Bring Me To Life ( part. 1 )
Leitora/Dean
***
Abro os olhos e o sol entra pelas janelas, cujo as cortinas já estão abertas.
Sento-me na cama esfregando os olhos. Hoje será um grande dia, estou me preparando para ele há semanas.
Levanto da cama e corro para o banheiro, escovando os dentes e trocando de roupa. Desço as escadas e sigo para a cozinha.
Lá encontro minha mãe preparando o café da manha. Ao me ver ela lança uma grande sorriso de bom dia.
- Bom dia mãe - digo dando-lhe um beijo ao passar por ela e me sente a mesa.
- Bom dia minha universitária - ela responde orgulhosa.- Pronta para se tornar a nova estudante de Harvard?
- Com certeza - Sorrio. Hoje é o dia em que me mudarei para o campus da universidade de Harvard, onde poderei realizar o meu sonho de ser uma Arquiteta de sucesso.- Onde está papai?
Noto que sua cadeira está vazia.
- Foi terminar alguns assuntos - responde dando uma risadinha a seguir. Minha mãe não sabe mentir. - Ele voltara à tempo.
- Certo...- termino de beber meu suco de laranja e me levanto. - Então, já que está tudo pronto e só sairemos quando papai voltar, vou assistir Supernatural.
Anuncio saindo do cômodo. Ouço minha mãe rir outra vez e murmurar "nunca ira mudar".
Volto para o quarto e me deito novamente na cama. Pego o notebook e ponho o episódio para rodar.
Apenas alguns minutos depois do inicio do episódio, as luzes do quarto piscam.
No mesmo instante fico alerta. Logo rio da minha reação exagerada - deve ser apenas um problema na lâmpada -, penso comigo.
Volto meu olhar para a tela e contínuo a ver o programa. Talvez seja coisa da minha imaginação ou algo do tipo, mas eu tenho quase certeza de que sei o que vai acontecer.
A situação é o seguinte: Na nona temporada, Dean e Sam estão seguindo para um hotel. Lá eles encontraram Abaddon e Crowley.
Confiro os números dos episódios para ter certeza de que já não o vi antes. Mas não, estou atrasada nas temporadas, por isso é a primeira vez que estou vendo. É como se pudesse prever cada palavra, movimento, e escolhas que eles tomariam. Como se já tivesse visto tudo.
O mais estranho é que eu também sinto como se estivesse faltando algo ali.
O que sempre me fez gostar da série era o fato de me sentir próxima a ela. De ver nos personagens pessoas de verdade, e ser capaz de sentir junto com eles. Sempre achei que isso era normal, mas agora - especialmente hoje -, eu sinto mais que nunca que tem alguma coisa faltando. E não apenas na série, mas também na minha vida.
A medida em que vou vendo um bolo vai se formando em minha garganta. Quando não consigo mais aguentar fecho a tela do computador e o ponho de lado. Levanto da cama e por alguns segundos fico completamente tonta e desorientada.
Alguns flashes de luz passam diante os meus olhos me cegando, tombo no chão e me curvo pondo as mãos na cabeça. Vozes invadem minha mente em um volume incontrolável, fazendo com que eu aperte ainda mais minhas têmporas. Não consigo identificar as vozes, estão muito altas e retorcidas para reconhecer qualquer coisa.
Um barulho, e em seguida outra voz - que dessa vez vem de fora da minha cabeça -, fica mais alta com o passar dos segundos. Até que quando me dou conta estou encarando os grandes olhos azuis de minha mãe.
- S/n! - exclama tentando fazer com que eu reaja. O torpor é tão grande que demoro quase três minutos, só para entender que é o meu próprio nome saindo de seus lábios.- Você está bem? Teve outra crise?
Me desvencilho de seus braços me sentando no chão e usando a parede como encosto. Passo as costas da mão na testa, limpando o suor.
- Foi - admito. Odeio essas crises estúpidas, me fazem parece frágil e fraca.- Mas eu já estou bem.
