Angel of the Hell [Livre]
Leitora/Castiel
***
Em todos os meus milênios de vida nunca me vi em uma situação como aquela. Eu simplesmente não sabia o que fazer, como reagir ou o que dizer.
Eu era um anjo caído, mas não por opção minha.
Há séculos fui expulsa do Céu apenas por ter desejos humanos, desejos que nenhum dos meus outros irmãos tinham e aquilo para eles era terrível, eu estava quase sendo comparada a Lúcifer.
Desde que cai na Terra vivi como quis, fazendo tudo o que queria, sendo o que não poderia ser no Céu. Eu não cheguei a me transformar de fato em demônio, pois nunca me tornei aliada de Lúcifer.
Eu cortei todas as relações que tinha com o Céu e com meus irmãos, eu me tornei parcialmente humana. Cada século que se passava eu assumia uma nova identidade, tornando-me uma nova pessoa. A imortalidade pode ser bem entediante quando não se sabe o que fazer com ela. E se existe uma coisa que eu sabia fazer era lidar com minha imortalidade.
Nunca tive uma década sequer de tédio, porém esta até o momento tem sido a mais conturbada.
Depois de tanto tempo me mantendo isolada e alheia aos problema que envolviam o Céu, o Inferno ou qualquer outra coisa ligada com isso, eu acabei caindo de cabeça em uma confusão do tipo monumental, mesmo não querendo.
— Terra para S/n – Uma voz que aprendi a odiar me chama.– Essa ai vive desligada.
— Eu estou meditando, imbecil – Digo entre dentes para o Winchester mais velho, ainda mantendo meus olhos fechados.
— Anjos meditam? – Indagou, achando graça.
— Anjos eu não sei, mas eu sim.
— Dean, deixe-a em paz – Sam Winchester, em minha opinião o mais sensato dos dois, intervém.
Abro os olhos em tempo de ver o loiro dar de ombros e finalmente calar-se.
— Obrigada, Sam – Agradeço, tornando a fechar os olhos e me concentrar.
Um som bem conhecido e particularmente irritante chamou outra vez minha concentração, era o som de asas batendo.
— S/n – Castiel chamou-me.– Está pronta para fazer sua escolha?
— Não estou pronta para nada – Respondo desistindo e ficando de pé.
— Você precisa escolher um lado.
— Eu não preciso de nada disso. Eu não quero me envolver.
— Vai ser difícil se envolver mais do que já esta envolvida, baby – Dean comenta.
— Castiel, mande seu macaco falante calar a merda da boca? – Peço, lançando um olhar aborrecido para o loiro.
— Dean, por favor não a aborreça.
Dean ergue as mãos em rendição e se retira.
— S/n, você sabe que a sua posição é crucial. Você é poderosa, sua força, suas armas e experiência, seria tudo o que precisamos para deter Lúcifer.
— Nenhum de vocês pensou nisso quando atiraram-me portões dourados a fora, não é?– Indaguei em tom debochado, porém um pouco ressentida. – Os mesmo que agora imploram minha ajuda, negaram me ajudar séculos atrás.
— É a sua familia – Castiel me fuzila com seus olhos azuis. Ele era muito incomodo quando fazia isso, mesmo eu não tendo uma alma, a impressão que tinha era de que ele poderia ver através dela.
— Eu não tive uma família por muito, muito tempo. Não é agora que isso vai mudar.
— Então faça pela humanidade. Pela criação. Se Lúcifer destruir tudo o que existe você perder o seu parque de diversões.
— Acha que considero isso tudo apenas como um parque de diversões? – Questiono ofendida.
— É o que parece.
— Eu vivi aqui por séculos, Castiel. Presenciei guerras, crises, fome e amores. Eu estava na queda da Bastilha e do Muro de Berlin. Eu presenciei a morte de Francisco Ferdinando. Participei de revoluções. Não se trata apenas de diversão, eu me tornei parte da história... parte desse lugar
— Então por que se recusa a salvar esse mundo? – Sam pergunta, manifestando-se. Viro meu rosto em sua direção.
— Sempre fui neutra. As vezes interferi, mas muito poucos. As coisas devem seguir seu curso, eu não sou Deus para impedir absolutamente nada.
— Se você se manter neutra, estará escolhendo o lado de Lúcifer – Castiel me encarou de maneira dura.
Eu não queria responde nada agora, eu não queria pensar sobre isso. Em um ato covarde fiz o que não fazia a décadas, usei minhas asas e me voei para longe.
***
Helston, Inglaterra...
