𝟐𝟒. Raphinha | Barcelona

Sinopse: Onde você e Raphinha estão se conhecendo melhor.

Pedido de: Jaquelineizabelle

A brisa suave da noite catalã me envolvia enquanto eu caminhava pelas ruas de Barcelona, ainda me acostumando com a cidade. O céu estava limpo, as luzes refletiam nas calçadas de pedra, e eu sentia aquela sensação estranha de estar em um lugar novo, mas de alguma forma confortável. Minha estadia ali era temporária, mas cada dia parecia se tornar mais interessante. Principalmente desde que conheci Raphinha.

Nos encontramos por acaso, durante uma coletiva do Barcelona. Eu estava lá cobrindo uma matéria para a minha redação no Brasil, e ele, um dos destaques do time, acabou sendo um dos entrevistados. A conversa profissional deslizou para algo mais natural, algo que ia além de perguntas e respostas automáticas. Desde então, nos falamos algumas vezes, e hoje ele sugeriu me mostrar um pouco da cidade à noite.

— Você tá parecendo uma turista mesmo — ele brincou quando me encontrou em uma praça iluminada.

— Porque eu sou uma turista! — respondi, rindo.

Ele sorriu de lado, aquele jeito descontraído, mas ao mesmo tempo observador. Raphinha era do tipo que parecia estar sempre analisando o ambiente, mas sem perder a leveza. Estava vestido de forma casual, mas com aquele toque de estilo que os jogadores de futebol carregavam naturalmente.

— Bom, então deixa eu te mostrar Barcelona do jeito certo — ele disse, me guiando pelas ruas com uma confiança fácil.

Conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Ele me contou sobre como foi a adaptação dele na cidade, sobre as diferenças entre o Brasil e a Espanha, sobre as pequenas coisas que só um brasileiro percebe quando está longe de casa.

— A comida daqui é boa, mas não tem como competir com um arroz e feijão bem feito — ele comentou, e eu ri.

— E você que é de Porto Alegre ainda teve que se acostumar sem churrasco todo domingo.

— Pois é! — ele exclamou, fingindo indignação. — Mas descobri um restaurante brasileiro aqui que quebra um galho. Se quiser, um dia te levo lá.

Eu notei como ele jogou a frase de forma casual, mas havia um convite real ali. Olhei para ele, que desviou o olhar por um instante, como se quisesse medir minha reação.

— Vou cobrar, hein — respondi, e vi um brilho satisfeito em seu olhar.

Caminhamos até um mirante, de onde a cidade se estendia abaixo de nós, cheia de luzes e vida. Ele apoiou os braços no parapeito e olhou para o horizonte, pensativo.

— Às vezes eu ainda não acredito que tô aqui — ele disse, quase para si mesmo. — Tipo, jogando pelo Barcelona. Era um sonho quando eu era moleque.

Eu me encostei ao lado dele, sentindo a brisa noturna.

— E agora você tá vivendo esse sonho.

Ele virou a cabeça para me encarar, e por um momento, ficamos apenas nos olhando. O silêncio não era desconfortável, pelo contrário. Havia algo ali, um entendimento, uma conexão que ainda estava se formando, mas que parecia natural.

— E você? Sempre quis ser jornalista? — ele perguntou, mudando o foco para mim.

Sorri, olhando para a cidade à minha frente.

— Sempre gostei de contar histórias. No fim das contas, é isso que o jornalismo faz, né?

Ele assentiu devagar, como se estivesse absorvendo minhas palavras.

— Então acho que eu tive sorte de cruzar com você.

A forma como ele disse aquilo, sem pressa, mas com intenção, fez meu coração bater um pouco mais forte. Raphinha tinha esse jeito espontâneo, mas também sabia ser intenso quando queria.

Não respondi de imediato. Apenas deixei o momento se prolongar, enquanto a cidade respirava ao nosso redor, e a noite se tornava um pouco mais especial.

.    .     .

O silêncio entre nós não era estranho. Pelo contrário, parecia confortável, como se tivéssemos nos conhecido há mais tempo do que realmente conhecíamos. Raphinha continuava olhando para mim, a luz suave dos postes iluminando seus traços marcantes, os olhos cheios de algo que eu não sabia exatamente decifrar. Interesse? Curiosidade? Ou só o reflexo do momento?

— Sorte? — repeti, arqueando a sobrancelha, provocativa. — E por quê?

Ele sorriu de lado, aquele sorriso que parecia sempre carregado de segundas intenções.

— Porque é bom ter alguém que sabe contar histórias por perto. Vai que um dia eu precise que você conte a minha do jeito certo.

Ri, balançando a cabeça.

— A sua história já está sendo escrita. E, pelo que vejo, tá indo bem.

Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos ainda presos aos meus.

— Mas falta uma parte importante.

Minha respiração ficou mais lenta. Não sei se era o jeito que ele me olhava, ou a forma como a cidade parecia mais silenciosa ao nosso redor, como se nos desse um espaço só nosso.

— Qual parte? — perguntei, tentando não demonstrar tanto o impacto que a proximidade dele estava tendo sobre mim.

Raphinha se aproximou um pouco, apoiando o braço no parapeito ao meu lado, diminuindo a distância entre nós. Seu perfume era marcante, amadeirado, e só aumentava minha consciência da presença dele.

— A parte em que eu conheço melhor a jornalista brasileira que tá de passagem pela cidade — ele disse, a voz baixa, quase íntima.

Eu poderia rir, revirar os olhos, desconversar. Mas a verdade é que gostei da forma como ele disse aquilo. Havia uma sinceridade por trás da leveza, um interesse real.

— Ah, é? E como você planeja fazer isso?

Ele ficou alguns segundos em silêncio, me observando. Então, ergueu a mão e afastou uma mecha do meu cabelo que o vento tinha bagunçado, o toque rápido, mas suficiente para fazer meu coração dar um salto.

— Começando por mais noites como essa.

Minha garganta secou levemente, e tive que umedecer os lábios antes de responder.

— Então quer dizer que você já tá pensando na próxima?

Ele sorriu, um brilho travesso no olhar.

— Tô. Mas só se você também quiser.

Havia algo intrigante em Raphinha. Ele tinha essa mistura de confiança e simplicidade, o tipo de cara que sabia o que queria, mas não fazia pressão. Deixava o momento acontecer naturalmente, deixando claro que, se dependesse dele, aquilo não terminaria ali.

E, para ser honesta, eu também não queria que terminasse.

Olhei para a cidade à nossa frente, inspirando fundo, sentindo a brisa fresca da noite. Então, virei o rosto de volta para ele, um sorriso surgindo devagar em meus lábios.

— Acho que posso considerar a ideia.

Os olhos dele brilharam.

— Então é um começo.

E, de alguma forma, soube que aquela era apenas a primeira de muitas noites como essa.

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