- Você estava gritando S/n - Ela me encara. - Já faz semanas que você não tinha uma tão forte. Tem certeza de que não quer ir ao Dr.Marcus? Ele...
- Não mãe - eu a corto.- Não quero ir nem ao Dr.Marcus nem a médico nenhum, não sou uma inválida.
- Filha - ela alisa meus cabelos carinhosamente.- Você sabe que eu só quero o seu bem. E você sabe que não se deve brincar com isso.
Quando minha mãe diz brincar com "isso", ela quer dizer das crises de epilepsia que comecei a ter há pouco menos de um ano quando cai do alto da casa na árvore. Bati a cabeça com força no chão. Talvez seja por isso que não me lembro do acidente, ou de metade da minha vida.
Os médicos dizem que é epilepsia. Mas eu já pesquisei sobre a doença, não tem nada haver com as minhas crises. No entanto resolvi não discutir.
- Eu sei mãe - suspiro me apoiando na cama para ficar de pé. - Mas eu vou ficar bem.
Ela insiste mais um pouco, argumentando que eu preciso estar bem para ir a faculdade. Mas eu me mantendo firme e recuso.
Ela sai do quarto e eu fico alguns minutos sentada na cama, sem saber bem o que fazer. Ouço um barulho conhecido em frente a casa, algo como um motor antigo.
O que me causa mais uma seção de Déjà Vu.
Vou até a janela e olho para a rua, descendo o olhar até a entrada de carros onde me deparo com o teto e o capo preto reluzente de um belo carro.
Saio correndo do meu quarto descendo as escadas praticamente voando. Ao chegar na porta minha mãe me encara sorrindo e a abre para mim.
Dou um passo a frente passando pela soleira e encontrando um belo Chevy Impala 67. Idêntico ao da série.
- PAAII!!- Grito correndo e o abraçando. - Não posso acreditar. Como conseguiu isso?
Ele sorri e diz que um amigo dele era restaurador de carros antigos. Disse que o Impala estava praticamente novo - na linguá dos pais quer dizer que da para andar -, e ele reformou até ficar como o da série.
Ando em volta do carro, admirando a lataria e por fim entro. Por dentro ele consegue ser ainda mais parecido. No entanto, quando passo as mãos pelos bancos de couro, pelo volante, quando olho o radio. A sensação de que já vi tudo antes volta como um soco em meu estômago. Olho por um milésimo de segundo pelo retrovisor e um lampejo de dois olhos verdes passam, somem tão rápido quanto vieram. Franzo as sobrancelhas e olho para trás, não tem nada ali. Não podem ser meus olhos pois eles são azuis.
Entretanto eu pude reconhecer aqueles olhos, nos breves segundo que os vi. Era os olhos de Dean Winchester.
Pode ser impossível, talvez eu esteja ficando louca ou obcecada. Mas posso jurar que eram os olhos dele.
A sensação estranha ainda esta travada em minha garganta e causando uma nuvem espessa em minha mente. Fico estática dentro do carro com as mãos no volante, sem saber como reagir.
Por fim, saio do carro procurando manter a mesma expressão de antes, tentando fingir que não tive aquela visão esquisita a menos de um minuto atrás.
- O que houve querida?- Meu pai pergunta depois de ver o meu rosto.
- Nada, esta tudo em perfeita ordem - garanto a ele voltando para a porta de casa. - Vamos, esta na hora de carregar as coisas para o carro.
Entro na casa e subo as escadas para o meu quarto.
Começo a descer as coisas e empilha-las no hall. Onde meu pai leva tudo para minivan dele.
Uma hora depois tudo está arrumado, minhas costas doem levemente. Mas me sinto feliz e orgulhosa.
***
Estamos saindo de casa, prontos para entrar nos carros e ir em direção a universidade quando estanco por um instante na calçada. Meus olhos fixos em um ponto a minha frente. Bem... não um ponto, e sim uma pessoa parada no meio da rua.