Sentei-me no banco preso à arvore. Respirando fundo e tentando controlar minhas emoções. Meu temores estavam se acumulando, eles irão me sufocar em breve.
— Um pouco longe, não acha?
Viro-me imediatamente na direção da voz encontrando Castiel.
— Por que veio atrás de mim?
— Ainda temos muito o que conversar.
— Não, não temos. Não entende que não posso ajuda-los? Não posso ajudar nem a mim mesma. Veja no que me transformei.
— Você ainda é forte, S/n, uma das mais fortes. Pode salvar este mundo, pode salvar a si mesma.
Fitei o rosto de Castiel, rindo sem humor. Ele estava sendo sinsero, ele acreditava em mim, mas o que eu poderia fazer se nem eu mesma acreditava?
— Me tornei mais humana do que deveria. Reprimi meu lado anjo por tanto tempo que agora tenho as fraquezas deles, os medos deles, as inseguranças...
— Você ainda é um anjo. Anjos sentem isso, eu sinto. Entendi que ser vulnerável não é um defeito humano, nós não estamos acima deles por sermos imortais.
Embaixo do carvalho, no balanço tão corroído pelo tempo, eu me ponho a considerar aquilo.
— Por que aqui?
A pergunta de Castiel me surpreende.
— Foi onde cai – Respondo.– Exatamente no local onde esta esse carvalho. Eu fiz a cratera e depois coloquei a árvore para esconde-lá.
— E por que um carvalho?
— Porque ele é forte – Deslizo meus dedos pela casca resistente da árvore.– Não se abala com as mudanças do tempo. E quando cheguei aqui eu estava tão confusa, desnorteada e assustada que era tudo o que eu desejava ser.
Castiel estava a pouco tempo na Terra. Eu podia notar que ele também era novo nessa coisa de rebeldia. Mas podia sentir nele que alguma coisa mudou dentro dele.
Castiel não era como os outros Anjos, e percebo que estou desenvolvendo algum afeto por ele. Nunca senti isso antes, por nenhum humano com qual cruzei, porém eu sabia reconhecer esse sentimento.
— Castiel?
— Sim, S/n.
— Quero perguntar uma coisa – Digo devagar, virando-me para ele e o puxando para o banco comigo.
— O que quiser – Diz, ele sorriu. Era um lindo sorriso, tenho que admitir.
— Essa batalha, Lúcifer e Céu, eu me sinto distante – Digo.– Tentei me manter afastada por tanto tempo que agora me meter no meio disso novamente me apavora. Você faz isso... quero diser, como consegue? Como consegue aguentar?
— Eu imagino que tudo sempre terá um bom fim, não importa o curso. Se para salvar o mundo eu tenha que me sacrificar e entrar em uma batalha, é o que farei.
Ele responde, seu tom de voz era no mínimo solene e eu não consegui resistir, sorrindo com aquilo.
— Isso me soa digno – Digo.
Ele balança a cabeça.
— Não sou digno.
Seguro seu rosto e o levanto, deixando-o nivelado ao meu.
— Você é. De todos aqueles hipócritas que me expulsaram, você é o que vai ser o que conseguiu fazer com que eu fizesse a escolha certa.
Nos encaramos por um tempo, eu sei o que acontecerá agora, talvez Castiel não saiba, mas provavelmente pode sentir alguma coisa também.
Segurei sua nuca e o puxei para um beijo. Castiel não sabe como retribuir então eu precisarei ensina-lo.
— Aqui – Sorrio, me separando dele e colocando suas mãos em minha cintura. Seguro seus ombros e agora foi Castiel quem me puxou mais para si e juntou nossos lábios.
Intensifico o beijo, sentindo seu gosto enquanto minhas mãos sobem para seu cabelo escuro, bagunçando-o por inteiro. Castiel era muito inexperiente, eu por outro lado tinha muitos séculos de prática. Seria um prazer ensinar tudo à ele.
***
Estávamos de volta aos Estados Unidos. O plano dos Winchester parecia completamente idiota, mas era o único que tínhamos.
Conseguimos todo o sangue de demônio possível e demos a Sam, para que ele se preparasse. Eu particularmente poderia explodir o prédio em um estalar de dedos e arrastar Lúcifer para fora, no entanto resolvi que ainda não era o momento de ser imprudente... ainda.
