Faith ( part. Final )

Sua narração:

Um saco foi posto em minha cabeça. Os irmãos me rebocaram para fora do armazém, não sem antes libertar todos os que eu havia sequestrado, e depois me prenderam no porta malas de um carro.
Passei o caminho todo pensando em formas de escapar, como pude ser tao idiota a ponto de ter sido pega?
Tudo bem, muitas de minhas atitudes foram por impulso, e eu estava tao absorta em Dean e meu lado sanguinário estava tão entretido, que simplesmente me esqueci do outro.

O carro parou, deduzi que chegamos ao nosso destino. Ouvi a tampa do porta malas abrir e fui puxada para fora, tentei acompanhar os passos largos de quem acreditei ser do Winchester maia novo, cada passo dele eram dois meu.
Uma porta foi aberta e continuei sendo guiada ainda com a venda, quase tropecei nas escadas, porem não falei nada. Eu estava em silêncio esse tempo todo remoendo o que me aconteceu, não queria falar ou pensar em nada.
Ouvi o som do que me pareceu portas de metal sendo arrastadas e então fui sentada em uma cadeira, onde prenderam meus pulsos e uma espécie de coleira foi presa em meu pescoço.
O saco foi removido, levantei a cabeça e expus meus olhos negros para os caçadores que me encaravam.

- E agora?- Direcionei meu olhar a Dean.- Vai fazer o que, Winchester? Descontar o que fiz com você a pouco ou relembrar os velhos tempos?
Dean nada falou, ele tocou no braço do irmão e os dois saíram da sala, arrastando de volta as estantes que serviam como porta, reproduzindo o som de metal arrastando.
Joguei minha cabeça para trás, tentando imaginar o que fariam comigo. A morte não é uma opção.

***

Narração, Dean:

- E ai, Dean?- Sam me encarou assim que chegamos na biblioteca do Bunker.- Se não vamos mata-la, o que pretende fazer com ela?
Peguei a caixa de primeiro socorros e me sentei em uma cadeira. Aquela coisa me cortou inteiro. Sam se aproximou e tirou a caixa de minhas mãos, começando a preparar a agulha para a sutura.
- Vamos cura-la - Respondi fazendo uma careta quando senti a agulha entrar no corte fundo em minha barriga.
- O que?
- Vamos transforma-lá outra vez em humana, com o tratamento de sangue - Falei.
- Dean... ela torturou você, ela ia matar você, sequestrou todas aquelas pessoas... - Sam começou a falar incrédulo.
- Eu sei, Sam - Cortei.- Mas... eu sinto que devo a ela, sabe?
- Por que?
- Ela foi a primeira alma que eu torturei no inferno - Contei.- Eu a torturei por dias, de certa forma me sinto culpado pelo que ela se transformou.
- Não estou entendo você, Dean. Você nunca teve dó de demônio nenhum. Você não tem culpa pelo que ela virou, ela estava no inferno, se não fosse você seria outro a tortura-la.
- Não é algo que eu possa explicar com precisão - Falei. Eu também não estou entendo essa necessidade de ajuda-lá, ela tentou me matar.- Só... sinto que tenho que ajuda-la.
Sam não parecia convencido, estava bem confuso quanto as minhas atitudes. E admito, eu também estava.

***

Sua narração:

Senti como a cinco anos atrás. Como ficava todos os dias nos momentos que antecediam a chegada de Dean em minha cela. O medo crescente, e os pensamentos que me atormentavam que ficavam cada vez piores conforme os minutos passavam. Tudo girando em torno de o que me aconteceria no momento em que ele cruzasse a porta e iniciasse outra sessão.
O que ele vai fazer?

Já haviam se passado horas quando as estantes de metal voltaram a se arrastar, os Winchesters estavam de volta. Sam carregava uma grande caixa e Dean um pacote.
Depositaram os objetos sobre a mesa presente na pequena sala e se voltaram para mim. Analisei um de cada vez, Sam parecia relutante e Dean decidido.