O homem esta de costas, ele usa um sobretudo beje e tem cabelos pretos. Não quero acreditar, não posso estar tendo outra alucinação. O que esta acontecendo comigo hoje?!
- Castiel..?- murmuro andando em direção ao homem parado na rua. Ao ouvir seu nome ele se vira, o que me faz parar novamente. É como se ele tivesse saído da tela.
- S/n... Consegue me ver?- ele pergunta um pouco inseguro.
Eu não respondo a ele. Por que responderia? É uma alucinação certo?...
- S/n, o que esta fazendo?- ouço minha mãe perguntar.
Viro para ela por um breve segundo e ao me virar outra vez para frente Castiel desapareceu.
- Nada - respondo me voltando confusa para ela.- Só achei que tivesse visto algo.
Ela estreita os olhos desconfiada, mas mesmo assim entra na minivan.
Entro no Impala, e sinto outra vez a mesma sensação esquisita de Déjà Vu.
Tento ignora-lá e ligo o carro dando partida. Saio da entrada de carros e sigo logo atrás da minivan de meus pais.
***
O campus de Harvard fica a mais ou menos quatro horas de carro da minha casa. Então duas horas depois já não me aguento naquele carro.
Resolvo ligar o radio e consigo sintonizar em uma radio de rock antigo. Clássicos como Black Sabbath, AC/DC e Led Zeppelin.
Continuo dirigindo e enquanto as músicas tocam, sou capaz de associar cada uma com um episódio diferente de Supernatural. Alguns diriam: Preste atenção na estrada e pare de pensar bobagens.
No entanto eu continuo cantando as músicas e pensando alto.
Mais meia hora mais tarde ao fazer uma curva fechada quase capoto o carro. Motivo? Simples, UM ANJO FICTÍCIO NO CARONA!!
Estou arfando e encaro o ser ao meu lado de olhos arregalados e boca escancarada. O grito preso na garganta sai como um chiado de gato engasgado.
- O que você ta fazendo aqui? Como você veio parar aqui?- pergunto em choque. Mais por reflexo do que qualquer coisa. Uma alucinação pode responder perguntas histéricas?
- Vim avisar você - ele tenta tocar meu ombro mas sua mão passa direto. - Vim salvar você.
- Me salvar de que Castiel?- pergunto. Vejo que a minivan de meus pais está voltando de ré até o ponto onde parei.
- Salvar de...- e ele some tão rápido quanto surgiu.
Eu preciso parar de ver aquela série. Ela ta me deixando louca.
- Filha - minha mãe grita abrindo a porta do carro.- S/n, você esta bem? O que houve? Por que parou desse jeito?
Ela me bombardeia de perguntas. Posso ver por cima de seu ombro que meu pai me observa com olhos preocupados.
- Eu to bem - anuncio apertando o volante para que não percebam que estou tremendo.- Eu estou ótima. Foi só um susto, pensei que tivesse visto algo na estrada e tentei desviar.
- Deve estar cansada - papai fala.- Nunca dirigiu por tanto tempo.
- Eu estou bem - repito. Os nos dos meus dedos já brancos devido a força com qual aperto o volante.- Voltem para o carro. Não quero chegar lá tarde.
Mamãe insiste um pouco mais em deixar que ela leve o carro, mas me mantenho firme e recuso. Digo que esta tudo bem mais umas duzentas vezes e eles voltam - ainda relutantes -, para o carro.
Voltamos para a estrada e minha mente esta turbulenta.
Minha mãe ficou assim desde o acidente. Ela sempre foi protetora mas depois que comecei a ter essas crises ela passou a se dedicar inteiramente a mim e a minha saúde mental e física.
Para ela qualquer esforço pode desencadear outro problema de saúde. E isso ela tenta evitar a qualquer custo.
Mantendo os olhos fixos na estrada. Tenho medo que essas alucinações causem um acidente pior.
