Bobby estava acordando.
- O que foi isso?- Dean perguntou, me encarando atônito.
- Sigilo de banimento angelical - Respondi, abraçando meu próprio corpo que tremia de frio.- Eu não tinha certeza de daria certo, eu só tentei...
Me abaixei, para garantir se estava tudo bem. Felizmente estava.
- Como soube? - Dean perguntou, referindo-se a como eu sabia que Castiel era um anjo.
- Em um dos livros, falava sobre anjos... era um pequeno trecho. Dizia que anjos eram capazes de salvar almas do Inferno. Então lembrei de como você voltou, só precisei ligar os pontos. Bobby não atendia o telefone, então rasguei a parte sobre o sigilo e vim atrás.
- Você se livrou da coisa - Bobby falou, enquanto se levantava.- Bom trabalho, garota.
- Só... tem algumas coisas que me preocupam - Falei, olhando para as portas ainda abertas do celeiro e a forte chuva lá fora.- Para onde ele foi? Sera que está bem? Eu machuquei?
- Não, não credito que o tem o ferido - Dean falou, pondo a mão em meu ombro, percebendo a culpa em meus olhos.- Eu usei armamento pesado com ele e nada o parou, tenho certeza de que só foi mandado para longe...
- Por pouco tempo, acredito eu - Bobby interveio.- Precisamos ir embora daqui, antes que ele volte e furioso.
Voltamos aos nossos carros, e Bobby achou melhor que eu fosse para a casa dele. Não consegui tirar de minha cabeça durante todo o trajeto, aqueles olhos azuis me encarando com tanta profundidade. Eles eram realmente intimidantes, me paralisaram.

Quando que chegamos na casa de Bobby, já estava amanhecendo. Eu conhecia aquele ferro-velho como a palma da minha mão, era reconfortante voltar aquele lugar depois de anos. Era difícil ficar muito tempo perto das pessoas quando se é uma sensitiva, as vezes eu consigo absorver as emoções das pessoas a minha volta, é muito confuso e assustador. Foi exatamente esse o motivo pelo qual parei de caçar e passei a apenas ler e ajudar caçadores por telefone. Procuro ficar sozinha pelo maior período de tempo possível.
Desci do carro e acompanhei os dois caçadora ate o interior da casa. Assim que entramos, um homem veio a nosso encontro, ele era alto e seus cabelos compridos. Sua sobrancelha estava vincada de preocupação e ele me encarou por alguns segundos com um ar desconfiado.
- Relaxa - Falei, erguendo a mão.- Sou amiga. Eu me chamo S/n.
- Sam - Respondeu, estendendo a mão, eu a apertei. Ele se virou para os outros dois e perguntou: - Onde estavam? Eu fiquei como um louco atrás de vocês.
- Fomos tentar resolver a situação - Dean respondeu, meio rude.- Invocamos Castiel.
A simples menção de seu nome, arrepiou-me dos pés a cabeça. Lembrei mais uma vez de seus olhos cravados em mim, momentos antes que eu o mandasse para longe.
- O que? Você ficou maluco, Dean?- Sam questionou o outro.
- Era o único jeito - Dean falou, sério. - Bobby conhecia S/n, ela nos ajudou.
- Ótimo, é bom que ela tenha ajudado, mas duvido que serviria de muita ajuda se ele resolvesse que queria mata-los - Sam retrucou. Me senti um pouco ofendida com aquilo.- Ele queimou os olhos de Pamela em segundos.
- Hey, grandão - Falei, sentindo a necessidade de me defender.- Eu ajudei muito, okay. Encontrei um sigilo que os salvou.
- Os salvou de que, afinal?- Ele indagou.
- Anjo - Dean respondeu. - É isso o que Castiel é. Um Anjo.
- Anjos?- Sam repetiu, ainda mais surpreso.- Mas anjos não existem... existem?
- Parece que sim - Bobby respondeu, voltando com um pesado livro. Eu nem havia notado sua saída.- Vejam, anjos salvam almas do inferno. Foi isso o que aconteceu com Dean.
O livro parecia uma versão maior do que encontrei em minhas estantes.
- Por que um anjo me resgataria? - Dean perguntou a ninguém em especial.
- Talvez o cara lá de cima tenha planos para você - Sam falou, rindo.
- O que? Não - Dean balançou a cabeça, veementemente. Ele parecia recusar a ideia de que talvez tivesse algo de especial. - Eu não tenho nada para ele.
- Isso é o que você acha, não é - Falei, entrando no assunto.- Você deve ter algo de muito especial para que eles tivessem o trabalho de tira-lo de lá.
Dean continuou negando. Ele andava de um lado a outro no comodo, resmungando consigo mesmo.