Levei Dean para dentro do prédio na hora combinada, quando deveríamos abrir a Jaula e mandar Lúcifer de volta, porém algo deu errado. Eu não gostaria de ser pessimista na frente de todos, mas se fosse sincera por inteiro diria que as chances daquele plano dar errado estavam em torno de 97%. Talvez se eu tivesse dito as coisas tivessem sido diferentes.
Sam não conseguiu conter Lúcifer e foi dominado, nós perdemos os anéis para ele e depois Lúcifer despareceu.
— E agora, o que fazemos? – Pergunto, quando estamos todos do lado do prédio e tentando encontrar uma solução.
— Sugiro que bebamos quantidades absurdas de álcool – Castiel recosta-se na parede.
— Por mais que a ideia seja tentadora – Falei.– Não vamos por esse caminho... ainda. Nós precisamos de algo realmente útil.
— Com anjos assim, estamos muito bem equipados – Bobby resmunga.
Dean estava quieto, diferente de como foi desde que o conheci. Aquilo poderia ser o fim, não apenas para a Terra mas para tudo o que conhecemos.
Eu havia me comprometido em ajudar, mas ainda não agia como uma verdadeira guerreira. Eu não deveria ter ficado em silencio enquanto Lúcifer desaparecia como fumaça.
— Eu tenho um plano – Digo.
Todos olham-me surpresos, admito que aquilo me ofendeu um pouco.
— Sério?
Encaro Dean.
— Sério. Escutem, eu já passei por muitas guerras. E não apenas na Terra – Lanço um olhar para Castiel. – Eu líderei exércitos no Céu, não estou tão enferrujada assim.
— Agora você parece bem disposta em ajudar – Dean me olhou desconfiado. – Seu motivos egoístas cresceram ou apenas a culpa?
— O que?
— Isso mesmo, você é uma egoísta e covarde, esta aqui porquê não quer perder seu mundinho de diversão. Você não se importa com nada além de si mesma.
— Dean...– Castiel chama. O loiro o ignora e continua encarando-me.
— Eu poderia mata-lo agora mesmo...– Começo, mas sou interrompida.
— Poderia? Se é tão poderosa como dizem por que não acabou com isso ainda? Você nem ao menos age como um anjo de verdade.
Minha raiva atingiu seu auge naquele momento. Ninguém, nunca, falava comigo daquela maneira e eu não admitiria que um mortal falasse.
Agarro o Winchester pelos ombros, empurrando-o conta uma parede. Meus olhos se acendem como não o fazem a tempos, posso ver a sombra de minhas asas douradas através da parede.
— Quer que eu me comporte como um anjo? Um anjo teria queimado você vivo após ouvir essas coisas. Eu admito, perdi minha verdadeira natureza durante todos esses séculos que fiquei na Terra, mas estou disposta a recupera-lá. Vou mostrar para você, para Lúcifer e todos que me fizeram cair o meu poder.
Afasto-me dele, minha aura angelical não brilha tão forte desde... desde que sou capaz de me lembrar. Minha luz aumenta e antes que todos a minha volta sejam incinerados eu havia desaparecido.
***
O local escolhido para a batalha foi um cemitério, grande e ensolarado. Muito irônico.
Quando cheguei, Lúcifer e Miguel encaravam-se, prontos para começar uma luta mortal.
— Irmãos – Chamo, descendo a colina em direção aos dois.– Acho que perdi o começo do show, mas não a melhor parte, isso é bom.
— S/n? – Miguel fala, havia confusão em seu tom de voz.– Eu ouvi boatos, mas não acreditei.
— Que eu estava viva? Claro, você esperavam que me atirar na Terra tivessem acabado comigo, não é?
— Não...
— S/n – Lúcifer interrompe o irmão. Seu tom era completamente diferente, ele sorri para mim.– Eu estou tão feliz que tenha repensado e feito a escolha certa.
— A escolha certa? – Repeti encarando-o com uma sobrancelha erguida.
— Claro. Juntar-se a mim e acabar com todos os que nos expulsaram do paraíso.
— Eu não vim para me juntar a você, Lúcifer – Digo achando graça em sua prepotência. Meu irmão sempre foi assim.
— Sinto muito pelo que foi feito a você, S/n – Miguel recomeça. – Eu não tive participação na sua queda, tentei encontrá-la, mas você simplesmente desapareceu.
— Pare de bajular ela – Lúcifer resmunga.
— Vocês estão parecendo duas crianças disputando a atenção da mãe – Ironizei.
O ronco de um motor chama nossa atenção e quando nos viramos, o Impala de Dean esta estacionando na colina. O Winchester desçe do veiculo e caminha até nós.
— cheguei a tempo?
