|| capítulo um
QUANDO VOCÊ É CRIANÇA, você tem um sonho, uma profissão que queira seguir, um lugar que gostaria de conhecer, ou até mesmo um brinquedo que deseja. Você sempre faz o mesmo pedido para as velas de aniversário, para os dentes de leão, para as estrelas cadentes. Afinal, aquele é seu sonho, e você quer ele mais que tudo.
O sonho de Caroline sempre foi ser uma patinadora admirável. Desde que colocou seus patins com três anos de idade, ela soube que era aquilo que queria seguir. E foi isso que seguiu. E a sensação de tudo dar certo, dela ter conseguido tudo o que queria, era ótima.
Da última vez que pisou em Outer Banks, tinha quinze anos, havia recebido sua primeira proposta de treinar fora da pequena ilha, com a melhor treinadora. Ela era uma patinadora comum, uma pogue, que ninguém faria questão de conhecer. Mas agora ela era Caroline Casteli. A primeira mulher na patinação que tem uma carreira solo e em dupla estável, a primeira que fez cinco pulos giratórios em seguida, e conseguiu cair em pé. Ela era famosa. Ela era amada.
Ver a placa escrito "bem vindos a Outer Banks, o paraíso na terra" fez que diversas emoções se instalassem em seu coração. O carro balançava, enquanto sua treinadora dirigia o carro, contando como foi a última competição de Caroline, e como a garota tinha sido incrível no gelo.
Tonya contava com toda a alegria, e sempre observava Caroline pelo retrovisor, dando um enorme sorriso.
O carro passou em frente a grande mansão dos Cameron. Continuava igual. Sarah estava do lado de fora, curtindo o sol em sua piscina, enquanto Rafe Cameron saia com sua moto.
Ao ver o garoto, Caroline mordeu seus lábios com força, segurando o ódio que estava em seu peito.
Ver Rafe era como se seu coração sempre quebrasse um pouco mais. Todos os momentos bons que ela havia passado com ele, estavam no passado, e na sua mente, nem se quer existiu. Ela se lembrava apenas dele beijando outra mulher, enquanto ela corria animada dizer sobre seu futuro, no qual ele sempre a apoiou.
E no fim das contas, ela nem se despediu dele. Provavelmente ele nem sabe que ela viu ele beijando outra.
Caroline havia se perdido em seus pensamentos, mas voltou quando escutou o grito de dor de um homem. Ao abrir o vidro, viu Rafe Cameron, retirando seu capacete e socando a porta do motorista
—— Sua vadia! —— Ele gritou, e logo olhou para sua moto —— Você arranhou a pintura da minha moto!
—— Seu rapaz abusado! —— Tonya abriu o vidro, observando a moto do Cameron. Havia um pequeno risco, tão pequeno que era quase invisível —— Ah por favor.
Os olhos azuis de Rafe Cameron, encontraram os verdes de Caroline. Uma faísca se acendeu, como se ambos estivessem esperando por aquele momento, pelos olhares.
Caroline olhou para frente, deixando Rafe confuso. O porque ela havia voltando?
—— Deveria ter atropelado. —— Caroline disse para Tonya, que puxou o freio —— Pode ir. Qualquer coisa ele chama uma ambulância para moto. —— Seu sarcasmo fez com que Rafe revirasse seus olhos.
Rafe sentiu a raiva subir em seu sangue, e só aumentou quando a garota fechou o vidro em sua cara. Quando o carro deu partida, Caroline apenas escutou o garoto gritando, socando a parte de trás do carro.
—— Bem que você disse que esse povo era maluco. —— Tonya se virou, observando Caroline no banco de trás. —— Irei processar ele por danos no carro.
—— Ele é maluco. —— Reforçou Caroline, dando um sorriso de canto para sua treinadora —— Não me deixa em casa. Pode me deixar na divisa, eu vou andando para a casa do Jonh B. Lembra? Aquele que sempre ia com cartaz nas competições.