Felizmente uma hora e meia depois chegamos a univesidade sem mais problemas. Levei todas as coisas do carro para o meu quarto. Quarto que eu dividiria com outra garota.
Depois que levamos tudo, fomos nos despedir. Isso foi difícil, minha mãe chorava muito e dizia que estava preocupada com minha saúde. Eu dizia que ficaria bem e que a amava. Ela chorava ainda mais.
Papai já foi mais fácil, ele disse para que eu me cuidasse. Para que não fosse a festas de fraternidade, e que não arrumasse nenhum namorado Hippie.
Fui obrigada a rir dessa. Assim que terminamos de nos despedir eles foram embora.
Fiquei por mais um tempo em frente ao portão, vendo a minivan se afastar, suspirando. Volto para o quarto triste pela partida deles mas feliz por finalmente estar sozinha.
***
Entro no quarto que será meu pelos próximos quatro anos da minha vida. A garota com qual o dividirei só chegara amanhã, então poderei arrumar tudo como quiser e calmamente.
Enquanto estou enfileirando os livros no alto da estante, encontro um de meus favoritos: O Diário de John Winchester.
Comprei em uma convenção a alguns meses, e, quando o li reparei que faltava diversas coisas.
Procurei na internet mas o livro estava completo. O estranho é que eu sabia que não estava, como se já tivesse visto o original.
Guardo-o na estante e me volto para a mochila terminado de guardar as coisas e pego meu notebook. Me deito exausta na cama.
Abro o computador e entro no meu email. Procuro por novas mensagens e tem pelo menos umas sete para ser respondidas.
Passo os olhos rapidamente pelos títulos dos emails e pelos assuntos até que um me chama a atenção. O título da mensagem é "Pare!!!" com exatamente três pontos de exclamação, e ao abrir encontro a seguinte mensagem: "Pare. Pare de rolar. Pare o que estiver fazendo e escute...ou leia. Esse não é o seu lugar. Essa não é a sua vida. Meu nome é Dean e meu irmão Sam esta me ajudando com isso.
Você esta presa em um coma por quase um ano agora, e Cas acha que finalmente ancontrou um modo de se comunicar com você. Ele acha que você ainda deve se lembrar de nós, do Impala e do negocio da familia. Esse é o motivo pelo qual pensamos que você é tão obcecada por Supernatural em seu coma, porque você se da conta que esse é o seu lugar.
Acorde. Por favor, eu não consigo viver sem você. Sam não consegue viver sem você. Eu não consigo mais suportar a sua falta, eu sinto muito. Isso tudo é culpa minha, eu deveria saber, eu podia ter impedido isso. Nós poderíamos estar juntos agora. Por favor."
Eu juro que meu queixo foi caindo lentamente enquanto lia aquilo. Admito que foi um texto e tanto, mas que tipo de doente manda essas mensagens para as pessoas?
Dean? Eu em coma? Quanta idiotice. Aliás como sabem que gosto da serie?
Estou muito irritada com isso, mas conforme os minutos passam e a raiva também, começo a ponderar sobre isso e tirando toda a situação absurda citada ali... Pode ter algum sentido.
Essas alucinações que a meses eu venho tendo. Depois daquele acidente, que alias eu mal me lembro. Crises onde vozes penetram minha mente, vozes que não consigo identificar. Sem contar que nem consigo me lembrar com clareza de nenhum momento da minha vida antes da queda.
Não! Não posso estar considerando isso. É loucura.
Fecho o computador e saio do quarto, preciso andar um pouco. Porque se eu ficar naquele quarto vou acabar em uma camisa de força.
***
O campus esta quase vazio, já é fim de tarde e a maioria dos estudantes que já ocupam os quartos ainda estão arrumando suas coisas. Os poucos que caminham por aqui estão em silêncio, ou conversando aos sussurros com seus amigos.
Caminho calmamente por uma trilha que leva a parte de trás dos dormitórios. A trilha leva a um jardim muito bonito.