- Antes de qualquer coisa - O loiro começou se aproximando. - A pessoa que você possuiu, ainda esta viva?
Eu poderia mentir e dizer que sim. Dizer que qualquer coisa que fosse feita a mim, afetaria a pobre garota. Mas como sempre, amaldiçoei minha parte ainda humana por querer falar a verdade:
- Não. Quando peguei a casca, ela já estava morta.
Os dois trocaram olhares rapidamente, como se estivessem conversando mentalmente. Por fim, Dean voltou ate a mesa e abriu o pacote, retirando uma seringa. Sam abriu a caixa e tirou de lá uma espécie de bolsa de sangue.
- O que vai fazer?- Perguntei confusa, olhando para os dois.
Não recebi nenhuma resposta. Dean preparou uma seringa cheia de sangue e se aproximou mais uma vez de mim, posicionado-a em meu pescoço.

- Vai me agradecer por isso - Falou antes de cravar a agulha na carne de meu pescoço, injetando o sangue.
Acho que nunca gritei tão alto. Nem mesmo no inferno. Era como se tivesse sido injetado óleo fervente em minha corrente sanguínea e me corroia por dentro como ácido.
- Seu desgraçado!- Gritei. Se pudesse chorar, meus olhos estariam cheios de lagrimas, mas de puro ódio e raiva.- Esta se divertindo? Está tentando reviver os velhos tempos?!
- Estou tentando ajuda-la - Respondeu calmamente.
- Me queimando de dentro para fora!!- Gritei incrédula.
- Te certeza de que quer continuar com isso, Dean?- Sam perguntou ao irmão.
- Vai depender dela - Respondeu.
- Quando eu conseguir me soltar, vou queima-lo vivo - Gritei ainda sentindo os efeitos do sangue em meu corpo. Mais uma vez a parte mais feroz e escura de minha alma estava subindo a superfície. Dean conseguia despertar o lado com qual lutei anos para oprimir.

- E desse jeito, não esta merecendo muito - Ele voltou a falar saindo da sala.- Voltamos daqui a uma hora.
Falou antes de fechar as estantes acompanhado do irmão.
Joguei minha cabeça para trás apertando os olhos, procurando aliviar a dor.

***

Ao fim da primeira hora, a dor diminuirá para um formigamento incômodo. Já com a mente livre, consigo pensar melhor sobre tudo.
Antes de injetar o sangue, Dean disse que eu iria agradece-lo. Mas agradecer pelo que?
Ele falou que voltaria em uma hora, provavelmente para injetar mais uma dose. Isso me parece mais como um ritual que método de tortura.
As portas se abriram e Dean voltou, dessa vez estava sozinho.
- Onde esta seu siamês?- Perguntei referindo-me a Sam. Eles pareciam estar sempre grudados um ao outro.
Dean me ignorou, preparou outra seringa e se aproximou.
- Que ritual é esse?- Perguntei.
- Vai descobrir - Disse simplesmente antes de fincar a agulha em meu pescoço.
Doeu ainda mais que a primeira vez. Gritei gastando todo o ar de meus pulmões.
Forcei meus pulsos contra as amarras desesperada, tentando me soltar.
- Por que?- Gritei quando ele se afastava mais uma vez e ia embora.
Ele parou a alguns passos da saída e se virou para mim, sua expressão era calma, até suave.
- Sei que é estranho, mas confie em mim, não vai se arrepender.
Dizendo isso, ele fechou as portas.

***

Quatro horas haviam se passado. Eu mal conseguia manter meus olhos abertos. Tentei fazer o que Dean pediu e confiar nele, mas toda vez que sentia meu sangue queimar, sentia vontade de me soltar daquela cadeira e esquarteja-lo.
Ele não dizia o que estava fazendo, mas lentamente eu sentia ligeiras mudanças ocorrendo. Agora eu sentia com mais força tudo o que antes estava fraco, apagado.