Foi quando senti algo. Parecia uma quinta presença entre nós. Eu não podia ver ninguém, tudo estava normal por aqui, mas eu conseguia sentir as emoções de mais alguem.
Essa pessoa estava confusa e um pouco perdida. Ficava nos observando de algum ponto da sala, e parecia ficar cada vez mais confuso e indeciso sobre o que fazer em seguida. Todos a minha volta pareciam entretidos com algo, por isso não perceberam minha tensão repentina.
Passei a observar de um lado a outro, em busca de uma explicação para tudo isso, e então eu o vi. Ele estava no fundo da sala, com as mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo beje. Aqueles mesmos olhos azuis me encaravam fixamente.
Arfei. Ninguém mais pareceu notar a presença do anjo além de mim, e pensei que se fizesse algum alarde ele poderia se aborrecer e querer se vingar. Mas eu não reconheci nenhum passagem semelhante a vingança em seu interior, isso me confundiu também, ele deveria estar furioso.
Eu continuei o encarando e ele me encarou de volta, ficamos assim por um tempo, ate que sua cabeça pendeu para um lado e sua sobrancelha se franziu em uma expressão de confusão.
- Esta me escutando? S/n?
- O que?- Perguntei, saindo de minha bolha e encarado Dean, que havia acabado de me chamar pela... décima vez?
- Tava viajando - Dean resmunga.- Perguntei se vai fica aqui e nos ajudar com Castiel. Acho que ele precisa de muito cuidado, não podemos vacilar. Ele pode estar irritado com o que você fez.
- É, talvez possamos pintar alguns daqueles sigilos nas paredes, só por segurança - Bobby sugeriu.- Consegue mais alguns daqueles para nós?
Pisquei alumas vezes e olhei outra vez para o lugar onde o Anjo estava, mas já não havia mais nada lá.
- Eu... posso tentar - Falei balançando a cabeça na esperança de desanuviar minha mente.- Vou para casa agora, lá vejo se consigo algo.
Levantei e passei a mão pelo rosto, estava começando a ficar tonta. São muitas emoções de um vez. Dean parece irritado e preocupado, e Sam esta preocupado também, mas diferente do outro deve ser por algum outro motivo. Bobby está conseguindo controlar, quase não identifico o que se passa com ele.
- Você esta bem?- Sam perguntou, segurando meu braço quando vacilei por um momento.
- Claro, estou ótima - Respondi sorrindo fraco.
- Não é o que parece, tem certeza de que quer voltar sozinha?- Dean perguntou, demonstrando preocupação.
- Sim... eu só preciso de um pouco de sono - Respondi.- Até mais tarde garotos, Bobby.
Abracei o caçador e sai da casa. Assim que estava longe o suficiente dos outros, minha mente se aliviou, não havia mais nada além de mim ali naquele carro.
~~

Quando cheguei em casa, não conseguia pensar em nada que não fosse minha cama... quer dizer em minha cama e em um certo anjo. Que droga! Eu não posso estar tão fixada assim naquele anjo, a doze horas atrás eu mal acreditava neles, e agora não consigo tirar um da cabeça.
Deitei em minha cama e fechei os olhos, procurando adormecer e ver se conseguia descansar pelo menos um pouco.

Acordei não muito tempo depois, com uma sensação esquisita, como se estivesse sendo observada. Olhei em volta, procurando algo que não sabia exatamente o que era, e o encontrei. Mais uma vez me encarando, como na sala de Bobby.
Dessa vez estávamos sozinhos. O que ele faria aqui? Por que me seguiu até em casa? Se não quer vingança pelo que fiz, o que ele quer afinal?
Com todas essas questões rondando minha mente, finalmente abri a boca e expus a que mais me atormentava:
- O que quer comigo?
Castiel continuou a me observar bom um bom tempo antes de responder, sua postura era ereta e parecia muito desconfortável, ele agia como um robô.
- Eu não sei - Respondeu, cedendo com um suspiro derrotado. Senti ondas de aborrecimento emanarem de seu corpo.- Eu não deveria estar aqui...
- Então por que está? - Perguntei, calma. Sentei devagar na cama e o encarei.
Castiel era um anjo. Uma criatura celestial, quase um mito entre humanos, o que ele faria na minha casa além de me matar? Nem ele mesmo sabe.
- Eu... senti que deveria - Ele desviou o olhar. - Como sabia do sigilo?
- Encontrei em um livro - Respondi.
- E sobre eu estar os observando? Nenhum dos humanos poderiam me ver - Falou, suas sobrancelhas estavam franzidas e ele me olhava como se estivesse tentando ver através de mim.
