𝟏𝟐. Thiago Almada | Botafogo
Sinopse: Onde você e Almada estão se gostando muito.
A cafeteria no centro do Rio de Janeiro parecia um refúgio tranquilo em meio ao caos da cidade. Eu estava lá, mexendo despretensiosamente na xícara de capuccino à minha frente, tentando controlar a ansiedade que insistia em me lembrar que aquele não era um encontro qualquer. Era com Thiago Almada, o atacante sensação do Botafogo e da seleção argentina. E, sim, estávamos nos conhecendo melhor, mas eu ainda não sabia exatamente o que esperar.
Ele chegou alguns minutos depois, com aquele charme despreocupado que parecia natural. Um sorriso que mostrava mais do que deveria e um estilo casual que não fazia esforço para impressionar, mas conseguia. Ele usava uma camisa branca simples e jeans, como se quisesse dizer: "Sou só um cara normal".
- Olá, S/N - ele disse com aquele sotaque argentino que fazia cada palavra soar quase como uma canção. - Desculpa pela demora, o trânsito no Rio é uma loucura, não?
Eu sorri, tentando esconder o quanto ele me desconcertava.
- Tudo bem, Thiago. Achei que talvez tivesse desistido.
Ele arqueou uma sobrancelha e se sentou à minha frente, apoiando os braços na mesa.
- Desistir de ti? Nunca, mujer. Você acha que soy loco?
Dei uma risada, tentando parecer despreocupada, mas algo nele me fazia esquecer como agir normalmente. Havia algo tão genuíno no jeito que ele olhava, como se estivesse totalmente presente, como se eu fosse a única coisa no mundo que importava naquele momento.
- Tá bem, você passou no primeiro teste - brinquei. - Não desistiu. Agora vamos ver como se sai no resto.
Ele inclinou a cabeça, curioso.
- Teste? Qué tipo de teste é este?
- Ah, nada demais. Só ver se você consegue me convencer de que não é um daqueles jogadores convencidos.
Ele riu, um som leve e sincero, balançando a cabeça.
- Eu? Convencido? Só porque jogo futebol? Não, señorita. Soy humilde, sempre fui.
- É o que dizem. Vamos ver se é verdade.
- Ah, então eu tenho que provar? - Ele colocou a mão no peito, fingindo indignação. - Bueno, então já vou começar. Quer algo para comer? Eu pago, claro.
- Nossa, que cavalheiro. Acho que já subiu um ponto na minha avaliação.
Ele riu de novo, e eu percebi que a naturalidade entre nós dois era tão fluida quanto inesperada. Thiago pediu dois medialunas, e eu me peguei sorrindo ao vê-lo explicar ao atendente, misturando português e espanhol sem nem perceber. Era um charme à parte.
Quando os pedidos chegaram, começamos a conversar de verdade. Ele contou sobre como tinha sido a adaptação ao Brasil, as diferenças culturais, e até algumas gafes que tinha cometido por aqui.
- Uma vez, chamei o garçom de "chefe" porque achei que era educado, sabe? - Ele riu, levando a mão à cabeça. - Mas depois meus companheiros do time falaram que não é bem assim. Me explicaram que não era para eu ficar falando muito como na Argentina.
Eu ri alto, imaginando a cena.
- Bom, "chefe" não é tão ruim assim. Mas, pra evitar, você pode só chamar de "amigo". Dá certo na maioria das vezes.
Ele acenou com a cabeça, pensativo.
- "Amigo". Tá bem, gostei. É fácil. Gracias pela dica, profe.
O jeito como ele me chamava de "profe" de brincadeira, ou "mujer" de vez em quando, me fazia sorrir de um jeito que eu não conseguia esconder. Havia uma vulnerabilidade no olhar dele, algo que não era compatível com a imagem de jogador confiante que os torcedores viam em campo.
Conforme a conversa fluía, percebi que ele não era só o craque em ascensão. Era o cara que gostava de simplicidade, que falava sobre a infância humilde na Argentina e como a família ainda era sua maior prioridade. Em algum momento, ele parou de falar e me olhou, os olhos brilhando.
- Qué foi? Por que tá me olhando assim? - perguntei, meio sem jeito.
- Porque... eu estava pensando que você é diferente, sabe? Não tá aqui porque sou jogador ou algo assim. Está aqui porque quer conhecer a pessoa, não o que eu faço.
Meu rosto ficou quente, e eu mordi o lábio para evitar sorrir mais do que deveria.
- Bom, talvez você esteja certo. Mas não deixa isso subir à sua cabeça, hein?
Ele riu e balançou a cabeça.
- Nunca. Mas posso perguntar uma coisa?
- Pode.
- Por que aceitou sair comigo? Eu sei que não sou fácil de entender, com meu portunhol e tudo mais.