—— Ah sim. Com aquele loiro que só gritava, né? —— Tonya parou o carro, na divisa entre pogues e kooks —— Ele tem que me agradecer por não ter denunciado ele por fumar maconha no rinque!
Caroline gargalhou enquanto saia do carro. Tonya abaixou o vidro, puxando o rosto de Caroline para perto, assim dando um beijo em sua bochecha.
—— Sua mãe está na sua casa. —— Tonya disse enquanto Caroline se afastava.
Caroline havia parado de se importar com sua mãe. Não por não a amar mais, mas cansou de esperar alguém que nunca iria chegar. Sua mãe era como uma bomba, as vezes era quieta, mas quando explodia, acabava com todos em sua volta. Talvez pelo seu transtorno bipolar.
Quando Caroline tinha cinco anos, foi quando sua mãe explodiu pela primeira vez. Teve sua primeira crise de mania agressiva, uma etapa do transtorno. Essa etapa é diferente da fase mania, é quando os pacientes ficam mais agitados e agressivos. Qualquer coisa pode ser um grande motivo para ser agressiva, nesse caso foi quando o parceiro de Caroline não conseguiu a carregar no colo em um ensaio, não era porque Caroline havia engordado, era porque ele havia faturado sua mão em um jogo de esconde-esconde na escola. Mas sua mãe não quis saber, fez com que a garota ficasse três dias sem comer, para ter o corpo ideal.
Mas a família Casteli nunca teve dinheiro. Não para bancar as roupas caras, os patins bons, ou uma boa treinadora. Caroline sempre treinou sozinha, todos os passos que fazia ela tinha aprendido sozinha. E sua mãe sabia que ela trabalhava melhor quando as pessoas diziam que ela não iria conseguir. Era como um incentivo, sua mãe sempre dizia que ela jamais iria conseguir ganhar algo, não com aquele "talento fútil" e "roupas de brechó"
E então, quando ela se mudou, sua mãe nunca mais quis saber dela.
—— Ela consegue esperar. —— Caroline pegou sua bolsa, dando mais um beijo em Tonya —– Esperei dois anos para ver ela na plateia, e ela nunca estava.
Em dois anos, Tonya conseguiu ser algo que Teresa nunca havia conseguido. Ser uma mãe. Mesmo que ela não tivesse parido Caroline, ela a tratava como uma filha. Invés de dizer que ela não conseguia, ela dava apoio, dava amor.
Caroline se lembra da primeira vez que errou um giro no treino. Quando terminou o treino, ela correu para o banheiro, se trancando, e se recusando a abrir a porta. Tonya foi atrás dela, mas invés dela abrir a porta, ela implorava para a mulher não a bater, que nunca mais iria ocorrer aquele erro. E então, quando Tonya pediu para os funcionários abrirem o vestiário, Caroline estava ajoelhada, implorando para que ela não a batesse. E ela não bateu.
Ao chegar na casa do Routledge, percebeu que todas as luzes estavam apagadas, e quando acendeu, tomou um susto quando Jj apareceu atrás dela, estourando um balão de doces.
—– Seja bem vinda de volta! —— Jj gritou no ouvido da garota, fazendo ela empurrar o loiro. Quando olhou para frente, seus lábios formaram um grande sorriso, indo de orelha a orelha. —— O que foi, Casteli?
Todos correram para abraçar a garota, enquanto gritavam de alegria. As gargalhadas que todos soltavam, tomavam conta do lugar.
—— Eu fiz um grande vídeo, de todas as suas apresentações! —— Pope disse, enquanto pegava seu celular, mandando um arquivo para Caroline —— Incluindo a sua última.
—— Meu deus você estava linda. —— Kiara abraçou a garota novamente, dessa vez apenas ela. —— Você patinando parece... Não sei. Algo bom.
Caroline riu. Então olhou para a mesa, vendo um bolo e alguns balões ali. Também tinha porta-retratos de fotos da garota patinando.