- Não sou como os outros - Respondi, dessa vez eu desviei o olhar. Não gostava de ser uma sensitiva. Alguns, como Pamela, tem habilidades como clarividência, ou poder contatar espíritos, até ler mentes, mas nenhuma dessas coisas fazem com que eles se isolem por medo.
- É perceptível - Comentou. - Isso é... você é intrigante. Algo em você me despertou curiosidade, isso é uma coisa totalmente nova para mim.
Eu estava tão perdida quanto ele, não conseguia acreditar que estavamos tendo essa conversa.
- E isso é bom?- Perguntei, sem que pudesse me conter. Estava ficando ansiosa para saber o que ele pensava sobre mim.
- Eu não sei - Falou, percebi que estava sendo sincero. - Não estou acostumado com sensações novas.
Tomei coragem e o encarei nos olhas, seus profundos abismos azuis. Percebi algo que ou estava tentando ignorar, ou ainda não havia descoberto: Desde a primeira vez que nos encaramos, apenas a algumas horas atrás, em meio a toda aquela confusão, algo aconteceu entre nós. Nenhum dos dois sabe o que foi que aconteceu, mas aconteceu. E esse acontecimento o trouxe até aqui, o fez me procurar outra vez.
- Isso é uma coisa que eu tenho muita prática - Resmunguei.
- O que quer dizer com isso?- Castiel perguntou, dando um passo em minha direção.
- Posso sentir as emoções de outras pessoas. É quase como se eu as absorvesse. Se você esta confuso, eu ficarei confusa, então isso ira se misturar com minhas próprias emoções.
- Não parece ser muito bom - Respondeu.
Eu apenas balancei a cabeça.
- Essa está sendo a conversa mais estranha que eu já tive em toda a minha vida - Comentei alguns segundos depois, com um esboço de sorriso.
- Acho que posso dizer o mesmo - Castiel também sorriu, minimamente.
Eu gostaria de perguntar sobre Dean, e porque o tirou do inferno, mas também queria saber o porque de não ter sido ferida ainda por ele.
- Eu... eu o bani do celeiro, por que não esta com raiva?- Perguntei, optando pela segunda opção.
- Estou surpreso, até admirado por você, uma simples humana saber o que fazer em um momento como aquele. Mas raiva, não.
Assinto lentamente, a distancia entre nós era menos agora. Castiel deu outro passo a frente, e eu me levantei.
- Todos acham que você é um monstro... ou pelo menos achavam - Murmurei.- Dean esta inconformada, não entende o porque de ter sido salvo.
- Tudo tem uma razão - Respondeu, voltando a postura robótica. - Dean Winchester tem uma missão.
- Missão?- Repeti, Castiel moveu a cabeça de um lado a outro.
- Eu não deveria ter falado isso.
- Você não deveria estar fazendo muitas coisas hoje - Falei, dando um passo em sua direção.
Eu não sei o que estava fazendo, apenas estava fazendo. As emoções que vinham de Castiel eram estranhamente controladas, no entanto logo aumentavam de intensidade e me contagiavam.
Continuei a me aproximar, tentando não pensar muito com medo de desistir. Aos poucos fui entendendo o que inconscientemente desejava, eu queria toca-lo, senti-lo.
- O que você está fazendo?- Perguntou.
Pude sentir a expectativa emanado dele, curiosidade também.
- Eu só... - Fui chegando mais perto, até estarmos frente a frente. Ele era alto, e ainda mais bonito de perto.
A sensação de que estava deslumbrada aumentou, e então descobri o que veio me atormentando desde a primeira vez em que pus meus olhos nesse anjo e o porque de ter se fixado tão rápido em minha mente. Eu estava deslumbrada por ele, por tudo o que o envolvia, ele era algo que nunca havia visto antes e toda a sua natureza complexa me intrigava a ponto de não tira-lo da cabeça. Todo esse magnetismo que ele exercia, todo o poder que seus olhos passavam me deixavam tonta e ao mesmo tempo com ainda mais vontade de me aproximar.
- ... eu preciso saber se você realmente é real - Completei minha sentença, finalmente o tocando de leve no peito. As palmas de minhas mãos ficaram espalmadas em seu peitoral, mesmo por cima das camadas de roupa que ele usava, eu sentia todo seu calor.
Castiel estremeceu, porem não se afastou, apenas me encarou duas vezes mais confuso.
- O que... eu nunca senti isso antes - Falou balançando a cabeça, sua expressão era como a de quem estava fazendo algo errado.- Deve ser apenas as reações de meu receptáculo...
Em um impeto de coragem e loucura misturados, subi minhas mãos até a nuca do anjo e murmurei:
- Vamos descobrir como ele reage a isso.
