PROLOGUE

𝗥𝗛𝗔𝗘𝗡𝗬𝗦 𝗩𝗘𝗟𝗔𝗥𝗬𝗢𝗡, a única menina da herdeira, estava de ida para Porto Real junto de sua família para o casamento de seu irmão com a prima deles, a princesa Baela. A garota era uma belíssima e desejada jovem que havia sido carinhosamente apelidada de "deleito do reino" por sua chamativa semelhança com sua mãe quando mais nova.

Suas características, em maioria, eram abundantemente valirianas. Com a diferença do castanho de seus irmãos, a princesa possuía longos e belos cabelos platinados, tão brancos quanto a neve e com um único detalhe diferenciado que lhe custava os rumores em suas costas; ela havia uma única mecha com cor de madeira, castanho. No entanto, mesmo que sua legitimidade ainda fosse sussurrada pelos ventos, Rhaenys não deixava de ser adorada por uma maioria de pessoas.

A princesa era determinada, quase um espelho da mãe, sua forma era suave e estonteante e sua delicadeza era uma característica em abundância, tal que logo chamou a atenção de seu tio, Aemond, logo de imediato. Sua sobrinha aquela que ele havia visto pela última vez após a perca de seu olho, quando eram apenas meras e bobas crianças.

Esse mesmo, havia passado por drásticas mudanças físicas e emocionais que trabalharam, ao longo dos anos, como a barreira de proteção dele. O incidente e a perca de sua vista esquerda foram uma situação terrível, sim, mas também serviram para que as pessoas o vissem como mais do que apenas o segundo filho do rei. Talvez por medo de seu tapa olho, ou por respeito em suas altas habilidades com uma espada no punho, isso não importava para ele.

O castelo era como uma nuvem negra que sobrecarregava a princesa, recebendo olhares hostis ao seu redor. Sua única forma de calma era a janela que refletia a lua, mesma que usou para descobrir onde seu tio havia ido em uma noite. Seu único erro foi que, ao ser atrevida e curiosa demais, a princesa embarcou em uma jornada recheada de luxúria, dores e travessuras.

Durante uma noite de mais confusões, sua adrenalina parecia queimar seu corpo como se ela estivesse presa dentro da garganta de um dragão, sendo derretida aos poucos de forma torturante. Seus olhos, no entanto, não estavam tão distraídos como seu corpo, e sua atenção foi roubado por aquela silhueta impeduosa nas sombras do jardim.

Aquela silhueta... aquele que futuramente a faria rever todas as suas decisões e tudo aquilo que ela acreditava ser o certo fazer. Aquela silhueta que lhe atraiu como uma mariposa voa para a luz, ou como o pecado procura pelas almas fracas. O maldito príncipe que flechou o peito dela tão precisamente que, sem que ela se desse conta, a deixou de mente aberta.


Seu corpo estava coberto de arrepios pelo olhar intenso que escurecia a sala, enquanto mãos fortes a seguravam com força, roubando o fôlego de seus pulmões, e a safira em seus olhos acrescentava uma beleza estonteante ao seu próprio olhar.

Pai. Ferreiro. Guerreiro. Mãe. Estranho. Donzela. Velha.

Todos sabemos que a linha tênue entre o amor e ódio é fina como seda, mas ela arrebentará para o lado do amor, ou para o lado do ódio?


A nomeada herdeira do trono, Rhaenyra, descia as longas e cansativas escadas do grande castelo de Dragonstone, enquanto sua delicada mão deixava leves carícias em seu proeminente ventre que carregava sua então adorada e aguardada criança, ao mesmo tempo que seus astutos olhos azuis estavam a observar como seus dois filhos mais velhos conversavam com o Meistre Gerardys, em alto valiriano para variar.

Enquanto a princesa Rhaenys se contentava em apenas observar o irmão, o príncipe Jacaerys aquecia os últimos neurônios de paciência para tentar pronunciar ou entender algumas das palavras que lhe eram ditas, mas muita das vezes acabava errando pela falta de paciência que era presente no sistema primogênito de Rhaenyra.

Era como se o temperamento curto fosse uma característica já adquirida pelos Targaryens a partir fo nascimento, a moeda sempre caía para o lado mal.

── Drēnot... ── o príncipe pronunciou de forma errada, provocando tanto de Rhaenys quando de sua mãe uma leve risada nasalar. ── ...e pousou na torrente de Blackwater...?

── Dränot. ── a mãe corrigiu baixo, andando ao redor da mesa até alcançar o outro lado e se permanecer ali.

O garoto xingou-se mentalmente.