- Acho que é exatamente isso. Você não tenta ser perfeito. Só é... você.
Ele piscou, visivelmente tocado pelo que eu disse.
- Bueno, espero que essa seja a primeira de muitas vezes que nos vemos. Que acha, profe?
Eu sorri, sentindo que, pela primeira vez em muito tempo, havia algo realmente especial se formando ali.
- Acho que você tem boas chances, Almada. Não vou mentir.
E ali, naquele café simples, no meio da cidade grande, parecia que algo novo estava começando. Algo que eu queria muito descobrir. E, pelo olhar dele, ele também.
[...]
Algumas semanas tinham se passado desde aquele primeiro encontro. Desde então, Thiago e eu parecíamos dois imãs que não conseguiam se afastar por muito tempo. Cada conversa, cada risada compartilhada, e até as pequenas diferenças culturais, nos aproximavam mais. Mas, claro, nenhum de nós teve coragem de admitir o que sentíamos.
Até agora.
Era uma noite quente no Rio de Janeiro, e Thiago me chamou para jantar na varanda do seu apartamento. A vista era espetacular - as luzes da cidade brilhavam como estrelas espalhadas pelo chão. A comida? Ele tinha pedido de um restaurante argentino, dizendo que queria "me apresentar um pouco mais do mundo dele".
- Então, o que acha? - Ele perguntou, enquanto eu dava a primeira mordida na empanada que ele recomendava desde o dia que nos conhecemos.
- Tá deliciosa, vou ter que admitir. Você venceu. A culinária argentina realmente dá um banho.
Ele sorriu, claramente satisfeito.
- Viu? Eu sabia que você ia gostar. Ahora, só falta você admitir outra coisa.
Olhei para ele, sem entender direito.
- Outra coisa? O que quer dizer?
Ele apoiou o cotovelo na mesa e inclinou o corpo para mais perto de mim, o olhar fixo no meu. Ele tinha esse jeito de olhar que fazia tudo ao redor parecer secundário.
- Quiero saber o que realmente sente, mujer. Porque... eu já sei o que sinto. Só quero ouvir de você.
Meu coração disparou. Eu sabia que esse momento chegaria, mas não imaginei que seria tão direto, tão Thiago. Ele não era do tipo que deixava algo pela metade, e eu sabia que não adiantava fugir. Além disso, fugir não era o que eu queria.
Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos.
- Thiago, você sabe que não sou boa com essas coisas...
Ele sorriu, aquele sorriso que tinha uma pitada de charme e uma boa dose de paciência.
- Não precisa ser boa, S/N. Só quero a verdade. O resto eu cuido.
Suspirei, colocando a empanada no prato e me inclinando na direção dele.
- Tá bem. A verdade é que... você apareceu na minha vida como uma surpresa. Não tava esperando me conectar assim com alguém. Mas a cada dia, com cada mensagem, cada conversa, você me faz sentir algo que eu não sentia há muito tempo.
Ele continuou me olhando, sem dizer nada, como se estivesse absorvendo cada palavra.
- O que eu quero dizer é que... eu gosto de você, Thiago. Mais do que deveria, talvez.
O sorriso dele aumentou, e eu sabia que tinha falado exatamente o que ele queria ouvir.
- Finalmente, mujer! - Ele exclamou, rindo. - Eu tava quase desistindo de esperar.
- E você acha que foi fácil pra mim? - Eu disse, meio rindo, meio constrangida.
Ele se levantou, caminhou até o meu lado da mesa e segurou minha mão.
- Ahora, posso dizer também?
- Acho que você já deixou bem claro, Thiago.
- Não, não. Quero dizer direitinho. - Ele se ajoelhou na minha frente, segurando minha mão com firmeza, mas com uma delicadeza que me derretia. - S/N, eu também gosto de você. Mais do que palavras podem explicar. Você é diferente de qualquer pessoa que já conheci. E não importa se falo portunhol ou qualquer outra língua, o que sinto é claro em qualquer idioma.
Fiquei sem palavras por um momento. Mas ele não precisava de uma resposta, porque, no segundo seguinte, ele se levantou e me puxou para um abraço apertado. O cheiro dele, o calor dos braços, tudo parecia tão certo.
- E agora? - perguntei, ainda abraçada a ele. - O que a gente faz?
Ele riu baixinho e se afastou só o suficiente para olhar nos meus olhos.
- Agora, a gente para de fugir disso, profe. Vamos viver o que estamos sentindo. Juntos.
E, com um sorriso cúmplice, senti que o muro que construí entre nós finalmente tinha desmoronado. Era o começo de algo que prometia ser tão intenso quanto as estrelas que iluminavam o céu naquela noite carioca.
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