—— Vocês são os melhores! —— Caroline não conseguia tirar o sorriso de seu rosto. Mesmo que tentasse, não queria sair —— Eu ficava tão feliz quando via os quatro patetas na plateia!
—— Enquanto estávamos na plateia, você fazia história! —— Jonh B sorriu para Caroline.
Eles passaram horas conversando, de diversos assuntos diferentes. Kiara contava como estava a ilha, Pope atualizava sobre a escola - ele era o único que ia - Jj fumava maconha, mas Jonh B estava mais quieto.
Quando Jonh B se levantou, dizendo que iria ao banheiro, Caroline foi atrás dele, se lembrando do verdadeiro motivo que havia voltado.
Ambos se conheciam desde que tinham quatro anos. A mãe de Caroline a deixou trancada fora de casa, e Jonh B encontrou a garota na rua, e na inocência a levou para casa. E desde então se tornaram inseparáveis.
—— Você anda tão rápido. —— Caroline cutucou as costas dele, o fazendo se virar. —— Como você está?
—— Eu estou ótimo, Carol. —— Ele sorriu, a chamando do apelido que apenas ele a chamava. —— Me desculpa por não ter ido na sua última apresentação.
—— Me desculpa por não estar aqui. —— Caroline se aproximou dele.
Em um ato rápido, as mãos de Caroline afundaram nas costas do Routledge, fazendo uma carícia na região. Jonh B afundou seu rosto nos ombros de sua amiga, sentindo o cheiro de Caroline.
—— Eu senti sua falta. —— Caroline sorriu, apertando as bochechas de seu amigo —— E das suas bochechas enormes.
Jonh B riu, e quando Caroline retirou suas mãos de seu rosto, ele a puxou pelo punho, até o escritório de seu pai, mostrando diversos mapas.
—— Lembra do tesouro que meu pai falava para a gente? —— Ele disse completamente animado, mas quando olhou para Caroline, e viu sua expressão de dúvida, o sorriso desmanchou —— Merda. Esqueci como você era péssima em lembrar das coisas.
Jonh B começou a procurar alguma coisa, mas ele apenas bagunçava tudo. Enquanto ele derrubava todas as folhas dos cadernos, Caroline se abaixava e recolhia tudo.
—— Aqui! —— Jonh B mostrou uma folha —— O Royal Merchant.
Caroline se esforçou ao máximo, e se lembrou da história. O pai de Jonh B sempre parava os dois enquanto brincavam na frente do mar, e contava como o barco estaria a metros de distância, mas em uma profundidade muito grande.
—— Ah sim. —— Caroline pegou a folha, e depois olhou para o Routhledge
—— A gente encontrou. Caroline, estamos alguns passos de encontrar.
Ouvir o garoto contar tudo sobre o ouro, fez com que Caroline se lembrasse de quando eles eram pequenos. Jonh B sempre estava com uma prancha de surf na praia, enquanto Caroline fazia um buraco tão fundo na areia, achando que iria até o Japão. E quando Big Jonh aparecia, ele vinha com dois copos de suco de laranja natural, e contava como o navio estava a metros deles, eles só queriam querer o encontrar.
Big Jonh era como um pai para Caroline, afinal, o seu morreu quando ela tinha cinco anos, em um assalto que fizeram na pequena loja deles. Depois, a loja faliu, sua mãe não queria cuidar da loja, e Caroline era nova demais. Então Big Jonh sempre foi uma figura paterna, e ele a tratava gentilmente, com carinho. Ele a criou em seu quintal. Era ele que levava ela para patinar em outra cidade ao lado de sua mãe.
—— Você fala igual a ele. —— Caroline se referiu ao Big Jonh, o que fez Jonh B sorrir largo. —— Eu estou dentro.
A firmeza na voz de Caroline fez com que Jonh B a abraçasse fortemente, e logo gritou "ela aceitou!" e todos foram para cima dela.
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O momento de voltar para casa era o mais temido, mas também o mais esperado. Caroline já não vivia mais na pequena casa do lado oposto da ilha, onde não havia nem luz direito. Agora ela vivia no figure 8. O lar dos ricos, onde nunca faltou nada.