- É a última - Anunciou Dean.
Eu não conseguiria responder nem que quisesse, sentia como se fosse morrer com tanta dor.
A picada quase não surtiu mais efeito como antes, eu não gritei ou me contorci.
Ouvi seus passos se afastando e nada mudar, eu não estava diferente.
- S/n - Ouvi Sam chamar. Forcei-me a olha-lo e esperei que falasse. - É a última parte, pode doer... muito. Então, aguente firme.
Ele se aproximou de mim e cortou a palma de sua mão, cobrindo minha boca com sua mão. Senti o gosto metálico de sangue e aquilo me causou certa repugnância
Sam começou a falar e demorei alguns segundos para perceber que era Latim. Um exorcismo para ser mais exata.
Eles estavam me exorcizando?! Não é possível... eu não...
Não consegui concluir o pensamento. Sam concluiu o exorcismo e senti algo dentro de mim acontecer, começou em meu peito e se alastrou por todo meu corpo.

Sam se afastou e ele e o irmão me encaravam com expectativa.
- O que fizeram comigo?- Perguntei.
Dean não respondeu e no segundo seguinte estava me engasgando com água que ele jogou no meu rosto. Provavelmente era benta, pois vinha de um frasco de prata com um terço em volta. Mas nada aconteceu, não senti minha pele queimar, nem nada que costumava acontecer.
- Libertamos você - Dean respondeu soltando a corrente de meu pescoço e depois liberando meus braços. - Você é humana outra vez.
Eu podia sentir isso. Sem o maldito cheiro de enxofre, sem aquela força maligna que me dominava cada vez mais.
Eu comecei a chorar, sim, chorar. A quanto tempo não chorava? Mal consigo me lembrar. Em um impulso abracei Dean o mais forte que podia, murmurando sem parar:
- Obrigado...
Ele hesitou no primeiro momento, mas devolveu o abraço.
- Era o minimo que poderia fazer... para me redimir com você...
- Eu estava errada sobre você - Falei.- Você não é um monstro, Dean. Você me salvou.
Eu era humana novamente, poderia viver minha vida antes interrompida, poderia recomeçar.
É, como pensei na primeira vez que o vi, Dean era meu salvador.

***

- Para onde vai agora? - Sam perguntou. Estávamos na rodoviária, Dean me ofereceu uma carona até lá quando disse que precisava achar meu caminho agora que estava livre da maldição eterna.
- Não sei, Seattle me parece uma boa - Respondi.
Sam e eu apertamos as mãos e ele se afastou voltando para o carro.
- Aproveite bem sua segunda chance - Dean falou ao se aproximar.
Sorri de canto e assinto com a cabeça.
- Acredite em mim, se eu consigo manter um sentimento de vingança por tanto tempo, imagina o de gratidão - Falei. - Eu estarei aqui por você, Dean. Se precisar de qualquer coisa, venha atrás de mim.
Ele sorriu e concordou com a cabeça.
Eu o abracei mais uma vez e ele retribuiu.
Dei um passo para trás em direção ao ônibus, mas antes disso me virei mais uma vez para o caçador.
- Dean?- Chamei.- Por que... por que me ajudou? Você não precisava, afinal, foi obrigado a tudo aquilo.
- Eu sempre me senti culpado. Desde a primeira vez que a vi lá embaixo, ter que tortura-lá foi uma das piores coisas que já fiz, porque de certa forma eu sabia que você não era como os outros. Como você mesma disse, em um lugar como aquele, aprendemos a reconhecer a luz em meio as trevas.

Foi a melhor resposta que eu poderia querer, acenei para ele e continuei meu caminho para o ônibus. Porem antes de entrar, me virei para Dean mais uma vez, sussurrando outro " obrigado ".
Ele pareceu entender pois sorriu de volta.
Entrei de vez no ônibus e me sentei no fundo. Mal podendo acreditar que estava livre, livre de todo aquele inferno, literalmente. E sem poder acreditar que foi Dean Winchester que fez isso por mim.
Fecho meus olhos e visulizo seu rosto, aqueles olhos verdes me encarando. Uma torrente de sentimentos me invade, confusos e intensos.
Parece que estarei ligada a esses olhos para sempre, seja pelo ódio ou... pelo amor?

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