— Você não tem o direito de estar aqui – Miguel diz, ressentido. – Você não faz mais parte disso.
— Miguel, pare de agir como uma garota que foi rejeitada para o baile de primavera – Digo, recebendo um olhar fulminante de meu irmão.
— Você não mudou nada – Diz visivelmente desapontado.
— Eu mudei sim, mudei muito. E estou aqui justamente por isso.
— Não à mais tempo – Ele se volta para Lúcifer.
— Acho que um idiota tão grande como você não poderia ver outra solução – Dean desafia.
Miguel se volta para o Winchester e ergue os dedos.
— Já chega...
— Ei, seu bundão! – Alguém grita surgindo a alguns metros. Castiel joga algo em Miguel e em questão de segundos o arcanjo havia explodido.
— Bundão? – Dean encara o anjo e ele da de ombros.
— Você jogou um coquetel molotov no meu irmão? – Lúcifer se vira, a expressão irritada. – Só eu posso...
— Não – Eu entro na frente quando vejo que ele mataria Castiel.– Você não vai machuca-lo.
— Desde quando se importa com peões?
— Desde que ele foi o único que acreditou em mim, irmãozinho – Digo. Levo minhas mãos até o cós de minha calça, puxando minha arma.
Cada arcanjo tinha sua própria espada. A espada de um arcanjo fazia parte dos objetos mais poderosos da história.
— Vai lutar contra mim, irmã?
— Se necessário.
— Você não faz parte disso.
— Tentei me convencer por milênios de que não fazia, mas estava apenas me enganando. Não vou deixar que destrua a Terra e não vou permitir que Miguel lute contra você.
— E como pretende fazer isso?– O sorriso de meu irmão era irritante, ele duvidava de mim.– Você deveria fugir como sempre fez.
— Eu não vou fugir – Rosnei.
Me lanço sobre Lúcifer, usando minha espada para desferir um golpe na direção de seu rosto, ele puxa sua própria arma e intercepta o golpe. Quando nossas laminas de cruzam um som alto como um trovão preenche tudo a nossa volta.
Acerto seu rosto, cortando levemente seu supercílio, ele me acerta nas costelas, jogando-me alguns metros para trás.
— Cansei de jogos – Lúcifer rosna, limpando o sangue de seus olhos.
Me teleportei para trás dele, acertando suas costas com um chute e fazendo em cair. Os anéis, que formam a chave para a jaula cai de seu bolso e eu recupero o objeto.
— Acabou, Lúcifer. Você vai voltar para o seu exílio.
Ele se levanta tão rápido que não consigo desviar de seu ataque, sendo derrubada. Lúcifer acerta meu rosto com o punho da espada, sinto o sangue lavar meu queixo.
— Você sempre foi fraca. Sempre fugindo e se escondendo. Não é párea para mim.
Agarro seus ombros, jogando-o para trás e cravando sua lamina em seu ombro, ouvindo apenas um grunhido.
— Não vai me fazer perder o controle jogando tudo isso na minha cara, não dessa vez! Porquê eu sei que você é verdade, mas não significa que ainda seja assim.
Pego o anel, iniciando o ritual para abrir a jaula. Lúcifer me lança para trás, acertando minha coxa com a lâmina e pegando outra vez o anel.
— Você esta bem? – Castiel pergunta, seus olhos transbordavam preocupação enquanto arrancava a lamina de minha perna.
— Estou – Atrás de Castiel, vi Dean apanhando de Lúcifer.
— Eu vou curar...
— Não, não precisa – Digo.
O ferimento brilha levemente e de cura sozinho em questão de segundos. Olhei para frente e a cena estava diferente. Sam aparentemente recuperou seu controle, abriu a jaula e estava prestes a saltar. Miguel interfere, ele nunca permitira que isso acontecesse, ele quer matar Lúcifer o que consequentemente destruiria Sam também.
Meus últimos dias tinham sido pontuados por escolhas, de todos os tipos. Agora, vejo-me diante de mais uma e essa me parece ser a mais importante.
Olho para Castiel, seguro sua nuca e o puxo para um beijo rápido, sentindo a sensação de seu lábios contra os meus mãos uma vez. Eu me afasto e ele me olha confuso.
— Vou fazer a escolha certa, confia em mim.
Levanto, deixando-o atordoado e correndo até a borda do buraco.
Miguel segurava Sam, e Sam tentava saltar.
Sem mais opção, puxo os dois comigo, sendo assim nós três... ou quatro?... caímos em direção ao vazio.
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