Eu o beijei antes que pudesse desistir, antes que ele dissesse qualquer coisa.
Ele não reagiu de início como se ou não soubesse o que fazer, ou não quisesse fazer, mas alguns segundos depois seus lábios iniciaram um movimento, sincronizando com os meus. Seus braços que pendiam ao lado de seu corpo, vieram parar em cintura e pensei que fossem para me afastar. Contrariando meu pensamento, Castiel apenas os manteve alí, apertando levemente e de forma hesitante.
Me afastei e esperei que dissesse algo. Castiel estava vermelho, assim como eu, acho que essa é a reação de seu receptáculo.
- Eu não...- Ele abaixou a cabeça e desviou o olhar.- Desculpe, não sei o que estava fazendo, eu...
- Eu o beijei - Interrompi, também desviando o olhar.- Eu deveria me desculpar.
Oh, droga! Eu acabei de beijar um anjo. Corrompi um inocente anjo que nem ao menos sabia beijar. Não à duvidas nenhuma de que vou para o inferno.
Castiel encarou-me fundo nos olhos e soltou de repente:
- Você não vai para o inferno por isso.
Havia um pequeno sorriso em seu rosto.
- O que?- Perguntei, confusa.- Como sabe que... você pode ler mentes?
- Bem, - Começou, dando de ombros. - É como se eu pudesse ver a mente dela, através de seus olhos.
- Isso é...- Procurei a palavra certa.- Constrangedor e um pouco evasivo.
- Tão evasivo quanto saber o que os outros estão sentindo?- Perguntou erguendo uma sobrancelha.
Mais uma vez, Castiel abandonou a postura robótica.
- Não, ler mentes ainda é pior - Falei. Meu celular tocou, e eu lancei num olhar irritado ao aparelho. Justo agora que estávamos nos entendendo.
- De onde vem isso?- Castiel perguntou, procurando a origem do som. Me afastei e peguei o celular, lendo o nome de Bobby no visor.
- Se importa se eu...- Perguntei, ele me olhou sem entender e então lembrei de que provavelmente ele não fazia ideia do que é um celular.- Só um minuto.
Assim que atendi, não foi a voz de Bobby que ouvi e sim a de Dean.
- S/n?- Perguntou. - Esta bem?
- Sim, por que não estaria? - Perguntei, não entendendo a preocupação.
- Você disse que voltaria com alguns livros, ou que pelo menos ligaria. E como não estava bem quando saiu daqui, pensamos que tivesse acontecido algo.
- É, eu - Comecei a pensar em algo para falar. Eu havia perdido totalmente a noção de tempo.- Eu já estou voltando. Dormi um pouco demais.
- Certo - Dean murmurou.- Então, até mais tarde.
- Até...
Desliguei e com um suspiro olhei para a mesa onde eu nem havia começado a separar os livros e a cama que eu mal tinha dormido.
- Isso foi mais do que um minuto - Ouvi Castiel falar próximo a mim. Me virei e lá estava o anjo me encarando.
- Eu não quis dizer que seria exatamente um minuto - Tentei explicar, mas logo desisti. - Eu vou ter que ir.
- Eu também - Falou em tom triste. - Estou a tempo demais fora de meu posto.
- Você...- Eu não sabia uma forma de perguntar. - Vai voltar?
Castiel pensou por um tempo e então sorriu.
- Eu tentarei.
Meu corpo se encheu com a expectativa de vê-lo outra vez, mais uma vez dei um passo em sua direção e o abracei. Castiel demorou um pouco para envolver meu tronco com seus braços e quando o fez foi de forma meio desajeitada. Eu precisaria ensina-lo como reagir a demonstrações de afeto.
Quando nos afastamos, me virei por apenas um segundo, tempo de colocar o aparelho que ainda segurava sobre a comoda e ao me virar de volta, Castiel já não estava mais em canto algum.
Encarei o espaço vazio por um tempo, atordoada por sua saída repentina. É obvio que o Anjo não é acostumado com regras de educação humana, para se despedir quando ir embora, mesmo assim não consegui evitar uma pontada de desapontamento.
Lembrei que Bobby e os outros ainda me esperavam, então apenas peguei o monte de livros sobre a mesa e sai de meu apartamento em direção a meu carro.
Mesmo sabendo que ele havia ido embora e não querendo ser prepotente o suficiente para acreditar que ele me observava pois não conseguiu se afastar, não conseguia me desfazer da sensação de não estar sozinha. O calor dele era tão ressente que era capaz da afirmar que ele esta sentado no banco ao lado, emanando ondas de confusão e com seus olhos azuis cravados em mim. Porém ao olhar para o passageiro, o lugar está vazio.

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Esse imagine foi um pedido de
CathMendes

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