A estrada ainda não acabou
"Não acredito que um dia serei capaz de me lembrar como, nem
mesmo me esforçando muito. Sempre souberam o quanto minha memória era ruim, sinto muito por isso.
Tenho algo mais comum do que se imaginam, conhecido como "memoria seletiva", a parte boa é que guardo apenas o que é importante, até mesmo as pequenas coisas que foram capazes de me marcar."
S/n, a garota de negros cabelos e olhos extremamente escuros remexia-se em sua cadeira de escritório, sentindo-se levemente incomodada e frustrada por não ser capa de colocar tudo o que sentia em uma simples texto. Bem, nem tão simples assim. S/n sentia que algo estava para mudar, mesmo sendo alguem que presenciou tantos eventos ao longo dos séculos de vida, não estava familiarizada com esse método de escrever o que viu. Ainda assim, respirou fundo e prosseguiu, era algo que se sentia incumbida da necessidade de terminar:
" Desculpe por divagar em meu registro, talvez deva ir logo ao ponto."
"Dean Winchester. Você foi meu melhor amigo. Mesmo que muitos não acreditassem em amizade, não entre nós, mas ela existia. Lembro-me bem do dia que nos conhecemos, desculpe-me novamente pelo olho roxo. Sei que tem passado por poucas boas, sei que tem sofrido muito, vivido coisas terríveis, mas confie em mim; Vai superar. Você é o cara mais forte que eu conheço. Não existe nada nesse mundo e em nenhum outro capaz de derruba-lo. Eu acredito em você."
"Sam Winchester. O jovem pródigo. Inteligente até mais do que eu, sempre com um livro em mãos. Você foi o irmão que nunca tive, mas que amei desde o primeiro momento. Você foi minha fortaleza, meu abrigo mais querido por todo esse tempo que passamos juntos.
Sam, quando nos conhecemos você disse que talvez nunca mais fosse capaz de amar novamente, que temia por destruir tudo e todos que se aproximava. Que sentia-se com o toque da morte.
Você é vida, Sam. Você é um ser que busca acima de tudo a felicidade, como qualquer outro, e você vai encontra-lá, querido. Ame sem medo, alguem ira ver o quanto você é incrível. "
"Castiel. Oh, Castiel. Você, sempre conquistando tudo e todos a sua volta, bastando apenas um olhar para que derretesse o mais frio dos corações. Eu não fui uma excessão.
Eu sou incapaz de definir a dor que estou sentindo por saber que você nunca lerá tudo o que escreverei aqui para você, o aperto fundo no peito por ter perdido meu único e grande amor, meu Anjo do Senhor.
Você foi a luz da minha vida, Castiel, da minha longa e sombria vida. Um anjo e uma bruxa... quem diria? Mas aconteceu. Você foi capaz de me devolver a vida, mas agora ela foi embora junto você. Eu o amo. Sempre irei ama-lo."
Novamente ela parou, sentindo a necessidade de se levantar e respirar fundo, secando o rosto lavado pelas lágrimas. S/n S/s, uma bruxa centenária, eternizada em um rosto de menina, mas que agora desejaria que estivesse seca a ter que perder todos que amava.
Aquela noite, a tão poucas horas atrás, parecia que tinha acontecido a milênios, pois sua dor parecia igualmente eterna. Sentou-se outra vez, olhando para a tela.
"Crowley. Parece impressionante que eu dedique um trecho a você, mas sei que nunca mais verei seu sorriso presunçoso, e isso também me dói. Mesmo sendo um demônio, você mostrou a mim e aos Winchester que também era capaz de amar, como a seu filho, e que como qualquer outro apenas queria ser amado. Acredite, nós não dizíamos, nós lutavamos contra isso, e por mais que negassemos... nós amávamos você. Dizem que ou você morre herói, ou vivo por tempo o bastante para se tornar vilão. Você foi o contrário, você tornou-se um herói. Salve o Rei."
Uma carta dedicada com um trecho a Crowley. S/n riu amargamente com isso. A morte a estava deixando sentimental.