── Dränot! No fim? ── perguntou ele de forma esperançosa, abrindo um sorriso nos lábios corado de mordiscadas, Rhaenyra lhe corrigiu outra vez, caminhando alguns passos para frente e observando os outros dois filhos no cômodo. ── Isso! Você sabia, Jace. ── ele insistiu consigo mesmo, murmurando como louco.

Rhaenys Velaryon, a princesa mais jovem conhecida por sua beleza notável, levantou-se graciosamente de sua acomodação em cima da mesa. Ela alisou o tecido enrugado da saia e caminhou lentamente em direção à mãe. Para sua alegria, ela foi recebida com um beijo carinhoso em sua bochecha e acalentou o calor do afeto de sua mãe.

Com movimentos suaves, sua mão alcançou a barriga saliente que se era notável no vestido vermelho de Rhaenyra, abraçando ternamente o feto aninhado dentro dele.

Apesar de Meistre Gerardys continuar a falar em Alto Valiriano, a frustração de Jace cresceu ao perceber sua incapacidade de traduzir algo que, em seu ponto de vista, estava longe de ser difícil.

Ou pelo menos, deveria ser.

── Acho que é o bastante por hoje. ── anunciou Rhaenyra, sorrindo de forma confortante para o primogênito de cabelos castanhos escuros.

── Não! Não, eu quero continuar fazendo. Meistre, por favor. ── Rhaenys sorriu abertamente, se divertindo com a situação do mais velho. Era engraçado como ela havia entendido tudo que havia sido falado até agora, sem estar considerando que ela gostava de estudar a língua desde muito pequena. ── Aegon I deu ordens para que as árvores fossem... mortas?!

Rhaenys deixou uma risadinha zombateira escapar de seus lábios carmesim, afastando-se levemente da mãe para cruzar os braços e poder se gabar para o irmão que ela sabia o que estava sendo dito a horas.

── Derrubadas. Guēsi ropakakson Aegon ūndas! ── Rhaenys repetiu a mesma frase, com seu sorriso orgulhoso enfeitando o rosto, e Jace jogou os braços para trás com frustração.

── Como você consegue tão facilmente!? Você malmente reserva seu tempo para, de fato, estudar essa língua com calma.

── Eu estudo desde pequenina, sabe disso irmão. ── ela voltou a zombar de Jacaerys, bagunçando o cabelo tão bem feito do príncipe. Joffrey, o mais caçula, que estava sentada perto do pé da irmã e da mãe estudando algum livro, também deu risada do irmão mais velho.

Uma risada mais do que satisfatório de se ouvir, que trazia alegria e amor genuíno para o grande coração da princesa mais jovem e da princesa mais velha.

── Não espere que você aprenda o alto valiriano em apenas um dia, Jace. ── Rhaenyra ditou enquanto ainda deixava carícias sobre a barriga, radiante com a sétima gravidez que carregava consigo.

Seu amor não diminuía nunca, e ela temia que nunca iria. Seus filhos eram seus bens mais preciosos, ela iria andar em meio ao fogo dos Sete Infernos por eles, se fosse necessário.

── Um rei deve honrar as tradições de seus antepassados! É meu dever como herdeiro. ── ele reclamou alto, afastando a mão de Rhaenys que bagunçava seu precioso cabelo escuro.

── Bom, ao menos que tenha a intenção de destituir sua própria mãe... então terá muito tempo para aprender isso.

A sala caiu em um silêncio profundo, um silêncio que a princípio foi reconfortante, pois os envolveu e aumentou a sensação de realização de Jacaerys. De repente, o silêncio foi quebrado pelo som áspero da porta de ferro se abrindo no topo da escada, causando uma sensação desagradável em seus ouvidos. Entrou o príncipe rebelde, Daemon Targaryen, com o rosto manchado de fuligem e segurando um bilhete nas mãos.

Mesmo à distância, Rhaenys podia sentir que ele trazia boas notícias de uma fonte não revelada.

Com apenas um olhar vindo do mais velho, os três filhos da herdeira reconheceram a importância de deixar os pais a sós por motivos políticos, ou qualquer que fosse o assunto particular que precisavam discutir sem os ouvidos curiosos por perto.

E em curiosos, seria referenciado para Rhaenys.

Sempre tão curiosa como um gato selvagem.

── Joffrey, venha. ── Jacaerys chamou pelo jovem príncipe, o pequeno garotinho de cabelos castanhos que inicialmente levantou-se com uma aparência flácida em precisar deixar os aposentos, mas de qualquer forma segurou a mão do irmão.

