𝟏𝟑. Giuliano Galoppo | São Paulo
Sinopse: Onde você e Giuliano terminam e se reconciliam
Eu nunca achei que um dia chegaria a esse ponto. Nunca imaginei que a história que escrevemos com tanto cuidado pudesse terminar assim: em meio a um apartamento silencioso e com o peso de um vazio que nem mesmo as palavras mais sinceras podiam preencher.
Giuliano estava sentado no sofá da sala, as mãos apoiadas nos joelhos, olhando para o chão. A camisa do São Paulo ainda estava dobrada em cima da cadeira, como se até mesmo ela recusasse a ideia de ser vestida novamente. Eu estava em pé, encostada na porta, sentindo o coração pesar mais do que deveria, observando o homem que eu amava, que eu ainda amava, mas sabia que não podia segurar por mais tempo.
- No fue mi intención llegar a esto, S/N. Nunca. - A voz dele saiu baixa, quase quebrada. O portunhol dele, que sempre tinha um charme natural, agora parecia um eco vazio de algo que ele tentava desesperadamente explicar.
- Giuliano, não é questão de intenção. Não é sobre isso. - Minha voz falhou no fim da frase. Respirei fundo, tentando parecer mais firme do que realmente estava. - É sobre como tudo virou uma guerra constante. Sobre como a gente não consegue mais conciliar nossas vidas.
Ele levantou os olhos para mim, os castanhos carregados de algo que parecia um pedido silencioso, mas também uma aceitação dolorosa. Giuliano sempre foi intenso, direto, mas naquele momento ele parecia perdido, como se tentasse encontrar uma saída em um lugar onde já não havia portas.
- Eu te amo, S/N. - Ele murmurou, e o som dessas palavras quase me destruiu. - Pero, parece que eso no es suficiente.
- Eu também te amo, Giuliano. - E era verdade. Eu amava cada detalhe dele, desde a forma como ele franzia a testa quando estava concentrado até o sorriso meio torto que sempre surgia depois de uma vitória. Mas o amor, como ele mesmo disse, às vezes não é suficiente. - Mas eu não consigo mais lidar com essa distância. Com essa sensação de que estou sempre em segundo plano na sua vida.
- No es así! - Ele exclamou, levantando-se. - Nunca estuviste en segundo plano. Pero mi trabajo... mi vida está en el fútbol. ¿Qué quieres que haga, S/N? ¿Que lo deje todo?
Ele estava gesticulando agora, a voz carregada de emoção. E eu sabia que ele não estava tentando me culpar, mas sim expressar a frustração de um homem dividido entre dois amores impossíveis de conciliar: o futebol e eu.
- Eu não quero que você escolha, Giuliano. Eu só quero... - Parei, sentindo a garganta apertar. - Eu só quero que isso não doa tanto. Mas dói. E isso está nos destruindo.
O silêncio caiu entre nós como uma parede. Ele passou a mão pelos cabelos, caminhando até a janela e olhando para fora. Era como se ele estivesse procurando uma resposta no horizonte de São Paulo, mas a verdade era que nenhuma resposta viria.
- Talvez seja melhor assim, entonces. - Ele disse, finalmente, a voz mais baixa, quase como um sussurro. - Talvez você mereça alguém que possa estar contigo todo el tiempo. Alguém que no tenga que dividir su vida con un campo de fútbol.
Meu coração quebrou um pouco mais. Eu sabia que ele estava tentando ser nobre, mas isso só tornava tudo mais doloroso.
- Não diga isso, Giuliano. Não é sobre merecimento. Eu só... eu só não sei mais como seguir assim. - Minha voz saiu quase inaudível, mas ele ouviu. Ele sempre ouvia.
Ele se virou para mim, os olhos brilhando com lágrimas que ele estava tentando segurar. Giuliano não era de chorar, mas naquele momento, até mesmo ele parecia frágil.
- Si esto es lo que quieres, S/N... - Ele começou, mas não conseguiu terminar. Ele deu um passo na minha direção, como se quisesse me abraçar, mas parou no meio do caminho.
Eu queria dizer que não era isso que eu queria. Que eu queria ele. Mas as palavras ficaram presas, engolidas pelo nó na minha garganta. Então, em vez disso, dei um passo para trás, pegando minha bolsa que estava no chão perto da porta.
- Adeus, Giuliano. - Foi tudo o que consegui dizer antes de sair.
Fechei a porta atrás de mim, e o som do clique ecoou como uma sentença final. As lágrimas vieram antes mesmo de eu alcançar o elevador, e, pela primeira vez em muito tempo, eu não me importei em parecer forte.