Continuo caminhando sem prestar muita atenção no caminho pelo qual estou seguindo. Ando por pelo menos uma hora, até que me canso - o lugar é realmente enorme - e resolvo me sentar.
Uma pontada de dor de cabeça começa a surgir. Por um momento me preocupo, pensando que talvez seja uma daquelas crises.
A pontada vai aumentando até que não consigo mais suportar. No entanto não é como antes, não há vozes nem nada do tipo. Apenas a dor e o silencio.
Quando penso que não vou mais conseguir aguentar a dor some. Tão repentina quanto veio, fazendo com que eu suspire aliviada. Esfrego o rosto com as mãos tentando me livrar da exaustão. Me levanto, preparando-me para voltar ao quarto, mas uma forte vertigem faz com que eu tenha que me segurar em uma arvore para não cair.
- Ela não parece nada bem - Uma voz vem de trás de mim.
- Estou ótima...- Começo a dizer me virando para a pessoa e tirando os cabelos do rosto.- O...
Minha voz some completamente. Aquele é quem eu acho que é? E aquele com ele é quem parece ser? Sam e Dean Winchester! Ta okay, diminuir a doze dos analgésicos. Anotado.
- S/N - Dean pronúncia meu nome se aproximando.- Precisamos ser rápidos. Você deve ter recebido o email certo?- Assinto com a cabeça. - Ótimo, já sabe o que esta acontecendo então já pode começar a se esforçar para acordar.
- É serio S/n - Sam da um passo na minha direção. - Você esta em coma a pouco menos de um ano devido a um acidente, e você precisa acordar.
Alterno o olhar entre os irmãos e me mantenho calada. Algo que aprendi na pratica é que não se deve conversar com uma alucinação. Ou pensam que você é doida de pedra
- S/n!- Dean grita para mim quando continuo quieta.- Você tem que acreditar em nós, tem que me ouvir. Nada disso é real, eu sou real, eu preciso que você acorde.
Ele joga as mãos para o alto frustrado devido ao fato de não obter nenhuma reação minha.
- Tem que acreditar em nós - Sam toca meu ombro, e diferente do que aconteceu quando Castiel tentou no carro, eu consigo sentir uma leve pressão em meu ombro. - Estamos usando raiz do sonho. Mas não da forma normal, já tentamos antes e não deu certo era muito fraco. Esse é um feitiço feito por Castiel, mas esta exigindo muita força e não teremos muito tempo....
- Como posso acreditar nisso tudo - interrompo Sam.- Isso tudo parece absurdo. Vocês são parte de uma série de TV, vocês não existem.
- Sim nós existimos - Dean volta a falar.- Essa serie é provavelmente uma projeção da sua vida. Não temos tempo para explicar, só tenta se lembrar, se lembrar de nós, de antes do acidente.
- Isso - Sam apóia o irmão. - Tente se lembrar da sua vida. De tudo antes de um ano atrás...
A visão de Dean e Sam começa a embaçar e eles estão desaparecendo.
- Tenta se lembrar S/n... Rápido...- São as últimas coisas que Dean consegue pronunciar antes de sumir por completo.
***
Quando consigo voltar para meu quarto - me perdi diversas vezes no caminho -, me jogo na cama como uma pedra.
Só consigo pensar "o que foi aquilo?". E depois de tudo o que me aconteceu hoje, e o que vem me acontecendo nos últimos meses - visões estranhas, sonhos confusos, essas crises -. Coisas que eu não dava importância mas que se for analisa-las direito mostram que eu não tenho ideia de como vim parar nessa vida.
Eu me lembro da minha infância... quer dizer até os meus dez anos. Minha adolescência é como se fosse um borrão branco. E o único motivo pelo qual nunca parei antes para reparar isso é o simples e puro desinteresse. Nunca me importei em lembrar direito essa fase da minha vida. eu tenho quase vinte e um anos e não me lembro da metade da minha vida. E as poucas vezes que pensei nesse assunto e tentava lembrar de algo antes do acidente minha cabeça quase explodia.