Rhaenys manteve o olhar fixo em Daemon por um determinado tempo até finalmente voltar à sua realidade e aos seus deveres, estalando a cabeça para observar os dois irmãos e deixando escapar um sorriso gentil para seu irmão mais novo em um conforto, ela sabia que o garotinho sempre a obedecia em qualquer circunstância, com exceção de sua mãe. A princesa se aproximou dos dois meninos e ajeitou alguns dos cachos que caíam sob os olhos esverdeados de Joffrey, estendendo a mão livre para que ele a segurasse também.

── Vamos nos encontrar com Luke e praticar um pouco de espada, correto? ── ela persuadiu o mais novo, enganchando os dedos nos pequenos dele e guiando-os para fora da grande sala, deixando os mais velhos sozinhos e em paz da curiosidade excessiva dela. ── Iremos nos divertir um pouco, Joff, longe das baboseiras políticas!

Eles fizeram um último aceno de respeito à mãe e ao padrasto antes de os guardas fecharem as portas mais uma vez e o silêncio preencher o corredor. Escoltados por seus próprios guardas, eles foram guiados até a entrada principal do castelo, que levava diretamente para as escadas que davam para a costa da praia que cercava Pedra do Dragão, a ilha dos Targaryens.

O guarda juramentado de Jacaerys fez o favor de abrir as gigantescas portas do castelo, que eram de fato muito pesadas, e continuou a escoltar os dois príncipes e a princesa para onde quer que eles desejassem ir. O vento era uma brisa leve de uma nova primavera que atingia a região, algo incomum na ilha, pois ela sempre tendia a ser nublada e enevoada no topo, e somente em alguns dias o sol brilhava acima deles.

Ainda assim, os dias e as noites eram sempre gratificantes na região, eram climas com os quais eles se tornaram adeptos ao longo dos anos, deixando para trás o clima quente de Porto Real.

Eles encontraram a pérola brilhante, Lucerys, não muito longe da costa e acompanhada por dois guardas e sua prima, Rhaena Targaryen, ele parecia tentar treinar com a pesada espada de ferro que segurava em seu firme pulso.

A areia estava ligeiramente úmida por causa do clima, mas ainda era agradável para sentar ou então caminhar. Os três Velaryons sorriram fracamente e acenaram para o irmão e a prima, aproximando-se lentamente para que pudessem participar da diversão que estava acontecendo fora da presença deles. O príncipe Jacaerys foi um dos primeiros a alcançar o irmão mais novo e pegar uma espada de um dos guardas, para que assim seu treinamento também fosse incluído, sua segunda paixão depois de voar em seu dragão pela manhã.

Um leve aceno foi feito para a prima mais uma vez, antes de a princesa e o príncipe se sentarem na areia, ficando à vontade para assistir à sessão de espadas se desenrolar como uma fita vermelha escorregando do cabelo.

Sentada ao lado de uma grande e escura rocha, ela se divertia enrolando os pequenos cachos nos cachos de ébano de Joffrey, com o irmão mais novo empoleirado em seu colo. Olhos curiosos e ágeis estavam observando seus outros dois irmãos, Lucerys e Jacaerys, enquanto eles praticavam sua agilidade usando as escadas que Daemon lhes deu, uma forma de trégua após o casamento com a mãe deles. Lucerys, ainda em processo de familiarização com a arte, absteve-se de manusear adagas ou espadas por alguns anos após o fatídico incidente da família. Em contraste com o mais novo, Jacaerys já havia desenvolvido um certo nível de proficiência com esses instrumentos perigosos e afiados, demonstrando a personalidade ousada e temperamental que residia dentro dele.

Havia um período de aproximadamente oito anos que haviam mudado a locação que chamavam de casa, se mudaram para Pedra do Dragão após a ocorrência envolvendo seus familiares, comumente chamados de "Os Verdes" pelas más línguas. Rhaenys encontrou consolo neste novo ambiente, proporcionava proximidade com a costa e uma vista esplêndida durante as manhãs preguiçosas. Sempre que surgia a oportunidade, ela voava em seu dragão para visitar sua amada prima, ou então meia irmã, Baela.

O local era definitivamente um lar melhor do que aquele que ela lembrava ser na Fortaleza Vermelha, onde as brigas constantemente assolavam os corredores ou onde os olhares furavam buracos dolorosos em seus peitos.

Onde as memórias eram recheadas de angústia.

Rhaenys olhava de um irmão para o outro e mantinha um pequeno e adorável sorriso no rosto com traços delicados e, surpreendentemente, Targaryens até demais. Sua língua, apesar de estar quieta, não compensava o barulho de sua mente que trabalhava em uma velocidade impressionante, sempre cheia de pensamentos e ideias que poderiam ser tanto boas quanto ruins. Mas, como dizia seu irmão mais velho, a maior parte era um emaranhado de confusões e ideias que sempre terminavam com a mãe deles os amaldiçoando por sua insolência e falta de cuidado.