A sua má sorte, é que ela era vizinha dos Cameron's.
Mas o que isso importava? Ela tinha tudo o que sempre quis agora. Poderia oferecer tudo para seus amigos, e principalmente para sua mãe.
Ao abrir a porta, sentiu o cheiro de riqueza. Era uma mansão grande, grande demais. Mal parecia que iria morar apenas ela, sua mãe, e Tonya. Tinha uma escada, que levava para o segundo andar, onde eram todos os quartos.
—— Você demorou. —— Uma voz feminina a fez se virar, e quando viu era sua mãe. Teresa. —— Esqueceu que você tem mãe?
—— Eu nunca me esqueço. —— Caroline estava a metros de distância de sua mãe. Teresa estava na porta da cozinha, enquanto ela estava na porta da sala.
—— Então porque fica agindo como se não tivesse? —— Teresa se aproximou mais de sua filha
—— Caramba mãe. Eu nem cheguei.
Caroline fechou a porta, a trancando logo em seguida. Quando olhou para frente, viu sua mãe parada em sua frente. Agora em centímetros de distância.
—— Como foi? Suas vitórias, suas premiações... Tudo o que sempre sonhou. —— O tom de Teresa era baixo, mas ainda sim assustava Caroline.
—– Eu consegui. —— Caroline sorriu
—— Não sabia que sua treinadora iria morar com a gente. —— Teresa cuspiu, tão rudemente que Caroline ficou sem resposta. —— Ela não é sua mãe, Caroline. Pare de agir como se ela fosse!
—— Ela não é minha mãe, mas me apoiou. Coisa que você não fez, em nenhum momento!
Caroline subiu as escadas rapidamente. Não queria ficar mais presente no mesmo lugar que sua mãe.
Era como um ciclo. Sempre que sua mãe era boa, ela era rude, como se não se importasse. E talvez ela realmente não se importe.
Quando Caroline ia entrar em seu quarto, viu a porta do quarto de Tonya um pouco aberta, deixando apenas a luz aparecer. Caroline bateu na porta, e viu Tonya deitada na cama com seus fones, mas que logo retirou ao ver a loira parada em sua porta
—— Pensei que iria dormir lá. Com seus amigos. —— Tonya colocou o fone ao lado de sua cama —– Como foi? Eles gostaram de ver você de volta?
Caroline se aproximou de Tonya, dando um beijo em sua testa. Ela se sentou na frente da treinadora, concordando com sua cabeça
—— Tentei trazer um pedaço de bolo para você, mas você sabe como eles são. Principalmente o Jj. Disse que iria colocar maconha no seu pedaço de bolo. —— Caroline riu, e Tonya também.
—— Ele é um abusado. —— Tonya brincou. —— Vá dormir. Amanhã tenho muita coisa para fazer com você. —— Tonya tocou no braço de Caroline, a fazendo sorrir
—— Boa noite, Tonya. —— Caroline a abraçou. —— Durma bem.
Ao entrar em seu quarto, ela não conseguiu segurar o sorriso. Era exatamente como ela havia pedido, com as paredes brancas e os móveis pretos. Sua cama era preta com alguns detalhes dourados, e a temática toda de seu quarto era assim.
Caroline se aproximou da janela, que tinha um pequeno sofá ali. Ela se apoiou para tentar fechar, mas sua mão escorreu ao ver Rafe Cameron a observando do outro lado.
O olhar de Rafe era como um tigre, observando sua próxima presa. Caroline respirou fundo, o encarando de volta. Ela tentava disfarçar, mas o olhar dele era tão profundo, que a deixava nervosa. Ele a observava com sede em seus olhos, como se a quisesse morta.
E então ela fechou a janela.
oii amores!! tudo bem? espero que tenham gostado do primeiro capítulo!! esse capítulo foi só a introdução, mostrando ela voltando para Outer Banks!!!
até o próximo capítulo! não se esquecem de comentar e curtir, por favor.
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