Minha mãe me contará diversas vezes coisas que eu fazia na escola, da festas de aniversário que tive, dos amigos com qual convivia. Mas eu nunca consegui ligar a pessoa que ela falava com a pessoa que eu sou.
Nos últimos meses eu não saia, não frequentava festas ou nada do tipo. Apenas estudava e assistia ao meu programa de TV favorito: Supernatural.
Eu posso estar ficando tão obcecada pela série que minha cabeça esta fantasiando essas coisas. Mas porque tudo se encaixa tão perfeitamente?
Agora estou começando a acreditar nessa baboseira de coma? Fala sério. Eu só posso ter perdido o juízo. Mas talvez...apenas talvez, fazer um esforço para me lembrar de algo antes do acidente não vá me matar.
Sento-me na cama e me esforço o máximo que consigo para me lembrar da minha vida antes do último ano. Como sempre aconteceu a dor veio com força, com fisgadas e pontadas.
Não tinha vozes, nem flashes de luz branca. Apenas a dor aguda.
Estou prestes a desistir pois já se passaram minutos e nada acontece além da grande dor. Gotas de suor escorrem pelo meu rosto e eu desabo na cama. Fecho os olhos sentindo-os pesar e como em um filme as cenas começam a se desenrolar em minha mente.
"Estou na sala de minha casa. Ela esta decorada para a minha festa de aniversário de 11 anos que começara daqui a algumas horas.
Vejo meus pais, eles sorriem mas no segundo seguinte eles me encaram com o olhar vago. A cena passa e os vejo com a garganta cortada e uma mulher me encarando enquanto limpa a faca na blusa.
Um estrondo do outro lado da sala e a mulher se afasta de meus pais rosnando enquanto encara um homem parado diante a porta agora destruída da casa. Ele é alto e carrega uma espingarda que usa para atirar na mulher.
Ela rosna ainda mais e cobre o furo de bala no ombro feito pelo homem.
Outro tiro sai da arma do homem e atinge a perna da mulher. E ela cai sob um dos joelhos gemendo e gritando furiosa para o homem.
Eu observo tudo, não sei o que fazer e não posso me meter. Minha cabeça gira e só consigo sentir medo.
O homem começa a pronunciar algumas palavras, não sei o que ele esta falando. Mas a mulher grita e se retorce, o homem continua falando, cada vez mais rápido até que a mulher solta um último grito e uma coluna de fumaça negra sai por sua boca.
Quando toda a fumaça se esvai a mulher cai no chão como uma boneca de pano. Me encolho mais junto a parede pois o homem está se aproximando de mim.
- Não fique com medo - sua voz é grossa, mas ele fala de forma suave.- Não vou machucar você. Como se chama?
- S/n - respondo - O que...aconteceu?- não consigo evitar que minha voz falhe.- O que era aquilo?
- Escute S/n aquilo era um demônio - Ele explica. E então suspira.- Sinto muito por seus pais. Mas você tem que sair daqui, tem alguem que possa ficar com você?
Demônio? Meus pais foram mortos por um demônio?!
Nego com a cabeça. Ele me ajuda a levantar e diz:
- Então venha comigo.
- Mas...e os meus pais?- pergunto chorando enquanto ele me puxa pela mão em direção a porta.
- Não podemos fazer mais nada por eles. Mas não se preocupe, aquela coisa não vai voltar.
- Qual o seu nome?- pergunto parando na porta e encarando o homem. - Não posso ir com você, mal o conheço.
O homem se virou para mim e se abaixou a minha frente ficando da minha altura. Agora com a ajuda das luzes dos postes e da lua posso ver seu rosto. Cabelos curtos e escuros, barba rala já grisalha apesar de não ser muito velho.
-Eu me chamo John Winchester - ele responde.- E vou proteger você."
Tudo se desfaz em fumaça e meus olhos se abrem.
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