Eu sabia que estava deixando para trás uma parte de mim. Uma parte que eu talvez nunca recuperasse. Mas, às vezes, amar também é deixar ir. E, enquanto as portas do elevador se fechavam, eu só podia esperar que, de alguma forma, Giuliano e eu encontrássemos a paz que o nosso amor não conseguiu nos dar.
[...]
Uma semana havia se passado desde a última vez que vi Giuliano. Desde aquele adeus sufocado e final que ecoava nos meus pensamentos como um disco arranhado. Passei dias alternando entre a raiva e a saudade, entre a certeza de que tínhamos feito o certo e o vazio enorme que crescia no meu peito. Mas naquela manhã, algo mudou.
Meu telefone vibrou na mesa de jantar, interrompendo a tentativa inútil de tomar café. Era uma mensagem de Giuliano.
"Podemos conversar? Por favor."
Meu coração disparou. Demorei alguns minutos para responder. Não sabia o que ele queria dizer, mas sabia que, se fosse algo definitivo, eu precisava ouvir. Escrevi um simples "ok" e enviei o endereço do parque onde costumávamos caminhar juntos.
///
Ele chegou quinze minutos depois de mim. Vestia uma jaqueta preta, o cabelo desarrumado como se tivesse passado horas pensando no que dizer. Quando ele me viu, suspirou e caminhou em minha direção com a mesma hesitação de quem pisa em terreno minado.
- Gracias por vir, S/N. - Ele começou, a voz suave, mas carregada de peso. - Eu precisava falar contigo.
- Estou aqui. - Respondi, tentando parecer mais calma do que realmente estava.
Giuliano enfiou as mãos nos bolsos, desviando o olhar por um segundo antes de encarar os meus olhos. Ele tinha aquele olhar profundo, como se pudesse enxergar através de qualquer máscara que eu colocasse.
- Sabe... esses dias foram os mais difíceis da minha vida. - Ele disse, misturando o português com o espanhol como fazia sempre que estava nervoso. - Eu pensei que talvez... dejarte sería lo mejor. Mas... eu não consigo. No puedo estar sin ti, S/N.
Meu coração apertou. Ele estava se colocando vulnerável de um jeito que raramente fazia. Giuliano sempre foi forte, equilibrado, mas naquele momento parecia um homem quebrado.
- Giuliano, eu não... - Comecei, mas ele levantou a mão, pedindo para continuar.
- Espera, por favor. Déjame terminar. - Ele respirou fundo, as mãos agora gesticulando no ritmo das palavras. - Eu sei que minha rotina não é fácil. Sei que te machuquei ao te fazer sentir como uma segunda opción. Pero... você nunca foi isso para mim. Você é todo para mim. Y si tengo que hacer mudanças... vou fazer. Porque prefiro luchar por ti a perder você.
Ele deu um passo mais próximo, e eu senti o cheiro familiar do perfume dele, que só trouxe mais lembranças dolorosas.
- Eu também sofri, Giuliano. - Admiti, a voz tremendo um pouco. - Passei dias me perguntando se a gente estava certo em se separar. Mas não é só sobre amor. É sobre como a gente pode fazer isso funcionar.
Ele assentiu, como se já esperasse essa resposta.
- Então vamos fazer funcionar. - Ele disse, a intensidade nos olhos dele me pegando de surpresa. - Yo hablé com o clube. Pedi para ajustarem algumas coisas na minha rotina. Sei que não vai resolver tudo, pero é um começo. No quero que sientas que estás sozinha nisso.
Eu queria resistir. Queria manter a fachada de que estava tudo bem sem ele. Mas a verdade era que o vazio que ele deixou era impossível de ignorar.
- Giuliano... - Comecei, mas dessa vez, ele pegou minha mão, entrelaçando os dedos nos meus. O toque era quente, reconfortante.
- Por favor, S/N. No me dejes. Não vamos desistir de nós. - Ele pediu, a voz baixa, mas firme.
E foi nesse momento que percebi que, mesmo com todas as dificuldades, eu também não queria desistir. A vida com Giuliano não seria fácil, mas a vida sem ele era insuportável.
- Tudo bem. - Murmurei, e os olhos dele se iluminaram. - Mas você tem que prometer que vai tentar. De verdade. Eu não posso passar por isso de novo.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de alívio.
- Te prometo. - Ele disse, e eu sabia que ele estava sendo sincero.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Giuliano me puxou para um abraço, envolvendo-me com a força e o carinho que só ele sabia transmitir.
- Gracias por darme otra oportunidad. - Ele murmurou no meu ouvido. - No voy a decepcionarte, te lo juro.
E, pela primeira vez em dias, senti que estávamos no caminho certo. Talvez não fosse perfeito, mas estávamos juntos, e isso era tudo o que importava.
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