"Rowena. O que dizer sobre você? Igualmente aos outros dois anteriores, você não lerá esta carta. Mas de onde quer que esteja, no andar de cima ou de baixo, saiba que com todo o seu jeito torto, você foi o mais próximo de uma mãe que eu já tive. Quando me encontrou no navio espanhol, a tanto tempo atrás, quando se ofereceu para passar a mim todos o seus conhecimentos em magia, você me salvou, você me deu o que ninguém antes havia me dado: Uma chance.
Você errou. Errou muito. Mas em todos os seus erros ou uma certa parcela de acertos. Afinal, eu fui uma delas."
Estava no fim, ou quase. S/n sabia que quando os irmãos viessem ao seu encontro, de onde quer que estivessem, encontrariam a carta e seu corpo, ela queria que tudo estivesse pronto.
"Mary Winchester. Não nos conhecemos bem. Não tivemos tempo para isso, mas assim como eu você fez o que estava ao seu alcance, e eu admiro isso. Sam e Dean vão sofrer muito, e eu quero evitar esse sofrimento. Se o que eu quero que aconteça funcionar, eles a terão de volta. Então eu faço um pedido: Cuide dos meu garotos. Seja a mãe que eles merecem."
"A estrada não acabou para nenhuma de vocês."
Estava acabado. Teria colocado tudo o que queria e já estava de pé, caminhando para a mesa no centro do apartamento. S/n deixará tudo pronto, evitando atrasos, pois sabia que se Dean e Sam aparecessem tentariam impedir, mas deveria ser tarde.
A garota cortou a palma da mão, os olhos fecharam-se, permitindo que os lábios se entreabrissem e as palavras libertarem-se em tom sussurrado.
O feitiço em enoquiano, o linguajar angelical, era potente o suficiente para fazer o que S/n pretendia, e o preço? Uma alma. A alma da garota carregava séculos, experiências, sofrimentos, vidas. Era uma troca justa, pois acreditava que a alma de alguem tão velho pudesse cobrir o buraco de outras três, e também trazer Mary da fenda.
A luz azul se acendeu, tão forte e potente como uma supernova, ela sentia-se como se estivesse ao ponto de se auto consumir-se em chamar e talvez realmente o fizesse.
Uma coluna de luz tomou o lugar da garota, o corpo iniciou o processo de desintegração, o poder vazando por todas as brechas e espalhando-se.
S/n tivera poucos segundos de consciência antes que o mundo se apagasse para sempre diante de seus olhos.
***
Saia fumaça por baixo da porta. Sam e Dean que chegavam no apartamento, cada um devastado pelo que vivenciou, sabiam desde aquele momento que algo de ruim havia acontecido, pois a amiga sumira sem nenhuma explicação após os acontecimentos. Eles entraram, no chão, apenas a marca fumegante e escura no chão.
O computador estava apitando e ao correrem até o mesmo, encontraram a carta aberta. Dean socou a mesa, sentindo o ódio, a dor, a revolta triplicar, se isso era possível. Sam, não sabia o que fazer, o sentimento de impotência comprometendo todo seu corpo.
— O que ela fez...? – O mais alto murmurou, a cabeça baixa com os cabelos cobrindo-lhe os olhos.
— Não foi coisa boa.
No papel sob a mesa, encontrou um feitiço. Sam logo descobriu seu significa, recupere almas.
— Ela se sacrificou – Sussurrou assombrado para o outro. – Para trazer os outros de volta.
— Como? Ela não podia fazer isso, ninguém podia.
— Foi enoquiano. Ela se tornou uma... bomba de poder angelical, usando a própria alma como munição e o próprio corpo como arma.
— Não – Dean exclamou passando as mãos pelo rosto.– Não! S/n também não! Ela... Ela não tinha que ter feito isso, ela não podia!
— E se deu certo? – Sam murmurou para si mesmo. Os dois se encaram, correram para fora do apartamento e embarcaram no carro.
***
Tudo ainda estava sombrio e tempestuoso. Mas algo mudara. Haviam quatro corpos no chão, próximo ao lago. Quatro corpos inconscientes, porem, que logo começaram a se mexer.
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