Não que isso não fosse verdade, mas se a princesa estava muito quieta ou desaparecida, era porque estava voando com seu dragão muito mais longe do que deveria.

Ela voou perto de King's Landing várias vezes, fazendo seu dragão caçar peixes no vasto oceano que cobria o redor da capital e o castelo, mas nunca chegou mais perto do que o necessário. Seu retorno àquele lugar levaria tempo, pensou ela, mas um dia chegaria.

A expectativa era de que isso de fato levaria um bom e longo tempo, pois eventualmente o rei doente acabaria morrendo e a coroa seria colocada na cabeça de sua inteligente mãe, que reivindicaria o trono como a verdadeira herdeira.

Mas isso, isso levaria tempo.

Ou, talvez, os Deuses pudessem dizer o contrário.

── Crianças. ── uma voz mais do que conhecida, chamou a atenção das duas princesas e os dois príncipes que estavam distraídos com a luta que estava sendo feita. Rhaenyra ofereceu um sorriso calmamente para eles, como se estivesse tentando dizer que não havia nada de errado com o que estavam fazendo, ou que já tivessem feito anteriormente. ── Temos um assunto importante para resolver, então será necessário que deixem seus atuais deveres de lado e me acompanhem para dentro do castelo.

Os olhares perplexos nos quatro filhos de Rhaenyra e nos rostos de sua enteada eram impossíveis de ignorar. Eles trocaram breves olhares, suas expressões cheias de uma crescente sensação de apreensão ao perceberem a possível gravidade da situação diante deles. O simples pensamento de tal situação foi o suficiente para o coração de Rhaenys disparar, seu pulso batendo forte em seus ouvidos e reverberando por todo o seu corpo.

── O que há de errado, mãe? ── Jacaerys perguntou por primeiro, jogando a espada na areia com um fraco som de grãos contra o ferro, sua respiração ofegante e bochechas coradas do exaustão.

── Nada está fora do comum, meu querido. ── ela amenizou a situação, com a mão tipicamente descansando na proeminência do vestido e com seu caminhar engraçado ao se aproximar ainda mais deles. ── Estamos partindo para Porto Real para tratar sobre tradições e... talvez um possível casamento.

Como o mesmo sangue que esquentou as bochechas deles, este mesmo sumiu quase tão rápido como veio, os deixando mais pálidos do que o comum para ser. De repente, muitas perguntas preencheram suas mentes, e um pensamento atrás do outro era pior do que antes, temendo o pior.

Eram ensinados que, como sendo da família mais poderosa a ter, assuntos urgentes sempre deveriam ser temidos como algo ruim.

── Porto Real? Por que, o vovô está bem? ── a pérola do reino, Lucerys, perguntou logo em seguida. Preocupado, com medo.

Lucerys era sempre tão doce que fazia a herdeira se derreter em amor pelo filho tão cavalheiro e empático que havia criado, seus maiores orgulhos e troféus.

── Sim, tudo está perfeitamente bem com o avô de vocês. Mas, o realm motivo da urgência do assunto é que estamos indo para organizar um casamento. ── ela começou, permanecendo em silêncio até seus olhos caírem sobre o primogênito dela. ── E, se insistem em descobrir, estamos indo para o concretizar o casamento de Baela... e Jacaerys. ── completou ela.

Várias respostas surgiram à medida que a notícia se espalhava, com Rhaenys expressando pura alegria e um amplo sorriso ao saber que seu irmão finalmente iria se casar após um noivado prolongado com sua prima, Baela. Joffrey permaneceu em seu colo o tempo todo, aumentando a atmosfera animada com suas pequenas mãos acompanhando as ações da irmã, ela aplaudiu com entusiasmo, acompanhada de sons extáticos que davam a impressão de que era a própria princesa quem ia se casar, e não o irmão.

Apesar do profundo envolvimento de Rhaenyra na análise das propostas de casamento para sua filha, ela acabou rejeitando a maioria dos pretendentes.

O nervosismo tomou conta de Jacaerys, fazendo seu rosto corar e seu corpo formigar com algo que ele não sabia dizer ao certo o que era, mas era um sentimento novo. Talvez ansiedade, ou talvez apenas alívio. Ele rapidamente fez contato visual com os irmãos e a prima que lhe encaravam com curiosidade para a resposta, garantindo-lhes silenciosamente que tudo estava bem e que eles estavam preparados para partir para o outro lado da família, se necessário.

── Certo... ── ele murmurou baixo, apertando o punho em uma forte bola de ansiedade. ── Porto Real, então?

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