𝟏𝟏. Matheus Pereira | Cruzeiro

Sinopse: Onde você e Matheus estão se conhecendo melhor

Eu nunca pensei que estar num café em Belo Horizonte com um jogador de futebol fosse algo que acabaria acontecendo comigo. Mas lá estava eu, frente a frente com Matheus Pereira, atacante do Cruzeiro, um dos caras mais despretensiosamente engraçados que já conheci na vida. A gente se conhecia há pouco tempo, mas já tinha aquela sintonia estranha. Não era um date oficial - pelo menos não que ele tivesse deixado claro -, mas era meio que um "vamos ver no que dá".

Matheus tinha acabado de chegar, com aquele jeitão despreocupado. Boné virado pra trás, camiseta preta básica, e o sorriso meio travesso que já parecia ser sua marca registrada. Ele se sentou à minha frente e olhou para o cardápio, franzindo as sobrancelhas.

- Você já pediu? - ele perguntou, meio distraído.

- Ainda não. Achei que ia precisar de um tradutor pra decifrar esses nomes chiques. Quem chama um pão de queijo de "gourmetizado com toque de ervas finas"? - provoquei, mostrando o cardápio pra ele.

Ele riu, um riso meio rouco que me fez sorrir também.

- É, mineiro que é mineiro não cai nessa, não. Mas, se quiser impressionar, pode pedir um café filtrado com método V60. Parece importante.

- Impressionar quem? Você? - retruquei, arqueando uma sobrancelha.

- Nunca se sabe, né? - Ele piscou, e eu revirei os olhos, tentando esconder um sorriso. Ele estava flertando ou só sendo ele mesmo? Às vezes, parecia a mesma coisa.

O garçom chegou, e Matheus pediu um café puro, sem frescura, e um pão de queijo simples. Eu acabei fazendo o mesmo, porque, sejamos honestos, não estava com disposição pra um debate sobre "toque de ervas finas" com minha fome.

Enquanto esperávamos, Matheus começou a brincar com o saleiro na mesa, girando o potinho de um lado para o outro.

- Então, S/N, me conta: você sempre julga cardápios ou é só quando tá comigo?

- Só quando tô com você. Dá mais graça - respondi, cruzando os braços. - E você? Sempre flerta com todo mundo ou é só comigo?

Ele parou de brincar com o saleiro e olhou pra mim, fingindo estar ofendido.

- Flertar? Eu? Não, imagina! - Ele colocou a mão no peito, dramático. - Eu sou um cara sério, profissional, focado.

- Ah, claro. Focado no pão de queijo, talvez.

Ele deu uma gargalhada alta, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. Eu me peguei sorrindo de novo. Era difícil não se contagiar com a energia dele.

O garçom trouxe nossos pedidos, e por um momento ficamos em silêncio, aproveitando a comida. Mas, claro, Matheus não conseguiu ficar calado por muito tempo.

- Sabe, eu nunca entendi porque as pessoas acham que jogador de futebol só come coisas super saudáveis. Tipo, eu amo pão de queijo, tá ligado? Isso deve me desqualificar como atleta?

- Não sei. Talvez sim, talvez não. Mas, considerando que você marcou dois gols no último jogo, acho que ninguém vai reclamar.

Ele sorriu, aquele sorriso meio torto que me deixava sem saber o que fazer.

- Você assistiu ao jogo?

- Claro que sim. Não sou tão desligada assim.

- Tá começando a gostar de futebol, hein? Deve ser influência minha.

- Ou talvez eu só tenha ido pra ver se você realmente jogava bem. Nunca se sabe.

Ele fingiu estar chocado, mas logo riu de novo.

- E aí, qual foi a avaliação?

Eu fingi pensar por um segundo, olhando pra ele com uma expressão séria.

- Bom, você não caiu nenhuma vez e acertou dois passes seguidos. Tá no caminho certo.

Ele colocou a mão no coração, fingindo estar ferido.

- Nossa, não sabia que eu tava num teste. Mas, já que tá avaliando, quero dizer que você tá indo bem nesse encontro também.

Meu rosto ficou quente, mas eu mantive a postura.

- Quem disse que isso é um encontro?

- Ué, você aceitou vir. Se não é um encontro, é o quê?

- Uma entrevista de emprego. Quero ver se você tá qualificado pra ser meu amigo.

Ele gargalhou de novo, balançando a cabeça.

- Tá bom, tá bom. Então, qual é o próximo teste, chefe?

- Vamos ver... - Olhei ao redor, como se estivesse pensando seriamente. - Você vai me levar pra dar uma volta. Quero ver se você sabe dirigir sem assustar ninguém.

- Fácil. Mas só se você prometer não mudar a avaliação no meio do caminho.

- Promessa de escoteira.

Pagamos a conta e saímos do café, rindo de alguma piada boba que ele tinha feito sobre nomes de carros. Quando chegamos ao estacionamento, ele abriu a porta do passageiro pra mim, fazendo uma reverência exagerada.

- Sua carruagem, senhorita.

- Nossa, que cavalheiro. Só falta me chamar de "madame".

- Se quiser, eu chamo. Mas só se você prometer não me dar zero no teste.

Entrei no carro, e ele deu a volta para o lado do motorista. Durante o trajeto, continuamos conversando e rindo, como se nos conhecêssemos há anos. E, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti completamente à vontade com alguém. Matheus Pereira era mais do que um jogador de futebol. Ele era engraçado, leve, e tinha aquele jeitinho que fazia qualquer momento parecer especial.

E talvez, só talvez, esse "encontro" fosse mesmo algo mais do que eu estava disposta a admitir.

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